Textos do
Jornal Fraternizar

Edição nº 152, de Janeiro/Março 2004

Destaque

Resultados do Inquérito aos Assinantes do Jornal Fraternizar
Divulgados em livrinho da Reitoria do Santuário de Fátima
Afinal, eles têm razões para andar perturbados

Saiu finalmente o livrinho Inquérito aos assinantes do Jornal “Fraternizar”, edição da Reitoria do Santuário de Fátima. O livrinho, de 77 páginas, contém a troca de correspondência entre o Reitor do Santuário e o Director do Jornal Fraternizar, a reprodução de um exemplar em branco do inquérito enviado aos assinantes, e dados e reflexões sobre as respostas apuradas, da responsabilidade da Escola Superior de Educação de Leiria, nas pessoas dos docentes Maria da Graça Mouga Poças Santos e Rogério Paulo Pais da Costa. O assunto foi mesmo notícia em alguns dos grandes jornais diários, por ocasião da peregrinação do 13 de Outubro passado ao santuário de Fátima. O que se lamenta é que tenha sido uma notícia não totalmente objectiva, já que se limitou a divulgar a tendenciosa interpretação que o Reitor do Santuário fez dos resultados do Inquérito. Fica aqui, por isso, uma leitura-interpretação outra dos resultados, bem mais conforme à verdade dos números e dos factos.

Dos 2.700 inquéritos envia­dos a outros tantos assinantes, responderam apenas 296, e des­tes, a maioria homens (67,9%), com idade superior a 50 anos (73,8%), com grau académico de nível universitário (56,5%), habili­tados com cultura religiosa de ní­vel superior (45,5%) e que, des­de 1990, visitam Fátima uma ou duas vezes por ano (44,6%).

Estes dados, só por si, levam o Jornal Fraternizar a concluir com segurança – conhecemos bem quem e quantos são os as­si­nantes com grau académico de nível universitário e formação teológica de nível superior que recebem o Jornal em suas casas – que a maioria dos poucos as­sinantes que se deram ao incó­modo de responder ao inquérito só pode ser constituída por páro­cos, bispos e frades portugue­ses. Não admira, por isso, que a maioria desses poucos que res­ponderam se confesse crente em Fátima e devota de Nossa Se­nhora.

Mas este é então um resulta­do nada abonatório para o se­nhor Pe. Luciano Guerra e seus ca­pelães que, em Agosto de 2001, decidiram desafiar o dire­ctor do Jornal Fraternizar para esta “aposta”, certamente, na pre­visível con­vicção de que era uma aposta perdida para o Pe. Mário e uma aposta ganha para a Reitoria do Santuário.

Porém, como a esmagadora maioria dos assinantes a quem o inquérito foi enviado – exacta­mente 2.404 num universo de 2.700 – nem sequer se deu ao tra­balho de lhe responder, isso quer dizer que também não acei­tou embarcar na Cruzada ou Guer­ra Santa que o Reitor do san­tuário habilmente tentou fo­men­tar contra o Jornal Fraterni­zar e contra o livro Fátima nunca mais, da autoria do seu director.

Por tudo isto, bem se pode di­zer, sem qualquer hesitação, que o senhor Pe. Luciano Guerra perdeu a sua aposta. E mais: Sem querer, acabou até por fa­zer invulgar propaganda não só ao Jornal Fraternizar, como tam­bém ao livro Fátima nunca mais, neste momento, já na 11.ª edi­ção.

Infelizmente, da correspon­dên­cia trocada entre o Pe. Lu­ciano Guerra e o Pe. Mário, o li­vrinho já não divulga a penúl­tima carta que o Pe. Mário envi­ou ao senhor Pe. Luciano Guerra, e na qual ele se pronuncia, a pedido deste, sobre o projecto de publi­ca­ção dos resultados do Inqué­rito.

Teria sido justo fazê-lo, ao menos em forma de post-scri­ptum, até como contraponto ao texto de apresentação do livri­nho, manifestamente tendencio­so, da inteira responsabilidade do Pe. Luciano Guerra. Mas o Jornal Fraternizar não deixa de re­conhecer que era, sem dúvida, pedir demais ao eclesiástico ca­tólico que, há trinta anos, está à frente do Santuário de Fátima e tão relevantes serviços tem prestado à oligarquia da nossa Igreja, não infelizmente à causa do Evangelho de libertação da Hu­manidade.

As leitoras e os leitores do Jor­nal Fraternizar podem conhe­cer, agora na íntegra, essa carta, bem como uma outra carta, mais curta, que o pe. Mário entendeu enviar ao mesmo senhor Reitor do Santuário, a acusar a recep­ção dos dois exemplares do livri­nho que ele teve a amabilidade de lhe remeter pelo correio (ver textos autónomos, p. 4).

Quem ler a apresentação do li­vri­nho, bem como a troca de cor­respondência entre o Reitor do Santuário e o Director do Jornal Fraternizar, depressa con­cluirá que tanto o nosso Jornal, como o livro Fátima nunca mais, têm feito muita mossa nos que estão à frente daquele local de "peregrinação" nacional e inter­na­ci­o­nal.

Eles insistem em dizer que Fátima é um local de fé. O Jornal Fraternizar, pelo contrário, prefe­re sublinhar que é o local número um do obscurantismo, de onde a lucidez humana está pratica­men­te ausente. E, se dúvidas hou­vesse, bastaria pararmos um pouco e pensarmos se alguma vez podemos imaginar Jesus a peregrinar a pé ou de carro para aquele local? E mesmo que ele fosse até lá, alguém poderá ima­ginar que ele iria como devoto da imagem de nossa senhora de Fátima, como tem feito o papa João Paulo II? Não iria, pelo con­trário, com o chicote na mão, como foi outrora ao Templo de Jerusa­lém, aonde, a pretexto do santo nome de Deus, as multi­dões eram sistemática e vilmente oprimidas e exploradas até deixa­rem lá, no tesouro, o último cênti­mo, como aconteceu com aquela viúva pobre de que nos fala o E­van­gelho? E não foi por ter pre­sen­ciado um escândalo des­ses que Jesus denunciou um tal local como “covil de ladrões”? Mas que diferença faz o santu­ário de Fátima hoje do Templo de Jerusalém, do tempo de Je­sus?

Ora, a mossa que o Jornal Fraternizar e o livro Fátima nunca mais têm feito aos responsáveis do santuário vê-se à légua, tanto no texto de apresentação do li­­vrinho, expressamente escrita para esta publicação, como tam­bém na primeira carta que, em A­gosto de 2001, o mesmo sacer­dote do santuário endereçou ao Director do Jornal Fraternizar, a propor-lhe a realização do inqué­rito a todos os assinantes, com a garantia de que faria acompa­nhar o respectivo formulário du­ma oferta a cada um deles dos dois volumes das chamadas Memórias da Irmã Lúcia (como se sabe, dinheiro para gastar é coisa que nunca faltou ao senhor Reitor do Santuário. O que es­pan­ta é que, mesmo assim, com tantos meios financeiros ao seu dispor,Portugal e o resto do mun­do continuem ainda tão pouco fatimistas. É o próprio Reitor quem, inadvertidamente, o reco­nhe­ce, quando escreve na pri­meira carta ao pe. Mário que, em cada ano, passam pelo santu­ário à volta de quatro milhões e meio de pessoas, entre turistas e devotos. O que é manifesta­men­te pouco, num universo popu­lacional de mais de seis mil milhões de pessoas!).

Atentem como começa o tex­to de apresentação do livrinho e digam lá se não temos razão: “O jornal «Fraternizar» é uma pu­blicação trimestral dirigida pelo Padre Mário de Oliveira, cuja apresentação parece desneces­sária por se tratar de uma pessoa bastante conhecida: antes do 25 de Abril, pela sua oposição ao regime do Estado Novo; em anos recentes, pelo seu persis­tente e duro combate contra Fá­tima, contra a hierarquia católica, contra o modo de relação da Igre­ja com os poderes económi­co, social e político (desde o im­perador Constantino!), contra mui­tas expressões de piedade ou religiosidade popular, e contra alguns dos mais essenciais fun­da­mentos da doutrina católica.”

“Pessoalmente – revela logo a seguir o senhor Pe. Luciano Guer­ra – não leio o jornal «Fra­ternizar», a não ser quando me chamam a atenção para alguma posição mais extrema, como a­con­teceu recentemente em duas ocasiões: uma carta aberta do seu director ao Senhor Cardeal Patriarca, e uns versos de ódio demolidor, tudo a propósito e contra Fátima.”

Um pouco mais à frente, pas­sa ao ataque pessoal e revela quanto está incomodado com a acção do pe. Mário: “Reconheço que uma certa necessidade agó­ni­ca determina desde o início todos os seres vivos. Nesta com­preensão, a minha vontade era deixar em paz o P. Mário, seguin­do o parecer de bastantes pes­soas que o conhecem de perto. Acontece porém que, tendo o seu livro Fátima nunca mais atin­gido o significativo número de dez [sic] edições, tendo-o algu­mas televisões guindado às altu­ras de figura mediática, lavrando grande confusão nalguns teles­pe­ctadores pelo facto de ele persistir em usar o título de padre católico, e sendo claro que ele acaba por pôr em questão a ho­nes­tidade básica dos respon­sáveis do Santuário de Fátima, em que me incluo desde há trinta anos, pareceu aos respectivos ca­pelães que, como meio de pro­cesso de diálogo, poderia ser útil tentar um contacto com os seus leitores [e leitoras], sob a forma de inquérito, pelos motivos, fins e método que adiante apare­cem.”

Os ataques ao Pe. Mário são ainda mais violentos e insultuo­sos na primeira carta que lhe di­ri­giu, certamente, na esperan­ça de o desmoralizar e, porven­tura, levar a recusar a proposta que lhe fazia, para depois poder dizer que o director do Jornal Frat­ernizar teve medo da aposta. Se assim era, enganou-se, por­que o pe. Mário, na sua resposta, felizmente, não só não esboçou a mais pequena defesa pessoal contra tais ataques, como tam­bém não hesitou em aceitar a proposta que lhe era feita à mis­tura com esses insultos.

Eis aqui algumas das afirma­ções dessa carta que pretendem pôr em causa a originalidade presbiteral do pe. Mário dentro da Igreja católica, em lugar do seu autor, o senhor Pe. Lu­ciano Guerra, se deixar interpelar/questionar por ela:

"Referindo-se a Fátima e à Igreja, o P. Mário fica-se pela violência verbal, e graças a Deus que não dá sinais de querer conduzi-la à realização prática, talvez por coerência com outra convicção - não de­ma­siado ousada? - de que a sua cruzada se situa na linha dos grandes profetas do Antigo Testamento, e do próprio Jesus, estando disposto, como eles, a tor­nar-se vítima do poderio ecle­siál, ou do «ostracismo eclesiástico» (149. 14). Di­ría­mos que é o senhor quem se deixa possuir pela «mística de morte» que atri­bui, como crime da Igre­ja, aos videntes de Fátima (77)."

E mais adiante: "A mi­nha tímida explicação para a força de todos os radica­lis­mos está aí, em qualquer gene, ou mal formado ou so­bretudo maltratado, da estrutura psíquica, mais afe­ctiva que cognitiva; tal­vez qualquer carência de auto-realização que desde a infância procure frustra­da­mente, revoltadamente, «vin­gar» o incómodo, a a­fronta, a «injustiça» de não se ter nascido como se queria, ou de não se ter recebido aquilo a que se ti­nha «direito». O sub-cons­ciente irrompe-nos à tona pelos mais subtis artifícios, como as lavas de um vul­cão!

Sabe que há tempos um nosso colega, que o deve conhecer menos mal, me disse que já desde pe­queno o P. Mário sonhava com o martírio?! E eu des­confio que, se assim for, nem o senhor saberá por­quê. Muito menos saberá por que lhe terá dado para querer ser «martirizado» pela própria Igreja (a Mãe Igreja!) em que foi baptizado e se fez sacerdote..."

E quase a concluir a sua long­a carta, escreve o senhor Pe. Luciano Guerra: "O senhor pode estar a servir-se da sua propalada liberdade de «não acre­ditar em Fátima» (9) como pre­texto para uma crítica des­trutiva contra a autoridade ecle­sial e a Igreja, no seu todo, e ainda, o que é mais sério, como um envelope de aparente legiti­midade, em que se esconde a «bom­ba» que faz explodir algu­mas das verdades e práticas mais básicas do cristianismo, que são afinal o núcleo da mensagem e da prática dos peregrinos de Fátima. Núcleo duro, concedo-lhe, mas no qual assenta todo o edifício cristão."

Como vêem, nunca nesta sua carta, o senhor Reitor do San­tuário de Fátima se apresenta com a mais pequena dúvida. Ele está certo e o Pe. Mário está de todo errado. Mesmo que se apresente com posições que lhe fazem lembrar as dos antigos profetas bíblicos, ou mesmo as de Jesus, no seu próprio país, essas posições de nada valem. São puro radicalismo, deficiência num qualquer gene, enfim, com­portamentos que se explicam com o recurso a uma certa psica­nálise de trazer por casa.


A carta do pe. Mário que o Reitor do Santuário

Não inseriu no livrinho sobre o Inquérito aos assinantes

Bom será que do santuário de Fátima

Não venha a ficar pedra sobre pedra

Senhor Reitor do Santuário de Fátima

Meu caro Padre Luciano Guerra

Estive de férias até ontem ao fim da tarde. Encontrei o seu correio à chegada. Apresso-me a responder. Por e-mail, para ser ainda mais rápido.

Li o trabalho que vai ser pu­blicado. Não tenho nada a opor à sua decisão. Desde a primeira hora, disse e volto a repetir: Só estou envolvido nesta iniciativa, inteiramente sua, porque o se­nhor Padre Luciano Guerra as­sim o entendeu. Por mim, nunca a tomaria. Mas assim como não me opus a ela, também agora não tenho nada a opor quanto à divulgação dos resultados da mesma. Até lhe agradeço a pu­blicidade que, sem querer, está a fazer ao Jornal Fraternizar que hoje é trimestral, como diz, mas que foi mensal durante os primei­ros quinze anos da sua existên­cia legal. Agradeço-lhe também a publicidade que, sem querer, está a fazer ao meu livro FATIMA NUNCA MAIS que vai já na 11.ª edição e não na 10.ª, como refe­re no seu texto. E que, conforme me diz o respectivo Editor, para lá de ser o livro que há anos se mantém no TOP de vendas da Editora Campo das Letras, é tam­bém o livro, entre os vários que a Editora já me publicou, que ainda hoje continua a ser dos mais procurados, por parte das pessoas. Espero bem que, com a publicidade que esta sua ini­ciativa lhe irá fazer, as vendas pros­sigam em ritmo ainda mais ace­lerado, até porque os (ma­gros) direitos de autor (apenas dez por cento sobre o preço de capa sem IVA) que tenho a rece­ber revertem integralmente, assim como os direitos dos restantes, para ajudar à construção do BAR­RACÃO DE CULTURA de Macieira da Lixa, um projecto qua­se utópico da Associação Cul­tural “AS FORMIGAS DE MA­CIEIRA”, sediada naquela fre­gue­sia do concelho de Felguei­ras.

Quanto à sua disposição de en­tregar “este trabalho sobretu­do a Nossa Senhora de Fátima”, está totalmente de acordo com a sua posição de reitor/sacerdote do respectivo Santuário, onde a imagem desta mítica deusa é cultuada/adorada (por favor, não a confundir com Maria de Naza­ré, a mãe carnal de Jesus), mas não está nada de acordo – é esta a minha convicção mais pro­funda de padre/presbítero da Igreja Católica – com a melhor Teo­logia cristã jesuánica que vem desde o próprio Jesus de Naza­ré, e que, felizmente, tem sabido resistir às investidas das teolo­gias deístas dos deuses e sobre­tu­do das deusas do Paganismo e do Império, primeiro, do Impé­rio Romano e, depois, de todos os outros que se lhe seguiram, sem excluir o mais perigoso e mais eficaz de todos que é hoje o Império do senhor G. W. Bush e da sua demente Administração norte-americana. Como calcula, essa sua disposição só pode des­pertar em mim um sentimento de tristeza, tanto mais quanto é manifesto que a Senhora de Fá­tima, a cuja imagem entrega este trabalho, não passa duma mítica deusa cega, surda e mu­da, como sempre tenho reafirma­do nos meus escritos e continu­arei a afirmar, também e sobretu­do, por amor a Maria de Nazaré, a nossa irmã mais velha na caminhada da Fé cristã e a mãe carnal de Jesus, o Senhor!

Desculpe esta minha lingua­gem assim tão directa e quase rude que aos seus olhos parece­rá blasfema, mas creia que é o que eu, animado da Fé cristã jesuánica, honestamente tenho para lhe dizer a propósito.

Não sei se esta minha carta também entrará no trabalho a pu­blicar, mas o senhor Padre Lu­ciano Guerra tem toda a auto­rização da minha parte para o fazer. Mais: até lhe agradeço que o faça.

Fico na comunhão, apesar da divergência teológica de fun­do que nos separa e que é provo­cada pela “sua” Senhora de Fá­tima e pelo “seu” Santuário que, como o Templo de Jerusalém do tempo de Jesus, bom será que dele não venha a ficar, um dia, pedra sobre pedra, tanto é o mal que tem causado e continu­ará indubitavelmente a causar às multidões de oprimidos e de em­pobrecidos de Portugal e do mun­do.

Um abraço.

São Pedro da Cova 8 Agosto 2003.

Padre Mário de Oliveira

Última carta do Pe. Mário ao Reitor do Santuário de Fátima

A verdade do Evangelho há-de vir ao de cima

Meu caro Pe. Luciano Guerra

Santuário de Fátima

Acabo de receber os dois exem­plares do opúsculo “Inqué­rito aos assinantes do Jornal Fraternizar". O meu obrigado. Já verifiquei que efectivamente não publicou a última carta mi­nha, o que teria sido mais justo que o fizesse, nem que fosse em jeito de post-scriptum. Com­pre­endo o seu constrangimento. Mas a verdade do Evangelho há-de vir ao de cima. Nem que le­ve séculos ou milénios. Não é verdade que Jesus, o Cristo, é de ontem, de hoje e de sem­pre? E não é verdade que ele nos garante o Espírito de Verda­de que nos há-de guiar para a ver­dade total? Fátima, por ago­ra, é a grande casa do obscuran­tismo, o anti-Espírito-de-Deus-em-acção. Dela não ficará pedra so­bre pedra. Deixe que a Huma­nidade progrida na ciência e na sabedoria. E todas estas men­tiras em torno de deuses e de deusas serão desmascaradas. Como Igreja, tínhamos obrigação de estar na vanguarda deste feito, uma vez que nos reivindica­mos de Jesus Crucificado/Ressus­citado, o Acontecimento maior da História, que mostrou à sa­ci­edade quanto são iníquos e per­ver­sos os deuses e as deusas. Pelos vistos, preferimos trocar a Fé jesuánica fecundamente liber­ta­do­ra pela idolatria que nos faz escravos. O que constitui um pe­cado contra a luz, contra o Es­pírito Santo!

Acho, mesmo assim, que o Pe. Luciano Guerra, sem o que­rer, acabou por prestar um rele­vante serviço à causa da Verdade do Evangelho com esta sua inici­ativa. Quem ler o opúsculo pode sentir-se estimulado a procurar o Jornal Fraternizar e o meu livro FÁTIMA NUNCA MAIS. E partir daí para a verdade do Evange­lho. Obrigado, pois.

Um abraço fraternal, apesar das divergências.

Padre Mário

Leia as “Memórias da Irmã Lúcia” nas entrelinhas

e veja como trataram a mãe dela

Morreu sem poder ouvir a filha ao telefone

Sabia que nem a mãe da Lúcia acreditou nas chamadas aparições de Fátima? E que,  como represália, quando ela estava para morrer, nem sequer autorizaram a filha, entretanto, feita freira à força, a falar com ela ao telefone? Vem tudo nas Memórias da Irmã Lúcia . II, mas contado numa linguagem sacrificialista de arrepiar. Se Deus é como os dois volumes das Memórias no-lO apresentam, é muito mais saudável e digno ser ateu! Leiam extractos deste crime que brada aos céus, cometido em nome da "santa obediência". E depois se quiserem continuar a dizer que Fátima tem a marca de Deus, não deixem de acrescentar que só pode ser o Deus da senhora de Fátima, tão cruel quanto ela!

"Sentindo-se no fim da sua carreira sobre a terra, [a Mãe] escreveu-me uma carta a pedir que, já que ela não podia ir ver-me, fosse eu a dar-lhe o último abraço, que não queria morrer sem voltar a ver-me. Mos­trei esta carta às minhas supe­rioras que, não obstante encon­trar-me num Instituto de vida a­ctiva, disseram-me que isso não podia ser, que escrevesse a mi­nha Mãe, animando-a a oferecer esse sacrifício a Deus.

Escrevi ao Sr. Bispo de Lei­ria, dizendo o que se passava. Sua Ex.cia respondeu-me no mes­mo sentido. (...)

Em face desta resposta, ven­do neles a vontade de Deus, escrevi a minha Mãe, animando-a oferecer a Deus o seu sacri­fício, que eu também oferecia o meu por ela, pedindo a Deus que lhe aliviasse os seus sofri­mentos.

A Mãe, ao receber esta minha carta, disse: - Então nem para assistir à minha morte a deixam voltar a Fátima! Se eu soubesse que era assim, não a tinha dei­xado ir para aí! Mas ofereço a Deus este grande sacrifício, para que Ele a guarde e ajude sem­pre a ser boa. E, chorando, in­clinou a cabeça, sustentando-a entre as mãos, debruçada sobre os joelhos.

Passados não sei bem quan­tos dias, sentindo aproximar-se o seu fim, pediu a minha irmã Te­resa que pusera uma confe­rên­cia telefónica, fazendo uma cha­mada, para despedir-se de mim, sequer ao menos por tele­fone. Minha irmã levou-a para jun­to do telefone, para não de­morar depois a ir buscá-la. Fez a chamada, disse o que preten­dia: que viesse a Irmã Lúcia ao telefone para despedir-se da Mãe que se encontrava tão mal, quase a morrer e pedia para, sequer ao menos por telefone, já que não podia ser de outro modo, se despedir da filha, ou­vindo o som da sua voz pela úl­tima vez. Qual não foi o de­saire da minha pobre irmã, qu­and­o no telefone ouve um «não», dizendo-lhe que também isso lhe não podia ser conce­dido.

Minha irmã não pôde ocultar à Mãe mais esta negativa, porque ela já se encontrava ali, espe­rando o momento de pegar no auscultador para dizer-me o seu último adeus sobre a terra.

A Mãe, ao ouvir mais esta ne­gativa, disse soluçando: - é a úl­tima gota que Deus me reser­vava no fundo do cálice e que eu havia ainda de beber sobre a terra! Tomo-a por Seu amor! E saboreando-lhe todo o amar­gor, por amor ao Senhor, passa­dos não sei bem quantos dias, pediu para ser levada para o quarto da sua Lúcia, onde quis terminar o seu exílio. (...)

Destes dois últimos pormeno­res, na ocasião, as superioras ocul­taram-mos. Só tive conheci­mento, bastante mais tarde, que minha irmã Teresa mos contou, numa visita que me fez. Ainda en­tão, juntámos as nossas lágri­mas para oferecê-las a Deus, pelo eterno descanso da nossa Mãe, crendo que Deus a recebeu em Seus amorosos braços de Pai, para levá-la ao Céu, a rece­ber a recompensa de tanto que tra­balhou por Ele e bem do próxi­mo, até ao fim da sua carreira so­bre a terra.”

Editorial

Entendam-se!

Acabámos de entrar em 2004, em que se completam 30 anos sobre o 25 de Abril-74 que, desta vez, irá ser cele­brado com festa rija, feita de muito fa­do, de muito futebol (pela primeira vez decorrerá no nosso país o tão badalado Euro 2004 que nos fez inaugurar de uma assentada dez novos estádios, bacocamente chamados “ca­te­drais”!...) e também de se­nho­ra de fátima q.b., possivelmente até com trans­missões em directo no dia 13 de Maio através do canal público (para que há-de a hierarquia da nossa Igreja católica ter um canal seu, se a RTP des­te Governo de direita acaba de ser a última grande convertida ao catolicismo rasca da se­nhora de Fátima e até tem dado gua­rida todas as manhãs, ou qua­­se to­das, a um padre católico can­ta­dor de banali­dades como aquela do “põe a mão na mão do meu senhor da galileia”?).

Quem então imaginaria que, trinta anos depois, o país iria estar a ser go­vernado por um pri­mei­ro ministro da laia do nosso norte­america­nófilo dr. Durão Barroso, nessa altura, frenéti­co jovem maoísta que, agora, só para po­der governar estribado numa maio­ria absoluta, correu logo a coli­gar-se com o Partido do dr. Paulo Por­tas, da direita populista e odienta, e todos os dias dá mostras de ser capaz de engolir todos os sapos vivos que este o faz engolir, só para assim se per­pe­tuar vaidosa­men­te no cargo?! E tudo isto sob os aus­pícios do seu Par­tido Social Demo­cra­ta, cujos dirigentes actu­ais, ao con­trário do fundador dr. Francisco Sá Car­neiro, dão todos os di­as inequívo­cas provas de acrítico una­­­nimismo em torno do seu chefe, e de incondicional seguidismo das suas políticas sem prin­cípios, só para pode­rem, eles tam­bém, prolongar no tempo os lugares de privi­lé­gio que, entretanto, lhes estão ga­ran­tidos com a criação desta coliga­ção e com a sua manuten­ção.

O país é que sai progressivamente a perder. Para cúmulo, sem que as po­pu­lações dê­em grandes sinais de im­paciência. Pelo contrário, parece até que têm pena do Governo e só lhes falta ir, de terço numa mão e de vela ace­­­sa noutra mão, em pe­regri­na­ção até junto do Palácio de São Bento de­clararem-se prontas a suportar ainda mais sa­crifícios, assim lhos pe­çam, quer aquele ar beato do ministro do Traba­lho e da Se­gurança Social, quer aquele ar ditatorial e assanhado do ministro de Estado e da Defesa, quer aquele ar cruel da ministra de Estado e das Fi­­nanças, ou aquele ar adolescente e irresponsável do Primeiro Ministro que parece estar sempre a pedir: Por favor, não me tirem do lugar, que eu gosto tan­to de ser primeiro-ministro de Portu­gal e de me poder passear irresponsa­vel­­mente por aí, de telefone sempre li­gado ao meu amigo presidente norte-ameri­cano, cujas anedotas políticas tan­to aprecio e que me garantem esta boa disposição com que sem­pre me apresento diante das portu­guesas e dos portugueses, faça chuva ou faça sol, esteja o país a arder ou a abrir-se em buracos em Lis­boa, inau­gure no­vos estádios de futebol ao som de mo­numentais vaias ou envie solda­dos da GNR para o Iraque, tenha 500 mil de­sempregados ou cerca de dois mi­lhões de pobres em 10 milhões de ha­­bi­tan­tes.

E não é que até o Presidente da Re­pública, embora portador duma prá­ti­ca política anterior pautada por muito mais honestidade, parece hoje emba­la­do nesta lenga-lenga governativa, feita de ópio, e lá con­tinua cantando e rindo, com uma advertência aqui, ou­tra adver­tên­cia acolá, mas só para pa­recer dife­rente, sem entretanto nada acontecer ao Governo, cujos ministros só caem de podre, preci­samente quan­do as suas práticas go­vernativas, de tal modo escabrosas, são denunciadas pelos media, e eles própri­os decidem ir-se embora, não sem an­tes jurarem sob a sua palavra de honra que con­­­ti­nuam inocentes. Só então é que o Pri­meiro Ministro não se faz rogado e logo ali aceita a demissão, para no dia se­guinte assistir sorridente à solene to­mada de posse de outro ministro igual ou pior ao auto-demitido de véspera. Não há dú­vida, se­nhoras e senhores: Nunca a política, nestes últimos trinta anos, ba­teu tão no fundo!

Mas não é só o Presidente da Re­pú­blica que se deixa embalar pela len­ga-lenga de ópio político do Gover­no. Também os Partidos da Oposição pare­cem paralisados e impotentes. Interiori­zaram a tese populista de que uma le­gislatura é para ser levada ao fim. E li­mitam-se a criticar pontualmente esta ou aquela “barracada” do Governo. Mos­­­­tram-se muito activos e frenéticos, ao nível do discurso político, mas todos, uns mais outros menos, enfermam du­ma aflitiva esterilidade. Já perceberam, certamente, que o lugar de Oposição lhes ga­rante privilégios indivi­duais e partidá­rios que de modo nenhum que­rem voltar a per­der. E se parecem efi­cientes ao nível do discurso crítico, apresen­tam-se confrangedoramente va­zios ao nível das prá­ticas polí­ticas alternativas. O que é fatal para um país de democracia represen­ta­tiva como o nosso.

Aos olhos das popula­ções, até os políti­cos da Oposição comem do mes­mo “tacho” nacional, um tacho que eles não querem dei­tar a perder, até que che­gue o dia em que se tornem maio­ria absoluta ou parceiro de coligação  no Parlamento e, finalmente, Governo. Re­gressar à condição de cidadão co­mum, de soldado raso, com salários bem mais baixos e com reformas pe­que­ninas, des­pojados do prestígio e dos privilé­gios que o assento no Parla­mento lhes garante seria muito duro para eles. E eles já não estão mais para isso.

Na verdade, quem dos nossos po­lí­ticos profis­sio­nais está hoje seriamen­te disposto, por exemplo, a perder os privilégios que o simples estatuto de Oposição lhes ga­rante na mesa política do país? Quem está seriamente disposto a enveredar por uma prá­tica política outra, radicalmente liberta­dora e exclu­si­va­mente norteada pelo bem das po­pu­lações, ao abrigo de um estatuto le­gal que determine, entre outras coisas, que os políticos a tempo in­teiro não usu­fruirão nunca de um único pri­vilégio que continue a ser recusado e ne­gado à esmagadora maioria da po­pu­lação do país?

Mais. Como é que se compreende que, perante a populista e cínica coli­ga­ção PSD/PP, cozi­nhada à pressa para garan­tir uma maioria abso­luta de direi­ta, os Partidos que se assumem como de es­quer­da ainda não tenham conse­gui­do dar passos po­líticos concertados, em ordem a criarem uma alternativa políti­ca que todos os dias trabalhe mai­eu­ticamente com as populações, para as fazer cres­cer em luci­dez e maturida­de políticas, em consci­ên­cia crítica, em auto­nomia e em prota­go­nismo, ao ponto de se tornarem populações-sujei­to da políti­ca, em lugar de permanece­rem eterna­mente na infantil posição de popula­ções-objecto da política, o mes­mo é dizer, à mercê da caridade­zinha políti­ca de uns quantos políticos privile­gia­dos de direita ou de esquer­da?

É tempo de arrepiarmos caminho. É tempo de nas­cermos de novo, por força do Sopro ou Espírito que sai do grito tantas vezes silencioso das popu­lações empobreci­das e excluídas, cujo viver quotidiano está próximo do dos cães perdi­dos sem coleira, por isso, nos antípo­das do viver de todos os polí­ticos que oficial­mente os represen­tam no Governo ou na Oposição.

Urge uma revolução política, até nos con­cei­tos que todos os dias utili­zamos, mas sobretudo nas práticas polí­ticas quoti­di­a­nas. A política, ou é rea­li­zada por todos os cidadãos, mu­lhe­res e homens, segundo as capaci­da­des cada vez mais desenvolvidas de cada qual, ou será mais do mes­mo.

Só uma política feita por todos e por todas é capaz de gerar e de promo­ver autonomias in­di­viduais e colectivas, verdadeiros su­jeitos políticos que dis­pen­sam toda a caridade­zinha política, tanto ou mais nojenta que a caridezinha económico-social, hoje de novo tão em voga no país e no mundo. Com a Igreja católica romana a transformar a Cari­da­de (amor-de-me­sa-comum-que-nos-faz-iguais-nas-diferenças) em caridade­zi­nha que gera e alimenta milhões de assistidos e de­pen­den­tes, condena as populações a viver de chapéu na mão e de mão es­tendida, disponí­veis até para rasteja­rem em san­tuários de no­meada diante de imagens cegas, sur­das e mudas, na vã esperan­ça de que estas lhes va­lham! (Onde já se viu ab­sur­do e indignidade maiores?!)

Por favor, políticos/políticas de es­querda, hoje, todos na Oposição: En­ten­­dam-se uns com os outros sem de­mora. Renunciem aos pri­vilégios. Con­vertam-se ao serviço polí­tico maiêu­tico com as populações, para que elas cres­çam em protagonismo político e vocês e os vos­sos partidos diminuam.

Vosso companheiro e irmão,

Mário, presbítero.

Espaço Aberto

O fascínio da savana

Por Júlio Ribeiro (Moçambique)

Chegara à Beira em 3 de Ou­tubro de 1950, graças ao convite de um amigo, licenciado em Filosofia pela Gregoriana. Era solteiro, já estivera a trabalhar em Angola, e agora chefiava a secretaria comum de quatro sindi­catos nacionais, onde também eu haveria de chefiar as respecti­vas contabilidades durante cerca de seis anos, isto é, até a minha ida para Quelimane como missio­ná­rio leigo, para colaborar na re­cente diocese desmembrada da Beira.

Nas primeiras semanas ficara no apartamento dele – semanas di­fíceis, em que o meu lugar nos sindicatos já não estava se­gu­ro, porque outro pretendente, e logo sobrinho do presidente de um dos sindicatos, o dos ferro­viários, aparecera em cena.

O bispo protegia-me, o gover­nador geral insinuou que me esti­mava, o outro concorrente conse­guiu ainda melhor emprego junto do tio, e eu iniciei com entusias­mo a minha aventura em terras de Manica e Sofala.

Quando minha mulher e os dois filhos conimbricenses chega­ram, já tinha alugado uma casa geminada – denominada Vila La­mar­tine, ao lado da garagem dos machibombos – no troço entre o Alto da Manga e a passagem de nível da estrada Beira-Dondo.

O meu chefe também ficara a viver connosco, para ajudar a pagar a renda e sentir-se em fa­mília. Como tinha carro e eu ainda não, facilitou-nos imenso a vida e proporcionou-nos muitos passeios.

Algum tempo depois, os Pa­dres Brancos propõem-me cons­truir casa na Missão de S. Bene­dito, a algumas centenas de me­tros da passagem de nível, antes dela e à direita de quem vai da Manga para o Dondo, no meio do matagal e a entrar na extensa savana...

Nascido na Foz do Douro, fre­guesia de Nevogilde, numa rua perpendicular à marginal (Avenida Brasil), ali mesmo de­fron­te do molhe, que eu tanto gos­tava de percorrer até o fim, para me sentir em pleno mar e receber salpicos pouco meigos das ondas encapeladas, habitua­do a longas caminhadas a mo­lhar os pés, em Matosinhos, em Leça e desta até a histórica prai­a de Mindelo, onde Pedro IV de­sem­barcou para nos impor o seu liberalismo (afinal pouco libe­ral) e a percorrer os enormes mo­lhes que cercavam o Porto de Leixões, e até a ir lanchar a sumptuosos paquetes do Loyde’s Brasileiro que ali ancoravam, familiarizado com os pinhais de Lobão, e montes e montanhas de Vila Real e vilas e aldeias pró­xi­mas, tantas vezes percorri­das a pé, de carro de bois e, de­pois, de bicicleta, treinado na vida de cidade, porque pouco depois de nascer logo fui viver para o ponto mais alto do Porto, porque aí fiz os meus estudos, e porque não descansei sem conhecer todas as cidade de Por­tugal continental, predisposto para a planície pelos encantos de um Alentejo, que ainda hoje gosto de revisitar e não me sai da memória, eis-me agora em plena savana africana, a perder de vista do lado de trás da nos­sa casa.

À frente dela, mas a uma boa distância, ficavam as cons­tru­ções da Missão: a pequena ma­ternidade, ali mais perto e de lado, e, mais ao longe, a ca­sa das irmãs, o internato de moças, a escola, e, mais tarde, o campo de futebol e o primeiro bairro económico para africanos, ficando, do lado oposto, isto é, à esquerda de quem vem da cidade, a casa dos padres, e, mais tarde, a igreja, e, ainda depois, o cinema, que exibia pe­lículas com actores africanos (vin­das das missões do Congo bel­ga). 

Aí, na savana, vivia a maior parte do meu tempo, porque o pe­ríodo de trabalho nos sindica­tos, de manhã mais longo, de tarde  mais curto, dava para che­gar a casa bastante cedo.

Filhos a multiplicarem-se e a crescer e a começar a vida esco­lar, círculo de amigos proporcio­nando-me um ambiente social agra­dável, iniciativas apostólicas em constante fervilhar, tudo nu­ma atmosfera de missão que tanto havia ansiado.

Era a Biblioteca, com um se­ctor de empréstimos e outro, pos­te­rior, de vendas, envolvendo, mais tarde, casas comerciais re­ven­dedoras consignatárias desde a Beira até Machipanda; era o cinema com filmes de fundo com­pletamente inédito em Moçambi­que; era o campo de jogos; era o bairro habitacional de casi­nhas em alvenaria, finalmente destinadas aos africanos.

A Biblioteca da Missão de S. Benedito da Manga, com as suas iniciativas, as suas reu­niões, os seus estudos, os seus fins de semana, os seus retiros, as suas festas, atraía pessoas da cidade (a 15 km de distância), atraía colaboradores, convertia-se num laboratório de ideias, projectos, calor apostólico.

Passámos a ter carro (o tradi­cional VW) e a Maria Ester até tirou carta de pesados para uma eventual aventura florestal ou agro-pecuária (eu é que descon­segui). Ela própria pegava no jipe da Missão (eu nunca gostei de conduzir jipe) e ia, descontraí­da, angariar fundos e materiais para as construções.

Queríamos estudar chisena, mas as aulas eram de noite e o sono sempre foi e ainda é o nosso forte. Por outras palavras: desconseguimos, com grande pe­na e com grande prejuízo para o nosso trabalho e para nós pró­prios.

Visitei todas as missões dos Padres Brancos em Moçambique, e penso que me inteirei dos pro­blemas de evangelização, e a­pro­fundei os seus métodos – o que, mais tarde, tanto me facilitou o trabalho na Diocese de Queli­mane.

Os laços de amizade criados com esses missionários foram tais que, depois de dezenas de anos de separação, ainda há pouco, em vários pontos da Europa, senti continuarem bem fortes (e eu que tantas vezes me inibi de apa­re­cer, receoso de tudo se ter apagado...).

Turisticamente, era a Rodésia que faria os meus encantos, co­mo, depois, na Zambézia, era o Malawi, e agora, no Maputo, é a África do Sul. Não há dúvida de que os ingleses, em cada re­canto rústico ou panorâmico, sa­biam proporcionar um conforto e uma beleza que perdura na memória de quem, alguma vez, tenha experimentado o seu aco­lhi­mento: Leopard Rock, Vumba, e tantos outros recantos. 

Do lado de cá da fronteira, pai­sagens nada inferiores. Mas que diferença no tratamento, no bom gosto, na limpeza!

Uma excepção, porém, sur­pre­en­deu-me como um sonho de fadas ou de mil maravilhas, quan­do, certa noite, já cansado e com o carro empoeirado (a estra­da Beira-Umtali ainda não estava asfaltada), depois de Vila Pery e em direcção à Vila de Manica, onde as únicas luzes eram as dos meus faróis, me sinto banha­do por uma crescente e maravi­lho­sa iluminação: era uma pousa­da (melhor diria, um parador, porque pousadas, no antigamen­te, eram para os cavalos, e pa­radores é que eram para os ca­valeiros). Iniciativa do chefe da estação de Garuzo, ali próxima, da linha férrea que ligava a Ro­dé­sia ao porto da Beira, passou a ser ponto de paragem  ou até de destino, imprescindível... até que o encanto se quebrou com as incursões de Smits & compa­nhias.  

Mas não foi só o Volkswagen a contribuir para que a vida se  tornasse encantadora: a bicicle­ta, que eu não sosseguei enqu­anto as irmãs também não come­çaram a gozar da sua utilidade, a bicicleta, que eu começara a usar na Figueira da Foz e, de­pois, por largos anos, em Vila Real, a bicicleta era outro dos meus encantos, embora isso ain­da fosse mais notório em Coa­lane, quando os filhos já eram mais crescidinhos, e podia levá-los, um de cada vez, no quadro,  e conversar tranquilamente com cada um deles através dos cam­pos, transmitir-lhes o que sentia e ouvir o que eles quisessem dizer...

Eu dava-me todo àquilo que estava a fazer, integrava tudo (mui­to diferente de somar tudo), nunca me dividia nem nunca me sentia dividido. O conflito entre pro­fissão e família ou é uma des­cul­pa ou um equívoco. Não se pode ser bom chefe de família se não se for bom  profissional, porque é a profissão que dá o sustento. Também dificilmente se será um bom profissional, se os problemas de família atrapalham. Por isso digo integrar, não so­mar. Pai ou mãe que, por exem­plo, com a doença de um filho, põe de lado a profissão ou na prateleira o amor conjugal, pen­san­do que está a ser exemplar no amor paternal ou maternal (pelo dito amor cometem-se tan­tos crimes!), está, na realidade, a fazer perigar a saúde integral de todos. Mais tarde ou mais cedo, as conseqüências far-se-ão sentir.

Assim, procurei ser o mais com­petente e dedicado dos fun­ci­o­nários sindicais, assumi provi­soriamente com toda a consciên­cia a chefia da secretaria, estava apto a responder a todas as con­sultas sobre legislação sindi­cal, às vezes até efectuadas por magistrados.

No trabalho missionário, não sosseguei enquanto não fui ca­paz de propor novos métodos de evangelização (posteriormente confirmados pelo Vaticano II) aos padres e irmãs mais apegados a métodos clássicos, pouco con­sen­tâneos, porém, com o Novo Testamento e até com certas normas quer de alguns papas quer da Propaganda Fidei (em cuja influência o governo portu­guês nem podia ouvir falar).  

Antes de vir para África, es­cre­vera um livro sobre pedagogia, já inspirado na escola nova de Maria Montessori e na nova visão que a Maria Ester me havia sugerido sobre o relacionamento entre sexos, excluindo a sua se­­paração como das mais noci­vas para o ser humano, livro com princípios que ainda hoje subscrevo sem dificuldade, mas com certas aplicações concretas já muito e muito ultrapassadas ou até erradas.

 E se gostava tanto de cri­anças – quem me conheceu em Folhadela, em Espinho ou nas ilhas da cidade do Porto (que são uma réplica dos bairros da lata de Lisboa ou dos bidons ville de Paris) sabe-o bem – é fácil de calcular o carinho pelos meus próprios filhos. A cada um me dava inteiramente. O mesmo com todas as crianças e cada uma que me surgisse. Nunca, penso eu, me dividi, porque pen­so que sempre temi a desinte­gra­ção como a morte. Ligar os grandes princípios da Filosofia e da Política ao concreto mais con­creto até o ínfimo pormenor talvez sugira ao menos um prisma da integração.

E, assim, a Maria Éster, que me gerara para uma nova visão do mundo e me propusera um ideal de vida com os órfãos, que em nada colidia com a vida conjugal (mesmo sacralizado com o tal matrimónio, excludente na concepção de clero e clerica­listas), que alinhava nos entusi­as­mos esclarecidos de um Cesa­re Bertulli, que sabia desdobrar-se para em tudo ser perfeita, a Maria Ester não podia deixar de ser a fonte de toda a minha força e o alvo de toda a minha ardência.

Foi neste contexto que surgiu a Maria Benedita, recém-nascida numa aldeia denominada Cham­ba, situada entre a já referida pas­sagem de nível da Manga e a Inhamízua, filha de pai branco, português, septuagenário, e de mãe negra, de doze anos, que veio a falecer no parto ou logo após o parto.

Os missionários já deviam saber da nossa cumplicidade num ideal que nos levou ao ca­sa­mento e que, portanto, nos uniu muito para além de um simples amor universal ou de uma simples amizade.

O amor universal engloba, ne­cessariamente, toda a criatu­ra, e pode existir mesmo sem re­ciprocidade. A amizade, embo­ra sempre aberta a qualquer uma ou qualquer um, só pode englo­bar limitado número de pessoas, e não pode existir sem reciproci­dade. O amor conjugal, supondo sempre, necessariamente, o a­mor universal e a amizade, não pode englobar mais de duas pessoas.

É certo que dificilmente os cônjuges se podem realizar ple­namente se trabalharem no mes­mo local, mas pode muito bem tra­balhar-se no mesmo empreen­di­­mento em sectores diferentes e sem qualquer subordinação re­cí­proca. E há casos até, embora raros, em que o amor conjugal em nada é afectado e até se for­talece num trabalho em comum, sobretudo se o mesmo ideal os une, como aconteceu com os es­posos Curie.

A Maris, uma amiga também aliada a esse ideal (já muito antes da minha adesão), não acre­ditou que, a braços com fi­lhos próprios, isso se pudesse concretizar. Talvez nunca tivesse ouvido falar dos numerosos ca­sais de missionários de outras Igrejas (não romanas). Talvez, ao menos no subconsciente, tam­bém considerasse excludente o sacramento do matrimónio – remedeio providencial para o co­mum dos pobres seres humanos sem ideais mais altos. Talvez es­tivesse despeitada por a amiga a não ter convidado para o ca­samento, como esperava, porque em tempos se haviam prometido que o fariam, quando alguma de­­las casasse... Mas nós dois reagimos, desafiamo-la, testemu­nhando a nossa convicção e resolução inabalável. Longe de ser um estorvo, o nosso casa­mento era uma força a mais. Mas ela e uma outra colega sor­riam...

Também um médico, nosso amigo, professor catedrático da Universidade de Coimbra, conhe­ce­dor desse ideal já antes do ca­samento, advertira-me de que eu, como celibatário, poderia muito melhor servir essa obra, porque trataria todas as mães adoptivas por igual. Respeitei a opi­nião; mas fiquei a matutar: se um cristão triste é um triste cristão – como sempre ouvi dizer quando era impelido a fechar-me em mim mesmo por desa­guentar aqueles ambientes hostis onde durante tanto tempo fui obrigado a viver – muito mais um padre triste seria um triste padre, e eu, se aceitasse o ce­libato, seria um desses tristes padres, porque não tinha voca­ção para tal.

Havia, além disso, a consi­derar que, para mim, o matrimó­nio, não quando apenas no pa­pel, mas quando válido por res­pei­tar os componentes essenci­ais, nunca é um laço estrangu­lador, mas uma progressiva liber­tação. 

E, no serviço ou na vida so­cial, nunca admiti que o facto de serem cônjuges – ainda que a trabalharem juntos ou  a diver­tirem-se juntos – désse lugar a discriminações ou a sentimentos de ciúme. Seria batota, e duvido muito que, com batota, pudessem perdurar amizades e, menos ain­da, o próprio amor conjugal.

Para mim, falta de pudor, por exemplo, pode até não incluir nudez, desinibição ou um à von­tade de gente que se estima. Para mim, falta de pudor é, isso sim, diante de terceiros, ter atitu­des que só o  amor conjugal – e nunca a simples amizade ou o amor universal – permite, legi­tima, torna saudável, transforma em prazer, alegria, felicidade.

O exibicionismo de actos só aceites entre casais seria um desafio aos elementos do grupo ou aos circunstantes, uma provo­ca­ção que só pode gerar mal es­tar, constrangimento, senão mesmo o ridículo e, quem sabe se, em certos casos, frustração.

Havendo respeito por cada pes­soa e pelo grupo, e elimi­nan­do manifestações de amor conjugal, penso que tudo é per­mitido, e um grupo de adultos de ambos os sexos pode funcio­nar maravilhosamente ainda que se dê o caso de não saberem do estado civil de cada um.

É interessante que, mais tar­de, Hermann Gmeiner, na estru­tu­ração das aldeias S. O. S., pre­vê a presença masculina: pelo menos a de um homem casado e com filhos, na figura do chefe de cada aldeia.

Parece que estávamos no bom caminho, e sem receios de que o tal sacramento fosse ex­cludente.

Quanto às amigas da Maria Es­ter, nunca me esquece como nos olhavam com um sorriso, iró­nico talvez, mas também de admi­ração e alegria. Elas conheciam-na bem e de longa data, e excla­mavam: – Sois uns pontos!

Pois esses dois pontos es­ta­vam, enfim, no momento da prova real de que nem o sacra­mento dito excludente nem os fi­lhos eram estorvo para a rea­lização de projectos altruísticos e missionários, os mais arrojados que fossem.

A prova dos nove já tinha sido tirada e estava certa: nada de incompatibilidades intrínsecas ou de natureza.

E por que haveria de haver contradições essenciais (per se), se todos temos de ter uma vida profissional a par de um estado de vida? Absurdo é estabelecer conflitos entre profissão e família.

Mas é claro que per accidens tudo é possível acontecer, por melhor que se tenha projectado qualquer actividade, seja dentro do lar, seja no convento, seja no local de residência, seja no de trabalho, seja na vida social, política ou mesmo religiosa.

A prova real é sempre neces­sária. A teoria – por muito  bem elaborada que seja – pode ter si­do omissa em algum ponto: a prática é que vai dizer a última palavra, ao menos enquanto a teoria não for remodelada ou aper­feiçoada.

Naquele ansiado dia – afinal talvez só por mim, sempre na boa fé daqueles consensos pré-matrimoniais – ia começar o prova real.

A Maria Benedita – nome que evocava a Missão que, por meio de nós, a acolhia – era mais uma das nossas filhas.

E logo pensei nos aspectos legais desta nova (mas há muito  desejada) aventura, e escrevi ao administrador do concelho (a Beira, pela sua categoria de ci­dade, tinha o estatuto de conce­lho e não de administração) a perguntar como poderia adoptar a criança cuja identidade indica­va.

Só que, em vez de resposta, fui intimado a depor em tribunal  como testemunha de acusação (ou como queixoso?) num pro­ces­so crime que o Ministério Público – baseado na minha car­ta com intuitos bem diversos – instaurara contra o pai da cri­ança.

Compareci na audiência de ba­lalaica, por acaso até de mangas compridas, e de calças também compridas (ai se não fossem!), pensando que, num cli­ma tropical, até me apresentava de um modo muito decente e res­peitoso.

Não entendeu assim o meri­tís­simo, que de imediato me obriga a levantar, perguntando se eu, ao sair de casa, não sabia para onde ia, para me apresentar assim tão à vontade... Comecei logo a fazer a figura de réu, porque, afinal, até o fim da audiência, fui o único agredi­do.

A defesa – na pessoa, não me lembro bem se do Dr. Palhi­nha, se  do Dr. Ermitão – depois de ouvir várias testemunhas apre­sentadas pelo acusado, e que con­firmavam a virilidade do réu (nunca percebi bem que vanta­gem haveria em mais esta indi­cação de que, de facto, se trata­va do pai da criança), discursou eloquentemente sobre os familia­res da falecida e precoce mãe, que ignoravam e se perguntavam o motivo de terem de estar ali num tribunal. Afinal o sucedido não estava nos parâmetros dos seus usos e costumes, que to­dos devemos respeitar?

Perguntado se me queria ou­vir (aliás como fizera o Delegado do Procurador da República), simplesmente respondeu que não.

E o meritíssimo, embora con­de­nando o procedimento do réu, lamentou que a legislação não lhe permitisse condená-lo, e, as­sim, o absolveu.

Em artigo de jornal, publicado no Diário de Moçambique, mostrei toda a minha indignação por um tribunal aceitar o retorcimento da lei consuetudinária (aliás muito respeitável) e a degenerescência de usos e costumes (também muito respeitáveis) para defesa – e eficaz! – de um crime bem óbvio em qualquer código penal de qualquer parte do mundo dito primitivo ou dito civilizado.

Pouco depois, perante a mi­nha insistência em saber como le­galizar a situação da criança a­colhida em minha casa, o admi­nistrador (um desses todo-pode­rosos da época) telefonou-me a dizer que não estava obrigado a responder a cartas de particu­lares, e nem sei se me chegou a indicar a repartição a que me deveria dirigir.

O caso, porém, encerra-se de outro modo: a criança adoece e tem de ser entregue aos cuida­dos hospitalares. Felizmente a en­fermeira era uma religiosa nos­sa amiga e tenho a certeza de que fez por ela tudo quanto faria por um dos nossos filhos de san­gue.

Quando voltei ao hospital central da Beira, já a encontrei sem vida, mas soube que, nos der­radeiros momentos, havia si­do baptizada com o nome de Ma­ria Benedita.

No dia seguinte acompanhei-a a enterrar no cemitério de santa Isabel, no Maquinino, na mar­gem direita do Chiveve. Avisei o pai, mas ele não com­pareceu.

Como foi a prova real? Não das mais felizes: não pelo seu desaparecimento físico – isso já me tinha acontecido ao meu pri­meiro filho nascido em Roma e sepultado, dois dias depois, no cemitério de S. Lourenço fora-dos-muros, e havia de voltar a acontecer, dentro de um ano, após os acontecimentos atrás narrados, ao sexto filho (de san­gue), gémeo do sétimo, também ali, no hospital e no cemitério da Beira – mas porque ficou evi­­dente que a mãe adoptiva, embora a tratasse com toda a caridade, embora suportasse as insinuações de estranhos de que essa criança seria fruto de meus devaneios com alguma negrita, a verdade é que não tinha a mesma paciência e de  modo nenhum a mesma alegria que sempre tinha para com os filhos de sangue. Esses, sim, ti­vessem ou não sido esperados ou desejados, sempre foram re­ce­bidos com imensa ternura e alegria, sem nunca ter saído da sua boca qualquer palavra de re­volta ou sequer de impaciência, como acontecia com a Maria Benedita.

Quando hoje, na Aldeia S.O.S. de Laulane, na periferia do Maputo, vejo mães adoptivas que têm os seus filhos de sangue em casa (às quais só vão nos fins de semana) pergunto-me se isso estará nos parâmetros traça­dos pelo Dr. Hermann Gmeiner.

E também a figura da «tia», que fica a substituir a «mãe» nes­sas folgas. Parece-me estar­mos a retorcer tanto a cultura banta como o espírito que deve animar as Aldeias S. O. S.

E também me pergunto se essas mães darão aos filhos ado­ptivos o mesmo amor que dão aos filhos do próprio ventre. Falo de amor maternal: não de instin­to maternal.

Há casos, é certo, de adop­ção da parte de casais já com filhos que, se umas vezes não resulta, muitas outras dão os me­lhores resultados. Como me lembro daquela grande mulher que foi a Adélia, casada com o Roque, nossos visinhos em Coa­lane e  também do nosso grupo de casais! E de muitos outros casos motivados pela guerra ou outros acontecimentos. Ainda não há muito a televisão, não me recordo de que país, nos fazia reflectir no caso de um sol­dado que salvara uma criança e, não tendo a quem  a entregar, a levara para casa, esbarrando de imediato com dolorosa opo­sição. Por fim, o bom senso e o amor triunfam: a criança é aco­lhida no meio dos outros filhos e todos crescem e se formam e se lançam na vida, felizes. Não vou dizer que a instituição familiar se salvou  à custa do sacrifício de algum ou alguns dos seus mem­bros ou de alguma pessoa estranha. Vou dizer, sim, que a felicidade de todos e de cada um foi possível, porque souberam optar pelo amor universal, pela ami­zade, e, assim, também o amor conjugal perdurou. Este é que, no fundo, tornou feliz toda a família. Ai dos filhos que não são gerados e educados no amor conjugal! E ai dos pais também! E de nada vale (porque no fundo até piora tudo) querer camuflar a falta de amor conjugal com uma amizade ou um querer bem insípidos...para salvar aparên­cias, estatuto social, os filhos (que engano!), a instituição fami­liar (que hipocrisia!).

Voltando às Aldeias S.O.S., penso que a única mulher casa­da e com filhos próprios peque­nos será a do chefe de aldeia – a tal presença masculina pre­vis­ta por Hermann Gmeiner.

Fracassado embora, este foi mais um episódio da minha pas­sa­gem pela Manga, no início da imensa savana, onde vivi cerca de seis anos.

Aliada a essa savana sem fim, de horizontes diferentes de todos os outros horizontes, com nuances em cada instante do dia ou da noite, complementada pelas variações do céu e suple­men­tada pela nossa sempre vari­á­vel maneira de a contemplar, aliada a essa savana de beleza ímpar, porque mesmo na suces­são há sempre o ímpar, aliada a essa savana, fica-me sempre presente a Maria Benedita – mais do que filha de paternidade tardia e maternidade precoce – filha, isso sim, do grande ideal que me aproximou da Maria Ester e nos levou, por fim, ao amplexo conjugal.

A mulher na Igreja

Por Porfírio Borges (Porto)

Apesar da reflexão que se vem fazendo, por vezes, com demasiada paixão, sobre se a mulher deve ou não ser orde­nada sacerdote, tenho-me manti­do indiferente ao assunto. Não porque me alheie dos problemas da minha Igreja, mas porque en­tendo que me devo preocupar com o essencial da minha fé e não com uma lei que, até os pró­prios que a querem abolir, dizem tratar-se de uma simples tradição. Ora, se for esta a sua sustentação, podemos aguardar que a sua queda, mais cedo ou mais tarde, acabará por aconte­cer. Contudo, em virtude de duas notícias que abaixo comento, senti que era a hora de juntar à discussão a minha forma de ver.

    Quanto a mim, correndo o risco de ouvir muitas vozes dis­cor­dantes, reconheço que nos últi­mos tempos, apesar de se manter a proibição, no que se refere à ordenação sacerdotal, as mulheres na Igreja têm vindo, e muito bem, a assumir responsa­bilidades na pastoral e mesmo na liturgia. E não é só em “servi­ços” secundários. Vejo-as como ca­tequistas, professoras de mo­ral, coordenadoras de várias o­bras e movimentos cristãos, bem como em estruturas de solidarie­dade e sempre bem aceites e res­peitadas.

Como se vê aquelas que que­rem trabalhar seriamente no reino de Deus não estão impedidas de o fazer como leigas. Por mim, também impedido de “ascender” ao sacerdócio pelo facto de ser ca­sado, nunca me senti descrimi­nado, porque, desde novo a mi­nha preocupação não foi imitar os clérigos, mas a de encarar a mi­nha missão como leigo no Mun­do. E não acredito que tenha es­colhido a pior parte, ou posto em causa a minha salvação.

Quanto às mulheres, mais do que se preocuparem com esta “dis­criminação” deveriam comba­ter as razões por que são tão pou­cas no governo, no parla­mento, na gerência das grandes empresas e pelos seus venci­mentos serem quase sempre inferiores aos dos homens.

Mesmo com os seus “pecadi­lhos”, a verdade é que não po­de­mos ignorar que é a Igreja quem mais tem valorizado e de­fen­dido a dignidade da mulher.

Fazendo eu esta leitura, pen­sava que, embora com avan­ços e recuos, se estava a fazer uma caminhada segura e mini­mamente consensual. No entan­to, fiquei desagradavelmente sur­pre­en­dido ao tomar conheci­mento das seguintes notícias:

A primeira, vinda de Roma, anuncia algumas restrições que o Vaticano pretende repor em re­lação à participação das mu­lheres na liturgia. A segunda, de um dos nossos bispos, vai mais longe ao afirmar – natural­mente com outros termos, pois não fiz gravação – que na Igreja há demasiadas mulheres a exer­cer funções: Elas rodeiam o altar como acólitas, ministras da co­mu­nhão, catequistas e zelado­ras. E isto, segundo ele, é mau, porque os rapazes adolescentes são afugentados, por isso, da Igreja.

Se, de facto, a presença das mulheres em cargos ditos se­cun­dários é tão perturbadora, o que seria com elas a presidir às celebrações?

Posteriormente, quanto à de­claração do Bispo, os seus cole­gas da província eclesiástica de Braga fizeram um comunicado a esclarecer ter havido má inter­pretação, pois o que se preten­dia dizer é que deveria haver mais equidade na participação de ambos os sexos. Também no que se refere à notícia oriunda do Vaticano, os responsáveis da nossa Igreja que se pronunciaram sobre o assunto são unânimes em dizer que não pode ser ver­dadeira e até eles próprios a con­sideram contra a corrente. Com estes esclarecimentos de que, aliás, só tomei conhecimen­to depois de já ter esquematizado esta reflexão, parece que deixa­riam de ser pertinentes os co­men­tários que se seguem.

No entanto, já que comecei a reflexão, vou levá-la até ao fim. É que mesmo que estas si­tua­ções estejam explicadas, não deixo de pensar que haverá quem desejasse que tivessem sido verdadeiras. Por isso per­gun­to:

Sendo a mulher tal como o ho­mem uma criatura com direito à salvação será que Deus fica triste por elas encherem os altares? E se fossem os homens ficaria contente? Terá alguma ló­gica insinuar que os adolescen­tes não vão à Igreja por esta ter os “pelouros” ocupados pelo sexo feminino? Se isso fosse ver­dade não é de admitir que a si­tuação se agravaria com as mulheres sacerdotes?

Claro que não tenho esta versão redutora, pois que me identifico com S. Paulo, na sua carta aos Coríntios 12-4,6: “Os dons são diferentes, mas o Espí­rito é o mesmo. Há funções diferentes, mas o Senhor é o mesmo. Há trabalhos diferentes, mas Deus é um só”.

Como se vê no Reino há fun­ções e trabalhos diversificados, mas não se diz qual deles é o mais importante, nem em parte alguma se exclui a mulher.

Assim, todos devemos dese­jar que “notícias” destas, mesmo que não confirmadas, não se re­­pi­tam e que os homens e as mu­lheres, seja qual for o seu es­tado, tenham possibilidades de continuar a fazer a sua caminha­da na procura e vivência da fé,de acordo com o seu carisma.


A realidade como futuro

Por Leonardo Boff (Brasil)

Há vasto consenso na comuni­da­de científica de que o universo e todos os seres se originaram de um processo evolutivo, inici­a­do há cerca de 15 mil milhões de anos, a partir do vácuo quân­tico e da primeira singularidade, o big-bang, de milhões de graus de calor. Depois começou a es­friar-se e a expandir-se, fazendo surgir campos energéticos, top­quarks, átomos, galáxias, estrelas e planetas como o nosso. Há 3,8 mil milhões de anos irrompe­ram nos pântanos primordiais da Terra, formas primitivas de vida. Estas se complexificam no modo de plantas, répteis, pássaros e ma­míferos. Um desses, os huma­nos, dotou-se, nos últimos 4-5 milhões de anos, de autoconsci­ência e subjetividade. O processo global não teve pressa nem foi progressivamente linear. Conhe­ceu rupturas, devastações e mui­to desperdício. Apesar disso, nu­ma perspectiva global, pode-se identificar no processo cosmogé­nico, uma linha ascendente que vai do simples ao complexo, da matéria à vida e da vida à cons­ciência. A astrofísica, há tempos, vem afirmando que, para apare­cer a vida foram necessárias pré-condições nos primeiros micromo­vi­mentos da matéria e da ener­gia primordiais. Sem elas, não haveria densificação suficiente e, por isso, não se teria formado a matéria, as estrelas e, por fim, a vida, a consciência e nós que estamos aqui.

Desta narrativa se infere que o universo tinha e tem um futuro pela frente. Ele está ainda nas­cendo e é grávido de promessas. Nesta visão (chamamos a isso de metafísica) o futuro é mais im­portante e decisivo que o pas­sado e o presente. Passado e pre­sente um dia foram futuro. Mas como se há de entender esse futuro?

Na visão estática, o futuro co­mo produção do novo, não existe. O que existe é o passado que contém seminalmente tudo. Presente e futuro são desdobra­mento do passado. A filosofia clás­sica do Ocidente e a teologia oficial da Igreja pensa nos qua­dros desta metafísica do passa­do. Curiosamente também moder­nos neodarwinistas, do materialis­mo evolucionista, como o influen­te zoólogo inglês Richard Dawkins (O rio que saía do Éden, Rocco, 1996) e o filósofo norte-ameri­ca­no, Daniel Dennett, que pensa a partir da genética e da biologia molecular (Ideia perigosa de Darwin: evolução e o sentido da vida, Nova York 1995), negam um futuro, portador do novo. O que realmente vigora, segundo eles, é um determinismo estrita­men­te físico que reorganiza a ma­téria inanimada que sempre existiu. Essa matéria desde o iní­cio contém latentemente o que depois se vai desdobrando. O pro­cesso evolutivo apenas preci­sou de um longo tempo para permitir a vida e a consciência sur­girem. E há ainda estoque de outras possibilidades.

Esta visão reduz tudo à física e à química da matéria e abstrai de coisas que não podem faltar, como a forma pela qual se dão as combinações. Para alguma coisa ser real precisa de infor­ma­ção, quer dizer, de algum grau de forma, de ordem e de es­truturação como a cadeia DNA. Essa ordem não é algo físico, mas um modo de ser. Ela irrompe como imprevisível e novidade. Vem do futuro por fazer e não do passado já feito. O futuro é re­po­sitório ilimitado das possibili­dades. Por isso é imprevisível. Mas olhando para o passado per­ce­bemos: mesmo imprevisível, tudo é direccionado para o fu­turo, para cima e para frente. O universo chama à vida e a vida à mais vida. Não é este o desí­gnio do Criador, o Futuro abso­luto?

A eleição do Papa

Por Frei Betto (Brasil)

Há mil anos, os papas são eleitos pelos cardeais nomeados por seus antecessores. Nos pri­meiros séculos da era cristã, os fiéis de Roma escolhiam os su­cessores de Pedro, em especial através do voto dos diáconos, que cuidavam das obras sociais. Considerava-se que os bispos, ca­sados com as suas respectivas igrejas, não deveriam intervir na es­colha do bispo de uma outra igreja, a de Roma, que serve de referência à unidade católica. Vive em comunhão com a Igreja católica quem se mantém em sintonia com a sé romana.

Outrora, diáconos e presbíte­ros deslocados de suas paró­quias para auxiliar em outras eram chamados de cardeais-diáconos e cardeais-presbíteros, ligados à nova função como a porta ao ba­tente por uma dobradiça ou “cardo”. Assim, aos poucos se formou o Colégio dos Cardeais.

No século IV, só os sacerdotes de Roma votavam na escolha do pontífice. As mudanças acen­tu­a­ram-se à medida que as elei­ções passaram a envolver dinhei­ro e concentração de poder. De­pois que o imperador Constanti­no reconheceu a Igreja, em 313, esta passou a dispor de conside­rável património.

Em princípio, qualquer católico do sexo masculino pode ser eleito papa, desde que disposto a aban­donar família (se for casa­do), abraçar o celibato e aceitar ser ordenado bispo. Gregório Ma­gno era prefeito de Roma quan­do o elegeram, em 604. Aos pou­cos, a instituição se clericali­zou e, em seguida, verticalizou-se. O último papa que, ao ser eleito, não era cardeal foi Gregó­rio XI, em 1370.

Desde que Leão III coroou Car­los Magno como imperador, na basílica de São Pedro, na noite de Natal de 800, o papado passou a defender-se dos pode­res temporais. Mas nos séculos IX e X os nobres interferiam nas eleições, em especial as famílias Teofilato, Crescenti e Tusculani.

Como evitar o nepotismo e a corrupção? Como assegurar que o eleito seja um homem digno? Buscou-se, então, entre os mon­ges, sobretudo no mosteiro fran­cês de Cluny e na Alemanha. For­taleceu-se o Colégio dos Car­deais. Desde 1059 só ele elege o papa. Quando ele se reúne pa­ra assessorar o papa é convo­cado um consistório. Quando se reúne para eleger o papa é con­vocado um conclave, que signifi­ca “debaixo de chave”.

No século XIII, os cardeais le­varam um ano e meio para ele­ger Inocêncio IV (1243-1254). Diante da demora, o povo roma­no, com apoio do senado, tran­ca­fiou o colégio cardinalício, obri­gando-o a decidir a eleição. No entanto, após a morte de Cle­men­te IV (1265-1268), a demora na escolha do novo pontífice alon­gou-se por dois anos e meio, até a escolha de Gregório X, em 1271. A população de Vi­ter­bo, onde os cardeais se reuni­ram, não só os manteve isola­dos, como os submeteu a uma di­eta de pão e água e arrancou o telhado do local do conclave em pleno inverno, forçando-os a sair do impasse.

Hoje, quando morre o papa, o prefeito da Casa Pontifícia co­munica ao cardeal carmelengo (mordomo), que bate o martelo três vezes na cabeça do defunto e, em seguida, declara-o oficial­mente morto, quebrando o Anel do Pescador. Logo, todos os car­deais são convocados a Roma para o novenário - durante nove dias, eles se reúnem para deba­ter o estado da Igreja, acompa­nhados de teólogos e assesso­res.

No décimo dia, todos aqueles que têm menos de 80 anos e, portanto, direito a voto, são reco­lhidos no conclave, sem direito a acompanhante e a qualquer contacto com o mundo exterior. Só quatro cardeais podem, se ne­cessário, quebrar a clausura: o vigário de Roma, o peniten­ciário, o carmelengo e o prefeito do Vaticano.

Hospedados na Santa Marta, um conjunto de apartamentos dentro do Vaticano, eles se diri­gem em procissão à Capela Sis­tina, onde são realizados quatro escrutínios por dia. Nos primeiros nove dias, o eleito tem que mere­cer 2/3 dos votos mais 1. A partir do décimo dia, basta a metade mais 1 dos votos.

Do actual Colégio do Cardeais, 60 podem participar da novena introdutória, mas estão impedidos de entrar na Capela Sistina. É o caso dos cardeais brasileiros Eu­génio Sales e Paulo Evaristo Arns.

João Paulo II expandiu o nú­me­ro de cardeais. Durante 500 anos, eles não passaram de 70. João XXIII ampliou para 80. Pau­lo VI, para 120. Agora, são 195, dos quais 134 em idade de votar, pois há um in pectore, ou seja, cujo nome só o papa conhece.

Dos eleitores, mais de 30 actuam na Cúria Romana e 101 são europeus. Mas isso não si­gni­fica que o próximo papa será um deles. Como diz o Evange­lho, o Espírito de Deus sopra onde quer, e não se sabe de on­de ele vem nem para onde ele vai...

Locais onde já não há culto

Por Carlos Leal (Almada)

Tive, muito recentemente, a feli­ci­dade de visitar uma parcela do norte de Portugal que consi­dero uma das mais belas (talvez mesmo a mais bela) das regiões do país. Toda a visita ocorreu num distrito onde se localizam mais de uma diocese, mas, no ca­so concreto, a minha estada foi apenas numa.

Não pude deixar de reflectir so­bre a enormidade de locais de culto católico espalhados por todos os sítios e alguns a escas­sos metros uns dos outros.

Poder-se-á dizer que, em tem­pos, a desertificação humana na­­queles locais era menor e que o acesso a um escasso quilóme­tro seria difícil. Mas, por outro lado, os lugares eram muito pe­quenos e, como tal, os habitantes de cada um deles também não seria significativo e, como hoje, na­turalmente, desprovidos de gran­des meios de subsistência. Mas, mesmo perante isto, rara­men­te há lugar sem mais do que um local de culto.

E, então, em terras maiores - hoje, vilas ou cidades - encon­tram-se igrejas (templos) em nú­me­ro impressionante. Casos há em que praticamente confinam uns com os outros. Muitas, sem­pre abertas, onde já não se pra­ticam actos de culto, mas bem preparadas para receber ofertas dos fiéis, nomeadamente com a modernice do acender de velas eléctricas através da introdução de moedas. E em muitas já não há culto e o número de presenças (visitantes) é irrelevante.

Estive numa vila piscatória onde numa missa vespertina (sá­bado), em templo relativamente grande, este se encontrava entre 50 a 60% das pessoas que pode­ria comportar e apenas havia três homens (incluindo-me nesse nú­me­ro).

A questão que aqui pretendo colocar não é apenas relativa a este exagerado número de tem­plos. Existem, não se podem de­molir. O que questiono é o seu aproveitamento.

Em tantos desses locais onde já não há culto, porque não re­con­verter os templos para activi­dades de outra natureza (sem prejuizo da preservação dos valo­res arquitectónicos e artísticos) que em todas as partes são ne­ces­sários? Porque não pensar na sua utilização, após a devida re­conversão, para idosos, crian­ças, escolas (há por aí tantas a ruir) e mesmo coisas de natureza cultural?

Dir-se-á, com razão, que nem para actividades desta índole ha­veria utentes por força da cada vez mais acentuada desertifica­ção.

Opções, contudo, não podem dei­xar de ser feitas. Manter tem­plos apenas para “turista ver” e caçar moedas não me parece certo.

Os senhores bispos não po­dem esquecer que a Igreja só tem sentido se verdadeiramente for serva e pobre. Eles - os bis­pos - têm de remar contra o mau e escandaloso exemplo do Vati­cano e denunciar as injustiças e a pobreza entre nós existentes.

Aos olhos de quem hoje tem a noção real das necessidades que por toda a parte grassam, repensar a utilização deste núme­ro avassalador de igrejas (tem­plos) é premente. Há-os erigidos em memória de santos de que qua­se nunca ninguém ouviu falar (em muitos casos nem os próprios habitantes dos locais). E seja-me permitido dizer que, se fosse hoje, com o número interminável de santos que se têm feito, não haveria já local para construir mais igrejas...

Os senhores bispos reunem-se tantas vezes, debruçam-se sobre tudo e mais alguma coisa, mas não são capazes de equa­cionar o que fazer com tantos templos que já não servem para nada.

Há, certamente, que saber pre­serverar, mas aquele excesso é incompatível nos dias que vi­vemos. Façam-se reconversões, museus, venda-se - em favor dos pobres - o que está a mais. Em certos casos com o dinheiro obtido poder-se-ia proceder a novas construções onde elas são efectivamente necessárias, evi­tando, assim, sobrecarregar os fieis.

Com as presentes palavras mais não se pretende que cha­mar a atenção para aquilo que os senhores bispos deveriam também reflectir. É claro que tudo teria de passar por uma pro­­funda mentalização das pes­so­as. E isto não é fácil e impli­ca­ria coragem a qual, como regra, os nossos presbíteros não têm. Pois se eles ainda não fo­ram capazes de convencer as pessoas a não andarem de joelhos em Fátima, ou locais similares... E de igual forma não foram nem são capazes de se revoltarem, em bloco, contra a obrigatoriedade do celibato, que é contra natura.

Confiemos que um novo Papa venha contrariar toda a regres­são destes últimos anos e a to­dos nos ponha a reflectir sobre estes e outros problemas aqui equa­cionados, à cabeça dos quais deverão estar a dissolução de Cúria vaticanesca e a escolha dos bispos pelas comunidades a que irão presidir.

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