|
DESTAQUE 1
Padre Mário regressou à Terra onde nasceu e foi criado,
até ser ordenado Presbítero, aos 25 anos de idade
Para vós, sou o rosto do Escândalo!
Foi a EiLOS, uma Associação que se propõe pôr Lourosa no mapa cultural do Distrito e do País, que organizou o meu regresso à Terra que me viu nascer. Quis pôr-me a falar sobre os meus livros e sobre o meu, no mínimo, surpreendente percurso de vida de presbítero da Igreja do Porto. O pretexto foi a recente publicação do meu Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação, Edição Areias Vivas. Como eu previa, a esmagadora maioria das pessoas de Lourosa ignorou a minha presença. As que apareceram foram de um carinho e de uma ternura inexcedíveis. Rosa Silva, da EiLOS, optou pela sessão em forma de entrevista. Partilho, pois, aqui o Texto com que contava abrir a sessão, se ela tivesse decorrido da forma tradicional. Deixo-lhes também, logo a seguir, o Poema Presbítero eu sou que cantei, a encerrar a sessão, e que escutei-escrevi para lá cantar, em primeira-mão, com a conhecida música de José Afonso, Fui à beira do mar. Eis.
Mais do que emocionado, por estar de regresso a Lourosa, a Terra onde nasci e fui criado até aos 25 anos de idade, estou preocupado /perturbado. Tenho consciência de que, para grande parte de vós, familiares de sangue incluídos, eu sou o rosto do Escândalo no nosso país. Quem haveria de dizer que o Mário, o filho da Ti Maria do Grilo e do Ti David, a quem a freguesia, 25 anos depois do seu nascimento, fez uma festa de arromba, por ocasião da chamada “Missa nova” (12 Agosto 1962), vinha a ser este Escândalo vivo que hoje sou, e de que este meu NOVO LIVRO DO APOCALIPSE OU DA REVELAÇÃO não só confirma, mas leva, até, às últimas consequências? Por isso, ele é, muito justamente, o mais odiado e mais silenciado de todos os meus livros!
Desde aquela “Missa do galo”, em 1964, em que eu disse, do altar paroquial para baixo, que “o menino-jesus era de caco”, o Escândalo nunca mais deixou de andar associado ao meu nome, ao meu ser-viver presbiteral em Igreja e em Sociedade. E o Escândalo só não rebentou, antes, no próprio dia da “Missa nova”, porque, então, era da praxe eclesiástica que o novo presbítero, ainda inexperiente, deveria calar-se e deixar que outro, mais experiente, pregasse na sua “Missa nova”. Coube ao meu tio cónego e monsenhor encarregar-se desse ofício e ele (parece que ainda estou a ver a cena!) vestiu-se a rigor com todos aqueles vermelhos de monsenhor e de cónego e subiu ao púlpito, plantado no meio da igreja /templo. Era o Poder Eclesiástico em todo o seu esplendor.
Tivesse sido eu a falar na “Missa nova” e já teria escandalizado as minhas conterrâneas, os meus conterrâneos, e os meus familiares, tal como Jesus, o filho de Maria, escandalizou, quando regressou à sua terra e foi à sinagoga falar /ensinar (cf Marcos 6; Lucas 4). Não foi na igreja paroquial, porque me silenciaram, mas foi no brinde do almoço da “Missa nova”, no terreno-quinta da casa do meu tio cónego e monsenhor! Levantei-me da mesa, a encerrar os brindes, e dirigi-me aos meus pais com estas palavras:
Oferecestes este vosso filho a Deus e Deus tomou-vos a sério. Aceitou-me! Não sou mais vosso, mas dEle. E ser de Deus é ser dos pobres, das vítimas da História. Ser de Deus é nunca mais ser do Ídolo que se faz passar por Deus verdadeiro, até no interior das Igrejas, e, assim, justifica todos os horrendos crimes de que anda tecida a História dos povos. Sabei, então, que nunca tirareis qualquer proveito material comigo. Nem prestígio social. Se me destes a Deus, não me destes ao Ídolo. E só o Ídolo é que dá privilégios, proventos materiais, prestígio, carreira eclesiástica, poder, influência. Como vós me destes a Deus, eis que estarei por toda a vida contra o Ídolo! E ele, furioso comigo, há-de perseguir-vos, humilhar-vos e perseguir-me, caluniar-me, excluir-me, expulsar-me de um lugar para o outro. Até poderá prender-me como traidor à pátria, arrastar-me aos seus tribunais. Serei a vergonha da família, da terra que me viu nascer e crescer. Numa palavra, serei um Ninguém, um Maldito, um Excomungado. Só porque sou de Deus e lhe obedeço, não sou do Ídolo nem lhe obedeço.
As pessoas presentes ouviram e estremeceram, menos a minha mãe e o meu pai. Sobretudo, menos a minha mãe. Ninguém se atreveu a comentar comigo e perante mim estas minhas palavras. Todos ficaram visivelmente incomodados com elas, mas fizeram de conta, deixaram para lá. O meu tio cónego e monsenhor deverá ter pensado, lá para com ele: Deixa que daqui a uns meses /anos, já pensarás e falarás de outro jeito! Felizmente, até ele se enganou a meu respeito! Radicalizei cada vez mais esta minha postura presbiteral e este meu dizer pastoral.
O Poder Eclesiástico fez tudo para que eu fosse dele, um dos rostos dele (e ser dele é igual a ser do Ídolo!), mas eu resisti-lhe sempre. Até hoje. Depois da primeira prisão política em Caxias, fez-me uma grande recepção na Casa do Bispo – o Poder por antonomásia, na diocese! Foi o pico mais alto da Tentação. Como com Jesus, no pináculo do Templo (cf Lucas 4, 9-12). O Bispo foi ao extremo de me identificar com Jesus e o seu Evangelho, quando, eufórico, afirmou: “Vinte séculos depois, o Evangelho voltou ao Pretório e, desta vez, saiu absolvido”. Estava fora dele. E porquê? Porque pensava que me tinha no papo! Pretendia – disse-me, dias depois – que eu abandonasse a Paróquia e a sua então humilhada gente, me afastasse da base da Pirâmide social, de junto dos Ninguém, esquecesse as minhas origens, e fosse tirar um doutoramento numa famosa universidade estrangeira, tudo a custas da diocese. Era a carreira eclesiástica em todo o seu esplendor, a mesma que ele, quando tinha também a minha idade de então, havia percorrido. O que ele não contava é com o meu rotundo NÃO!
O filho da Ti Maria do Grilo não é por aí que vai, disse-lhe, firme. Sou de Deus, não do Ídolo!
Obviamente, o Poder eclesiástico, também na pessoa do Bispo da Diocese, nunca mais me perdoou. E eu cada vez mais percebi, na minha própria carne, tudo o que ele tinha, tem de Perverso. Foi quando, algum tempo depois de eu ter regressado à Paróquia e ao meio da sua gente marginalizada, ele me retirou a Carta de pároco, embora me mantivesse em funções, e, depois, até o ofício de pároco me tirou, precisamente, no mesmo dia (21 Março 1973), em que eu fui preso, uma segunda vez, pela Pide, em Caxias. Fê-lo, certamente na esperança de que eu me renderia pela fome /pelo pão (sabem que ao ofício de pároco anda sempre atrelado um benefício eclesiástico que garante a própria sustentação e, muitas vezes, até um acumular de fortuna?). Ora, sem ofício pastoral, lá se ia também o benefício eclesiástico.
Só que eu, já sem o ofício de pároco, pude experimentar-me a sério presbítero da Igreja, ainda mais livre do que antes. E, em vez de capitular perante o Poder /o Ídolo e, assim voltar a ter direito ao pão envenenado que ele garante a quem o serve, resisti-lhe e fui procurar ganhar o pão com o suor do meu rosto, para, como presbítero da Igreja do Porto, poder dar totalmente de graça o que de graça havia recebido e recebo. Fiz-me jornalista no vespertino REPÚBLICA, onde, de resto, me foi concedida a Carteira Profissional.
A profissão secular foi simultaneamente a minha carta de alforria. Já não precisava mais do Templo nem do Altar. Nem sequer para sobreviver. Muito menos, para anunciar o Evangelho de Deus, revelado em e por Jesus, primeira e principal missão de um presbítero ordenado. Tinha outro “púlpito”, por sinal, bem mais na linha secular do de Jesus, depois que, também ele, se viu expulso das sinagogas da Galileia e do Templo de Jerusalém. E é assim que aqui me tendes, hoje, entre vós, como o corpo /o rosto presbiteral mais expressivo do Escândalo.
Em Agosto próximo, somarei, já, 48 anos de presbítero, qual deles o mais escandaloso. Mas apenas daquele tipo de Escândalo fecundo, que desmascara o Perverso que é o Ídolo /Poder Eclesiástico e que toda a Igreja deveria ser também, em cada um dos seus membros e como Igreja, no seu todo. Porque de Jesus, o filho de Maria, se diz, no século I, como agora se diz de mim, que ele é Escândalo para os Judeus e Loucura para os Não-Judeus. Hoje, diremos, até, que Jesus é Escândalo e Loucura, ao mesmo tempo, para a própria Igreja católica (e as outras Igrejas), desde a Cúria Romana até ao último pároco de aldeia. E é Escândalo e Loucura também para ateus e religiosos, de todas as religiões.
O Ídolo sempre soube o que fazia e continua a saber o que faz, também hoje, Século XXI. Em lugar de Jesus, a quem matou na Cruz do Império, a pedido dos sumos-sacerdotes do Templo (já vêem para que servem os sacerdotes, os templos, os ritos, os cultos litúrgicos, também aqui, em Lourosa. Não, não é a Deus que eles servem – Deus nem gosta dessas coisas de ritos e de cultos nos templos! – mas ao Ídolo. E como o Ídolo, também eles se instalam nas suas rotinas e nos seus rituais, nos seus negócios religiosos, que mais não servem senão para alimentar infantilismos e menoridades nas populações que os frequentam e pagam, já que é precisamente isso que o Ídolo sempre pretende).
Mas então o que é que o Ídolo sempre fez /faz com uma pintarola do caraças, que engana até o mais pintado, inclusive, os nossos intelectuais mais conceituados, os nossos teólogos de renome e os nossos biblistas de renome? Vejam só! Depois de matar Jesus na Cruz do Império, criou habilmente um seu substituto que dá pelo nome /apelido de Cristo /Ungido de Deus. Só que Cristo /Ungido do Deus Ídolo! Um mítico Cristo /Ungido pelo Império, pelo Ídolo do Império, esse mesmo que matou Jesus, por ele se lhe opor e o desmascarar. Um mítico Cristo /Ungido que não tem nada de Jesus. Apenas serve, no caso católico romano, para reforçar o Poder monárquico absoluto do Papa (Bispo de Roma é outra coisa muito diferente) e da sua Cúria Romana, o Poder Episcopal em cada diocese territorial (Bispo da Igreja é outra coisa muito diferente), e o Poder Paroquial /Eclesiástico em cada aldeia /cidade (Presbítero da Igreja é outra coisa muito diferente). Ao mesmo tempo, ainda dá uma mãozinha – que para isso servem as Concordatas, é claro! – ao Poder Político de cada nação; e dá também as mãos ambas ao Poder Financeiro Global, de que o católico romano faz parte, e que hoje é mais obsceno e mais assassino do que nunca antes havia sido, já que, hoje, trabalha sem descanso e de modo cientificamente organizado. E ainda por cima conta com os melhores cérebros humanos ao seu incondicional serviço, bem como com os meios tecnológicos mais sofisticados. Hoje, o Poder Financeiro Global até já consegue fazer acontecer sismos, como o do Haiti, aparentemente naturais (nada há hoje, no Planeta, sob o domínio do Poder Financeiro, que seja natural. Tudo é obra do Poder Financeiro, que continua aí desconhecido da maior parte das populações e dos povos do Mundo, mergulhados que vivem na alienação, na mediocridade, na dissipação, na ingenuidade. Nada hoje é natural no Planeta. Tudo tem a mão assassina do Poder Financeiro. Directa, ou indirectamente. Pensar o contrário, será ingenuidade. Tremenda ingenuidade, que se paga demasiado caro!
Se olharem para os meus 30 e tantos livros já editados (quantas casas em Lourosa têm um livro meu? Quantas pessoas em Lourosa já alguma vez leram um livro meu? E como é que haveriam de ter e de ler, se eu sou o rosto do Escândalo!? E como é que haveriam de ter e de ler, se eu, presbítero da Igreja do Porto, faço tudo ao contrário de vós, Povo católico de Lourosa? Vós ides regularmente ao templo do Ídolo, que é a igreja paroquial e a capela da Feira dos Dez, e eu já não vou a templo nenhum. Troquei toda essa Idolatria religioso-católica por Mesas Compartilhadas em nome e em memória de Jesus; ides à Missa ritual do Ídolo, eu não; ides devotamente a Fátima e à sua senhora cega, surda e muda, que não se comove nem se move do local onde é pousada, e eu não vou, nem sequer por turismo; dais os vossos filhos a baptizar e o funcionário eclesiástico que está à frente da paróquia aceita-os e baptiza-os com água, e eu já não baptizo ninguém em água, porque, com Jesus, baptismo só mesmo o do seu mesmo Espírito; casais as vossas filhas, os vossos filhos no templo do ídolo, num ritual que junta no mesmo saco, na pessoa do pároco, o Poder Político e o Poder religioso /Eclesiástico, numa promiscuidade absolutamente intolerável, e eu recuso-me há muito a presidir a semelhante Perversão, mesmo a pedido de pessoas minhas amigas; quereis, quando morrerdes, funeral religioso para o vosso cadáver, e eu não quero; reconheceis como sacerdotes do Ídolo, aqueles que, um dia, foram ordenados presbíteros como eu fui, e eu não reconheço. Presbítero é presbítero e tem tudo a ver com a Igreja /Movimento das, dos de Jesus. Sacerdote é sacerdote e tem tudo a ver com os cultos do Paganismo e do Judaísmo, até ter Acontecido na História Jesus, o filho de Maria, que não é sacerdote, nem nunca fez ninguém sacerdote e, até, foi assassinado por exigências dos sumos-sacerdotes do seu país. E não só não reconheço, como até os desmascaro /denuncio /combato, em duelos teológicos desarmados, como uns mercenários mais que são, ao serviço do Ídolo; finalmente, aceitais viver todos os dias na Mentira e na Idolatria, e eu combato uma e outra, todos os dias.
Lá estão os títulos dos meus livros que falam por si. Eis alguns, dos mais recentes e dos mais antigos: Nem Adão e Eva, nem Pecado Original; Fátima nunca mais; Chicote no templo; Maria de Nazaré; Nascer de Novo. Ensaio de catequese libertadora; Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu, porém, digo-vos; E Deus disse: Do que eu gosto é de Política, não de Religião. E, agora, para cúmulo, este meu Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação.
Se olhardes para a sucessão cronológica, por ordem de edição, dos títulos dos meus livros, vereis que eles reflectem e seguem o meu percurso de vida. Nasceram a partir da minha vida. E mostram bem o meu crescer na mesma Fé de Jesus. A lista abre com Evangelizar os Pobres (um título claramente programático para toda uma vida presbiteral, a minha, já que para isso nasci e vim o Mundo); e fecha (pode haver ainda outros a sair depois dele, mas este será sempre o meu “livro póstumo”) com Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação, que é assim como o Testamento que eu deixo /dou à Igreja (daí a Dedicatória do Livro a todos os Bispos e a todos os Presbíteros, para que nós, uma vez convertidos à mesma Fé de Jesus, confirmemos nessa mesma Fé todas as nossas irmãs, todos os nossos irmãos!) e simultaneamente ao Mundo.
Será que os bispos e os presbíteros e demais pessoas da Igreja, das Igrejas e da Sociedade civil em geral, ateus incluídos, vão pegar nele? Acolhê-lo? Escutá-lo? Conversá-lo? Fazer dele como que a sua Bíblia, hoje? Teriam de mudar de Deus, do Ídolo que servem e do qual se servem para justificar e manter os privilégios de que desfrutam, para o Deus Criador de filhas e de filhos, o Abbá de Jesus e o nosso.
Saibam que semelhante Revolução Teológica tem de acontecer na História, ou então não há futuro para o Planeta. Infelizmente, ainda estamos demasiado encandeados, sobretudo os grandes das Igrejas, com o Ídolo. E os próprios ateus são-no, hoje, ainda (quase) só do Ídolo religioso, não do Ídolo-Poder Financeiro. A este servem-no incondicionalmente. Sem quaisquer pesadelos. E com um fanatismo que chega a causar calafrios a quem está de fora a observar tamanha entrega ao Ídolo dos ídolos, o Poder Financeiro Global.
Sobre este "livro póstumo", só duas coisas rápidas:
1 Comparado com Caim, de Saramago, este meu Novo Livro do Apocalipse revela o que Caim habilmente esconde. Saramago, em Caim, entroniza o Assassino, como herói, como o grande (único) protagonista da História e submete-se-lhe, de forma que chega a ser obscena (é um idólatra laico!). Este meu Novo Livro do Apocalipse, ao contrário, deposita toda a sua esperança (virtude teológica, não idolátrica!) nos Abel, isto é, nas vítimas da História, nos assassinados /crucificados pelo Poder Financeiro Global. Hoje, a esmagadora maioria das populações. E por isso proclama que está próxima a nossa Libertação e a do Planeta, porque nunca como hoje houve tantas vítimas em massa e tanta Crueldade /Perversão Organizada em ininterrupto curso.
2 Comparado com o Apocalipse do chamado Novo Testamento (uma designação infeliz, diga-se), o meu Novo Livro do Apocalipse tem de comum o título (por isso, o adjectivo Novo a anteceder o título Apocalipse) e o objectivo a alcançar. Aquele revelou (tirou o véu das mentes) às vítimas do século I e do século II, a Besta, que era o Império Romano divinizado, bem como toda a sua propaganda e aos feitos que ele operava, aqui e ali, a favor de alguns, e sempre à custa das maiorias oprimidas e empobrecidas. O meu Novo Livro do Apocalipse revela aos Povos da Europa e do resto do Mundo as Máfias organizadas e todo-poderosas que são, hoje, os três Poderes que dominam /mandam no Mundo, concretamente, o Poder Financeiro Global e os seus dois braços direito e esquerdo. O direito, é o Poder Religioso /Eclesiástico; o esquerdo, é o Poder Político que está à frente de cada nação do Mundo.
Façamos, pois, deste livro, se a tanto nos atrevermos, o nosso vade mecum (vai-comigo /connosco). Veremos os nossos olhos de dentro abrir-se e logo mudamos do Ídolo e da Idolatria para Deus Criador de filhas e de filhos em estado de Liberdade e de Maioridade, vividas ambas num clima de Sororidade /Fraternidade universal Praticada. E acabaremos plena e integralmente Humanos, outros-Jesus, em feminino e em masculino. Porventura, também Crucificados /Ostracizados /Malditos como ele. Porque o Ídolo não perdoa, a quem o troca por DeusCriador, mais íntimo a nós do que nós próprias, nós próprios. Avance, pois, quem se atrever a ser, plena e integralmente, Humano! Eis. |
|
Presbítero eu sou!
1 Sou da Periferia
Vivo em casa arrendada
Longe da Idolatria
Entre gente parada
Ó tu, nos teus palácios
O que fazes da vida?
E tantos a viver
Em becos sem saída!
2 Sem Templo, sem Altar
Vivo para a Missão
De Evangelizar
Gerar Libertação
De que serve o Altar
P’ra onde corre o povo?
Senão para roubar
Quem não nasce de novo?
3 Tentado p’lo Poder
A ser Poder também
O NÃO que é o meu viver
Fez de mim um Ninguém
Ninguém eu quero ser
Sem qualquer mordomia
E na Trincheira ter
Jesus por companhia
4 Presbítero eu sou
Sacerdote é que não
E com Jesus eu vou
Mão-na-mão em Missão
Quem preside ao Altar
Ainda é pagão
Tem tanto para andar
E não sai da Prisão!
5 Tudo eu dou de graça
Que assim o recebi
Quem faz da Igreja safra
Não tem Jesus em si
Ó vendilhões dos Templos
Gente sem coração
Até c’os sacramentos
Matais o vosso irmão
6. Co’a Mesa Partilhada
Mais a Palavra, o Pão
Não preciso mais nada
Sou todo Comunhão
Unidos como os ramos
Os ramos da videira
Acabam-se os tiranos
Há vida companheira.
7. Podem caluniar-me
O mesmo que a Jesus
Podem até matar-me
Serei no Mundo Luz!
Ó chefes das Igrejas
Que é da vossa Alegria
Os ritos que fazeis
São pura Idolatria!
8. Presbítero assim
Duelo Desarmado
Tenho até contra mim
O Poder mais sagrado
O ódio que mais mata
É o da Idolatria
Chega a chamar Loucura
Á minha Alegria!
Cidade LOUROSA, 5 Fevereiro 2010,
na Sessão de apresentação do meu
NOVO LIVRO DO APOCALPSE OU DA REVELAÇÃO,
edição AREIAS VIIVAS |
|
DESTAQUE 2
Ghislaine Lanctôt
A Máfia Médica
A Máfia Médica é o título do livro que custou à doutora Ghislaine Lanctot a sua expulsão do colégio de médicos e a retirada da sua licença para exercer medicina. Trata-se provavelmente da denúncia publicada, mais completa, integral, explícita e clara, do papel que, a nível mundial, tem o complot formado pelo Sistema Sanitário e pela Indústria Farmacêutica. O livro expõe, por um lado, a errónea concepção da saúde e da doença, que a sociedade ocidental moderna tem, fomentada por esta máfia médica que monopolizou a saúde pública, criando o mais lucrativo dos negócios. Para além de falar sobre a verdadeira natureza das doenças, explica como as grandes empresas farmacêuticas controlam não só a investigação, mas também a docência médica, e como se criou um Sistema Sanitário baseado na doença, em vez de na saúde, que codifica doenças e mantém os cidadãos ignorantes e dependentes dele. O livro é pura artilharia pesada contra todos os medos e mentiras que destroem a nossa saúde e a nossa capacidade de auto-regulação natural, tornando-nos manipuláveis e completamente dependentes do sistema.
A autora de A Máfia Médica acabou os seus estudos de Medicina em 1967, numa época em que – como ela mesma confessa – estava convencida de que a Medicina era extraordinária e, de que antes do final do séc. XX, se teria o necessário para curar qualquer doença. Só que essa primeira ilusão foi-se apagando até extinguir-se. Segue-se a entrevista conduzida por LAURA JIMENO MUÑOZ, e que viu a luz em http://crimentales.blogspot.com/search/ label/Salud
P. Porquê essa sua decepção?
R. Porque comecei a ver muitas coisas que me fizeram reflectir. Por exemplo, que nem todas as pessoas respondiam aos maravilhosos tratamentos da medicina oficial. Para além disso, naquela época, entrei em contacto com várias terapias suaves – ou seja, praticantes de terapias não agressivas (em francês Médecine Douce) – que não tiveram problema algum em me abrir as suas consultas e em deixar-me ver o que faziam. Rapidamente concluí que as medicinas não agressivas são mais eficazes, mais baratas e, ainda por cima, têm menores efeitos secundários.
P. E suponho que começou a perguntar-se por que é que na Faculdade ninguém lhe havia falado dessas terapias alternativas não agressivas?
R. Assim foi. Logo a minha mente foi mais além e comecei a questionar-me como era possível que se chamassem charlatães a pessoas a quem eu própria tinha visto curar e porque eram perseguidas como se fossem bruxos ou delinquentes. Por outro lado, como médica, tinha participado em muitos congressos internacionais – em alguns como conferencista – e dei-me conta de que todas as apresentações e depoimentos que aparecem em tais eventos estão controladas e exigem, obrigatoriamente, ser primeiro aceites pelo comité científico organizador do congresso.
P. E quem designa esse comité científico?
R. Geralmente, quem financia o evento: a indústria farmacêutica. Sim, hoje são as multinacionais quem decide até o que se ensina aos futuros médicos nas faculdades e o que se publica e expõe nos congressos de medicina! O controlo é absoluto.
P. E isso foi clarificador para si...?
R. Muito! Dar-me conta do controlo e da manipulação a que estão sujeitos os médicos – e os futuros médicos, os estudantes – fez-me entender claramente que a Medicina é, antes de tudo, um negócio. A Medicina está hoje controlada pelos seguros públicos ou privados, o que dá na mesma, porque enquanto alguém tem um seguro perde o controlo sobre o tipo de medicina a que acede. Já não pode escolher. E há mais, os seguros determinam inclusivamente o preço de cada tratamento e as terapias que se vão praticar. E, se olharmos para trás das companhias de seguros ou da segurança social, encontramos o mesmo.
P. O poder económico?
R. Exacto, é o dinheiro que controla totalmente a Medicina. E a única coisa que de verdade interessa a quem maneja este negócio é ganhar dinheiro. E como ganhar mais? É claro, tornando as pessoas doentes, porque as pessoas sãs não geram lucros. A estratégia consiste em ter doentes crónicos que tenham que consumir o tipo de produtos paliativos, destinados apenas a tratar sintomas, medicamentos para aliviar a dor, baixar a febre, diminuir a inflamação. Mas, nunca fármacos /medicamentos que possam resolver de vez uma doença. Isso não é rentável, não interessa. A medicina actual está concebida para que a gente permaneça doente o mais tempo possível e compre fármacos /medicamentos; se possível, por toda a vida.
P. Deduzo que essa é a razão pela qual no seu livro se refere ao sistema sanitário como “sistema de doença”
R. Efectivamente. O chamado sistema sanitário é na realidade um sistema de doença. Pratica-se uma medicina da doença e não da saúde. Uma medicina que só reconhece a existência do corpo físico e não tem em conta nem o espírito, nem a mente, nem as emoções. E que, para além disso, trata apenas o sintoma e não a causa do problema. Trata-se de um sistema que mantém o paciente na ignorância e na dependência, e que é estimulado a consumir fármacos /medicamentos de todo o tipo.
P. Supõe-se que o sistema sanitário está ao serviço das pessoas!
R. Não está! Está ao serviço de quem dele tira proveito: a indústria farmacêutica. De uma forma oficial – puramente ilusória – o sistema está ao serviço do paciente, mas oficiosamente, na realidade, o sistema está às ordens da indústria que é quem move os fios e mantém o sistema de doença em seu próprio benefício. Em suma, trata-se de uma autêntica máfia médica, de um sistema que cria doenças e mata por dinheiro e por poder.
P. E que papel desempenha o médico nessa máfia?
R. O médico é – muitas vezes de uma forma inconsciente, é verdade – a correia de transmissão da grande indústria. Durante os 5 a 10 anos que passa na Faculdade de Medicina o sistema encarrega-se de lhe inculcar uns determinados conhecimentos e de lhe fechar os olhos para outras possibilidades. Posteriormente, nos hospitais e congressos médicos, é-lhe reforçada a ideia de que a função do médico é curar e salvar vidas, de que a doença e a morte são fracassos que deve evitar a todo o custo e de que o ensinamento recebido é o único válido. E mais, ensina-se-lhes que o médico não deve implicar-se emocionalmente e que é uma espécie de «deus» da saúde. Daí resulta que exista caça às bruxas entre os próprios profissionais da medicina. A medicina oficial, a científica, não pode permitir que existam outras formas de curar que não sejam servis ao sistema.
P. O sistema, de facto, pretende fazer crer que a única medicina válida é a chamada medicina científica, a que você aprendeu e que, pelos vistos, renegou. Precisamente no mesmo número da revista em que vai aparecer a sua entrevista, publicamos um artigo a propósito.
R. A medicina científica está enormemente limitada, porque se baseia na física materialista de Newton: tal efeito obedece a tal causa. E, assim, tal sintoma precede tal doença e requer tal tratamento. Trata-se de uma medicina que só reconhece o que se vê, se toca, ou se mede. E que nega toda a conexão entre as emoções, o pensamento, a consciência e o estado de saúde do físico. E quando a importunamos com algum problema desse tipo, ela cola logo a etiqueta de doença psicossomática ao paciente e envia-o para casa, receitando-lhe comprimidos para os nervos.
P. Quer dizer que, no que lhe toca, a medicina convencional só se ocupa em fazer desaparecer os sintomas.
R. Sim, excepto no que se refere a cirurgia, antibióticos e algumas poucas coisas mais, como os modernos meios de diagnóstico. Dá a impressão de curar, mas não cura. Simplesmente elimina a manifestação do problema no corpo físico, mas este, cedo ou tarde, ressurge.
P. Pensa que dão melhor resultado, as chamadas medicinas suaves ou não agressivas?
R. São uma melhor opção, porque tratam o paciente de uma forma holística [= como um todo, não apenas como um corpo físico] e ajudam-no a curar... mas tão pouco elas curam. Olhe, quaisquer das chamadas medicinas alternativas constituem uma boa ajuda, mas apenas isso. São complementos! Porque o verdadeiro médico é o próprio paciente. Quando está consciente da sua soberania sobre a saúde, deixa de necessitar de terapeutas. O doente é o único que pode curar-se. Nada nem ninguém podem fazê-lo em seu lugar. A autocura é a única medicina que cura. A questão é que o sistema trabalha, para que esqueçamos a nossa condição de seres soberanos e nos convertamos em seres submissos e dependentes. Nas nossas mãos está, pois, romper essa escravidão.
P. E, na sua opinião, porque é que as autoridades políticas, médicas, mediáticas e económicas o permitem? Porque é que os governos não acabam com este sistema de doença que, por outro lado, é caríssimo?
R. Acerca disso, tenho três hipóteses. A primeira, é que talvez não saibam que tudo isto se passa... mas é difícil de aceitar que não saibam, porque a informação está ao seu alcance, há muitos anos e nos últimos vinte anos foram já várias as publicações que denunciaram a corrupção do sistema e a conspiração existente. A segunda, é que não podem acabar com ele... mas também é difícil de acreditar, porque os governos têm poder.
P. E a terceira, suponho eu, é que não querem acabar com o sistema.
R. Pois o certo é que, eliminadas as outras duas hipóteses, essa parece ser a mais plausível. E se um Governo se nega a acabar com um sistema que arruína e mata os seus cidadãos é porque faz parte dele, porque faz parte da máfia.
P. Quem, na sua opinião, integra a “máfia médica”.
R. Em diferentes escalas e com distintas implicações, com certeza, a indústria farmacêutica, as autoridades políticas, os grandes laboratórios, os hospitais, as companhias seguradoras, as Agências dos Medicamentos, as Ordens dos Médicos, os próprios médicos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) - o Ministério da Saúde da ONU - e, com certeza, o governo sombra mundial do Dinheiro.
P. Entendemos que, para si, a Organização Mundial da Saúde é “a máfia das máfias”?
R. Assim é. Essa organização está completamente controlada pelo Dinheiro. A OMS é a organização que estabelece, em nome da saúde, a “política de doença” em todos os países. Todo o mundo tem que obedecer cegamente às directrizes da OMS. Não há escapatória. De facto, desde 1977, com a Declaração de Alma Ata, nada pode escapar ao seu controlo.
P. Em que consiste essa declaração?
R. Trata-se de uma declaração que dá à OMS os meios para estabelecer os critérios e normas internacionais da prática médica. Assim, foi retirada aos países a sua soberania, em matéria de saúde, para transferi-la para um governo mundial não eleito, cujo “ministério da saúde” é a OMS. Desde então, “direito à saúde”, significa “direito à medicação”. Foi assim que impuseram as vacinas e os medicamentos a toda a população do globo.
P. Uma acção que não é questionada por ninguém
R. É claro, porque, “quem vai ousar duvidar das boas intenções da Organização Mundial de Saúde?” Com certeza, há que perguntar quem controla, por sua vez, essa organização através da ONU? A resposta é: O poder económico-financeiro!
P. Pensa que, nem sequer as organizações humanitárias escapam a esse controlo?
R. Com certeza que não. As organizações humanitárias também dependem da ONU, ou seja, do dinheiro, das subvenções. E, portanto, as suas actividades estão igualmente controladas. Organizações como Médicos Sem Fronteiras acreditam que servem altruisticamente as pessoas, mas na realidade servem o Dinheiro.
P. Uma máfia sumamente poderosa!
R. Omnipotente, direi eu. Eliminou toda a concorrência. Actualmente, até se “orientam“ os investigadores. Os dissidentes são encarcerados, manietados e reduzidos ao silêncio. Aos médicos “alternativos” intitulam-nos de loucos, retiram-lhes a Carteira Profissional, ou encarceram-nos, também. Os produtos alternativos rentáveis caíram igualmente nas mãos das multinacionais, graças às normativas da OMS e às patentes da Organização Mundial do Comércio. As autoridades e os seus meios de comunicação social ocupam-se a alimentar, entre a população, o medo da doença, da velhice e da morte. De facto, a obsessão por viver mais, ou, simplesmente, por sobreviver, fez prosperar inclusivamente o tráfico internacional de órgãos, sangue e embriões humanos. E em muitas clínicas de fertilização, na realidade “fabricam-se” uma multidão de embriões, que logo se armazenam para serem utilizados em cosmética, em tratamentos rejuvenescedores, etc. Isso sem contar com o que as radiações que se introduzem nos alimentos, com as modificações dos genes, a contaminação da água, o ar envenenado. E mais, as crianças recebem, absurdamente, até 35 vacinas. antes de irem para a escola. E assim, cada membro da família tem já o seu comprimido: o pai, o Viagra; a mãe, o Prozac; o filho, o Ritalin. E tudo isto, para quê? O resultado é conhecido: os custos com a saúde sobem, sobem, mas as pessoas continuam a adoecer e a morrer da mesma forma.
P. O que explica que o sistema de saúde imperante é uma realidade que cada vez mais gente conhece, mas por isso surpreendem-nos algumas das suas afirmações a respeito do que define como ´”as três grandes mentiras das autoridades políticas da saúde”.
R. Pois reitero-o aqui: as autoridades mentem, quando dizem que as vacinas nos protegem; mentem, quando dizem que a sida é contagiosa; e mentem, quando dizem que o cancro é um mistério.
P. Bem, falaremos disso, ainda que, desde já lhe adianto, nós, na revista, não compartilhamos alguns dos seus pontos de vista. Se lhe parece bem, podemos então começar por falar das vacinas. Na nossa opinião, a sua afirmação de que nenhuma vacina é útil, não é sustentável. Já uma coisa com que concordamos, é que algumas são ineficazes e outras inúteis; às vezes, até perigosas.
R. Pois eu mantenho todas as minhas afirmações. A única imunidade autêntica é a natural e essa desenvolve-a 90% da população, antes dos 15 anos. E mais, as vacinas artificiais curto-circuitam por completo o desenvolvimento das primeiras defesas do organismo. E dizer que as vacinas têm riscos, é algo muito evidente, apesar de sempre se ocultar. Por exemplo, uma vacina pode provocar a doença que pretende prevenir. Porque não se advertem disso as populações? Também se oculta que a pessoa vacinada pode transmitir a doença, embora ela não esteja doente. Assim mesmo, não se diz que a vacina pode fragilizar a pessoa perante a doença. Ainda que o mais grave seja que se oculte a inutilidade, já constatada, de certas vacinas.
P. A quais é que se refere?
R. Às das doenças, como a tuberculose e o tétano. As respectivas vacinas não conferem nenhuma imunidade; a rubéola, de que 90% das mulheres estão protegidas de modo natural; a difteria, que durante as maiores epidemias só alcança 7% das crianças e, apesar disso, hoje, é vacina administrada a todas; a gripe, a hepatite B, cujos vírus se fazem rapidamente resistentes aos anti-corpos das vacinas.
P. E até que ponto podem ser também perigosas?
R. As inumeráveis complicações que causam as vacinas – desde transtornos menores até à morte – estão suficientemente documentadas; por exemplo, a morte súbita do lactante. Por isso há já numerosos protestos de especialistas na matéria e são inúmeras as demandas judiciais que foram interpostas contra os fabricantes. Por outra parte, quando se examinam as consequências dos programas de vacinações massivas extraem-se conclusões esclarecedoras.
P. Agradeceria que mencionasse algumas
R. Olhe, em primeiro lugar, as vacinas são caras e constituem para o Estado um gasto de mil milhões de euros ao ano. Portanto, o único benefício evidente e seguro das vacinas... é o que obtém a indústria farmacêutica. Além disso, a vacinação estimula o sistema imunitário, mas repetida a vacinação, o sistema esgota-se. Portanto, a vacina repetida pode fazer, por exemplo, estalar a “sida silenciosa” e garantir um “mercado da doença”, perpetuamente florescente. Mais dados: a vacinação incita à dependência médica e reforça a crença de que o nosso sistema natural de imunidade é ineficaz. Ainda o mais horrível é que a vacinação facilita os genocídios selectivos, pois permite liquidar pessoas de certa raça, de certo grupo, de certa região... Serve como experimentação para testar novos produtos sobre um amplo mostruário da população; é uma arma biológica potentíssima ao serviço da guerra biológica, porque permite interferir no património genético hereditário de quem se quiser.
P. Bom, é evidente que há muitas coisas das quais se pode fazer um bom ou mau uso, mas isso depende da vontade e intenção de quem as utiliza. Falemos, agora, se lhe parece bem, da segunda grande mentira das autoridades: você afirma que a Sida não é contagiosa. Perdoe-me, mas assim como as suas outras afirmações nos pareceram pensadas e razoáveis, neste âmbito não temos visto que argumente bem esta sua afirmação.
R. Eu afirmo que a teoria que garante que o único causador da sida é o VIH-o Vírus da Imunodeficiência Adquirida, é falsa. E essa é a grande mentira. A verdade é que ter o VIH não implica necessariamente desenvolver sida. Porque a sida não é senão uma etiqueta que se “coloca” num estado de saúde a que dão lugar numerosas patologias, quando o sistema imunitário está em baixo. E nego que ter sida é o equivalente a morte certa. Mas, claro, essa verdade não interessa. As autoridades impõem-nos à força a ideia de que a Sida é uma doença causada por um só vírus, apesar de o próprio Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, co-descobridor oficial do VIH, em1983, ter reconhecido já, em 1990, que o VIH não é suficiente por si só para causar a sida. Outra evidência é o facto de que há numerosos casos de sida, sem vírus VIH e numerosos casos de vírus VIH, sem sida (seropositivos). Por outro lado, ainda não se conseguiu demonstrar que o vírus VIH cause a sida, e a demonstração é uma regra científica elementar para estabelecer uma relação causa-efeito, entre dois factores. O que se sabe, sem dúvida, é que o VIH é um retrovirus inofensivo que só se activa, quando o sistema imunitário está debilitado.
P. Você afirma no seu livro que o VIH foi criado artificialmente num laboratório.
R. Sim. Investigações de eminentes médicos indicam que o VIH foi criado, enquanto se faziam ensaios de vacinação contra a hepatite B em grupos de homossexuais. E tudo indica que o continente africano foi contaminado do mesmo modo, durante campanhas de vacinação contra a varíola. Claro que outros investigadores vão mais longe ainda e afirmam que o vírus da sida foi cultivado como arma biológica e depois deliberadamente propagado mediante a vacinação de grupos de população que se queriam exterminar.
P. Também observamos que ataca duramente a utilização do AZT para tratar a sida
R. Já no Congresso sobre SIDA, celebrado em Copenhague, em Maio de 1992, os sobreviventes da sida afirmaram que a solução então proposta pela medicina científica para combater o VIH, o AZT, era absolutamente ineficaz. Hoje, isso está fora de qualquer dúvida. Pois bem, eu afirmo que se pode sobreviver à sida... mas não ao AZT. Este medicamento é mais mortal que a sida. O simples senso comum permite entender que não é com fármacos /medicamentos imuno-depressores que se reforça o sistema imunitário. Olhe, a sida converteu-se noutro grande negócio. Por isso, faz-se tanto a promoção do combate à sida, porque ele dá muito dinheiro à industria farmacêutica. É tão simples quanto isto.
P. Falemos da “terceira grande mentira” das autoridades: a de que o cancro é um mistério
R. O chamado cancro (= a massiva proliferação anómala de células), é algo tão habitual que todos o padecemos várias vezes ao longo da nossa vida. Só que, quando isso sucede, o sistema imunitário natural actua e destrói as células cancerígenas. O problema surge, quando o nosso sistema imunitário natural está debilitado e não pode eliminá-las. Então, o conjunto de células cancerosas acaba crescendo e formando um tumor.
P. E é nesse momento, quando se entra na engrenagem do “sistema de doença”
R. Assim é. Porque quando se descobre um tumor, oferece-se de imediato ao paciente, com o pretexto de ajudá-lo, que escolha entre estas três possibilidades ou “formas de tortura”: amputá-lo (cirurgia), queimá-lo (radioterapia), ou envenená-lo (quimioterapia). Escondendo-se-lhe, entretanto, que existem remédios alternativos eficazes, inócuos e baratos. E depois de quatro décadas de “luta intensiva” contra o cancro, qual é a situação nos próprios países industrializados? Que a taxa de mortalidade, por cancro, aumentou. Esse simples facto põe em evidência o fracasso da sua prevenção e do seu tratamento. Desperdiçaram-se milhares de milhões de euros e tanto o número de doentes, como o de mortos, contínua crescendo. Hoje, sabemos quem beneficia com esta situação. Como também sabemos quem a criou e quem a mantém. No caso da guerra, todos sabemos que esta beneficia sobretudo os fabricantes e traficantes de armas. Bom, pois em medicina, quem beneficia são os fabricantes e traficantes do “armamento contra o cancro”, portanto, quem está detrás da quimioterapia, da radioterapia, da cirurgia e de toda a industria hospitalar.
P. No entanto, apesar de tudo, mantém que a máfia médica é uma necessidade evolutiva da humanidade. Que quer dizer com essa afirmação?
R. Já verá. Pense num peixe comodamente instalado no seu aquário. Enquanto tem água e comida, tudo está bem, mas se lhe começa a faltar o alimento e o nível de água suficiente, o peixe decide saltar para fora do aquário buscando uma forma de se salvar. Bom, pois eu entendo que a máfia médica pode-nos empurrar a dar esse salto individualmente. Isso, se houver muita gente que prefira saltar a morrer.
P. Mas para dar esse salto é preciso um nível de consciência determinado
R. Sim. E eu creio que ele se está elevando muito e muito rapidamente. A informação que antes se ocultava agora é pública: que a medicina mata pessoas, que os medicamentos nos envenenam, etc. Além disso, o médico alemão Ryke Geerd Hamer demonstrou que todas as enfermidades são psicossomáticas e as medicinas não agressivas ganham popularidade. A máfia médica desmoronar-se-á como um castelo de cartas, quando 5% da população perder a sua confiança nela. Basta que essa percentagem da população mundial seja consciente e conectada com a sua própria capacidade. Então decidirá escapar à escravatura a que tem sido submetida pela máfia e o actual sistema de saúde cairá. Tão simples como isto.
P. E em que ponto crê que estamos?
R. Não sei quantificá-lo, mas penso que provavelmente em menos de 5 anos todo o mundo se dará conta de que, quando vai ao médico, vai a um especialista da doença, e não a um especialista da saúde. Deixar de lado a chamada “medicina científica” e a segurança que oferece, para ir a um terapeuta é já um passo importante. Também é, perder o respeito e a obediência cega ao médico. O grande passo é dizer não à autoridade exterior a nós, e dizer sim à nossa autoridade interior.
P. E o que é que nos impede de romper com a autoridade exterior?
R. O medo. Temos medo de não chamar o médico. Mas é o medo, por si próprio, quem nos pode fazer adoecer e matar. Nós morremos de medo. Esquecermo-nos que a natureza humana é autónoma, o que quer dizer, concebida para nos comportarmos como senhores de nós mesmos. E desde quando os seres humanos autónomos têm medo? Cada vez que nos comportamos de maneira diferente da de um ser autónomo, ficamos doentes. Essa é a realidade.
P. E o que podem fazer os meios de comunicação para contribuir para a elevação da consciência nesta matéria?
R. Informar sem tentar convencer. Dizer o que sabeis e deixar às pessoas fazer o que queiram com a informação. Porque tentar convencê-las será impor outra verdade e de novo estaríamos noutra guerra. Necessita-se apenas de dar referências. Basta dizer as coisas. Depois, as pessoas as escutarão, se tiverem ressonância dentro delas. Se o seu medo for maior do que o seu amor por si mesmas, dirão: “Isso é impossível”. Se, pelo contrário, tiverem o coração aberto, escutarão e questionarão as suas convicções. É então, nesse momento, quando quiserem saber mais, que se lhes poderá dar mais informação. |
|
ESPAÇO ABERTO
Editorial
A mim, o Papa não irá ver!
A Primeira Grande Guerra Mundial Financeira (continuam a chamar-lhe, cinicamente, "Crise financeira" e, com isso, passam-nos,às populações e aos povos do Mundo, um atestado de estúpidos!) deixou todos os portugueses, europeus e demais Povos do Planeta, e o próprio Planeta, à beira da mais completa falência. Os Executivos das nações e as respectivas Oposições partidárias - as diferenças entre eles e elas são apenas cosméticas, já que todos eles e todas elas são financiados pelo mesmo amo ou patrão, o Senhor Dinheiro! - bem podem, depois do modo como se comportaram perante ela, limpar as mãos à parede, amarrar uma pesada mó de moinho ao pescoço e atirarem-se ao mar. É bem melhor que desapareçam, do que continuarem aí em funções, a servir descaradamente semelhante amo ou patrão. Tudo o que fazem é para favorecer o seu amo ou patrão, que para isso ele lhes paga e concede privilégios sem conta. Podem as populações e os povos do Planeta vir a morrer de fome, de doenças curáveis, de miséria imerecida, de desemprego, de ociosidade em massa, de ignorância das coisas mais essenciais, de subdesenvolvimento cultural, de abandono, de solidão, de mediocridade, de superficialidade, de overdoses de novelas, de falta de razões de viver, de falta de afectos. Nada disso afectará directamente os Executivos das nações e as respectivas Oposições partidárias que prosseguem aí, inabaláveis, nos seus privilégios, nas suas mentiras, nos seus jogos de luta pelo Poder, nos seus truques, nas suas hipocrisias, nos seus farisaísmos. E, depois, ainda têm o desplante de, todos os dias, se dirigirem às populações e aos povos com discursos e mais discursos tecidos de palavras cheias de nada. As populações e os povos, sem saberem mais em quem acreditar e confiar, viram-se, em desespero de causa, para as Religiões, as mais tradicionais e as mais esotéricas, na fatídica ilusão de que o respectivo Ídolo lhes valha. Desconhecem, as populações e os povos, que as Religiões e os seus sacerdotes ou pastores são o outro braço ao serviço do mesmo amo ou patrão, o Senhor Dinheiro. Se fossem populações e povos de olhos abertos (mas como hão-de ser, se todos os Executivos das nações e as respectivas Oposições, mai-las Religiões, com os seus sacerdotes ou pastores, trabalham, dia e noite, para lhos cegar, de modo que elas e eles vejam apenas o véu ideológico que esconde a realidade e nunca vejam a realidade que o véu ideológico esconde?!), e já há muito teriam visto que a Saída da Mentira institucionalizada e da Opressão mundializada nunca vem, nunca poderá vir, dos Executivos das nações e das respectivas Oposições partidárias, nem das Religiões e dos seus sacerdotes ou pastores, já que todos - Executivos das nações, respectivas Oposições partidárias, Religiões, sacerdotes ou pastores - são financiados pelo mesmo amo ou patrão, o Senhor Dinheiro, para o qual todos, todas trabalham, a tempo integral.
A Saída tem de ser protagonizada pelas próprias populações e pelos próprios povos. E só por isso ela é sistematicamente adiada, de geração em geração. Porque as populações e os povos continuam aí erradamente a pensar que a Saída só pode vir de fora, concretamente, dos Executivos das nações e das respectivas Oposições partidárias, das Religiões e dos respectivos sacerdotes ou pastores. O amo ou patrão que manda no Mundo tem esta Mentira bem montada e sente-se de pedra e cal no seu posto. Por alguma coisa, o amo ou patrão que manda no Mundo, é chamado por Jesus, a quem ele próprio depressa crucificou como o maldito dos malditos, na Cruz do Império de então, "mentiroso e pai de mentira" e "assassino desde o princípio" (cf. João 8). Tem, sempre teve, ao seu serviço os melhores cérebros (praticamente, todos os intelectuais e todas as universidades, para lá de todas as Religiões e Igrejas), assim como o que há, em cada momento da História, de mais eficiente e de mais inovador em tecnologias de ponta. E, ainda, as principais instituições da sociedade, desde os Tribunais aos três ramos das Forças Armadas e de Segurança. Se, depois de tudo, o Senhor Dinheiro ainda consegue ter do seu lado o Ídolo das Religiões que sempre se tem feito passar por Deus verdadeiro, então, bem pode dar-se ao luxo de se considerar (e é assim que as populações e os povos do Mundo sempre o têm visto!) o amo ou patrão mais omnipotente, mais omnisciente e mais omnipresente do Mundo. Só que, felizmente para as populações e os povos e para o próprio Planeta, o Senhor Dinheiro não é realmente assim. Apenas parece ser assim, mas não é. E esta é uma diferença substantiva que tem de ser realçada, mais e mais, junto das populações e dos povos do Planeta. Em boa verdade, o amo ou patrão do Mundo - o Senhor Dinheiro! - não passa de um tigre de papel. Os seus pés são de barro. Só se aguenta, graças à Mentira institucionalizada e à Opressão mundializada.
Ora, nunca como hoje, o amo ou patrão do Mundo sabe que o Momento da sua queda, aparatosa queda, está mais próximo do que nunca. Ei-lo que se multiplica em iniciativas por toda a parte, numa desesperada tentativa de que as populações e os povos não descubram os pés de barro que sempre foram /são os seus. O mentiroso e o pai de mentira que ele é, e o assassino desde o princípio que ele é, jamais poderão ter futuro. Por mais que ele se dane.
Mas será que as populações e os povos querem mesmo protagonizar a Saída libertadora, pela qual tanto anseiam? Têm de ser elas e eles, as populações e os povos, a protagonizá-la. Ou não haverá Saída! Para tanto, elas e eles têm de ser populações-e-povos-tsunami, numa imparável acção desarmada de libertação e de dignidade. Cabe-lhes a Missão histórico-teológica de derrubarem todos os templos e todos os santuários das Religiões e das Igrejas onde têm sido sistematicamente enganadas, enganados, alienadas, alienados, roubadas, roubados, infantilizadas, infantilizados, e deixarem, duma vez por todas, de dar ouvidos aos sacerdotes ou pastores, às suas pregações de mentira e de ópio. Simultaneamente, têm de derrubar os palácios dos Executivos das nações e das respectivas Oposições partidárias e deixar de dar ouvidos aos seus discursos de mentira, tecidos de coisa nenhuma. Para que, no Planeta não fique mais pedra sobre pedra de tudo o que é do amo ou patrão do Mundo, o Senhor Dinheiro. Fiquem apenas as populações e os povos, sororal /fraternalmente organizados, a crescer em Liberdade /Maioridade e em Autonomia, protagonistas dos seus próprios destinos e dos destinos do Planeta.
Entre as múltiplas acções que o amo ou patrão do Mundo está hoje aí freneticamente a realizar para tentar manter na cegueira e na menoridade as populações e os povos, merece ser realçada aqui a anunciada visita do papa Bento XVI, em Maio de 2010 a Portugal, a convite do chefe de estado português, Cavaco Silva, um conhecido católico beato, empenhadíssimo em garantir um segundo mandato como chefe de estado de Portugal. Fossem as populações e os povos já de olhos abertos e estivessem minimamente dotadas, dotados de consciência crítica, e o papa Bento XVI bem poderia vir a Lisboa, a Fátima e ao Porto, só que não teria ninguém das populações e dos povos à sua espera. Apenas os mercenários do costume, todos financiados pelo mesmo amo ou patrão, mentirosos quanto ele, assassinos quanto ele. Uma coisa eu lhes posso garantir aqui publicamente: a mim, presbítero da Igreja do Porto, o papa Bento XVI não irá ver, em nenhum desses locais. À Idolatria, senhoras, senhores, só derrubá-la. Nunca dar-lhe força!
Vosso irmão, Mário. |
|
OUTRAS CARTAS
Caso Padre Manuel
“revela”-nos Bispo emérito de Aveiro
O Padre Manuel Dias, da diocese de Aveiro, foi violentamente agredido, ao início de uma noite da segunda quinzena de Janeiro 2010, em sua casa, Soutelo, Branca. Os media referiram o caso como o de um vulgar assalto. Mentiram. Quem “engoliu” a notícia assim contada encheu-se de compaixão pelo Padre Manuel, para mais já na casa dos oitenta anos de idade e sem qualquer ofício pastoral oficial. E terá ficado a pensar que os “assaltantes” hoje já não têm respeito por ninguém. Nem por pessoas idosas. Nem sequer por padres de avançada idade. A indignação popular foi por aí que se manifestou. Porque o caso foi assim contado. Mas a verdade é que não se tratou de um vulgar assalto a um padre, na sua casa. Os “assaltantes” invadiram a casa, remexeram tudo, deixaram tudo fora das gavetas, e não levaram nada com eles do que encontraram de valor. Não fizeram todo aquele escarcéu por objectos de prata ou ouro. Quiseram simplesmente agredir /humilhar /amedrontar o Padre Manuel. Quiseram dar-lhe uma exemplar lição. Quiseram dizer-lhe que estão atentos ao que ele ainda hoje faz e diz. E que não gostam do que ele ainda hoje faz e diz. Muito menos gostam do que certas pessoas suas amigas andam a tentar fazer e dizer com ele. Quiseram anunciar ao Padre Manuel que o melhor é ele pôr um travão a essas pessoas. E meter-se sossegado na sua casa. Deixar-se dessa mania de Evangelizar os pobres. Deixar-se dessa mania de continuar a ser presença maiêutica na sociedade e entre os mais humildes e os mais despojados de voz e de vez.
Por mim, logo que soube do ocorrido, intuí que a estória só podia estar mal contada. E fui a correr encontrar-me com o Padre Manuel, na sua casa. O seu rosto estava visivelmente maltratado. Mas o seu ânimo estava alto. Mais lúcido do que nunca. Assalto não foi. Agressão premeditada foi. Obviamente, quem quis agredi-lo não foi lá sujar as suas mãos. Mandou outros, já de mãos sujas. O Padre Manuel sabe como essas coisas se fazem. O seu viver presbiteral está cheio de momentos semelhantes a este. Este foi apenas mais um. Medo? Nem pensar. Parar? Nem pensar. A agressão teve um efeito contrário ao pretendido. O Padre Manuel Dias é, desde então, um homem muito mais determinado. Porque só a Verdade, quando praticada, nos faz livres. Nos faz Humanos. O Medo faz reféns aquelas, aqueles que vão por ele. Muitas, muitos vão pelo Medo. Padre Manuel Dias, felizmente, não é desse número.
Depois que vim de junto dele, não resisti e, já em casa, gravei nesse mesmo dia um depoimento em vídeo, a repor a verdade do caso. Não! Não foi um vulgar assalto. Foi uma brutal agressão. Premeditada. Por quem não gosta de padres livres, sem Medo. Coloquei o vídeo no youtube (procurar por Padre Mário da Lixa-Padre Manuel Dias).
Para grande surpresa minha, o Bispo António Marcelino, emérito de Aveiro, não gostou do que viu e ouviu nesse vídeo e reagiu por e-mail. Li as suas palavras e reagi. O Bispo voltou a escrever e eu voltei a reagir. Até que, num terceiro e-mail, o Bispo resolveu pôr um ponto final. A minha reacção seguiu na volta do correio electrónico.
É esta troca de correspondência que aqui se publica. Porque é manifestamente do interesse geral. Deixa ver duas maneiras de se ser Igreja. Leiam e concluam qual delas é mais jesuânica. Uma coisa, entretanto, fica clara: o Poder sagrado nunca entenderá os seres humanos, muito menos, os seres humanos presbíteros. Por mais que pense que sim. É um auto-engano que faz perder quem se deixa cair nele e quem permanece nele. Eis.
1. Bispo A. Marcelino:
Padre Mário. Vi e ouvi o seu youtube sobre o P. Manuel Marques Dias. Fiquei triste consigo. Que romance! Tanto eu como o meu antecessor sempre estivemos com amizade com o Padre Manuel.Toda a gente sabe que corri riscos para o defender e nunca o desautorizei e tudo fizemos para o prestigiar. Actuou livremente em Cacia durante anos. Podiam nem todos gostar dele, tal como nas paróquias de Oiã e da Borralha. Depois dos episódios de Oiã, não me consta que alguém o tenha procurado agredir, muito menos agora, idoso e depois de uma doença grave que o impediu de continuar na paróquia. Mesmo assim, saiu a seu pedido e insistência da familia. Quem é que lhe pode querer mal agora ou pagar para que o maltratem? Valha-me Deus!
A sua proclamação só a si pode beneficiar,se é que beneficia. Para nós é simplesmente ridícula. Um abraço fraterno e votos de saúde e de paz.
Abraço fraterno
R. do Padre Mário
Bispo António Marcelino, meu irmão.
O meu afecto e a minha paz.
Pelos vistos, ficou triste comigo pelo vídeo PADRE MANUEL DIAS, que gravei e de que lhe dei notícia, para que o pudesse ver-ouvir no youtube. Esperava, sinceramente, que se unisse a mim na denúncia que assumi e pela qual dei publicamente a cara no youtube. De um padre meu amigo, pároco de várias paróquias, e amigo do Padre Manuel Dias, recebi, imediatamente a seguir ao seu, um mail, com uma única frase. Esta: “Mário, faço minhas, as tuas palavras ao meu amigo p. Manuel Dias.” Veja a diferença, meu irmão Bispo António Marcelino! Não! Não falei por falar. Não falei no ar. Sou presbítero da Igreja do Porto e, ao mesmo tempo, jornalista profissional. As duas condições exigem-me verdade /frontalidade. Não falei de cor. Nem depois de um simples telefonema. Não. Antes, deixei tudo e fui encontrar-me ao vivo com o Padre Manuel Dias e a sua irmã Piedade, na casa de ambos. Vi o seu sofrimento. Escutei as suas perplexidades. Acolhi a sua amargura. Há muita amargura silenciada nos párocos da nossa Igreja, que os bispos Poder sagrado nunca foram capazes de escutar e acolher. O Poder sagrado não escuta nem acolhe. E, quando o faz, é ainda e sempre como Poder sagrado que o faz. Por acaso, nunca se deu conta, nos anos em que exerceu como Bispo de Aveiro, primeiro, como auxiliar [coadjutor], depois, como Bispo titular, de que entre si, Bispo Poder sagrado e os párocos, todos os párocos, também o Padre Manuel Dias, existiu sempre um abismo intransponível? Nunca sentiu que, como Bispo Poder sagrado, dá sempre ordens, mesmo quando parece que apenas conversa ou sugere? Não sabe que o Poder sagrado é sempre Poder sagrado, mesmo quando parece que conversa e sugere?!
Saiba que acompanho o Padre Manuel Dias há muitos, muitos anos. Não como Poder sagrado que, felizmente, não sou, mas como seu companheiro e irmão, uma experiência que o Bispo Poder sagrado, enquanto o for, jamais poderá vivenciar. Sei, pois, das suas inúmeras dores. Das suas inúmeras decepções. Das suas inúmeras angústias. Dos seus inúmeros sofrimentos. Das inúmeras incompreensões que teve de suportar, nos muitos anos de pároco. E as incompreensões mais difíceis, as mais pesadas, são precisamente as que vieram da parte do Poder sagrado. Ser Bispo da Igreja, meu irmão António Marcelino, é o antónimo de ser Bispo Poder sagrado. Nunca sentiu isso? Nunca lhe apeteceu mandar o anel, o báculo, a cruz peitoral, a mitra, a cátedra, a catedral, todas aquelas vestes e cerimónias litúrgicas, às urtigas e ser simplesmente Bispo da Igreja-povo-de-Deus que está em Aveiro?! Provavelmente, não, porque, enquanto a idade não o obrigou, não o fez. E, mesmo agora, que é Bispo emérito, não o faz. Continua distante e, se alguma vez desce à base, é sempre como Bispo Poder sagrado. E ainda é capaz de me escrever um e-mail como este que acaba de me enviar, a afirmar que eu dou a cara pelo Padre Manuel para me beneficiar a mim?! Não vê que é mesmo o Poder sagrado que está a escrever-falar em si? E, não satisfeito com esta acusação, ainda acrescenta esta informação: “Para nós [a sua proclamação] é simplesmente ridícula.” Veja só do que é capaz o Poder sagrado! Quanto ele é Inumano!
Aceito o seu abraço fraterno, mas saiba que, para mo poder dar com verdade, primeiro, tem de deixar de ser Poder sagrado, porque, enquanto o for, não abraça ninguém, muito menos, fraternalmente. Mesmo que faça o gesto de abraçar, na verdade não abraça. Nunca o Poder sagrado é capaz de abraçar alguém. Só o Bispo da Igreja, o último dos últimos na Igreja que somos. Tudo o que não for assim, meu irmão Bispo António Marcelino, é mentira, é formalismo, é institucional, é faz-de-conta, é farisaico, é hipocrisia, numa palavra, é Idolatria.
Tenho a certeza de que o Padre Manuel Dias entenderá bem estas minhas palavras, quando eu lhas fizer chegar (ele não usa a internet), juntamente com estas suas que me dirigiu. Tenho a certeza de que ele, ao ler estas suas palavras que me dirigiu, vai chorar copiosamente. Porque elas dizem dele o que ele, infelizmente, nunca experimentou. Peço-lhe que me perdoe, mas o simples acto de conversar entre dois seres humanos só tem verdade e fraternidade, se os dois são seres humanos, simplesmente. Se um deles for, ou ambos forem, Poder sagrado, até o simples acto de conversar é meramente formal, institucional, faz-de-conta. Não alimenta Liberdades e Maioridades, pelo contrário, descria o que ainda haja de Humano nos intervenientes.
Digo-lhe isto do coração. E sei do que falo. Porque, quando eu próprio disse NÃO! ao Poder sagrado, que me queria arrastar para a carreira eclesiástica, o Poder sagrado nunca mais me perdoou. E eu não estranhei nem estranho. Porque PERDOAR, como nos revela Jesus (cf. Marcos 2, 10), é um acto próprio do Filho do Homem, isto é, dos seres humanos enquanto tais, nunca do Poder sagrado. O Poder sagrado nunca perdoa: espia, julga, condena, castiga, ostraciza, vilipendia e, finalmente, mata. Se não mata de forma cruenta, mata de forma simbólica, que é mil vezes pior do que matar de forma cruenta.
Fico, por isso, em comunhão ainda mais intensa com o Padre Manuel Dias. Porque, depois de ler estas suas palavras que me endereçou, fiquei a saber, mais e melhor, quanto ele, ao longo dos anos, não foi amado, não foi escutado, não foi acolhido, não foi compreendido, não foi acompanhado. Não teve com ele o Bispo da Igreja, mas o Poder sagrado. A pior coisa que pode suceder a um presbítero da Igreja de Jesus. Para mais, um presbítero com a sensibilidade e a simplicidade do Padre Manuel Dias.
Termino este e-mail, como comecei: Dou-lhe o meu afecto e a minha paz. Ainda e sempre na esperança de que o Poder sagrado seja expulso do seu ser-viver de Homem Bispo e, em seu lugar, apareça o Ser Humano Bispo da Igreja de Jesus, o Crucificado pelo Poder sagrado de então, conluiado com o Poder Político, o do Império de Roma. Seu,
2. Bispo António Marcelino:
Meu caro Padre Mário
Para mim, o poder sagrado tentei que fosse sempre e só e continue a ser um serviço humilde e até às ultimas consequências, segundo o Evangelho, aos irmãos e a todos. É no juízo de Deus que eu confio que é o único que conta. Só Ele também poderá julgar as minhas limitações e falhas.
Se me permite um conselho fraterno: cuide-se de não julgar os outros, porque disse o Senhor Jesus, só a Deus compete julgar e ainda ”não julgueis e não sereis julgados”. Não nos mandou a julgar, porque nem Ele o quis fazer, mas a amar. Os humildes, que são os únicos que têm condição para amar, não julgam ninguém, julgam-se a si próprios. Eles sabem bem que “não são Deus” e sempre dependentes do seu amor misericordioso. Quem se enche de si, só se vê a si e vê sempre os outros e todos pelos seus olhos. Os olhos de um padre são olhos de Deus, para todos e mais ainda para os pecadores e para os mais fracos. Ser profeta é também isto.
Não estou, nunca estive, conluiado com ninguém. E tanto denunciei o que me parecia injusto, com coragem e respeito, em nome daqueles a quem servia e sirvo, tanto nas assembleias episcopais, como nas instâncias romanas, e nas políticas, de ontem e de hoje. Tenho consciência de que nunca me pretendi servir a mim, correndo os riscos que daí adviessem. Sinto-me livre, hoje, como no dia da minha ordenação presbiteral, e já lá vão quase 55 anos, como um dom de Deus não para mim e sempre procurei viver, é público, com muita gratidão e independência de influências, sejam de quem forem.
Sempre amei e respeitei o padre Manuel Dias. Melhor que ninguém ele o sabe. Sempre o deixei livre, mesmo com algumas preocupações em relação às suas opções pastorais. E para mim chega.
Não lhe tiro mais tempo, meu caro padre Mário. Se não lhe escrevi mais vezes em relação a escritos e modos de agir seus, também foi por respeito pelo diferente, mesmo com alguma convicção de que este “diferente” não constrói comunhão, pelo menos aquela que Jesus pediu ao Pai.
Por mim termino mesmo, ainda que com o risco das interpretações que queira dar ao que escrevi e escrevo. Que o Espirito de Deus nos ilumine e conduza e nós queiramos deixá-LO agir em nós e em todos.
Em Cristo Senhor, irmão sem ressentimentos,
R. do Padre Mário
Meu irmão Bispo António Marcelino
Cheguei a pensar que não reagiria à minha mensagem. Que iria preferir conservá-la /digeri-la no seu coração. Não foi capaz de tanto. O Poder sagrado não é capaz de tanto. Para seu mal. E para mal da Humanidade, das populações, dos Povos. Maldito seja o Poder. Também o Poder sagrado!
Felizmente, para todos os Povos, Jesus, o filho de Maria, nunca foi por aí. Tentado, ele foi. Mais do que ninguém. Mas resistiu. Até ao sangue. Por isso, se constituiu no nosso Paradigma. O Paradigma do Ser Humano. “Porta estreita”, pela qual poucos se dispõem a entrar. Já que a esmagadora maioria, mesmo entre os que hoje são sacrilegamente oprimidos e empobrecidos, opta pela “porta larga” do Poder e dos Privilégios. Instala-se no vértice da Pirâmide. Tem horror a viver opcionalmente na base da Pirâmide. Mas, enquanto houver Pirâmide, é na Base que DeusVivo, nosso Abbá, vive. No vértice da Pirâmide, está apenas o Ídolo. E não é que o Ídolo, omnisciente, omnipresente e omnipotente como é, consegue até fazer-se passar por Deus, o único Deus verdadeiro?! Não fosse assim, e o Papa de Roma seria Papa de Roma? César de Roma teria sido César de Roma? E Obama, o do Império, seria hoje Obama, o do Império? Um bispo-Poder sagrado (= Hierarquia) seria Bispo-Poder sagrado? E não é que até os altares, mai-los templos, é a este Ídolo disfarçado de verdadeiro e de único Deus, que todos eles servem /cultuam, em liturgias mais ou menos faustosas?!
Recomenda-me, e eu agradeço-lhe o cuidado, que não julgue para não ser julgado. Entretanto – veja só! – passa toda esta sua mensagem a julgar-me e a condenar-me, ao mesmo tempo que se me apresenta como um modelo a seguir. Como a confirmar à saciedade que, afinal, eu não o julguei, pelo contrário, o amei, como, se calhar, até hoje ninguém o amou. Apenas o bajulou! E, porque o amei, disse-lhe a Verdade, essa mesma que, praticada, nos faz livres. Procedi consigo, Poder sagrado, como Natan perante o ungido rei David. E, sobretudo, como Jesus perante Pilatos e perante o sumo-sacerdote do Templo de Jerusalém. Se amarmos /praticarmos a Verdade, ela nos fará livres. E que o meu irmão Bispo António Marcelino seja livre para a Liberdade /Fraternidade Universal, é o que eu mais posso querer, o que mais quero.
A propósito, já conhece /começou a ler o meu NOVO LIVRO DO APOCALIPSE OU DA REVELAÇÃO, edição AREIAS VIVAS, sedeada aí em Mira? Não?! Nem tenciona lê-lo /escutá-lo?! Olhe que eu dediquei este meu “livro póstumo” a todos os Bispos e a todos os Presbíteros da Igreja de Jesus. Já sabia?! E sabe que, nessa minha Dedicatória, eu peço que todos nós, Presbíteros e Bispos, nos convertamos à mesma Fé de Jesus, para, depois, podermos confirmar nessa mesma Fé, as nossas irmãs, os nossos irmãos? Tem consciência de que sem esta nossa conversão à mesma Fé de Jesus, vivemos todos na Idolatria? E tem consciência de que só na Idolatria é que há Bispos Poder sagrado, Presbíteros Poder sagrado, como são os párocos nomeados pelos respectivos Bispos Poder sagrado? Oh! meu irmão Bispo António Marcelino, o que o Institucional Eclesiástico fez e continua aí a fazer dos que, incondicional e ingenuamente, o servimos, em lugar de lhe resistirmos até ao sangue, como fez Jesus.
Vejo, por este seu novo mail, que a nossa correspondência termina aqui. Saiba que o amo. E que, se, um dia destes, me aceitar à sua mesa de Bispo da Igreja de Jesus, eu lá estarei, como um menino. Será que, ao menos por um momento, conseguirá ser também como um menino? Se sim, pode acontecer que fique a gostar tanto de ser assim como um menino, que passe a ser assim pelo resto da sua vida de Bispo da Igreja de Jesus. E que alegria não haveria então no mais íntimo dos seres humanos, mulheres e homens, que viessem a ter notícia de semelhante NASCER DE NOVO, de semelhante NASCER DO MESMO ESPÍRITO DE JESUS! Só que, depois, o meu irmão Bispo António Marcelino passará a ter à perna, todos os do Poder sagrado – e são muitos, como sabe. E conhecerá o Ostracismo e o Desprezo mais cínico, que são bem pior do que o Ódio! Por mim, se me aceitar, correrei ao seu encontro. Fico na expectativa. Dou-lhe o meu afecto e a minha paz.
3 Bispo A. Marcelino:
Terminou. Abraço em Cristo Jesus,
R. do Padre Mário
Mas que pena,
meu irmão Bispo António Marcelino!
Como conseguiu resistir à minha proposta de me fazer sentar, um dia destes, à sua Mesa? Como esta sua postura de recusa está nos antípodas das posturas de Jesus! Na verdade, o Poder sagrado é mesmo assim.
E o mais dramático é que parece que só mesmo a Morte, quando vier, acabará com ele em cada pessoa concreta que ele, antes, conseguiu possuir como um demónio!
Fico abraçado a si, dentro do meu coração. Seu
|
|
E-mail: António Pedro Ribeiro
Carta à minha Mãe
Sabes, mãe, estes gajos
estão a dar cabo do Homem
sabes, mãe, houve um tempo
em que fui à escola
houve um tempo em que até trabalhei
mas agora cansei-me, mãe,
não posso mais ficar passivo
não posso mais assistir sentado
eles estão a dar cabo de mim
estão a dar cabo do Homem
sabes, mãe, estas coisas
vêm da infância, eu observava as coisas
era o mais inteligente, mãe
mas não intervinha
contentava-me com o meu mundo
com as minhas personagens
mas agora o teatro é outro
envolvi-me com o mundo
casei-me com o mundo
e estes gajos estão a dar cabo
do nosso mundo, mãe
destroem a natureza
viram a natureza contra nós
até podes votar neles, mãe
mas sabes, mãe, eu não sou como eles
eu preocupo-me com os meus filhos
e paro como as outras mães
sabes, mãe, essa merda dos negócios
e do dinheiro não me diz nada
gasto-o em dois tempos
quando o tenho
são papéis e pedaços de metal
que se trocam, nada mais
mãe, estou farto dos discursos deles
na televisão, é a mim que eles querem destruir, querem-me mole,
fraco, deprimido,mas desta vez não vão conseguir, porque agora conheço o jogo deles.
Mãe, eu sou o Homem!
N.D.
O meu abraço, A. Pedro Ribeiro
É bom saber que continua a resistir. Ainda que saibamos que Ele, o Poder Financeiro, também continua a atacar. E de que maneira. As mães não podem continuar a parir filhas, filhos para os dar de mão beijada ao Senhor Dinheiro. Mas é isso que está a suceder. Elas fazem isto, Pedro! Por isso, esta Carta à minha Mãe que acaba de escrever e de partilhar também comigo é muito oportuna. Mas insuficiente, como bem sabe, melhor ainda do que eu.
Quando o Poder Financeiro até as nossas mães submete e as põe a conceber e a dar à luz para ele, para os exércitos dele, para os executivos dele, para os presidentes da república dele, para os deputados dele, para as Oposições dele aos executivos dele (elas, eles serão amanhã os próximos executivos dele), para as administrações das multinacionais dele, para os magistrados dele, para os clérigos dele, não bastam Cartas como esta, ainda que esta seja muito oportuna. Mas esta é um mero tigre de papel, Pedro.
São precisas Práticas Políticas Maiêuticas, e quem está disposto? São precisos Duelos Teológicos Desarmados contra ele em todo o lado, também nos media e nas universidades, e quem está disposto?!
O Senhor Dinheiro apoderou-se até dos nossos genes, Pedro, e já nascemos com a sua marca, a marca da BESTA! Como expulsá-lo de nós? Como libertarmo-nos dele? Como lhe resistirmos, efectivamente?
Sempre em comunhão, Mário |
|
Ser ou não ser homossexual
E outros assuntos significantes
Por MANUEL SÉRGIO
Reitor do Instituto Piaget
Não sou homossexual. Quase com 77 anos de idade, continuo a sentir-me (embora com debilidades inapagáveis) heterossexual. Continuo a fazer meus os versos do poeta, dirigindo-se à sua amada: “Para ti, meu amor, é cada sonho/ de todas as palavras que escrever,/ cada imagem de luz e de futuro,/ cada dia dos dias que viver”. Por outro lado, considero que a velhice é menos um período da vida do que um estado de espírito. Mas, se não sou homossexual, sei, de ciência certa, que a homossexualidade não é crime, nem doença. Só as religiões e as ideologias totalitárias ou arcaicas fazem do homossexual um réprobo a merecer rápido extermínio.
A homossexualidade é, para mim, uma reinvenção do amor, através de um singular (profunda e imparavelmente significante) desejo que nada tem de anti-social. E, porque não é um comportamento condenável, reprovável é, para mim, a sua repressão. Se só se sabe aquilo que se vive, não acredito que o Papa tenha um conhecimento correcto da vida sexual, dado que nunca a viveu numa relação entre pessoas de sexo diferente, ou do mesmo sexo. Aliás, o celibato sacerdotal só pode gerar ignorância, ou hipocrisia, ou psicopatologias várias. Privar alguém da sua vida sexual equivale a impedir a sua realização, em plenitude. Estou certo que uma ampla inteligência teorizadora não chegará a outra conclusão. Sou por isso pelo casamento entre homossexuais, esperando assim respeitar o meu semelhante, filho de Deus e portanto meu irmão. Este é um assunto que, de mim para mim, está resolvido.
Por resolver continua este facto: há mais de mil milhões de pessoas condenadas a sobreviver com menos de um dólar por dia. O Karl Marx não se enganou, ao prever a crescente e contínua acumulação do capital, nas mãos de poucos (grandes) capitalistas. Ou seja, a democracia que por aí se publicita é um espaço de exploração e alienação! Ou não será mesmo democracia e, ao invés, se trata da ditadura do lucro?... Quando se reduz a modernidade à racionalidade científica, esta afirmação invoca a revolução de Galileu, Descartes e Newton. Quando se considera a modernidade, como sistema político, remonta-se à Revolução Francesa, como momento inaugural da democracia e como triunfo da burguesia. Por fim, pode entender-se a modernidade como modo de produção da vida material, ou seja, pela instauração do capitalismo. Na modernidade, portanto, o progresso da ciência, a democracia e o capitalismo são inseparáveis. Só que, em liberdade, quem é mais rico mais enriquece, mais poder tem. Desenvolve-se o capitalismo, onde o capitalista encontra espaço para organizar o trabalho e a sociedade, de acordo com os seus próprios interesses.
As injustiças que nascem do ventre do capitalismo são muitas e evidentes. Para combatê-las, perfilam-se diante de nós várias metanarrativas (Jean-François Lyotard): a metanarrativa cristã, que diz fundamentar-se no “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, de Jesus de Nazaré; a metanarrativa islâmica, que afirma reproduzir, sem disfarces, a mensagem do Corão; as metanarrativas fascistas de prática política ditatorial, contra-revolucionária e anti-parlamentar; a matenarrativa iluminista da razão, que afirma ser pelo bom uso da razão que é possível atingir o progresso científico e ainda a liberdade, a igualdade e a fraternidade; a metanarrativa marxista, que pretende erradicar o capitalismo da face da terra, através da luta de classes, da ditadura do proletariado e pela abolição da propriedade privada dos meios de produção e de troca; a metanarrativa capitalista, onde os lucros são privatizados por bem poucos (os capitalistas e os gestores de empresas) e os prejuízos são socializados pelos trabalhadores. No meu modesto entender, para nós, pós-modernos, a História tem de começar, onde todas estas metanarrativas põem “fim”.
De facto, a História apresenta-nos de forma vibrante e mesmo patética a falência de todas estas metanarrativas, sempre que, politica e economicamente, foram aceites, implementadas, institucionalizadas. A inquisição e o pensamento fascizante que desponta de grande parte da História da Igreja; a jihad islâmica e o cortejo de fanatismo medieval que a envolve; os milhões de mortos, pelos esbirros de Hitler e de Estaline; os lugares comuns de uma democracia veneranda e morta, onde o capitalismo floresce; este cenário terrível: mais de metade da riqueza mundial está concentrada nas mãos férreas de apenas 2% da população mundial – dão, neste ponto, inteira razão a Karl Marx, quando este grande pensador denuncia que a sociedade burguesa capitalista não faz mais do que dar garantias meramente formais de liberdade, pois que ninguém é livre num regime de injustiça, a todos os níveis, institucionalizada.
Em poucas palavras: na democracia capitalista, há liberdade formal, mas não há liberdade real! As tentativas de ditaduras ditas socialistas, que se apresentam como antítese ao capitalismo reinante, têm sido um tremendo fracasso, já que se transformam num Capitalismo de Estado, onde não há liberdade formal e a sociedade civil é esmagada pela vontade indiscutível e indiscutida de ditadores ou caudilhos. O que nos resta, se todas estas experiências históricas falharam e só as exaltam uma militância ideológica meramente literária?
Erradicar da face da terra a economia capitalista de mercado? Sem dúvida e, no seu lugar, criar uma economia socialista de mercado. O mercado deve supor a liberdade do indivíduo e a sua subordinação às necessidades do social. Ao contrário do que, anos atrás, exigia, o neoliberalismo precisa de “mais Estado” para que os lucros continuem a reverter, forçosamente, para o bolso de meia dúzia de capitalistas. A erradicação da pobreza como exigência ética pouco vale, num sistema onde só a performatividade conta. De facto, a teoria do “fim das ideologias” rouba valores à economia e assim a rentabilidade supõe invariavelmente a reafirmação da autoridade do capital sobre a produção social da riqueza. Nas ditaduras ditas socialistas, há também necessidade de “mais Estado” para que a nomenklatura se apodere da riqueza produzida pelos trabalhadores.
Não tenho a mínima dúvida, a este respeito: há que reinventar a economia, à luz da ética! Qual ética? Continuo a acreditar no Evangelho que, para mim, é francamente socialista e declaradamente o inverso do capitalismo. Para muitos economistas tecnocráticos, a ética é estranha às relações de produção. O modelo economicista, que jura a pés juntos que uma empresa goza de óptima saúde, sempre que se maximizam os lucros que beneficiam directamente os accionistas - desconhece que “qualquer noção de justiça aceitável tem de ser igualitária, no sentido de que deve exprimir uma forma de solidariedade material, entre todos os membros da sociedade em causa, cujos interesses devem ser tomados em conta, de maneira igual”. Por isso, o lucro não é o objectivo exclusivo das empresas, porque esse lucro deve surgir, num contexto de legalidade e de respeito pela pessoa humana.
Quando tive de estudar a fenomenologia, para além da sua postura anticartesiana, o que nela mais me entusiasmou foi o conceito de “mundo da vida”. A pessoa humana é um ser-no-mundo? Assim é! Mas não um mundo qualquer, porque cada um de nós se movimenta no “mundo da vida”, onde são inúmeras as relações sociais. Viver é com-viver. Schutz, um dos nomes grandes da fenomenologia, é bem explícito: “nem sequer pensamos de um modo qualquer, pensamos de acordo com as vivências que temos. Tudo o que o ser humano pensa, já antes o conheceu”.
Também as ciências (que são um produto humano) não operam no vazio. Não há ciências em estado puro, porque é o ser humano que as faz. Da Economia se deverá dizer outro tanto. Por isso, não bastam leis económicas, matematicamente rigorosas, é preciso, antes do mais, que das leis resultem bem-estar e solidariedade... para todos! Caso contrário, a Economia é uma mentira! Muitos são os teóricos da Economia que afirmam que as nações, com maior grau de liberdade económica, são as que atingem melhores resultados na produção e no emprego. E adiantam a propriedade privada, a liberdade económica e o mecanismo dos preços, como as condições sine qua non, para uma economia ideal. Que as liberdades reais são um travão à miséria – não tenho dúvidas a este respeito. É conhecido que a ausência de liberdades é a primeira causa do subdesenvolvimento em que jazem alguns países ditos socialistas. Mas são livres os milhões e milhões de miseráveis que o capitalismo cria, por esse mundo além?
Por que se fala tão pouco de “política económica” ou de “uma ética para a economia”? É que a Economia só está certa, quando está ao serviço do homem todo e de todos os homens. Daí que, mesmo aos não economistas como eu, é permitido afirmar sem receio que a economia capitalista, que nos governa, é uma trapaça, uma vigarice, um tremendo embuste. É evidente que, nas eleições legislativas, é o povo que vota, nos partidos que defendem a economia capitalista. Mas, digamo-lo também sem receio, um povo reificado, alienado, manipulado.
São inúmeras as vezes em que a frase de Marx me ocorre: “A ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”. Por isso, a cultura política e moral da nossa sociedade, centrada numa alta competição desmedida, na violência e no sexo. Enquanto o povo só souber viver, de forma tensa e intensa, o futebol e as vidas dos artistas mais mediáticos, as eleições darão sempre a vitória aos que servem um mercado sem ética, isto é, a exploração mais despudorada!
Leiamos (com olhos de ver) o nosso Orçamento de Estado. Há nele uma linguagem que só os técnicos entendem. Mas não é verdade que ele é, sobre o mais, um documento político que revela as orientações político-económicas do Governo e, por isso, leitura obrigatória de todos os portugueses? Sem dúvida! No entanto, quantos portugueses o lêem, ou se informam das suas conclusões? Como poderão motivar-se os portugueses a uma política de desenvolvimento, se os seus mais instantes problemas são os resultados da Liga Sagres?...
A taxa de desemprego, em Portugal aumenta, mês após mês; há 170 000 desempregados, no nosso País, que não têm ajuda, ou subsídio, do Estado; não há vocação, entre os portugueses, para a criação de mais empregos, já que os empresários não querem investir, com as actuais leis de trabalho; é quase nula a exportação de bens e de serviços; por seu lado, a dívida pública cresce, assustadoramente – estes são, para mim, os principais problemas de um português que pense, com o mínimo de lucidez, o seu País. Sobre o casamento dos homossexuais, aplaudo a decisão da Assembleia da República. Mas que ela não sirva para esquecer outros, para mim muito mais importantes!
A grande qualidade da vida económica é a justiça que Tomás de Aquino, na Summa Theologiae, definiu como a “constante e perpétua vontade de dar a cada um o que lhe cabe por direito”. Que o corpo científico da Economia tenha em conta esta virtude (chamemos-lhe assim), de modo que a pobreza possa vencer-se. É que a pobreza não é uma fatalidade. Hoje, é o resultado (o primeiro, entre outros) da economia capitalista de mercado. |
|
O Haiti existe!
Por FREI BETTO
Teólogo (1)
Interessados em exibir na Europa uma coleção de animais exóticos, no início do século XIX, dois franceses, os irmãos Edouard e Jules Verreaux, viajaram à África do Sul. A fotografia ainda não havia sido inventada, e a única maneira de saciar a curiosidade do público era, além do desenho e da pintura, a taxidermia, empalhar animais mortos, ou levá-los vivos aos zoológicos.
No museu da família Verreaux, os visitantes apreciavam girafas, elefantes, macacos e rinocerontes. Para ela, não poderia faltar um negro. Os irmãos aplicaram a taxidermia ao cadáver de um e o expuseram, de pé, numa vitrine de Paris; tinha uma lança numa das mãos e um escudo na outra.
Ao falir o museu, os Verreaux venderam a coleção. Francesc Darder, veterinário catalão, primeiro diretor do zoológico de Barcelona, arrematou parte do acervo, incluído o africano. Em 1916, abriu seu próprio museu em Banyoles, na Espanha.
Em 1991, o médico haitiano Alphonse Arcelin visitou o Museu Darder. O negro reconheceu o negro. Pela primeira vez, aquele morto mereceu compaixão. Indignado, Arcelin pôs a boca no mundo, às vésperas da abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona. Conclamou os países africanos a sabotarem o evento. O proprio Comitê Olímpico interveio para que o cadáver fosse retirado do museu.
Terminadas as Olimpíadas, a população de Banyoles voltou ao tema. Muitos insistiam que a cidade não deveria abrir mão de uma tradicional peça de seu património cultural. Arcelin mobilizou governos de países africanos, a Organização para a Unidade Africana, e até Kofi Annam, então secretário-geral da ONU. Vendo-se em palpos de aranha, o governo Aznar decidiu devolver o morto à sua terra de origem. O negro foi descatalogado como peça de museu e, enfim, reconhecido em sua condição humana. Mereceu enterro condigno em Botswana.
Em meus tempos de revista “Realidade”, nos anos 60, escandalizou o Brasil a reportagem de capa que trazia, como título, “O Piauí existe.” Foi uma forma de chamar a atenção dos brasileiros para o mais pobre estado do Brasil, ignorado pelo poder e pela opinião públicos.
O terremoto que arruinou o Haiti nos induz à pergunta: o Haiti existe? Hoje, sim. Mas, e antes de ser arruinado pelo terremoto? Quem se importava com a miséria daquele país? Quem se perguntava por que o Brasil enviou para lá tropas, a pedido da ONU? E agora, será que a catástrofe - a mais terrível que presencio ao longo da vida – é mera culpa dos desarranjos da natureza? Ou de Deus, que se mantém silencioso frente ao drama de milhares de mortos, feridos e desamparados?
Colonizado por espanhóis e franceses, o Haiti conquistou sua independência em 1804, o que lhe custou um duro castigo: os esclavagistas europeus e estadunidenses mantiveram-no sob bloqueio comercial, durante 60 anos.
Na segunda metade do século XIX e início do XX, o Haiti teve 20 governantes, dos quais 16 foram depostos ou assassinados. De 1915 a 1934, os EUA ocuparam o Haiti. Em 1957, o médico François Duvalier, conhecido como Papa Doc, elegeu-se presidente, instalou uma cruel ditadura apoiada pelos tonton macoutes (bichos-papões) e pelos EUA. A partir de 1964, tornou-se presidente vitalício... Ao morrer em 1971, foi sucedido por seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, que governou até 1986, quando se refugiou na França.
O Haiti foi invadido pela França em 1869; pela Espanha em 1871; pela Inglaterra em 1877; pelos EUA em 1914 e em 1915, permanecendo até 1934; pelos EUA, de novo, em 1969.
As primeiras eleições democráticas ocorreram em 1990; elegeu-se o padre Jean-Bertrand Aristide, cujo governo foi decepcionante. Deposto em 1991 pelos militares, refugiou-se nos EUA. Retornou ao poder em 1994 e, em 2004, acusado de corrupção e conivência com Washington, exilou-se na África do Sul. Embora presidido hoje por René Préval, o Haiti é mantido sob intervenção da ONU e agora ocupado, de facto, por tropas norteamericanas.
Para o Ocidente “civilizado e cristão”, o Haiti sempre foi um negro inerte na vitrine, empalhado em sua própria miséria. Por isso, os mídia dos brancos exibem, pela primeira vez, os corpos destroçados pelo terremoto. Ninguém viu, por TV ou fotos, algo semelhante na Nova Orleans destruída pelo furacão ou no Iraque atingido pelas bombas. Nem mesmo após a passagem do tsunami na Indonésia.
Agora, o Haiti pesa em nossa consciência, fere nossa sensibilidade, arranca-nos lágrimas de compaixão, desafia a nossa impotência. Porque sabemos que se arruinou, não apenas por causa do terremoto, mas sobretudo pelo descaso de nossa dessolidariedade.
Outros países sofrem abalos sísmicos e nem por isso destroços e vítimas são tantos. Ao Haiti enviamos “missões de paz”, tropas de intervenção, ajudas humanitárias; jamais projectos de desenvolvimento sustentável.
Findas as acções emergenciais, quem haverá de reconhecer o Haiti como nação soberana, independente, com direito à sua autodeterminação? Quem abraçará o exemplo da dra. Zilda Arns, de ensinar o povo a ser sujeito multiplicador e emancipador de sua própria história?
(Copyright 2010 – FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrónico ou impresso, sem autorização. Contacto – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br). |
|
Novo olhar sobre o Universo
Por FREI BETTO
Teólogo (2)
Carlos Mesters, o mais popular biblista do Brasil, sublinha que há no Antigo Testamento dois decálogos, o da Aliança e o da Criação. O da Aliança surgiu primeiro, embora o outro já existisse. Ocorre que o povo de Deus, por não levar a sério o da Aliança, não tinha olhos para perceber o Decálogo da Criação.
Ao longo dos 400 anos da monarquia (de 1000 a 600 a.C.), Javé, o Deus libertador do Êxodo, foi reduzido a um ídolo manipulado pelos poderes civil e religioso para legitimar a corrupção e a ganância dos reis. E ninguém dava ouvidos às denúncias dos profetas. Até que Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu a Palestina em 587 a.C. e destruiu Jerusalém.
O choque da dominação e do exílio abriu os olhos do povo de Deus para o Decálogo da Criação: “O ritmo da natureza, do sol, da lua, das estações, das chuvas, das estrelas, das plantas, revela o poder criador de Deus” – afirma Mesters. “É a expressão do bem-querer do Deus Criador, da pura gratuidade! É uma certeza que não falha. É a prova de que Deus não rejeitou seu povo. Nossa fraqueza pode levar-nos a romper com Deus (como de facto aconteceu), mas Deus não rompe connosco, pois cada manhã, através da sequência dos dias e das noites, ele nos fala ao coração”.
Nossa visão do mundo interfere em nossa visão de Deus, assim como o modo de concebermos Deus influi na visão que temos da vida e do mundo. Ao longo de 1.000 anos, predominou, no Ocidente, a cosmovisão de Ptolomeu, que considerava a Terra o centro do Universo. Isso favoreceu a hegemonia espiritual, cultural e económica da Igreja, encarada pela fé como imagem da Jerusalém Celeste.
Com o advento da Idade Moderna, graças à nova cosmovisão de Copérnico, logo completada por Galileu e Newton, constatou-se que a Terra é apenas um pequeno planeta que, qual mulata de escola de samba, dança em torno da própria cintura (24 horas, dia e noite) e do mestre-sala, o sol (365 dias, um ano). O paradigma da fé deu lugar à razão, a religião à ciência, Deus ao ser humano. Passou-se da visão geocêntrica à heliocêntrica, da teocêntrica à antropocêntrica.
Agora, a modernidade cede lugar à pós-modernidade. Mais uma vez, nossa visão do Universo sofre radicais mudanças. Newton cede lugar a Einstein, e o advento da astrofísica e da física quântica nos obrigam a encarar o Universo de modo diferente e, portanto, também a ideia de Deus.
Se na Idade Média Deus habitava “lá em cima” e, na Idade Moderna, “aqui em baixo”, dentro do coração humano, agora conhecemos melhor o que o apóstolo Paulo quis dizer ao afirmar: “Ele não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dentre os poetas de vocês disseram: ‘Somos da raça do próprio Deus’” (At 17, 27-28).
A física quântica, que penetra a intimidade do átomo e descreve a dança das partículas subatómicas, ensina-nos que toda a matéria, em todo o Universo, não passa de energia condensada. No interior do átomo, a nossa lógica cartesiana não funciona, pois ali predomina o princípio da indeterminação, ou seja, não se pode prever com exactidão o movimento das partículas subatómicas. Essa imprevisibilidade só predomina em duas instâncias do Universo: no interior do átomo e na liberdade humana.
O Universo é um grande relógio montado pelo divino Relojoeiro e cujo funcionamento pode ser bem conhecido estudando cada uma de suas peças. A física quântica ensina que não há o sujeito observador (o ser humano) frente ao objeto observado (o Universo). Tudo está intimamente interligado. O bater de asas de uma borboleta no Japão desencadeia uma tempestade na América do Sul... Nosso modo de examinar as partículas que se movem no interior do átomo interfere no percurso delas... Tudo o que existe coexiste, subsiste, pré-existe, e há uma inseparável interacção entre o ser humano e a natureza. O que fazemos à Terra provoca uma reacção da parte dela. Não estamos acima dela, somos parte e resultado dela; ela é Pacha Mama ou, como diziam os antigos gregos, Gaia, um ser vivo. Deveríamos manter com ela uma relação inteligente de sustentabilidade.
Esse novo paradigma científico nos permite contemplar o Universo com novos olhos. Nem tudo é Deus, mas Deus se revela em tudo. Nossa visão religiosa é agora pananteísta. Não confundir com panteísta. O panteísmo diz que todas as coisas são Deus. O pananteísmo, que Deus está em todas as coisas. “Nele vivemos, nos movemos e existimos”, como disse Paulo. E Jesus nos ensina que Deus é amor, essa energia que atrai todas as coisas, desde as moléculas que estruturam uma pedra às pessoas que comungam um projecto de vida.
Como dizia Teilhard de Chardin, no amor tudo converge, de átomos, moléculas e células que formam os tecidos e órgãos do nosso corpo às galáxias que se aglomeram múltiplas nesta nossa Casa Comum que chamamos, não de Pluriverso, mas de Universo.
Frei Betto é escritor, autor de “A Obra do Artista – uma visão holística do Universo” (Ática), entre outros livros. Copyright 2010 – FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, electrónico ou impresso, sem autorização. Contacto – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br) |
|
IGREJA /SOCIEDADE
As perguntas foram mais que atrevidas,
mas, a todas elas, Pe. Mário responde sem papa-na-língua
Conhece padres que emprenharam,
já de votos assumidos,
e que não abdicaram da batina?
O conhecido jornalista e escritor TIAGO SALAZAR entrevistou pe. Mário para a Revista satírica O CÃO. As perguntas vieram por e-mail. E por e-mail, seguiram as respostas. É essa entrevista, na íntegra, que Jornal Fraternizar aqui reproduz. Como poderão constatar, as perguntas quase não saem da área da sexualidade, em particular, da famigerada Lei do Celibato dos padres. São perguntas provocadoras que tinham de ser feitas. Nenhuma fica sem resposta à altura. Vale a pena ler com inteligência cordial. Em lugar de enterrarmos a cabeça na areia. A Hora exige lucidez e Insurreição na Igreja. Basta de medo e castração
P. Este “habeas corpus” ao casamento homossexual reabre campo de discussão para outros temas espinhosos na sociedade e na Igreja Católica, caso dos padres procriadores, ou do fim do celibato entre padres que praticam o ministério?
R. Deveria (re)abrir, mas, hoje, infelizmente, nada, nas altas esferas da nossa Igreja católica, nos diz que irá ser assim. E de certeza que não será assim. Para nossa vergonha católica. E para nosso mais completo descrédito. A Cúria Romana, com os seus cardeais sem entranhas de humanidade, todos eunucos à força (mai-la sua hierarquia episcopal e paroquial à frente de todas as dioceses e paróquias territoriais espalhadas pelo Mundo, toda, infantilmente, obediente e reverente às ordens emanadas de Roma; toda feita só de homens, e homens eunucos à força e prisioneiros de privilégios de que não querem abdicar; sem um pingo de espinha dorsal e cheia de medo do Núncio apostólico do Vaticano, a residir na capital de cada país da Cristandade, com a missão de controlar /registar ao pormenor tudo o que os bispos e os párocos possam dizer e fazer de dissonante da linha traçada pelo Papa), em lugar de saudar e acompanhar esta abertura da Sociedade civil, fecha-se demencialmente ainda mais no seu reduto moralista sem Moral. Como um náufrago no alto mar que, desesperado, se agarra a um qualquer resto da embarcação destroçada. Quando ela, como Igreja de Jesus que diz ser, deveria viver sempre na crista da onda e à cabeça do pelotão da História, a abrir caminhos ainda por andar pela Humanidade. Que para isto é que a Igreja existe: para ser a parcela mais ousada e mais libertária da Humanidade. Só que tanto a Cúria Romana, como a hierarquia que infantilmente se lhe submete, são Poder Eclesiástico puro e duro, não são Igreja, a de Jesus, o Crucificado pelo Poder Sacerdotal e pelo Império. Como tal, actuam ambas, em uníssono na História, precisamente nos antípodas de Jesus
P. A esterilidade dos eclesiásticos é a excepção ou a regra?
R. É a regra. Salta à vista de toda a gente. Falo, obviamente, de esterilidade no sentido mais lato, não apenas no sentido sexual-genital. De resto, a pior esterilidade dos eclesiásticos nem é a sexual-genital. É, sim, aquele seu esquizofrénico jeito clerical de ser-viver todos os dias. O templo e o altar que eles profissionalmente frequentam e onde são reis e senhores absolutos, nunca foram espaços e ambientes de fecundidade humana. São, até, o que há de mais estéril. Já era assim com os sacerdotes dos velhos cultos do Paganismo religioso. Até podiam ser casados e ter filhas, filhos, mas eram os mais estéreis dos seres humanos. Ocupavam-se exclusivamente das imagens das deusas e dos deuses, faziam todos aqueles ritos e rezas sem sentido e, com isso, não só alienavam as populações, como ainda lhes alimentavam os ancestrais medos com que elas andavam possessas e que as tornavam violentas umas para com as outras. Como hoje ainda sucede. E para pior. Não só com os cultos religiosos nos templos e nos altares, mas também e sobretudo com os cultos seculares /laicos, em honra do Senhor Deus Dinheiro, sem dúvida, o mais omnipotente, o mais omnipresente e o mais omnisciente dos deuses-ídolos deste nosso Século XXI.
P. Conhece padres que emprenharam, já de votos assumidos, e que não abdicaram da batina?
R. Como compreenderá, não sou detective particular, nem polícia de costumes. Como presbítero da Igreja do Porto, toda a minha vida está centrada na missão de Evangelizar os pobres e os povos. Sou, ao mesmo tempo, jornalista de profissão (hoje, já na reforma, se bem que ainda mais activo do que nunca), mas nunca enveredei pelo jornalismo de investigação de costumes, muito menos dos meus irmãos padres /presbíteros. Sempre deixei isso aos clérigos juízes dos Tribunais eclesiásticos e aos moralistas laicos que, por vezes, em matéria de costumes, nomeadamente, no campo do exercício da sexualidade humana e clerical, conseguem ser ainda piores do que os juízes eclesiásticos. Eu sei que os meus camaradas jornalistas que enveredam por aí, pretendem saber se os padres são coerentes com o que prega a instituição que eles integram. Só que, em meu entender, os jornalistas deveriam ser os primeiros a denunciar como imoral o moralismo pregado pela instituição católica, em vez de correrem a acusar (não estou a referir-me aos casos de pedofilia, que sempre devem ser denunciados, seja quem for o abusador dos menores) os possíveis “prevaricadores” desse moralismo imoral. Porque o que é imoral nunca é para ser acatado e praticado, mas para ser denunciado e, até, infringido. Condenemos, sem rebuços, o Moralismo imoral. Não condenemos os “prevaricadores” que, com as suas práticas “prevaricadoras” (também não estou a pensar em casos de violações que devem ser denunciados), estão a deitar por terra o Moralismo imoral institucionalizado!
P. É histórico que os padres católicos sempre procriaram, sobretudo no Brasil, onde deram nomes ilustres à política, às letras, à diplomacia e por aí fora. Além de Papas pais, ou do nosso Aquilino Ribeiro, um acaso feliz de um romance de vigário. Esta tradição povoadora do clero e dos seus homens doutos não devia ser enobrecida ao invés de satirizada?
R. Em coerência com o que acabei de dizer, deveria responder sim, a esta sua pergunta. Entendo, inclusive, que a comunicação social e a literatura, assim como o cinema e as conversas de café deveriam enobrecer tais homens, em lugar de os satirizarem, como quase sempre fizeram /fazem. Satirizar esses homens é dar mais força ao Sistema eclesiástico moralista intrinsecamente perverso. É ser também perverso. Por mim, prefiro outra postura: nem enobrecer, nem satirizar, muito menos, humilhar. Prefiro a postura evangélica e jesuânica daqueles poucos presbíteros e bispos que, dentro da Igreja, denunciam, abertamente, uma e outra vez, como eu próprio faço, o Moralismo imoral da instituição eclesiástica, em todas as suas áreas, que não apenas na área da Lei do celibato obrigatório dos padres, mesmo que, por via disso, venham a ser canonicamente penalizados e, porventura, arbitrariamente afastados de funções. Porque, no tocante ao Moralismo imoral da Igreja católica, o mais grave nem chega a ser a Lei do celibato dos padres. Basta ver as aberrações que esse Moralismo imoral ensina e impõe, ainda hoje, aos casais católicos, aos adolescentes, aos homossexuais /lésbicas. É de bradar aos céus, melhor, à Terra. Tais doutrinas, neste campo da sexualidade praticada, são tão aberrantes, que eu nem sei como ainda há casais, adolescentes, homossexuais /lésbicas que continuam a dizer-se católicos, a frequentar as missas de domingo, a baptizar as filhas, os filhos, a “obrigá-los” a frequentar a catequese paroquial e a casarem-se canonicamente ou pela Igreja, como se diz. Só o podem fazer por força da inércia, da tradição, mas até isso é objectivamente imoral. Porque tudo o que se faz, sem convicção pessoal, apenas por rotina /inércia /tradição, ou apenas para agradar aos pais, é imoral, é pecado, um daqueles pecados que, embora não pareça, nos desumanizam e infantilizam.
P. Assumir esta deriva oficial de filhos de padres, vigários, presbíteros, párocos, priores ou afins, seria uma forma de, por exemplo, arregimentar mais seminaristas e rejuvenescer a Igreja?
R. Não creio. Ninguém é padre /presbítero da Igreja por sucessão genealógica, como numa monarquia, em que o filho do rei, rei será. E, se rei não for, pelo menos, príncipe /princesa será. Se entrássemos por aí, a Igreja seria uma empresa mais, no universo das empresas. Uma espécie de transnacional da Religião. Por sinal, é isso que a Igreja católica, hoje, parece ser, uma transnacional do Religioso, da Idolatria religiosa. Porque os presbíteros, quase todos, desistiram de o ser e, em seu lugar, passaram a assumir-se como “sacerdotes”. Foi o Concílio de Trento (século XVI), de triste e má memória, que operou esta transubstanciação. Perversa, diga-se, com toda a força de que formos capazes. Foi também neste Concílio que a Lei do Celibato obrigatório deixou de ter mais escapatórias. Até então, muitos padres que as populações tinham por “amancebados”, na realidade, eram casados. Só que ninguém sabia, para lá dos próprios. Casavam-se clandestinamente. E foi para acabar com esta derradeira possibilidade, que o Concílio de Trento definiu como doutrina de Fé (uma aberração de todo o tamanho!), que o sacramento do matrimónio só seria válido, quando fosse realizado na presença do pároco da noiva ou do noivo. Até então, o sacramento acontecia, sempre que um homem, padre que fosse, e uma mulher se declarassem marido e mulher, nem que fosse apenas perante as estrelas numa noite de luar. Em meu entender, só haverá mais padres /presbíteros na Igreja, quando este modelo institucional de Igreja que hoje conhecemos desaparecer. O Poder Eclesiástico que está a fazer-se passar por Igreja, gera súbditos, é totalmente estéril no que respeita a gerar seres humanos-com-causas, pelas quais valha a pena dar a própria vida. Benditos, pois, os jovens que, enquanto permanecer este modelo clerical de Igreja, recusam dar-lhe corpo com os seus corpos, seja como ajudantes de altar /acólitos, seja como padres /sacerdotes. Presbítero da Igreja, só mesmo por vocação. Nunca por procriação! Nem sequer como profissão.
P. Há já uma associação de padres casados, a Associação Fraternitas Movimento. Fazia sentido abrir uma sucursal de padres pater famílias?
R. Conheço a Fraternitas Movimento, mas não tenho quaisquer ilusões a seu respeito. É uma associação com muito de beatice eclesiástica e clerical. Integra padres casados e respectivas esposas. Mas os seus associados continuam a ser padres que não perderam os tiques clericais, beatos. São uns tristes. Vivem com saudades do altar, que tiveram de deixar, por terem casado. A maior parte deles só se sentiu menos-mal consigo mesmo, depois que conseguiu a “dispensa” de Roma e pôde casar-se canonicamente. O processo de “dispensa” foi /é uma atroz humilhação de quem a ele recorre. E o casamento canónico que se realiza depois é outra humilhação igual ou pior. Melhor, muito melhor, será realizar o casamento civil, ou a simples união de facto, com os nubentes como protagonistas, bem longe de todo aquele Moralismo rançoso que se respira no interior dos templos paroquiais e em redor dos altares. Padres casados, sim, mas sem terem de andar, o resto da vida, a rastejar diante dos bispos e a mendigar os seus favores. E muito de tudo isto é o que se faz na Associação Fraternitas Movimento. Melhor fossem padres casados ateus ou agnósticos, do que assim tão lacaios dos bispos residenciais, senhores dons fulanos de tal. Uma vergonha que se aceita como eclesial, quando o que é eclesial é a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Instituir uma sucursal de padres pater famílias? Nem pensar. Seria somar mais Humilhação áquela que já existe. Só mesmo para sadomasoquistas que, pelos vistos, é do que mais há nos ambientes eclesiásticos e clericais!
P. O futuro da religião católica passa por esta abertura de espírito?
R. Por mim, não falo de “futuro da religião católica”. Falo de futuro da Igreja católica. Não! Não são a mesma coisa. Ao contrário do que se pensa e escreve, Igreja e religião não são sinónimos. São antónimos. É da natureza da Igreja ser anti-religiosa, ou, pelo menos, a-religiosa. A Igreja não é uma religião. Por isso é que tem presbíteros /bispos, não tem sacerdotes. Tem casas familiares, não tem templos. Tem mesas compartilhadas, não tem altares. Tudo o que por aí se vê e faz é herança e prossecução do Paganismo religioso do Império romano que acabou por ser integrado na Igreja e, com isso, a descaracterizou e a paganizou. Até hoje! O futuro da Igreja passa por um Novo Nascer. Ou a Igreja Nasce do mesmo Espírito /Sopro Maiêutico de Jesus, assassinado pelos da Religião e do Império, ou não tem futuro. E, se, tal como ela hoje está, conseguir manter-se na História, será apenas como um Museu, porventura, muito respeitável, mas Museu. Sem vida. Como que a dizer aos vindouros que o caminho do Humano não passa por ali. É preciso Nascer de Novo, do Sopro gerador de Liberdade e de Maioridade Humana. É por aqui o caminho, se a Igreja quiser ter futuro. Mas o mais importante, nem é a Igreja ter futuro. É a Humanidade ter futuro. E o Planeta Terra. Será que vamos ter? Fosse a Igreja o que deveria ser, e haveria muito mais garantias da Humanidade e o Planeta Terra terem futuro. Assim, podemos desaguar todas, todos, um dia destes, no Abismo, na Implosão! Entendam estas minhas palavras como um alerta de sentinela, que é, de resto, um dos principais aspectos da missão dos presbíteros /bispos da Igreja e da própria Igreja. A de Jesus, obviamente..
P. Acha que o Islão tem maior facilidade em cativar a juventude para a fé?
R. Mas há Fé, no Islão? Ou tirania? Ou fanatismo? Fé, como acto de Lucidez e de Liberdade, como fonte de Maioridade Humana, eu só conheço uma, a mesma Fé de Jesus. É a única que é Maiêutica. É a única que não tem na sua génese o Medo, o Ídolo, a Idolatria. Toda a Fé religiosa tem na sua génese o Ídolo, a Idolatria. Por isso é que todas as religiões são perversas. E a do Islão não é excepção, bem pelo contrário. Basta ver a vida do suposto fundador, praticamente, nos antípodas da de Jesus, o filho de Maria, que não fundou nenhuma religião e combateu duelicamente, ainda que sempre desarmado, a Religião oficial do seu país, o que foi tido como a máxima blasfémia, sancionada com a morte crucificada na Cruz do Império. Os jovens muçulmanos podem ser aliciados /recrutados /amestrados para o Islamismo. Podem “oferecer-se” como “homens-bomba”. Mas a troco de quê? Por favor, não sejamos ingénuos. Lá, onde não houver Liberdade /Maioridade Humana, não há seres humanos. Há mercenários, há recrutados, há prosélitos, há escravos, há máquinas-humanas-prontas-a-fazer-se-explodir. “Eu – diz Jesus, a quem crucificaram – nasci e vim ao Mundo, para dar testemunho da Verdade; e para que todas, todos tenham vida, e vida em abundância”. Conhecemos mais alguém assim?!
P. Já agora, como é que os padres resolvem os naturais ardores do desejo, a paixão, a tesão? Lêem Platão no lugar da Playboy ou da Gina?
R. Teria de perguntar a cada um deles, porque cada ser humano, também o ser humano que se tornou padre, é único e irrepetível. Não há dois casos iguais. E, depois, é importante que quem faz perguntas a alguém saiba onde deve parar. Para não devassar a intimidade da pessoa que aceita que lhe façam perguntas. O que queremos para nós, devemos querer para as outras, os outros como nós. E nem sempre os jornalistas têm sido capazes de respeitar esta fronteira. E devassam a intimidade dos demais, como se fossem uma espécie de Pide de costumes, o que, obviamente, não é deontológico. Outra coisa importante a ter em conta, quando lidamos com os seres humanos e a sua intimidade, é percebermos a dimensão de Mistério que cada um de nós, ser humano, é. E ninguém, nem mesmo o próprio, deve profanar o Mistério que cada ser humano é, que todas, todos somos. Que fique claro duma vez por todas: A sexualidade humana só é bem abordada num clima de afectos partilhados. Nunca num clima de Tribunal, muito menos, de Tribunal da Inquisição jornalística. Cuidemos, primeiro e sempre, em formarmos seres humanos em estado de Liberdade e de Maioridade, e tudo o mais virá por acréscimo. Sem necessidade de polícias de costumes, como os fariseus do tempo e do país de Jesus, que não largavam nunca o pé de Jesus, para ver se o apanhavam em falso. Os padres /presbíteros que o são por vocação, como é o meu caso pessoal, e não por profissão ou como modo de vida, não precisam de frequentar Platão, muito menos a Playboy ou a Gina. Não porque essas sejam áreas interditas a um padre /presbítero da Igreja. Não são. Nada é interdito a um ser humano constituído na Liberdade e na Maioridade. Mas basta-nos frequentar-escutar-ser-viver, todos os dias, o belíssimo Poema erótico bíblico, Cântico dos Cânticos. Porque, lá, onde abundam os afectos partilhados, na sua máxima expressão, que é a Gratuidade e não a lei, a sexualidade humana é sempre vivida com a mesma naturalidade com que se respira. Ao modo matrimonial, nuns casos; ao modo de celibato pelo Reino /Reinado de Deus, noutros casos. Celibato como castração, é coisa desconhecida nesses ambientes de Liberdade /Maioridade Humana e de afectos partilhados, ainda que possa ser essa obscena concepção que continua aí na cabeça, nem sempre moralmente pura, de muita gente que, da sexualidade humana, (quase) só conhece a pornografia e a prostituição. Precisava essa muita gente de assumir /praticar o celibato pelo Reino /Reinado de Deus, num enfrentamento duélico de todos os dias contra o anti-Reino /Reinado de Deus, que é hoje o Império Financeiro Global, para saber por experiência como se vive a sexualidade, na alegre e feliz condição de celibato opcional, que não tem nada a ver com o celibato imposto por uma perversa Lei eclesiástica!
P. Na pedagogia do seminário continua a induzir-se a masturbação para expiar a libertação do tirano?
R. Do que hoje sucede, nos seminários, não posso falar. Mas não creio plausível tal coisa. Os tempos são outros e até os últimos quatro anos de Teologia, antes da ordenação, são passados na Universidade Católica, numa grande mistura de cursos, de mulheres e de homens, da mesma idade. Quanto ao passado, posso testemunhar que eu próprio frequentei o seminário durante 12 anos, entre 1950-1962, em regime de internato, e nunca percebi que nos fosse induzida, por parte do chamado “director espiritual”, semelhante orientação. O que sempre percebi é que praticamente tudo o que dissesse respeito a sexo era pecado, inclusive, a masturbação, um termo que, entretanto, nunca chegava a ser sequer pronunciado! A pedagogia era outra: manter-nos ininterruptamente ocupados, sem intervalos para a ociosidade, então, referida como “a mãe de todos os vícios”. Todos os minutos estavam programados, até o tempo de brincar e de dormir. Era como se todos fôssemos seres assexuados, sem sexo! Importa, pois, conhecermos bem a realidade de então, para não nos deixarmos enganar pelas mentes mais ou menos perversas /neuróticas de certos escritores que faziam (ainda fazem?!) do próprio acto de escrever romances ou guiões de filmes, uma masturbação intelectual. A ideologia que, então, se respirava no seminário era manifestamente moralista, fazia ver pecado em tudo o que tivesse a ver com sexo, mas, entretanto, não deixava de cultivar sólidos valores, só que dentro dessa visão moralista. Pessoalmente, nunca me senti reprimido naqueles doze anos de internato, com férias de permeio. Foram anos, durante os quais, desenvolvi múltiplas capacidades, inclusive, desportivas, por sinal, nem sempre bem vistas, estas últimas, por parte dos padres superiores. Em algumas delas, cheguei mesmo a ser craque, por exemplo, no voleibol, no futebol, no ténis-de-mesa e até no hóquei em patins! Depois de ordenado, apenas tive de me afastar rapidamente daquele sopro moralista em que havia crescido. Foi o que fiz e passei a deixar-me conduzir progressivamente pelo Sopro /Espírito de Jesus, que é o da Graça e da Verdade, e que fez/faz de mim um homem constituído na Liberdade /Maioridade, por isso, uma dádiva viva para os demais, Pão Partido que se dá a Comer, Vinho Derramado que se dá a Beber. E é assim que, ainda hoje, prossigo, como presbítero da Igreja do Porto, felizmente sem qualquer ofício pastoral oficial e também sem qualquer benefício eclesiástico. Digo felizmente. E se alguma coisa eu tenho a lamentar, é que a Instituição-Igreja que integro não me tenha acompanhado neste meu Êxodo /Saída do universo opressor do Moralismo e da Lei, para o universo jesuânico /maiêutico da Graça e da Liberdade /Maioridade. Problema dela. Felicidade minha!
P. O enredo d’ O Crime do Padre Amaro ainda se mantém contemporâneo?
R. Pode haver ainda um caso ou outro, mas não é hoje o comum entre os padres da Igreja católica. Pelo menos, entre nós. Não digo que esta mudança resulte da maturidade do padre. Acho, até, que é o contrário. É ainda o Moralismo, entranhado como um mítico demónio na consciência dos padres, a fazer das dele. Cumpre-se – ou, dito pela negativa, não se faz isto ou aquilo – porque a Lei manda ou proíbe. E o desrespeito da Lei, para estes homens que não saíram do Moralismo, é sempre pecado, mais ou menos grave. E o pecado é um risco de condenação. O pior do Moralismo eclesiástico é manter as pessoas, padres e bispos incluídos, em estado de menoridade, por toda a vida. Fossem adultos, e seriam eles próprios os primeiros a derrubar o Sistema que os oprime e amedronta. Porque, afinal, o Sistema Eclesiástico é criação humana, é criação do Poder ou da fome /sede de Poder Eclesiástico. Não vem de Deus. Só do Ídolo. Cresçam os padres /presbíteros no Humano, e o Moralismo que os infantiliza, cai como um baralho de cartas. Erguer-se-ão, em seu lugar, padres /presbíteros em estado de Liberdade e de Maioridade Humana. Criadores de Liberdade e de autonomias. A Cúria Romana não gostará de semelhante revolução, mas não terá outro remédio senão aguentar. Ou terá de fechar as portas, por falta de quadros qualificados. Assim, pobres homens clericais, não passam de eunucos à força, que nunca chegam a libertar-se definitivamente do medo do “pai”, da “Lei”, do “Pecado”. Até que a Morte, quando chegar, faça o que eles próprios, há muito, haveriam de ter feito!
P. É um mito rural que os padres de vilas e aldeias se amigam com as suas devotas?
R. Acho que é um mito. Pode haver excepções a esta regra. Mas serão só isso: excepções. Como já disse, a “lei”, o “medo”, o “pecado”, o “castigo” ainda continuam a ter muito peso nos clérigos, formatados para obedecer à lei moralista e ao bispo-senhor. Pelo menos, os párocos mais velhos. Os das novas gerações, forma(ta)dos na Universidade Católica, em ambientes outros, poderão comportar-se de outro modo. Mesmo assim, o recente caso do Pe. Rui, obscenamente, mediatizado até à náusea, veio mostrar que, quando ele não foi mais capaz de resistir aos encantos da sua paroquiana, bem mais nova do que ele, pôs, de imediato, um ponto final no ofício de pároco e partiu para outra. O que só confirma o que comecei por responder: Hoje, é mais um mito rural, do que um facto.
P. A Igreja só teria a ganhar na sua modernização se acabasse com estes dogmas arcaicos?
R. Sim, só teria a ganhar. Mas não confunda as coisas. Não são dogmas. São meras leis eclesiásticas que, assim como foram criadas pelos próprios homens da Igreja, à revelia do Evangelho de Jesus e das práticas paradigmáticas das primeiras comunidades do Novo Testamento, também podem e devem ser banidas, a qualquer momento, por eles. Cabe às gerações deste nosso Século XXI abolir de vez o que nunca deveria ter sido institucionalizado na Igreja. Manter por mais tempo essas leis, é pecado. Acatá-las e respeitá-las, sem convicção pessoal, só porque são leis da Igreja, é pecado. E nem é preciso ser muito corajoso para se avançar nesta direcção. O Povo de Deus, na sua esmagadora maioria, não quer outra coisa. E como reza um velho ditado teológico-popular: Vox populi, vox Dei (= voz do povo, voz de Deus). Avance-se, então. Já. Saibam que há 16 séculos, já era tarde para avançarmos!
P. Acha que o Prémio Pessoa, o bispo do Porto D. Manuel Clemente, um homem com uma voz de largo espectro, devia desviar uns decibéis para estes temas espinhosos?
R. Devia, mas não é o que está a acontecer, nem acontecerá. Como eu próprio escrevo no meu mais recente livro, NOVO LIVRO DO APOCALIPSE OU DA REVELAÇÃO, edição AREIAS VIVAS (um livro que revela o que o romance Caim, de Saramago, esconde!), os caminhos que o Bispo Manuel Clemente tem trilhado, desde que aceitou ser Bispo do Porto, podem ser muito eclesiásticos-católicos, mas não são nada jesuânicos. E, se não são nada jesuânicos, são inevitavelmente caminhos desviados do Caminho, da Verdade e da Vida que é Jesus, o filho de Maria. E, por isso, desviados dos seres humanos de carne e osso, também dos padres e dos bispos, inclusive, dele próprio, e das suas (nossas) legítimas aspirações. Fossem caminhos jesuânicos, e o Prémio Pessoa nunca lhe teria sido atribuído. E, se os seus, até agora, não têm sido caminhos jesuânicos, muito menos o serão, a partir do Prémio. A menos que ele reflicta melhor e recuse recebê-lo. O que muito me alegraria! Se o aceitar, também aceitará falar sempre, daqui para diante, na escala do politicamente correcto. O Poder Político e Financeiro que lhe deu o Prémio Pessoa nunca dá ponto sem nó. Os cem anos da implantação da República estão aí. O Prémio Pessoa veio na hora H. Pensam que temos Bispo do Porto ao jeito de Jesus? Desenganem-se. Só ao jeito do Poder Eclesiástico que se mantém “homossexualmente casado” com o Poder Político e, obviamente, com o Poder Financeiro. Não ver isto, é ser-se cego. Admitir o contrário, é ser-se ingénuo. Não me peçam que eu seja cego. Muito menos, ingénuo.
P. Que lhe diz a personalidade do actual Papa?
R. É o mais medonho rosto do Poder Eclesiástico. Tudo em Bento XVI sai errado. Como errado foi o seu percurso, desde que trocou a Teologia, em que era um dos maiores especialistas na Europa, pela Idolatria do Vaticano. Passou-se de armas e bagagens para a Cúria Romana, já com o fito de vir ser eleito papa-chefe-de-estado-do-Vaticano. Conseguiu. Acho que é hoje o mais infeliz dos seres humanos. Prisioneiro do Ídolo, que ele confunde com Deus. Quem o vê em acção vê o Ídolo-em-acção. O Ocidente, na sua hipocrisia, faz de conta que o estima e acolhe. Mas eu acho que ninguém o ama. Como ele, tão pouco ama alguém. Nem sequer a si mesmo o papa Bento XVI ama. Se se amasse a si mesmo, fugiria da Cúria Romana, do Estado do Vaticano, verdadeiro ninho de víboras. Infelizmente, estes homens, meus irmãos, tornam-se absolutamente cegos, quando mais pensam que passaram a ver como nunca antes. Tornam-se absolutamente cegos e conduzem as pessoas que confiam neles, para o Abismo. É o que Bento XVI está a fazer: a levar a Igreja católica para o Abismo. Nem tudo, porém, está perdido. Porque, do Abismo, erguer-se-á a Igreja-fermento-na-massa e a Primavera com que o papa João XXIII, de feliz memória, sonhou, segue dentro de momentos. Por mim, alegro-me, desde agora. Na esperança.
P. A vinda a Fátima é uma mera etapa de calendário ou pode ter importância na discussão do cânone?
R. Uma coisa eu lhe(s) garanto: Quando um papa viaja até Fátima, o local mais idolátrico de Portugal e da Europa, pelo menos, no âmbito da chamada Idolatria religiosa, é porque o Estado do Vaticano está mal de finanças. Ou ainda somos tão ingénuos que pensamos que o papa vem a Fátima e vai de mãos abanar para o Vaticano? Uma mera etapa de calendário, ou alguma coisa mais? Nunca, digo-lhe eu, uma visita papal é uma mera etapa de calendário. A Cúria Romana, da qual o papa Bento XVI é o actual chefe de turno, nunca dá ponto sem nó. Neste caso concreto, a Cúria Romana precisa de controlar mais e mais os dinheiros de Fátima. Assim como precisa de rentabilizar mais os lucros do santuário. As viagens papais são altamente rentáveis para os cofres da Cúria Romana. Como teólogo, o papa Bento XVI sabe, quanto eu, que Fátima, com as suas pretensas aparições no remoto ano de 1917, sete anos depois da implantação da República, é tudo mentira e crime, orquestrado pelo clero de Ourém e não só. Com uma substantiva diferença. Eu digo-o, sem que a voz e a mão me tremam. E ele, pelo contrário, simula, quando não diz, até, o contrário. Nega a verdade conhecida por tal, o que, na catequese por onde ele foi catequizado em criança-adolescente, perfaz um pecado contra o Espírito Santo! As populações, sedentas de folclore, de maravilhoso, de espectáculo e de ópio para as suas dores, hoje mais do que muitas, correrão ao encontro dele. Infelizmente, as populações sempre ovacionam os seus opressores /tiranos, quando estes se vestem de “pastores” e de “representantes de Deus na terra”, e desprezam /matam os profetas. Desconhecem que só mesmo o Deus-Ídolo é que tem representantes na terra, precisamente, nos homens do Poder, e quanto mais absoluto melhor. E o papa – quem o não sabe? – é actualmente o último monarca absoluto da Europa. E do Mundo. Espantam-se que eu diga estas coisas, como presbítero da Igreja do Porto? Não se espantem. Pensem só que o chamado “Ministério ou Serviço de Pedro”, na Igreja de Jesus, não é Poder, muito menos Poder monárquico absoluto. Este é Tirania! E aos tiranos, há que os apear do trono quanto antes. Tomem estas minhas palavras como uma ajuda nesse sentido e, portanto, como uma manifestação de amor fraterno da minha parte. Porque a minha alegria, neste particular, é que este Tirano de turno seja derrubado e, em seu lugar, se erga o Ser Humano de carne e osso, Ratzinger, de seu nome, meu /nosso irmão. |
|
Pós-Copenhaga
Por L. BOFF
Teólogo
Em 1930, Sigmund Freud escreveu seu famoso livro O mal-estar na cultura e já na primeira linha denunciava: “no lugar dos valores da vida preferiu-se o poder, o sucesso e a riqueza, buscados por si mesmos”. Hoje tais factores ganharam tal magnitude, que o mal-estar se transformou em miséria na cultura. A COP-15 em Copenhaga trouxe a mais cabal demonstração: para salvar o sistema do lucro e dos interesses económicos nacionais não se teme pôr em risco o futuro da vida e do equilíbrio do planeta, já sob o aquecimento que, se não for rapidamente enfrentado, poderá dizimar milhões de pessoas e liquidar grande parte da biodiversidade.
A miséria na cultura, melhor, miséria da cultura se revela por dois sintomas verificáveis mundo afora: pela generalizada decepção na sociedade e por uma profunda depressão nas pessoas. Elas têm razão de ser. São consequência da crise de fé pela qual está passando o sistema mundial. De que fé se trata? A fé no progresso ilimitado, na onipotência da tecno-ciência, no sistema económico-financeiro com seu mercado como eixos estruturadores da sociedade. A fé nesses deuses possuía seus credos, seus sumos-sacerdotes, seus profetas, um exército de acólitos e uma massa inimaginável de fiéis.
Hoje, os fiéis entraram em profunda decepção porque tais deuses se revelaram falsos. Agora estão agonizando ou simplesmente morreram. Os G-20 em vão procuram ressuscitar seus cadáveres. Os professantes desta religião de fetiche, agora constatam: o progresso ilimitado devastou perigosamente a natureza e é a principal causa do aquecimento global; a tecnociência que, por um lado, tantos benefícios, trouxe, criou uma máquina de morte que só no século XX matou 200 milhões de pessoas e hoje é capaz de erradicar toda a espécie humana; o sistema-económico-financeiro e o mercado foram à falência e se não fosse o dinheiro dos contribuintes, via Estado, teriam provocado uma catástrofe social. A decepção está estampada nos rostos perplexos dos lideres políticos, por não saberem mais em quem crer e que novos deuses entronizar. Vigora uma espécie de nihilismo doce.
Já Max Weber e Friedrich Nietszche haviam previsto tais efeitos ao anunciarem a secularização e a morte de Deus. Não que Deus tenha morrido, pois um Deus que morre não é “Deus”. Nietszche é claro: Deus não morreu, nós o matamos. Quer dizer, Deus para a sociedade secularizada não conta mais para a vida nem para coesão social. Em seu lugar, entrou um panteão de deuses, referidos acima. Como são ídolos, um dia, vão mostrar o que produzem: decepção e morte.
A solução não reside simplesmente na volta a Deus ou à religião. Mas em resgatar o que eles significam: a conexão com o todo; a percepção de que o centro deve ser ocupado pela vida e não pelo lucro e a afirmação de valores compartidos que podem conferir coesão à sociedade.
A decepção vem acolitada pela depressão. Esta é um fruto tardio da revolução dos jovens dos anos 60 do século XX. Ai se tratava de impugnar uma sociedade de repressão, especialmente sexual e cheia de máscaras sociais. Impunha-se uma liberalização generalizada. Experimentou-se de tudo. O lema era: “viver sem tempos mortos; gozar a vida sem entraves”. Isso levou à supressão de qualquer intervalo entre o desejo e sua realização. Tudo tinha que ser na hora e rápido.
Disso resultou a quebra de todos os tabus, a perda da justa-medida e a completa permissividade. Surgiu uma nova opressão: o ter que ser moderno, rebelde, sexy e o ter que desnudar-se por dentro e por fora. O maior castigo é o envelhecimento. Projectou-se a saúde total, padrões de beleza magra até a anorexia. Baniu-se a morte, feita espantalho.
Tal projecto, pós-moderno, também fracassou, pois não se pode fazer qualquer coisa com a vida. Ela possui uma sacralidade intrínseca e limites. Uma vez rompidos, instaura-se a depressão. Decepção e frustração são receitas para a violência sem objecto, para o consumo elevado de ansiolíticos e até para o suicídio, como vem ocorrendo em muitos países.
Para onde vamos? Ninguém sabe. Somente sabemos que temos que mudar, se quisermos continuar. Precisa-se fazer o certo: o casamento com amor, o sexo com afecto, o cuidado com a natureza, a busca do “bem viver”, base para a felicidade. |
|
|
|