Textos do
Jornal Fraternizar

Edição nº 177 de Abril/Junho 2010

DESTAQUE 1

 

Padre Mário regressou à Terra onde nasceu e foi criado,

até ser ordenado Presbítero, aos 25 anos de idade

Para vós, sou o rosto do Escândalo!

 

Foi a EiLOS, uma Associação que se propõe pôr Lourosa no mapa cultural do Distrito e do País, que organi­zou o meu regresso à Terra que me viu nascer. Quis pôr-me a falar sobre os meus livros e sobre o meu, no mínimo, surpreenden­te percurso de vida de presbítero da Igreja do Porto. O pretexto foi a recente publicação do meu Novo Livro do Apoca­lipse ou da Revela­ção, Edição Areias Vivas. Como eu previa, a esmagadora maioria das pessoas de Lourosa ignorou a minha presença. As que apareceram foram de um carinho e de uma ternura inexcedíveis. Rosa Silva, da EiLOS, optou pela sessão em forma de entrevista. Partilho, pois, aqui o Texto com que contava abrir a sessão, se ela tivesse decorrido da forma tradicional. Deixo-lhes também, logo a seguir, o Poema Presbítero eu sou que cantei, a encerrar a sessão, e que escutei-escrevi para lá cantar, em primeira-mão, com a conhecida música de José Afonso, Fui à beira do mar. Eis.

 

Mais do que emocionado, por es­tar de regresso a Lourosa, a Terra on­de nasci e fui criado até aos 25 anos de idade, estou preocupado /perturba­do. Tenho consciência de que, para grande parte de vós, familiares de san­gue incluídos, eu sou o rosto do Escân­dalo no nosso país. Quem haveria de dizer que o Mário, o filho da Ti Maria do Grilo e do Ti David, a quem a fre­guesia, 25 anos depois do seu nasci­mento, fez uma festa de arromba, por ocasião da chamada “Missa nova” (12 Agosto 1962), vinha a ser este Escân­dalo vivo que hoje sou, e de que este meu NOVO LIVRO DO APOCALIPSE OU DA REVELAÇÃO não só confirma, mas leva, até, às últimas consequências? Por isso, ele é, muito justamente, o mais odiado e mais silenciado de todos os meus livros!

Desde aquela “Missa do galo”, em 1964, em que eu disse, do altar paro­quial para baixo, que “o menino-jesus era de caco”, o Escândalo nunca mais deixou de andar associado ao meu no­me, ao meu ser-viver presbiteral em Igreja e em Sociedade. E o Escândalo só não rebentou, antes, no próprio dia da “Missa nova”, porque, então, era da praxe eclesiástica que o novo pres­bí­tero, ainda inexperiente, deveria ca­lar-se e deixar que outro, mais expe­riente, pregasse na sua “Missa nova”. Coube ao meu tio cónego e monsenhor encarregar-se desse ofício e ele (pa­re­ce que ainda estou a ver a cena!) ves­tiu-se a rigor com todos aqueles ver­melhos de monsenhor e de cónego e subiu ao púlpito, plantado no meio da igreja /templo. Era o Poder Eclesiástico em todo o seu esplendor.

Tivesse sido eu a falar na “Missa nova” e já teria escandalizado as mi­nhas conterrâneas, os meus conterrâ­neos, e os meus familiares, tal como Jesus, o filho de Maria, escandalizou, quando regressou à sua terra e foi à sinagoga falar /ensinar (cf Marcos 6; Lucas 4). Não foi na igreja paroquial, porque me silenciaram, mas foi no brin­de do almoço da “Missa nova”, no terreno-quinta da casa do meu tio có­nego e monsenhor! Levantei-me da mesa, a encerrar os brindes, e dirigi-me aos meus pais com estas palavras:

Oferecestes este vosso filho a Deus e Deus tomou-vos a sério. Acei­tou-me! Não sou mais vosso, mas dE­le. E ser de Deus é ser dos pobres, das vítimas da História. Ser de Deus é nunca mais ser do Ídolo que se faz passar por Deus verdadeiro, até no in­terior das Igrejas, e, assim, justifica todos os horrendos crimes de que an­da tecida a História dos povos. Sabei, então, que nunca tirareis qualquer pro­vei­to material comigo. Nem prestígio social. Se me destes a Deus, não me destes ao Ídolo. E só o Ídolo é que dá pri­vilégios, proventos materiais, prestí­gio, carreira eclesiástica, poder, influ­ên­cia. Como vós me destes a Deus, eis que estarei por toda a vida contra o Ídolo! E ele, furioso comigo, há-de perseguir-vos, humilhar-vos e perse­guir-me, caluniar-me, excluir-me, ex­pul­sar-me de um lugar para o outro. Até poderá prender-me como traidor à pátria, arrastar-me aos seus tribu­nais. Serei a vergonha da família, da terra que me viu nascer e crescer. Nu­ma palavra, serei um Ninguém, um Mal­dito, um Excomungado. Só porque sou de Deus e lhe obedeço, não sou do Ídolo nem lhe obedeço.

As pessoas presentes ouviram e estremeceram, menos a minha mãe e o meu pai. Sobretudo, menos a minha mãe. Ninguém se atreveu a comentar comigo  e perante mim estas minhas pa­la­vras. Todos ficaram visivelmente in­comodados com elas, mas fizeram de conta, deixaram para lá. O meu tio cónego e monsenhor deverá ter pensa­do, lá para com ele: Deixa que daqui a uns meses /anos, já pensarás e fala­rás de outro jeito! Felizmente, até ele se enga­nou a meu respeito! Radica­lizei cada vez mais esta minha postura presbiteral e este meu dizer pastoral.

O Poder Eclesiástico fez tudo para que eu fosse dele, um dos rostos dele (e ser dele é igual a ser do Ídolo!), mas eu resisti-lhe sempre. Até hoje. Depois da primeira prisão política em Caxias, fez-me uma grande recepção na Casa do Bispo – o Poder por anto­no­másia, na diocese! Foi o pico mais alto da Tentação. Como com Jesus, no pináculo do Templo (cf Lucas 4, 9-12). O Bispo foi ao extremo de me iden­tificar com Jesus e o seu Evangelho, quando, eufórico, afirmou: “Vinte sécu­los depois, o Evangelho voltou ao Pre­tório e, desta vez, saiu absolvido”. Es­tava fora dele. E porquê? Porque pensa­va que me tinha no papo! Pretendia – disse-me, dias depois – que eu a­ban­donasse a Paróquia e a sua então hu­mi­lhada gente, me afastasse da base da Pirâmide social, de junto dos Ninguém, esquecesse as minhas ori­gens, e fosse tirar um doutoramento numa famosa universidade estrangei­ra, tudo a custas da diocese. Era a carreira eclesiástica em todo o seu es­plen­dor, a mesma que ele, quando ti­nha também a minha idade de então, havia percorrido. O que ele não conta­va é com o meu rotundo NÃO!

O filho da Ti Maria do Grilo não é por aí que vai, disse-lhe, firme. Sou de Deus, não do Ídolo!

Obviamente, o Poder eclesiástico, também na pessoa do Bispo da Dioce­se, nunca mais me perdoou. E eu cada vez mais percebi, na minha própria carne, tudo o que ele tinha, tem de Perverso. Foi quando, algum tempo depois de eu ter regressado à Paró­quia e ao meio da sua gente margina­liza­da, ele me retirou a Carta de páro­co, embora me mantivesse em funções, e, depois, até o ofício de pároco me tirou, precisamente, no mesmo dia (21 Março 1973), em que eu fui preso, uma segunda vez, pela Pide, em Caxi­as. Fê-lo, certamente na esperança de que eu me renderia pela fome /pelo pão (sabem que ao ofício de pároco anda sempre atrelado um benefício ecle­siástico que garante a própria sus­ten­tação e, muitas vezes, até um acu­mular de fortuna?). Ora, sem ofício pas­toral, lá se ia também o benefício ecle­siástico.

Só que eu, já sem o ofício de pá­roco, pude experimentar-me a sério presbítero da Igreja, ainda mais livre do que antes. E, em vez de capitular perante o Poder /o Ídolo e, assim voltar a ter direito ao pão envenenado que ele garante a quem o serve, resisti-lhe e fui procurar ganhar o pão com o suor do meu rosto, para, como presbítero da Igreja do Porto, poder dar totalmente de graça o que de gra­ça havia recebido e recebo. Fiz-me jornalista no vespertino REPÚBLICA, onde, de resto, me foi concedida a Carteira Profissional.

A profissão secular foi simultanea­mente a minha carta de alforria. Já não precisava mais do Templo nem do Altar. Nem sequer para sobreviver. Muito menos, para anunciar o Evange­lho de Deus, revelado em e por Jesus, primeira e principal missão de um pres­bítero ordenado. Tinha outro “púlpito”, por sinal, bem mais na linha secular do de Jesus, depois que, também ele, se viu expulso das sinagogas da Gali­leia e do Templo de Jerusalém. E é assim que aqui me tendes, hoje, entre vós, como o corpo /o rosto presbiteral mais expressivo do Escândalo.

Em Agosto próximo, somarei, já, 48 anos de presbítero, qual deles o mais escandaloso. Mas apenas daque­le tipo de Escândalo fecundo, que desmascara o Perverso que é o Ídolo /Po­der Eclesiástico e que toda a Igreja deveria ser também, em cada um dos seus membros e como Igreja, no seu todo. Porque de Jesus, o filho de Ma­ria, se diz, no sé­culo I, como agora se diz de mim, que ele é Escândalo pa­ra os Judeus e Loucura para os Não-Judeus. Hoje, diremos, até, que Jesus é Escândalo e Loucura, ao mes­mo tempo, para a própria Igreja cató­lica (e as outras Igrejas), desde a Cú­ria Romana até ao último pároco de aldeia. E é Escândalo e Loucura tam­bém para ateus e religiosos, de todas as religiões.

O Ídolo sempre soube o que fazia e continua a saber o que faz, também hoje, Século XXI. Em lugar de Jesus, a quem matou na Cruz do Império, a pe­dido dos sumos-sacerdotes do Tem­plo (já vêem para que servem os sa­cerdotes, os templos, os ritos, os cultos litúrgicos, também aqui, em Lourosa. Não, não é a Deus que eles servem – Deus nem gosta dessas coisas de ritos e de cultos nos templos! – mas ao Ído­lo. E como o Ídolo, também eles se ins­talam nas suas rotinas e nos seus rituais, nos seus negócios religiosos, que mais não servem senão para ali­mentar infantilismos e menoridades nas populações que os frequentam e pagam, já que é precisamente isso que o Ídolo sempre pretende).

Mas então o que é que o Ídolo sem­pre fez /faz com uma pintarola do caraças, que engana até o mais pin­tado, inclusive, os nossos intelectuais mais conceituados, os nossos teólogos de renome e os nossos biblistas de renome? Vejam só! Depois de matar Je­sus na Cruz do Império, criou habil­mente um seu substituto que dá pelo nome /apelido de Cristo /Ungido de Deus. Só que Cristo /Ungido do Deus Ídolo! Um mítico Cristo /Ungido pelo Império, pelo Ídolo do Império, esse mes­mo que matou Jesus, por ele se lhe opor e o desmascarar. Um mítico Cristo /Ungido que não tem nada de Je­sus. Apenas serve, no caso católico romano, para reforçar o Poder monár­quico absoluto do Papa (Bispo de Roma é outra coisa muito diferente) e da sua Cúria Romana, o Poder Epis­copal em cada diocese territorial (Bispo da Igreja é outra coisa muito dife­rente), e o Poder Paroquial /Eclesiás­tico em cada aldeia /cidade (Presbí­tero da Igreja é outra coisa muito dife­rente). Ao mesmo tempo, ainda dá uma mãozinha – que para isso servem as Concordatas, é claro! – ao Poder Político de cada nação; e dá também as mãos ambas ao Poder Financeiro Global, de que o católico romano faz parte, e que hoje é mais obsceno e mais assassino do que nunca antes havia sido, já que, hoje, trabalha sem descanso e de modo cientificamente organizado. E ainda por cima conta com os melhores cérebros humanos ao seu incondicional serviço, bem co­mo com os meios tecnológicos mais sofisticados. Hoje, o Poder Financeiro Global até já consegue fazer acontecer sismos, como o do Haiti, aparente­men­te naturais (nada há hoje, no Pla­ne­ta, sob o domínio do Poder Finan­ceiro, que seja natural. Tudo é obra do Poder Financeiro, que continua aí desconhecido da maior parte das po­pu­lações e dos povos do Mundo, mer­gu­lhados que vivem na alienação, na mediocridade, na dissipação, na inge­nuidade. Nada hoje é natural no Pla­neta. Tudo tem a mão assassina do Po­der Financeiro. Directa, ou indire­cta­mente. Pensar o contrário, será in­ge­nuidade. Tremenda ingenuidade, que se paga demasiado caro!

 

Se olharem para os meus 30 e tan­tos livros já editados (quantas casas em Lourosa têm um livro meu? Quan­tas pessoas em Lourosa já alguma vez leram um livro meu? E como é que haveriam de ter e de ler, se eu sou o rosto do Escândalo!? E como é que haveriam de ter e de ler, se eu, presbítero da Igreja do Porto, faço tudo ao contrário de vós, Povo católico de Lourosa? Vós ides regularmente ao tem­plo do Ídolo, que é a igreja paro­quial e a capela da Feira dos Dez, e eu já não vou a templo nenhum. Tro­quei toda essa Idolatria religioso-cató­lica por Mesas Compartilhadas em no­me e em memória de Jesus; ides à Missa ritual do Ídolo, eu não; ides de­vo­tamente a Fátima e à sua senhora cega, surda e muda, que não se como­ve nem se move do local onde é pou­sa­da, e eu não vou, nem sequer por tu­ris­mo; dais os vossos filhos a baptizar e o funcionário eclesiástico que está à frente da paróquia aceita-os e bapti­za-os com água, e eu já não baptizo ninguém em água, porque, com Jesus, baptismo só mesmo o do seu mesmo Espírito; casais as vossas filhas, os vossos filhos no templo do ídolo, num ri­tual que junta no mesmo saco, na pessoa do pároco, o Poder Político e o Poder religioso /Eclesiástico, numa promiscuidade absolutamente intole­rá­vel, e eu recuso-me há muito a pre­sidir a semelhante Perversão, mesmo a pedido de pessoas minhas amigas; quereis, quando morrerdes, funeral re­li­gioso para o vosso cadáver, e eu não quero; reconheceis como sacerdotes do Ídolo, aqueles que, um dia, foram ordenados presbíteros como eu fui, e eu não reconheço. Presbítero é pres­bítero e tem tudo a ver com a Igreja /Movi­mento das, dos de Jesus. Sacer­dote é sacerdote e tem tudo a ver com os cultos do Paganismo e do Judaís­mo, até ter Acontecido na História Je­sus, o filho de Maria, que não é sacer­dote, nem nunca fez ninguém sacerdo­te e, até, foi assassinado por exigên­cias dos sumos-sacerdotes do seu país. E não só não reconheço, como até os desmascaro /denuncio /combato, em duelos teológicos desarmados, como uns mercenários mais que são, ao ser­viço do Ídolo; finalmente, aceitais viver todos os dias na Mentira e na Idolatria, e eu combato uma e outra, todos os dias.

Lá estão os títulos dos meus livros que falam por si. Eis alguns, dos mais recentes e dos mais antigos: Nem Adão e Eva, nem Pecado Original; Fátima nunca mais; Chicote no templo; Maria de Nazaré; Nascer de Novo. Ensaio de catequese libertadora; Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu, porém, digo-vos; E Deus disse: Do que eu gosto é de Política, não de Religião. E, agora, para cúmulo, este meu Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação.

Se olhardes para a sucessão cro­nológica, por ordem de edição, dos tí­tu­los dos meus livros, vereis que eles reflectem e seguem o meu percurso de vida. Nasceram a partir da minha vida. E mostram bem o meu crescer na mes­ma Fé de Jesus. A lista abre com Evan­gelizar os Pobres (um título claramente programático para toda uma vida pres­biteral, a minha, já que para isso nasci e vim o Mundo); e fecha (pode haver ainda outros a sair depois dele, mas este será sempre o meu “livro póstumo”) com Novo Livro do Apocalipse ou da Reve­lação, que é assim como o Testa­mento que eu deixo /dou à Igreja (daí a Dedi­catória do Livro a todos os Bispos e a todos os Presbíteros, para que nós, uma vez convertidos à mesma Fé de Jesus, confirmemos nessa mesma Fé todas as nossas irmãs, todos os nossos irmãos!) e simultaneamente ao Mundo.

Será que os bispos e os presbí­teros e demais pessoas da Igreja, das Igrejas e da Sociedade civil em geral, ateus incluídos, vão pegar nele? Aco­lhê-lo? Escutá-lo? Conversá-lo? Fazer dele como que a sua Bíblia, hoje? Teriam de mudar de Deus, do Ídolo que servem e do qual se servem para justificar e manter os privilégios de que desfrutam, para o Deus Criador de filhas e de fi­lhos, o Abbá de Jesus e o nosso.

Saibam que semelhante Revolu­ção Teológica tem de acontecer na His­tória, ou então não há futuro para o Pla­neta. Infelizmente, ainda estamos demasiado encandeados, sobretudo os grandes das Igrejas, com o Ídolo. E os próprios ateus são-no, hoje, ainda (quase) só do Ídolo religioso, não do Ídolo-Poder Financeiro. A este servem-no incondi­cio­nalmente. Sem quais­quer pesade­los. E com um fanatismo que chega a causar calafrios a quem está de fora a observar tamanha en­tre­ga ao Ídolo dos ídolos, o Poder Fi­nan­ceiro Global.

 

Sobre este "livro póstumo", só duas coisas rápidas:

1 Comparado com Caim, de Sara­ma­go, este meu Novo Livro do Apoca­lipse revela o que Caim habilmente esconde. Saramago, em Caim, entroni­za o Assassino, como herói, como o grande (único) protagonista da Histó­ria e submete-se-lhe, de forma que chega a ser obscena (é um idólatra lai­­co!). Este meu Novo Livro do Apoca­lipse, ao contrário, deposita toda a sua esperança (virtude teológica, não ido­lá­­trica!) nos Abel, isto é, nas vítimas da História, nos assassinados /crucifi­ca­dos pelo Poder Financeiro Global. Hoje, a es­magadora maioria das popu­la­ções. E por isso proclama que está pró­xima a nossa Libertação e a do Pla­neta, por­que nunca como hoje houve tantas víti­mas em massa e tanta Cruel­dade /Perversão Organizada em inin­terrupto curso.

2 Comparado com o Apocalipse do chamado Novo Testamento (uma de­si­gnação infeliz, diga-se), o meu Novo Livro do Apocalipse tem de co­mum o título (por isso, o adjectivo Novo a ante­ceder o título Apocalipse) e o objectivo a alcançar. Aquele revelou (tirou o véu das mentes) às vítimas do século I e do século II, a Besta, que era o Império Ro­mano divinizado, bem como toda a sua propaganda e aos feitos que ele operava, aqui e ali, a favor de alguns, e sempre à custa das maiorias oprimidas e empobrecidas. O meu Novo Livro do Apocalipse revela aos Povos da Europa e do resto do Mun­do as Máfias organiza­das e todo-poderosas que são, hoje, os três Pode­res que dominam /mandam no Mundo, concretamente, o Poder Fi­nan­ceiro Glo­bal e os seus dois braços direito e esquerdo. O direito, é o Poder Religio­so /Eclesiástico; o esquerdo, é o Poder Político que está à frente de ca­da na­ção do Mundo.

Façamos, pois, deste livro, se a tan­to nos atrevermos, o nosso vade mecum (vai-comigo /connosco). Vere­mos os nos­sos olhos de dentro abrir-se e logo mu­da­mos do Ídolo e da Idolatria para Deus Criador de filhas e de filhos em estado de Liberdade e de Maioridade, vividas ambas num cli­ma de Sororidade /Frater­nidade uni­ver­sal Praticada. E acabare­mos plena e integralmente Humanos, outros-Je­sus, em feminino e em mas­cu­lino. Por­ventura, também Crucificados /Ostra­cizados /Malditos como ele. Porque o Ídolo não perdoa, a quem o troca por DeusCriador, mais íntimo a nós do que nós próprias, nós próprios. Avance, pois, quem se atrever a ser, plena e integral­men­te, Humano! Eis.


 

Presbítero eu sou!

 

1 Sou da Periferia

Vivo em casa arrendada

Longe da Idolatria

Entre gente parada

  Ó tu, nos teus palácios

  O que fazes da vida?

  E tantos a viver

  Em becos sem saída!

 

2 Sem Templo, sem Altar

Vivo para a Missão

De Evangelizar

Gerar Libertação

  De que serve o Altar

  P’ra onde corre o povo?

  Senão para roubar

  Quem não nasce de novo?

 

3 Tentado p’lo Poder

A ser Poder também

O NÃO que é o meu viver

Fez de mim um Ninguém

  Ninguém eu quero ser

  Sem qualquer mordomia

  E na Trincheira ter

  Jesus por companhia

 

4 Presbítero eu sou

Sacerdote é que não

E com Jesus eu vou

Mão-na-mão em Missão

  Quem preside ao Altar

  Ainda é pagão

  Tem tanto para andar

  E não sai da Prisão!

 

5 Tudo eu dou de graça

Que assim o recebi

Quem faz da Igreja safra

Não tem Jesus em si

  Ó vendilhões dos Templos

  Gente sem coração

  Até c’os sacramentos

  Matais o vosso irmão

 

6. Co’a Mesa Partilhada

Mais a Palavra, o Pão

Não preciso mais nada

Sou todo Comunhão

  Unidos como os ramos

  Os ramos da videira

  Acabam-se os tiranos

  Há vida companheira.

 

7. Podem caluniar-me

O mesmo que a Jesus

Podem até matar-me

Serei no Mundo Luz!

  Ó chefes das Igrejas

  Que é da vossa Alegria

  Os ritos que fazeis

  São pura Idolatria!

 

8. Presbítero assim

Duelo Desarmado

Tenho até contra mim

O Poder mais sagrado

  O ódio que mais mata

  É o da Idolatria

  Chega a chamar Loucura

  Á minha Alegria!

 

­Cidade LOUROSA, 5 Fevereiro 2010,

na Sessão de apresentação do meu

NOVO LIVRO DO APOCALPSE OU DA REVELAÇÃO,

edição AREIAS VIIVAS


DESTAQUE 2

 

Ghislaine Lanctôt

A Máfia Médica

 

A Máfia Médica é o título do livro que custou à doutora Ghislaine Lanctot a sua expulsão do colégio de médicos e a retirada da sua licença para exercer medicina. Trata-se provavelmente da denúncia publicada, mais completa, integral, explícita e clara, do papel que, a nível mundial, tem o complot formado pelo Sistema Sanitário e pela Indústria Farmacêutica. O livro expõe, por um lado, a errónea concepção da saúde e da doença, que a sociedade ocidental moderna tem, fomentada por esta máfia médica que monopolizou a saúde pública, criando o mais lucrativo dos negócios. Para além de falar sobre a verdadeira natureza das doenças, explica como as grandes empresas farmacêuticas controlam não só a investigação, mas também a docência médica, e como se criou um Sistema Sanitário baseado na doença, em vez de na saúde, que codifica doenças e mantém os cidadãos ignorantes e dependentes dele. O livro é pura artilharia pesada contra todos os medos e mentiras que destroem a nossa saúde e a nossa capacidade de auto-regulação natural, tornando-nos manipuláveis e completamente dependentes do sistema.
A autora de A Máfia Médica acabou os seus estudos de Medicina em 1967, numa época em que – como ela mesma confessa – estava convencida de que a Medicina era extraordinária e, de que antes do final do séc. XX, se teria o necessário para curar qualquer doença. Só que essa primeira ilusão foi-se apagando até extinguir-se. Segue-se a entrevista conduzida por LAURA JIMENO MUÑOZ, e que viu a luz em http://crimentales.blogspot.com/search/ label/Salud

 

P. Porquê essa sua decepção?

R. Porque comecei a ver muitas coisas que me fizeram reflectir. Por exemplo, que nem todas as pessoas respondiam aos maravilhosos tratamentos da medi­cina oficial. Para além disso, naquela época, entrei em contacto com várias terapias suaves – ou seja, praticantes de terapias não agressivas (em francês Médecine Douce) – que não tiveram problema algum em me abrir as suas con­sultas e em deixar-me ver o que faziam. Rapidamente concluí que as medicinas não agressivas são mais efi­cazes, mais baratas e, ainda por cima, têm menores efeitos secundários.

P. E suponho que começou a perguntar-se por que é que na Faculdade ninguém lhe havia falado dessas terapias alternativas não agressivas?

R. Assim foi. Logo a minha mente foi mais além e comecei a questionar-me como era possível que se chamassem charlatães a pessoas a quem eu própria tinha visto curar e porque eram per­seguidas como se fossem bruxos ou delinquentes. Por outro lado, como mé­dica, tinha participado em muitos con­gres­sos internacionais – em alguns co­mo conferencista – e dei-me conta de que todas as apresentações e depoi­mentos que aparecem em tais eventos estão controladas e exigem, obrigato­ria­mente, ser primeiro aceites pelo co­mité científico organizador do congres­so.

P. E quem designa esse comité científico?

R. Geralmente, quem financia o evento: a indústria farmacêutica. Sim, hoje são as multinacionais quem decide até o que se ensina aos futuros médicos nas faculdades e o que se publica e expõe nos congressos de medicina! O controlo é absoluto.

 

P. E isso foi clarificador para si...?

R. Muito! Dar-me conta do controlo e da manipulação a que estão sujeitos os médicos – e os futuros médicos, os estudantes – fez-me entender claramente que a Medicina é, antes de tudo, um negócio. A Medicina está hoje con­trolada pelos seguros públicos ou pri­vados, o que dá na mesma, porque en­quanto alguém tem um seguro perde o controlo sobre o tipo de medicina a que acede. Já não pode escolher. E há mais, os seguros determinam inclusi­va­mente o preço de cada tratamento e as terapias que se vão praticar. E, se olharmos para trás das companhias de seguros ou da segurança social, encontramos o mesmo.

 

P. O poder económico?

R. Exacto, é o dinheiro que contro­la totalmente a Medicina. E a única coisa que de verdade interessa a quem maneja este negócio é ganhar dinheiro. E como ganhar mais? É claro, tornando as pessoas doentes, porque as pessoas sãs não geram lucros. A es­tratégia consiste em ter doentes cró­nicos que tenham que consumir o tipo de produtos paliativos, destinados ape­nas a tratar sintomas, medicamentos para aliviar a dor, baixar a febre, dimi­nuir a inflamação. Mas, nunca fármacos /medicamentos que possam resolver de vez uma doença. Isso não é rentável, não interessa. A medicina actual está concebida para que a gente permaneça doente o mais tempo possível e compre fármacos /medicamentos; se possível, por toda a vida.

 

P. Deduzo que essa é a razão pela qual no seu livro se refere ao sistema sanitário como “sistema de doença”

R. Efectivamente. O chamado sis­tema sanitário é na realidade um sis­tema de doença. Pratica-se uma medi­cina da doença e não da saúde. Uma medicina que só reconhece a existên­cia do corpo físico e não tem em conta nem o espírito, nem a mente, nem as emo­ções. E que, para além disso, trata apenas o sintoma e não a causa do pro­blema. Trata-se de um sistema que mantém o paciente na ignorância e na dependência, e que é estimulado a con­sumir fármacos /medicamentos de todo o tipo.

 

P. Supõe-se que o sistema sanitário está ao serviço das pessoas!

R. Não está! Está ao serviço de quem dele tira proveito: a indústria far­macêutica. De uma forma oficial – puramente ilusória – o sistema está ao serviço do paciente, mas oficiosamente, na realidade, o sistema está às ordens da indústria que é quem move os fios e mantém o sistema de doença em seu próprio benefício. Em suma, trata-se de uma autêntica máfia médica, de um sis­tema que cria doenças e mata por dinheiro e por poder.

 

P. E que papel desempenha o médico nessa máfia?

R. O médico é – muitas vezes de uma forma inconsciente, é verdade – a correia de transmissão da grande in­dústria. Durante os 5 a 10 anos que passa na Faculdade de Medicina o sis­tema encarrega-se de lhe inculcar uns determinados conhecimentos e de lhe fechar os olhos para outras possibili­dades. Posteriormente, nos hospitais e congressos médicos, é-lhe reforçada a ideia de que a função do médico é cu­rar e salvar vidas, de que a doença e a morte são fracassos que deve evitar a todo o custo e de que o ensinamento recebido é o único válido. E mais, ensi­na-se-lhes que o médico não deve im­pli­car-se emocionalmente e que é uma espécie de «deus» da saúde. Daí re­sul­ta que exista caça às bruxas entre os próprios profissionais da medicina. A medicina oficial, a científica, não po­de permitir que existam outras formas de curar que não sejam servis ao sistema.

 

P. O sistema, de facto, pretende fazer crer que a única medicina válida é a chamada medicina científica, a que você aprendeu e que, pelos vistos, renegou. Precisamente no mesmo número da revista em que vai aparecer a sua entrevista, publicamos um artigo a propósito.

R. A medicina científica está enor­memente limitada, porque se baseia na física materialista de Newton: tal efeito obedece a tal causa. E, assim, tal sintoma precede tal doença e requer tal tratamento. Trata-se de uma medi­cina que só reconhece o que se vê, se toca, ou se mede. E que nega toda a conexão entre as emoções, o pensa­mento, a consciência e o estado de saú­de do físico. E quando a importunamos com algum problema desse tipo, ela cola logo a etiqueta de doença psicos­so­mática ao paciente e envia-o para casa, receitando-lhe comprimidos para os nervos.

 

P. Quer dizer que, no que lhe toca, a medicina convencional só se ocupa em fazer desaparecer os sintomas.

R. Sim, excepto no que se refere a cirurgia, antibióticos e algumas pou­cas coisas mais, como os modernos mei­os de diagnóstico. Dá a impressão de curar, mas não cura. Simplesmente eli­mina a manifestação do problema no corpo físico, mas este, cedo ou tar­de, ressurge.

 

P. Pensa que dão melhor resultado, as chamadas medicinas suaves ou não agressivas?

R. São uma melhor opção, porque tratam o paciente de uma forma holís­tica [= como um todo, não apenas co­mo um corpo físico] e ajudam-no a curar... mas tão pouco elas curam. Olhe, quaisquer das chamadas medi­cinas alternativas constituem uma boa ajuda, mas apenas isso. São complementos! Porque o verdadeiro médico é o próprio paciente. Quando está cons­ciente da sua soberania sobre a saúde, deixa de necessitar de terapeutas. O doente é o único que pode curar-se. Nada nem ninguém podem fazê-lo em seu lugar. A autocura é a única medici­na que cura. A questão é que o sistema tra­balha, para que esqueçamos a nos­sa condição de seres soberanos e nos convertamos em seres submissos e dependentes. Nas nossas mãos está, pois, romper essa escravidão.

 

P. E, na sua opinião, porque é que as autoridades políticas, médicas, mediáticas e económicas o permitem? Porque é que os governos não acabam com este sistema de doença que, por outro lado, é caríssimo?

R. Acerca disso, tenho três hipóte­ses. A primeira, é que talvez não sai­bam que tudo isto se passa... mas é difícil de aceitar que não saibam, por­que a informação está ao seu alcance, há muitos anos e nos últimos vinte anos foram já várias as publicações que de­nunciaram a corrupção do sistema e a conspiração existente. A segunda, é que não podem acabar com ele... mas também é difícil de acreditar, porque os governos têm poder.

 

P. E a terceira, suponho eu, é que não querem acabar com o sistema.

R. Pois o certo é que, eliminadas as outras duas hipóteses, essa parece ser a mais plausível. E se um Governo se nega a acabar com um sistema que arruína e mata os seus cidadãos é por­que faz parte dele, porque faz parte da máfia.

 

P. Quem, na sua opinião, integra a “máfia médica”.

R. Em diferentes escalas e com dis­tintas implicações, com certeza, a in­dús­tria farmacêutica, as autoridades políticas, os grandes laboratórios, os hospitais, as companhias seguradoras, as Agências dos Medicamentos, as Or­dens dos Médicos, os próprios médicos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) - o Ministério da Saúde da ONU - e, com certeza, o governo sombra mun­dial do Dinheiro.

 

P. Entendemos que, para si, a Organização Mundial da Saúde é “a máfia das máfias”?

R. Assim é. Essa organização está completamente controlada pelo Dinhei­ro. A OMS é a organização que estabe­le­ce, em nome da saúde, a “política de doença” em todos os países. Todo o mundo tem que obedecer cegamente às directrizes da OMS. Não há escapa­tória. De facto, desde 1977, com a De­cla­ração de Alma Ata, nada pode esca­par ao seu controlo.

 

P. Em que consiste essa declaração?

R. Trata-se de uma declaração que dá à OMS os meios para estabe­lecer os critérios e normas interna­cionais da prática médica. Assim, foi retirada aos países a sua soberania, em matéria de saúde, para transferi-la para um governo mundial não eleito, cujo “ministério da saúde” é a OMS. Desde então, “direito à saúde”, significa “direito à medicação”. Foi assim que im­puseram as vacinas e os medica­men­tos a toda a população do globo.

P. Uma acção que não é questionada por ninguém

R. É claro, porque, “quem vai ou­sar duvidar das boas intenções da Or­ganização Mundial de Saúde?” Com certeza, há que perguntar quem contro­la, por sua vez, essa organização atra­vés da ONU? A resposta é: O poder económico-financeiro!

 

P. Pensa que, nem sequer as organizações humanitárias escapam a esse controlo?

R. Com certeza que não. As or­ga­ni­zações humanitárias também depen­dem da ONU, ou seja, do dinheiro, das subvenções. E, portanto, as suas actividades estão igualmente controladas. Organizações como Médicos Sem Fron­teiras acreditam que servem altruistica­mente as pessoas, mas na realidade servem o Dinheiro.

 

P. Uma máfia sumamente poderosa!

R. Omnipotente, direi eu. Eliminou toda a concorrência. Actualmente, até se “orientam“ os investigadores. Os dis­sidentes são encarcerados, manietados e reduzidos ao silêncio. Aos médicos “alternativos” intitulam-nos de loucos, retiram-lhes a Carteira Profissional, ou encarceram-nos, também. Os produtos alternativos rentáveis caíram igual­mente nas mãos das multinacionais, gra­ças às normativas da OMS e às patentes da Organização Mundial do Co­mércio. As autoridades e os seus meios de comunicação social ocupam-se a alimentar, entre a população, o medo da doença, da velhice e da morte. De facto, a obsessão por viver mais, ou, simplesmente, por sobreviver, fez prosperar inclusivamente o tráfico internacional de órgãos, sangue e embriões humanos. E em muitas clínicas de ferti­lização, na realidade “fabricam-se” uma multidão de embriões, que logo se ar­ma­zenam para serem utilizados em cos­mé­tica, em tratamentos rejuvenesce­dores, etc. Isso sem contar com o que as radiações que se introduzem nos ali­mentos, com as modificações dos genes, a contaminação da água, o ar envenenado. E mais, as crianças rece­bem, absurdamente, até 35 vacinas. antes de irem para a escola. E assim, cada membro da família tem já o seu comprimido: o pai, o Viagra; a mãe, o Prozac; o filho, o Ritalin. E tudo isto, pa­ra quê? O resultado é conhecido: os custos com a saúde sobem, sobem, mas as pessoas continuam a adoecer e a morrer da mesma forma.

 

P. O que explica que o sistema de saúde imperante é uma realidade que cada vez mais gente conhece, mas por isso surpreendem-nos algumas das suas afirmações a respeito do que define como ´”as três grandes mentiras das autoridades políticas da saúde”.

R. Pois reitero-o aqui: as autorida­des mentem, quando dizem que as vaci­nas nos protegem; mentem, quando dizem que a sida é contagiosa; e mentem, quando dizem que o cancro é um mistério.

 

P. Bem, falaremos disso, ainda que, desde já lhe adianto, nós, na revista, não compartilhamos alguns dos seus pontos de vista. Se lhe parece bem, podemos então começar por falar das vacinas. Na nossa opinião, a sua afirmação de que nenhuma vacina é útil, não é sustentá­vel. Já uma coisa com que concordamos, é que algumas são ineficazes e outras inúteis; às vezes, até perigosas.

R. Pois eu mantenho todas as mi­nhas afirmações. A única imunidade au­têntica é a natural e essa desenvolve-a 90% da população, antes dos 15 anos. E mais, as vacinas artificiais curto-circuitam por completo o desenvolvi­men­to das primeiras defesas do orga­nis­mo. E dizer que as vacinas têm riscos, é algo muito evidente, apesar de sem­pre se ocultar. Por exemplo, uma vacina pode provocar a doença que pretende prevenir. Porque não se advertem disso as populações? Também se oculta que a pessoa vacinada pode transmitir a do­ença, embora ela não esteja doente. Assim mesmo, não se diz que a vacina po­de fragilizar a pessoa perante a do­en­ça. Ainda que o mais grave seja que se oculte a inutilidade, já constatada, de certas vacinas.

 

P. A quais é que se refere?

R. Às das doenças, como a tuber­cu­lose e o tétano. As respectivas vacinas não conferem nenhuma imunidade; a rubéola, de que 90% das mulheres es­tão protegidas de modo natural; a difte­ria, que durante as maiores epidemias só alcança 7% das crianças e, apesar disso, hoje, é vacina administrada a to­das; a gripe, a hepatite B, cujos vírus se fazem rapidamente resistentes aos anti-corpos das vacinas.

 

P. E até que ponto podem ser também perigosas?

R. As inumeráveis complicações que causam as vacinas – desde transtor­nos menores até à morte – estão sufici­ente­mente documentadas; por exemplo, a morte súbita do lactante. Por isso há já numerosos protestos de especi­alis­tas na matéria e são inúmeras as de­mandas judiciais que foram interpos­tas contra os fabricantes. Por outra par­te, quando se examinam as consequên­cias dos programas de vacinações mas­sivas extraem-se conclusões esclarece­doras.

 

P. Agradeceria que mencionasse algumas

R. Olhe, em primeiro lugar, as vaci­nas são caras e constituem para o Es­tado um gasto de mil milhões de euros ao ano. Portanto, o único benefício evi­dente e seguro das vacinas... é o que obtém a indústria farmacêutica. Além disso, a vacinação estimula o sistema imunitário, mas repetida a vacinação, o sistema esgota-se. Portanto, a vacina repetida pode fazer, por exemplo, esta­lar a “sida silenciosa” e garantir um “mer­cado da doença”, perpetuamente florescente. Mais dados: a vacinação incita à dependência médica e reforça a crença de que o nosso sistema natu­ral de imunidade é ineficaz. Ainda o mais horrível é que a vacinação facilita os genocídios selectivos, pois permite liquidar pessoas de certa raça, de certo grupo, de certa região... Serve como experimentação para testar novos pro­du­tos sobre um amplo mostruário da população; é uma arma biológica po­ten­tíssima ao serviço da guerra bio­ló­gica, porque permite interferir no patri­mónio genético hereditário de quem se quiser.

P. Bom, é evidente que há muitas coisas das quais se pode fazer um bom ou mau uso, mas isso depende da vontade e intenção de quem as utiliza. Falemos, agora, se lhe parece bem, da segunda grande mentira das autoridades: você afirma que a Sida não é contagiosa. Perdoe-me, mas assim como as suas outras afirmações nos pareceram pensadas e razoáveis, neste âmbito não temos visto que argumente bem esta sua afirmação.

R. Eu afirmo que a teoria que ga­rante que o único causador da sida é o VIH-o Vírus da Imunodeficiência Ad­qui­­rida, é falsa. E essa é a grande mentira. A verdade é que ter o VIH não im­pli­ca necessariamente desenvolver si­da. Porque a sida não é senão uma eti­queta que se “coloca” num estado de saúde a que dão lugar numerosas pa­tologias, quando o sistema imunitário está em baixo. E nego que ter sida é o equivalente a morte certa. Mas, claro, essa verdade não interessa. As autori­dades impõem-nos à força a ideia de que a Sida é uma doença causada por um só vírus, apesar de o próprio Luc Mon­tagnier, do Instituto Pasteur, co-descobridor oficial do VIH, em1983, ter reconhecido já, em 1990, que o VIH não é suficiente por si só para causar a sida. Outra evidência é o facto de que há numerosos casos de sida, sem vírus VIH e numerosos casos de vírus VIH, sem sida (seropositivos). Por outro lado, ainda não se conseguiu demons­trar que o vírus VIH cause a sida, e a de­monstração é uma regra científica ele­mentar para estabelecer uma rela­ção causa-efeito, entre dois factores. O que se sabe, sem dúvida, é que o VIH é um retrovirus inofensivo que só se activa, quando o sistema imunitário está debilitado.

 

P. Você afirma no seu livro que o VIH foi criado artificialmente num laboratório.

R. Sim. Investigações de eminentes médicos indicam que o VIH foi criado, enquanto se faziam ensaios de vacina­ção contra a hepatite B em grupos de ho­mossexuais. E tudo indica que o con­tinente africano foi contaminado do mes­mo modo, durante campanhas de va­cinação contra a varíola. Claro que outros investigadores vão mais longe ainda e afirmam que o vírus da sida foi cultivado como arma biológica e de­pois deliberadamente propagado medi­an­te a vacinação de grupos de popula­ção que se queriam exterminar.

P. Também observamos que ataca duramente a utilização do AZT para tratar a sida

R. Já no Congresso sobre SIDA, celebrado em Copenhague, em Maio de 1992, os sobreviventes da sida afir­ma­ram que a solução então proposta pela medicina científica para combater o VIH, o AZT, era absolutamente inefi­caz. Hoje, isso está fora de qualquer dúvida. Pois bem, eu afirmo que se po­de sobreviver à sida... mas não ao AZT. Este medicamento é mais mortal que a sida. O simples senso comum permite entender que não é com fármacos /me­di­ca­mentos imuno-depressores que se reforça o sistema imunitário. Olhe, a sida converteu-se noutro grande negó­cio. Por isso, faz-se tanto a promoção do combate à sida, porque ele dá muito dinheiro à industria farmacêutica. É tão simples quanto isto.

 

P. Falemos da “terceira grande mentira” das autoridades: a de que o cancro é um mistério

R. O chamado cancro (= a massiva proliferação anómala de células), é algo tão habitual que todos o padece­mos várias vezes ao longo da nossa vida. Só que, quando isso sucede, o sistema imunitário natural actua e des­trói as células cancerígenas. O proble­ma surge, quando o nosso sistema imu­nitário natural está debilitado e não pode eliminá-las. Então, o conjunto de células cancerosas acaba crescendo e formando um tumor.

 

P. E é nesse momento, quando se entra na engrenagem do “sistema de doença”

R. Assim é. Porque quando se des­co­bre um tumor, oferece-se de imediato ao paciente, com o pretexto de ajudá-lo, que escolha entre estas três possibi­li­dades ou “formas de tortura”: ampu­tá-lo (cirurgia), queimá-lo (radiotera­pia), ou envenená-lo (quimioterapia). Es­condendo-se-lhe, entretanto, que existem remédios alternativos eficazes, inócuos e baratos. E depois de quatro décadas de “luta intensiva” contra o can­cro, qual é a situação nos próprios países industrializados? Que a taxa de mortalidade, por cancro, aumentou. Es­se simples facto põe em evidência o fra­­cas­so da sua prevenção e do seu tra­ta­mento. Desperdiçaram-se milhares de milhões de euros e tanto o número de doentes, como o de mortos, contínua crescendo. Hoje, sabemos quem be­ne­ficia com esta situação. Como também sabemos quem a criou e quem a man­tém. No caso da guerra, todos sabemos que esta beneficia sobretudo os fabri­cantes e traficantes de armas. Bom, pois em medicina, quem beneficia são os fa­bricantes e traficantes do “armamento contra o cancro”, portanto, quem está de­trás da quimioterapia, da radiotera­pia, da cirurgia e de toda a industria hospitalar.

 

P. No entanto, apesar de tudo, mantém que a máfia médica é uma necessidade evolutiva da humanidade. Que quer dizer com essa afirmação?

R. Já verá. Pense num peixe como­da­mente instalado no seu aquário. En­quanto tem água e comida, tudo es­tá bem, mas se lhe começa a faltar o alimento e o nível de água suficiente, o peixe decide saltar para fora do aquá­rio buscando uma forma de se salvar. Bom, pois eu entendo que a máfia mé­dica pode-nos empurrar a dar esse sal­to individualmente. Isso, se houver mui­ta gente que prefira saltar a morrer.

 

P. Mas para dar esse salto é preciso um nível de consciência determinado

R. Sim. E eu creio que ele se está elevando muito e muito rapidamente. A informação que antes se ocultava ago­ra é pública: que a medicina mata pessoas, que os medicamentos nos en­ve­nenam, etc. Além disso, o médico ale­mão Ryke Geerd Hamer demonstrou que todas as enfermidades são psicos­somáticas e as medicinas não agres­sivas ganham popularidade. A máfia mé­­dica desmoronar-se-á como um cas­telo de cartas, quando 5% da popula­ção perder a sua confiança nela. Basta que essa percentagem da população mundial seja consciente e conectada com a sua própria capacidade. Então de­cidirá escapar à escravatura a que tem sido submetida pela máfia e o actual sistema de saúde cairá. Tão simples como isto.

 

P. E em que ponto crê que estamos?

R. Não sei quantificá-lo, mas penso que provavelmente em menos de 5 anos todo o mundo se dará conta de que, quando vai ao médico, vai a um especialista da doença, e não a um es­pe­cialista da saúde. Deixar de lado a cha­mada “medicina científica” e a segu­rança que oferece, para ir a um terapeuta é já um passo importante. Tam­bém é, perder o respeito e a obediência cega ao médico. O grande passo é di­zer não à autoridade exterior a nós, e dizer sim à nossa autoridade interior.

 

P. E o que é que nos impede de romper com a autoridade exterior?

R. O medo. Temos medo de não cha­mar o médico. Mas é o medo, por si próprio, quem nos pode fazer adoe­cer e matar. Nós morremos de medo. Esquecermo-nos que a natureza huma­na é autónoma, o que quer dizer, con­cebida para nos comportarmos como senhores de nós mesmos. E desde quan­do os seres humanos autónomos têm medo? Cada vez que nos comportamos de maneira diferente da de um ser autó­nomo, ficamos doentes. Essa é a realidade.

 

P. E o que podem fazer os meios de comunicação para contribuir para a elevação da consciência nesta matéria?

R. Informar sem tentar convencer. Dizer o que sabeis e deixar às pessoas fazer o que queiram com a informação. Porque tentar convencê-las será impor outra verdade e de novo estaríamos nou­tra guerra. Necessita-se apenas de dar referências. Basta dizer as coisas. De­pois, as pessoas as escutarão, se ti­verem ressonância dentro delas. Se o seu medo for maior do que o seu a­mor por si mesmas, dirão: “Isso é im­po­ssível”. Se, pelo contrário, tiverem o co­ração aberto, escutarão e questio­na­rão as suas convicções. É então, nesse momento, quando quiserem sa­ber mais, que se lhes poderá dar mais informação.


 

ESPAÇO ABERTO

 

Editorial

A mim, o Papa não irá ver!

 

A Primeira Grande Guerra Mundial Financeira (continuam a chamar-lhe, cinicamente, "Crise financeira" e, com isso, passam-nos,às populações e aos povos do Mundo, um atestado de estúpidos!) deixou todos os portugueses, europeus e demais Povos do Planeta, e o próprio Planeta, à beira da mais completa falência. Os Executivos das nações e as respectivas Oposições partidárias - as diferenças entre eles e elas são apenas cosméticas, já que todos eles e todas elas são financiados pelo mesmo amo ou patrão, o Senhor Dinheiro! - bem podem, depois do modo como se compor­taram perante ela, limpar as mãos à parede, amarrar uma pesada mó de moinho ao pescoço e atirarem-se ao mar. É bem melhor que desapare­çam, do que continuarem aí em funções, a servir descarada­mente semelhante amo ou patrão. Tudo o que fazem é para favorecer o seu amo ou patrão, que para isso ele lhes paga e concede privilégios sem conta. Podem as populações e os povos do Planeta vir a morrer de fome, de doenças curáveis, de miséria imerecida, de desemprego, de ociosidade em massa, de ignorância das coisas mais essenciais, de subdesenvolvimento cultural, de abandono, de solidão, de mediocridade, de superficiali­dade, de overdoses de novelas, de falta de razões de viver, de falta de afectos. Nada disso afectará directamente os Executivos das nações e as respectivas Oposições partidárias que prosseguem aí, inabaláveis, nos seus privilégios, nas suas mentiras, nos seus jogos de luta pelo Poder, nos seus truques, nas suas hipocrisias, nos seus farisaísmos. E, depois, ainda têm o desplante de, todos os dias, se dirigirem às populações e aos povos com discursos e mais discursos tecidos de palavras cheias de nada. As populações e os povos, sem saberem mais em quem acreditar e confiar, viram-se, em desespero de causa, para as Religiões, as mais tradicionais e as mais esotéricas, na fatídica ilusão de que o respectivo Ídolo lhes valha. Desconhecem, as populações e os povos, que as Religiões e os seus sacerdotes ou pastores são o outro braço ao serviço do mesmo amo ou patrão, o Senhor Dinheiro. Se fossem populações e povos de olhos abertos (mas como hão-de ser, se todos os Executivos das nações e as respectivas Oposições, mai-las Religiões, com os seus sacerdotes ou pastores, trabalham, dia e noite, para lhos cegar, de modo que elas e eles vejam apenas o véu ideológico que esconde a realidade e nunca vejam a realidade que o véu ideológico esconde?!), e já há muito teriam visto que a Saída da Mentira institucionalizada e da Opressão mundializada nunca vem, nunca poderá vir, dos Executivos das nações e das respectivas Oposições partidárias, nem das Religiões e dos seus sacerdotes ou pastores, já que todos - Executivos das nações, respectivas Oposições partidárias, Religiões, sacerdotes ou pastores - são financiados pelo mesmo amo ou patrão, o Senhor Dinheiro, para o qual todos, todas trabalham, a tempo integral.

A Saída tem de ser protagonizada pelas próprias populações e pelos próprios povos. E só por isso ela é sistematicamente adiada, de geração em geração. Porque as populações e os povos continuam aí erradamente a pensar que a Saída só pode vir de fora, concretamente, dos Executivos das nações e das respectivas Oposições partidárias, das Religiões e dos respectivos sacerdotes ou pastores. O amo ou patrão que manda no Mundo tem esta Mentira bem montada e sente-se de pedra e cal no seu posto. Por alguma coisa, o amo ou patrão que manda no Mundo, é chamado por Jesus, a quem ele próprio depressa crucificou como o maldito dos malditos, na Cruz do Império de então, "mentiroso e pai de mentira" e "assassino desde o princípio" (cf. João 8). Tem, sempre teve, ao seu serviço os melhores cérebros (praticamente, todos os intelectuais e todas as universidades, para lá de todas as Religiões e Igrejas), assim como o que há, em cada momento da História, de mais eficiente e de mais inovador em tecnologias de ponta. E, ainda, as principais instituições da sociedade, desde os Tribunais aos três ramos das Forças Armadas e de Segurança. Se, depois de tudo, o Senhor Dinheiro ainda consegue ter do seu lado o Ídolo das Religiões que sempre se tem feito passar por Deus verdadeiro, então, bem pode dar-se ao luxo de se considerar (e é assim que as populações e os povos do Mundo sempre o têm visto!) o amo ou patrão mais omnipotente, mais omnisciente e mais omnipresente do Mundo. Só que, felizmente para as populações e os povos e para o próprio Planeta, o Senhor Dinheiro não é realmente assim. Apenas parece ser assim, mas não é. E esta é uma diferença substantiva que tem de ser realçada, mais e mais, junto das populações e dos povos do Planeta. Em boa verdade, o amo ou patrão do Mundo - o Senhor Dinheiro! - não passa de um tigre de papel. Os seus pés são de barro. Só se aguenta, graças à Mentira institucionalizada e à Opressão mundializada.

Ora, nunca como hoje, o amo ou patrão do Mundo sabe que o Momento da sua queda, aparatosa queda, está mais próximo do que nunca. Ei-lo que se multiplica em iniciativas por toda a parte, numa desesperada tentativa de que as populações e os povos não descubram os pés de barro que sempre foram /são os seus. O mentiroso e o pai de mentira que ele é, e o assassino desde o princípio que ele é, jamais poderão ter futuro. Por mais que ele se dane.

Mas será que as populações e os povos querem mesmo protagonizar a Saída libertadora, pela qual tanto anseiam? Têm de ser elas e eles, as populações e os povos, a protagoni­zá-la. Ou não haverá Saída! Para tanto, elas e eles têm de ser populações-e-povos-tsunami, numa imparável acção desarmada de libertação e de dignidade. Cabe-lhes a Missão histórico-teológica de derrubarem todos os templos e todos os santuários das Religiões e das Igrejas onde têm sido sistematica­mente enganadas, enganados, alienadas, alienados, roubadas, roubados, infantilizadas, infantiliza­dos, e deixarem, duma vez por todas, de dar ouvidos aos sacerdotes ou pastores, às suas pregações de mentira e de ópio. Simultaneamente, têm de derrubar os palácios dos Executivos das nações e das respectivas Oposições partidárias e deixar de dar ouvidos aos seus discursos de mentira, tecidos de coisa nenhuma. Para que, no Planeta não fique mais pedra sobre pedra de tudo o que é do amo ou patrão do Mundo, o Senhor Dinheiro. Fiquem apenas as populações e os povos, sororal /fraternalmente organizados, a crescer em Liberdade /Maioridade e em Autonomia, protagonistas dos seus próprios destinos e dos destinos do Planeta.

Entre as múltiplas acções que o amo ou patrão do Mundo está hoje aí freneti­camente a realizar para tentar manter na cegueira e na menoridade as populações e os povos, merece ser realçada aqui a anunciada visita do papa Bento XVI, em Maio de 2010  a Portugal, a convite do chefe de estado português, Cavaco Silva, um conhecido católico beato, empenha­díssimo em garantir um segundo mandato como chefe de estado de Portugal. Fossem as populações e os povos já de olhos abertos e estivessem minimamente dotadas, dotados de consciência crítica, e o papa Bento XVI bem poderia vir a Lisboa, a Fátima e ao Porto, só que não teria ninguém das populações e dos povos à sua espera. Apenas os mercenários do costume, todos financiados pelo mesmo amo ou patrão, mentirosos quanto ele, assassinos quanto ele. Uma coisa eu lhes posso garantir aqui publicamen­te: a mim, presbítero da Igreja do Porto, o papa Bento XVI não irá ver, em nenhum desses locais. À Idolatria, senhoras, senhores, só derrubá-la. Nunca dar-lhe força!
Vosso irmão, Mário.


 

OUTRAS CARTAS

Caso Padre Manuel

“revela”-nos Bispo emérito de Aveiro

 

O Padre Manuel Dias, da diocese de Aveiro, foi violentamente agredido, ao início de uma noite da segunda quin­zena de Janeiro 2010, em sua ca­sa, Soutelo, Branca. Os media referiram o caso como o de um vulgar assalto. Mentiram. Quem “engoliu” a notícia as­sim contada encheu-se de compaixão pelo Padre Manuel, para mais já na ca­sa dos oitenta anos de idade e sem qualquer ofício pastoral oficial. E terá ficado a pensar que os “assaltantes” hoje já não têm respeito por ninguém. Nem por pessoas idosas. Nem sequer por padres de avançada idade. A indi­gnação popular foi por aí que se manifestou. Porque o caso foi assim conta­do. Mas a verdade é que não se tratou de um vulgar assalto a um padre, na sua casa. Os “assaltantes” invadiram a casa, remexeram tudo, deixaram tu­do fora das gavetas, e não levaram na­da com eles do que encontraram de va­lor. Não fizeram todo aquele escarcéu por objectos de prata ou ouro. Quise­ram simplesmente agredir /humilhar /ame­drontar o Padre Manuel. Quiseram dar-lhe uma exemplar lição. Quiseram dizer-lhe que estão atentos ao que ele ainda hoje faz e diz. E que não gostam do que ele ainda hoje faz e diz. Muito menos gostam do que certas pessoas suas amigas andam a tentar fazer e di­­zer com ele. Quiseram anunciar ao Padre Manuel que o melhor é ele pôr um travão a essas pessoas. E meter-se sossegado na sua casa. Deixar-se dessa mania de Evangelizar os pobres. Deixar-se dessa mania de continuar a ser presença maiêutica na sociedade e entre os mais humildes e os mais des­po­jados de voz e de vez.

Por mim, logo que soube do ocorri­do, intuí que a estória só podia estar mal contada. E fui a correr encontrar-me com o Padre Manuel, na sua casa. O seu rosto estava visivelmente maltra­ta­do. Mas o seu ânimo estava alto. Mais lúcido do que nunca. Assalto não foi. Agressão premedi­ta­da foi. Obviamente, quem quis agredi-lo não foi lá sujar as suas mãos. Man­dou outros, já de mãos sujas. O Padre Manuel sabe como essas coisas se fa­zem. O seu viver presbiteral está cheio de momentos semelhantes a este. Este foi apenas mais um. Medo? Nem pensar. Parar? Nem pensar. A agressão teve um efeito con­trário ao pretendido. O Padre Manuel Dias é, desde então, um homem muito mais determinado. Porque só a Verda­de, quando praticada, nos faz livres. Nos faz Humanos. O Medo faz reféns aquelas, aqueles que vão por ele. Mui­tas, muitos vão pelo Medo. Padre Ma­nu­el Dias, felizmente, não é desse nú­me­ro.

Depois que vim de junto dele, não resisti e, já em casa, gravei nesse mes­mo dia um depoimento em vídeo, a re­por a verdade do caso. Não! Não foi um vulgar assalto. Foi uma brutal a­gres­são. Premeditada. Por quem não gosta de padres livres, sem Medo. Colo­quei o vídeo no youtube (procurar por Padre Mário da Lixa-Padre Manuel Dias).

Para grande surpresa minha, o Bis­po António Marcelino, emérito de Avei­ro, não gostou do que viu e ouviu nesse vídeo e reagiu por e-mail. Li as suas palavras e reagi. O Bispo voltou a escrever e eu voltei a reagir. Até que, num terceiro e-mail, o Bispo resolveu pôr um ponto final. A minha reacção seguiu na volta do correio electrónico.

É esta troca de correspondência que aqui se publica. Porque é manifes­ta­mente do interesse geral. Deixa ver duas maneiras de se ser Igreja. Leiam e concluam qual delas é mais jesuânica. Uma coisa, entretanto, fica clara: o Po­der sagrado nunca entenderá os seres hu­manos, muito menos, os seres huma­nos presbíteros. Por mais que pense que sim. É um auto-engano que faz per­der quem se deixa cair nele e quem per­manece nele. Eis.

 

1. Bispo A. Marcelino:

Padre Mário. Vi e ouvi o seu youtu­be sobre o P. Manuel Marques Dias. Fiquei triste consigo. Que romance! Tan­to eu como o meu antecessor sem­pre estivemos com amizade com o Pa­dre Manuel.Toda a gente sabe que corri riscos para o defender e nunca o de­sau­torizei e tudo fizemos para o presti­giar. Actuou livremente em Cacia du­ran­te anos. Podiam nem todos gostar dele, tal como nas paróquias de Oiã e da Borralha. Depois dos episódios de Oiã, não me consta que alguém o tenha procurado agredir, muito menos agora, idoso e depois de uma doença grave que o impediu de continuar na paró­quia. Mesmo assim, saiu a seu pedido e insistência da familia. Quem é que lhe pode querer mal agora ou pagar para que o maltratem? Valha-me Deus!

A sua proclamação só a si pode beneficiar,se é que beneficia. Para nós é simplesmente ridícula. Um abraço fra­terno e votos de saúde e de paz.

Abraço fraterno

 

R. do Padre Mário

Bispo António Marcelino, meu irmão.

O meu afecto e a minha paz.

Pelos vistos, ficou triste comigo pelo vídeo PADRE MANUEL DIAS, que gravei e de que lhe dei notícia, para que o pudesse ver-ouvir no youtube. Esperava, sinceramente, que se unisse a mim na denúncia que assumi e pela qual dei publicamente a cara no youtube. De um padre meu amigo, pároco de várias paróquias, e amigo do Padre Manuel Dias, recebi, imediatamente a seguir ao seu, um mail, com uma única frase. Esta: “Mário, faço minhas, as tuas palavras ao meu amigo p. Manuel Dias.” Veja a diferença, meu irmão Bispo António Marcelino! Não! Não falei por falar. Não falei no ar. Sou presbítero da Igreja do Porto e, ao mesmo tempo, jornalista profissional. As duas condições exigem-me verdade /frontalidade. Não falei de cor. Nem depois de um simples telefonema. Não. Antes, deixei tudo e fui encontrar-me ao vivo com o Padre Manuel Dias e a sua irmã Piedade, na casa de ambos. Vi o seu sofrimento. Escutei as suas perplexidades. Acolhi a sua amargura. Há muita amargura silenciada nos párocos da nossa Igreja, que os bispos Poder sagrado nunca foram capazes de escutar e acolher. O Poder sagrado não escuta nem acolhe. E, quando o faz, é ainda e sempre como Poder sagrado que o faz. Por acaso, nunca se deu conta, nos anos em que exerceu como Bispo de Aveiro, primeiro, como auxiliar [coadjutor], depois, como Bispo titular, de que entre si, Bispo Poder sagrado e os párocos, todos os párocos, também o Padre Manuel Dias, existiu sempre um abismo intransponível? Nunca sentiu que, como Bispo Poder sagrado, dá sempre ordens, mesmo quando parece que apenas conversa ou sugere? Não sabe que o Poder sagrado é sempre Poder sagrado, mesmo quando parece que conversa e sugere?!

Saiba que acompanho o Padre Manuel Dias há muitos, muitos anos. Não como Poder sagrado que, felizmente, não sou, mas como seu companheiro e irmão, uma experiência que o Bispo Poder sagrado, enquanto o for, jamais poderá vivenciar. Sei, pois, das suas inúmeras dores. Das suas inúmeras decepções. Das suas inúmeras angústias. Dos seus inúmeros sofrimentos. Das inúmeras incompreensões que teve de suportar, nos muitos anos de pároco. E as incompreensões mais difíceis, as mais pesadas, são precisamente as que vieram da parte do Poder sagrado. Ser Bispo da Igreja, meu irmão António Marcelino, é o antónimo de ser Bispo Poder sagrado. Nunca sentiu isso? Nunca lhe apeteceu mandar o anel, o báculo, a cruz peitoral, a mitra, a cátedra, a catedral, todas aquelas vestes e cerimónias litúrgicas, às urtigas e ser simplesmente Bispo da Igreja-povo-de-Deus que está em Aveiro?! Provavelmente, não, porque, enquanto a idade não o obrigou, não o fez. E, mesmo agora, que é Bispo emérito, não o faz. Continua distante e, se alguma vez desce à base, é sempre como Bispo Poder sagrado. E ainda é capaz de me escrever um e-mail como este que acaba de me enviar, a afirmar que eu dou a cara pelo Padre Manuel para me beneficiar a mim?! Não vê que é mesmo o Poder sagrado que está a escrever-falar em si? E, não satisfeito com esta acusação, ainda acrescenta esta informação: “Para nós [a sua proclamação] é simplesmente ridícula.” Veja só do que é capaz o Poder sagrado! Quanto ele é Inumano!

Aceito o seu abraço fraterno, mas saiba que, para mo poder dar com verdade, primeiro, tem de deixar de ser Poder sagrado, porque, enquanto o for, não abraça ninguém, muito menos, fraternalmente. Mesmo que faça o gesto de abraçar, na verdade não abraça. Nunca o Poder sagrado é capaz de abraçar alguém. Só o Bispo da Igreja, o último dos últimos na Igreja que somos. Tudo o que não for assim, meu irmão Bispo António Marcelino, é mentira, é formalismo, é institucional, é faz-de-conta, é farisaico, é hipocrisia, numa palavra, é Idolatria.

Tenho a certeza de que o Padre Manuel Dias entenderá bem estas minhas palavras, quando eu lhas fizer chegar (ele não usa a internet), juntamente com estas suas que me dirigiu. Tenho a certeza de que ele, ao ler estas suas palavras que me dirigiu, vai chorar copiosamente. Porque elas dizem dele o que ele, infelizmente, nunca experimentou. Peço-lhe que me perdoe, mas o simples acto de conversar entre dois seres humanos só tem verdade e fraternidade, se os dois são seres humanos, simplesmente. Se um deles for, ou ambos forem, Poder sagrado, até o simples acto de conversar é meramente formal, institucional, faz-de-conta. Não alimenta Liberdades e Maioridades, pelo contrário, descria o que ainda haja de Humano nos intervenientes.

Digo-lhe isto do coração. E sei do que falo. Porque, quando eu próprio disse NÃO! ao Poder sagrado, que me queria arrastar para a carreira eclesiástica, o Poder sagrado nunca mais me perdoou. E eu não estranhei nem estranho. Porque PERDOAR, como nos revela Jesus (cf. Marcos 2, 10), é um acto próprio do Filho do Homem, isto é, dos seres humanos enquanto tais, nunca do Poder sagrado. O Poder sagrado nunca perdoa: espia, julga, condena, castiga, ostraciza, vilipendia e, finalmente, mata. Se não mata de forma cruenta, mata de forma simbólica, que é mil vezes pior do que matar de forma cruenta.

Fico, por isso, em comunhão ainda mais intensa com o Padre Manuel Dias. Porque, depois de ler estas suas palavras que me endereçou, fiquei a saber, mais e melhor, quanto ele, ao longo dos anos, não foi amado, não foi escutado, não foi acolhido, não foi compreendido, não foi acompanhado. Não teve com ele o Bispo da Igreja, mas o Poder sagrado. A pior coisa que pode suceder a um presbítero da Igreja de Jesus. Para mais, um presbítero com a sensibilidade e a simplicidade do Padre Manuel Dias.

Termino este e-mail, como comecei: Dou-lhe o meu afecto e a minha paz. Ainda e sempre na esperança de que o Poder sagrado seja expulso do seu ser-viver de Homem Bispo e, em seu lugar, apareça o Ser Humano Bispo da Igreja de Jesus, o Crucificado pelo Poder sagrado de então, conluiado com o Poder Político, o do Império de Roma. Seu,

 

2. Bispo António Marcelino:

Meu caro Padre Mário

Para mim, o poder sagrado tentei que fosse sempre e só e continue a ser um serviço humilde e até às ultimas consequências, segundo o Evangelho, aos irmãos e a todos. É no juízo de Deus que eu confio que é o único que conta. Só Ele também poderá julgar as minhas limitações e falhas.

Se me permite um conselho frater­no: cuide-se de não julgar os outros, porque disse o Senhor Jesus, só a Deus compete julgar e ainda ”não julgueis e não sereis julgados”. Não nos man­dou a julgar, porque nem Ele o quis fa­zer, mas a amar. Os humildes, que são os únicos que têm condição para amar, não julgam ninguém, julgam-se a si próprios. Eles sabem bem que “não são Deus” e sempre dependentes do seu amor misericordioso. Quem se en­che de si, só se vê a si e vê sempre os outros e todos pelos seus olhos. Os olhos de um padre são olhos de Deus, para todos e mais ainda para os peca­dores e para os mais fracos. Ser profe­ta é também isto.

Não estou, nunca estive, conluiado com ninguém. E tanto denunciei o que me parecia injusto, com coragem e res­peito, em nome daqueles a quem servia e sirvo, tanto nas assembleias episco­pais, como nas instâncias romanas, e nas políticas, de ontem e de hoje. Te­nho consciência de que nunca me pre­ten­di servir a mim, correndo os riscos que daí adviessem. Sinto-me livre, hoje, como no dia da minha ordenação pres­bi­teral, e já lá vão quase 55 anos, como um dom de Deus não para mim e sem­pre procurei viver, é público, com muita gratidão e independência de influên­cias, sejam de quem forem.

Sempre amei e respeitei o padre Manuel Dias. Melhor que ninguém ele o sabe. Sempre o deixei livre, mesmo com algumas preocupações em relação às suas opções pastorais. E para mim chega.

Não lhe tiro mais tempo, meu caro padre Mário. Se não lhe escrevi mais vezes em relação a escritos e modos de agir seus, também foi por respeito pelo diferente, mesmo com alguma con­vic­ção de que este “diferente” não constrói comunhão, pelo menos aquela que Jesus pediu ao Pai.

Por mim termino mesmo, ainda que com o risco das interpretações que quei­ra dar ao que escrevi e escrevo. Que o Espirito de Deus nos ilumine e conduza e nós queiramos deixá-LO agir em nós e em todos.

Em Cristo Senhor, irmão sem ressentimentos,

 

R. do Padre Mário

Meu irmão Bispo António Marcelino

Cheguei a pensar que não reagiria à minha mensagem. Que iria preferir conservá-la /digeri-la no seu coração. Não foi capaz de tanto. O Poder sagrado não é capaz de tanto. Para seu mal. E para mal da Humanidade, das populações, dos Povos. Maldito seja o Poder. Também o Poder sagrado!

Felizmente, para todos os Povos, Jesus, o filho de Maria, nunca foi por aí. Tentado, ele foi. Mais do que ninguém. Mas resistiu. Até ao sangue. Por isso, se constituiu no nosso Paradigma. O Paradigma do Ser Humano. “Porta estreita”, pela qual poucos se dispõem a entrar. Já que a esmagadora maioria, mesmo entre os que hoje são sacrilegamente oprimidos e empobrecidos, opta pela “porta larga” do Poder e dos Privilégios. Instala-se no vértice da Pirâmide. Tem horror a viver opcionalmente na base da Pirâmide. Mas, enquanto houver Pirâmide, é na Base que DeusVivo, nosso Abbá, vive. No vértice da Pirâmide, está apenas o Ídolo. E não é que o Ídolo, omnisciente, omnipresente e omnipotente como é, consegue até fazer-se passar por Deus, o único Deus verdadeiro?! Não fosse assim, e o Papa de Roma seria Papa de Roma? César de Roma teria sido César de Roma? E Obama, o do Império, seria hoje Obama, o do Império? Um bispo-Poder sagrado (= Hierarquia) seria Bispo-Poder sagrado? E não é que até os altares, mai-los templos, é a este Ídolo disfarçado de verdadeiro e de único Deus, que todos eles servem /cultuam, em liturgias mais ou menos faustosas?!

Recomenda-me, e eu agradeço-lhe o cuidado, que não julgue para não ser julgado. Entretanto – veja só! – passa toda esta sua mensagem a julgar-me e a condenar-me, ao mesmo tempo que se me apresenta como um modelo a seguir. Como a confirmar à saciedade que, afinal, eu não o julguei, pelo contrário, o amei, como, se calhar, até hoje ninguém o amou. Apenas o bajulou! E, porque o amei, disse-lhe a Verdade, essa mesma que, praticada, nos faz livres. Procedi consigo, Poder sagrado, como Natan perante o ungido rei David. E, sobretudo, como Jesus perante Pilatos e perante o sumo-sacerdote do Templo de Jerusalém. Se amarmos /praticarmos a Verdade, ela nos fará livres. E que o meu irmão Bispo António Marcelino seja livre para a Liberdade /Fraternidade Universal, é o que eu mais posso querer, o que mais quero.

A propósito, já conhece /começou a ler o meu NOVO LIVRO DO APOCALIPSE OU DA REVELAÇÃO, edição AREIAS VIVAS, sedeada aí em Mira? Não?! Nem tenciona lê-lo /escutá-lo?! Olhe que eu dediquei este meu “livro póstumo” a todos os Bispos e a todos os Presbíteros da Igreja de Jesus. Já sabia?! E sabe que, nessa minha Dedicatória, eu peço que todos nós, Presbíteros e Bispos, nos convertamos à mesma Fé de Jesus, para, depois, podermos confirmar nessa mesma Fé, as nossas irmãs, os nossos irmãos? Tem consciência de que sem esta nossa conversão à mesma Fé de Jesus, vivemos todos na Idolatria? E tem consciência de que só na Idolatria é que há Bispos Poder sagrado, Presbíteros Poder sagrado, como são os párocos nomeados pelos respectivos Bispos Poder sagrado? Oh! meu irmão Bispo António Marcelino, o que o Institucional Eclesiástico fez e continua aí a fazer dos que, incondicional e ingenuamente, o servimos, em lugar de lhe resistirmos até ao sangue, como fez Jesus.

Vejo, por este seu novo mail, que a nossa correspondência termina aqui. Saiba que o amo. E que, se, um dia destes, me aceitar à sua mesa de Bispo da Igreja de Jesus, eu lá estarei, como um menino. Será que, ao menos por um momento, conseguirá ser também como um menino? Se sim, pode acontecer que fique a gostar tanto de ser assim como um menino, que passe a ser assim pelo resto da sua vida de Bispo da Igreja de Jesus. E que alegria não haveria então no mais íntimo dos seres humanos, mulheres e homens, que viessem a ter notícia de semelhante NASCER DE NOVO, de semelhante NASCER DO MESMO ESPÍRITO DE JESUS! Só que, depois, o meu irmão Bispo António Marcelino passará a ter à perna, todos os do Poder sagrado – e são muitos, como sabe. E conhecerá o Ostracismo e o Desprezo mais cínico, que são bem pior do que o Ódio! Por mim, se me aceitar, correrei ao seu encontro. Fico na expectativa. Dou-lhe o meu afecto e a minha paz.

 

3 Bispo A. Marcelino:

Terminou. Abraço em Cristo Jesus,

 

R. do Padre Mário

Mas que pena,

meu irmão Bispo António Marcelino!

Como conseguiu resistir à minha proposta de me fazer sentar, um dia destes, à sua Mesa? Como esta sua postura de recusa está nos antípodas das posturas de Jesus! Na verdade, o Poder sagrado é mesmo assim.

E o mais dramático é que parece que só mesmo a Morte, quando vier, acabará com ele em cada pessoa concreta que ele, antes, conseguiu possuir como um demónio!

Fico abraçado a si, dentro do meu coração. Seu

 


 

E-mail: António Pedro Ribeiro

Carta à minha Mãe

 

Sabes, mãe, estes gajos

estão a dar cabo do Homem
sabes, mãe, houve um tempo

em que fui à escola
houve um tempo em que até trabalhei
mas agora cansei-me, mãe,
não posso mais ficar passivo
não posso mais assistir sentado
eles estão a dar cabo de mim
estão a dar cabo do Homem
sabes, mãe, estas coisas

vêm da infância, eu observava as coisas
era o mais inteligente, mãe
mas não intervinha
contentava-me com o meu mundo
com as minhas personagens
mas agora o teatro é outro
envolvi-me com o mundo
casei-me com o mundo
e estes gajos estão a dar cabo
do nosso mundo, mãe
destroem a natureza
viram a natureza contra nós
até podes votar neles, mãe
mas sabes, mãe, eu não sou como eles
eu preocupo-me com os meus filhos
e paro como as outras mães
sabes, mãe, essa merda dos negócios
e do dinheiro não me diz nada
gasto-o em dois tempos
quando o tenho
são papéis e pedaços de metal
que se trocam, nada mais
mãe, estou farto dos discursos deles
na televisão, é a mim que eles querem destruir, querem-me mole,

fraco, deprimido,mas desta vez não vão conseguir, porque agora conheço o jogo deles.

Mãe, eu sou o Homem!

 

N.D.

O meu abraço, A. Pedro Ribeiro

É bom saber que continua a resistir. Ainda que saibamos que Ele, o Poder Financeiro, também continua a atacar. E de que maneira. As mães não podem continuar a parir filhas, filhos para os dar de mão beijada ao Senhor Dinheiro. Mas é isso que está a suceder. Elas fazem isto, Pe­dro! Por isso, esta Carta à minha Mãe que acaba de escrever e de partilhar também comigo é muito oportuna. Mas insuficiente, como bem sabe, me­lhor ainda do que eu.

Quando o Po­der Financeiro até as nossas mães submete e as põe a con­ceber e a dar à luz para ele, pa­ra os exércitos dele, para os executi­vos dele, para os presidentes da re­pública dele, para os deputados de­le, para as O­po­sições dele aos exe­cutivos dele (elas, eles serão ama­nhã os próximos executivos dele), para as administrações das multina­cio­nais dele, para os magis­tra­dos dele, para os clérigos dele, não bas­tam Cartas como esta, ainda que esta seja muito oportuna. Mas esta é um mero tigre de papel, Pedro.

São precisas Práticas Políticas Mai­êuti­cas, e quem está disposto? São pre­ci­sos Duelos Teológicos Desarma­dos contra ele em todo o lado, tam­bém nos media e nas universidades, e quem está disposto?!

O Senhor Di­nheiro apoderou-se até dos nossos genes, Pedro, e já nasce­mos com a sua marca, a marca da BESTA! Como expulsá-lo de nós? Co­mo libertarmo-nos dele? Como lhe resistirmos, efe­ctivamente?

Sempre em comunhão, Mário


 

Ser ou não ser homossexual

E outros assuntos significantes

 

Por MANUEL SÉRGIO

Reitor do Instituto Piaget

 

Não sou homossexual. Quase com 77 anos de idade, continuo a sentir-me (embora com debilidades inapagá­veis) heterossexual. Continuo a fazer meus os versos do poeta, dirigindo-se à sua amada: “Para ti, meu amor, é ca­da sonho/ de todas as palavras que es­crever,/ cada imagem de luz e de futuro,/ ca­da dia dos dias que viver”. Por outro lado, considero que a velhice é menos um período da vida do que um estado de espírito. Mas, se não sou homosse­xu­al, sei, de ciência certa, que a homos­se­xualidade não é crime, nem doença. Só as religiões e as ideologias totali­tá­rias ou arcaicas fazem do homosse­xual um réprobo a merecer rápido ex­ter­mínio.

A homossexualidade é, para mim, uma reinvenção do amor, através de um singular (profunda e imparavelmen­te significante) desejo que nada tem de anti-social. E, porque não é um compor­ta­mento condenável, reprovável é, para mim, a sua repressão. Se só se sabe a­qui­lo que se vive, não acredito que o Papa tenha um conhecimento correcto da vida sexual, dado que nunca a viveu numa relação entre pessoas de sexo diferente, ou do mesmo sexo. Aliás, o ce­libato sacerdotal só pode gerar igno­rância, ou hipocrisia, ou psicopatolo­gias várias. Privar alguém da sua vida sexual equivale a impedir a sua reali­za­ção, em plenitude. Estou certo que uma ampla inteligência teorizadora não chegará a outra conclusão. Sou por isso pelo casamento entre homossexuais, es­perando assim respeitar o meu seme­lhante, filho de Deus e portanto meu irmão. Este é um assunto que, de mim para mim, está resolvido.

 

Por resolver continua este facto: há mais de mil milhões de pessoas conde­na­das a sobreviver com menos de um dó­lar por dia. O Karl Marx não se enga­nou, ao prever a crescente e contínua acumulação do capital, nas mãos de pou­cos (grandes) capitalistas. Ou seja, a democracia que por aí se publicita é um espaço de exploração e alienação! Ou não será mesmo democracia e, ao invés, se trata da ditadura do lucro?... Quando se reduz a modernidade à ra­cio­nalidade científica, esta afirmação invoca a revolução de Galileu, Descartes e Newton. Quando se considera a mo­der­nidade, como sistema político, re­mon­ta-se à Revolução Francesa, como momento inaugural da democracia e co­mo triunfo da burguesia. Por fim, po­de entender-se a modernidade como mo­do de produção da vida material, ou seja, pela instauração do capitalismo. Na modernidade, portanto, o progresso da ciência, a democracia e o capitalismo são inseparáveis. Só que, em liberdade, quem é mais rico mais enriquece, mais poder tem. Desenvolve-se o capitalismo, onde o capitalista encontra espaço para organizar o trabalho e a  sociedade, de acordo com os seus próprios interes­ses.

As injustiças que nascem do ventre do capitalismo são muitas e evidentes. Para combatê-las, perfilam-se diante de nós várias metanarrativas (Jean-Fran­çois Lyotard): a metanarrativa cristã, que diz fundamentar-se no “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, de Jesus de Nazaré; a metanarrativa islâmica, que afirma reproduzir, sem disfarces, a mensagem do Corão; as metanarra­tivas fascistas de prática política ditato­rial, contra-revolucionária e anti-parla­mentar; a matenarrativa iluminista da razão, que afirma ser pelo bom uso da ra­zão que é possível atingir o progres­so científico e ainda a liberdade, a igu­al­dade e a fraternidade; a meta­nar­rativa marxista, que pretende erra­dicar o capitalismo da face da terra, através da luta de classes, da dita­du­ra do proletariado e pela abolição da propriedade privada dos meios de produção e de troca; a metanarrativa capitalista, onde os lucros são privati­za­dos por bem poucos (os capitalis­tas e os gestores de empresas) e os prejuízos são socializados pelos tra­ba­lha­dores. No meu modesto enten­der, para nós, pós-modernos, a Histó­ria tem de começar, onde todas estas metanarrativas põem “fim”.

De facto, a História apresenta-nos de forma vibrante e mesmo patética a falência de todas estas metanarra­tivas, sempre que, politica e economicamente, foram aceites, implementa­das, institucionalizadas. A inquisição e o pensamento fascizante que des­pon­ta de grande parte da História da Igreja; a jihad islâmica e o cortejo de fanatismo medieval que a envolve; os milhões de mortos, pelos esbirros de Hitler e de Estaline; os lugares comuns de uma democracia veneranda e morta, onde o capitalismo floresce; este cenário terrível: mais de metade da riqueza mundial está concentrada nas mãos férreas de apenas 2% da população mundial – dão, neste pon­to, inteira razão a Karl Marx, quando este grande pensador denuncia que a sociedade burguesa capitalista não faz mais do que dar garantias mera­mente formais de liberdade, pois que ninguém é livre num regime de injus­ti­ça, a todos os níveis, institucionaliza­da.

Em poucas palavras: na democra­cia capitalista, há liberdade formal, mas não há liberdade real! As tenta­tivas de ditaduras ditas socialistas, que se apresentam como antítese ao capitalismo reinante, têm sido um tre­mendo fracasso, já que se transfor­mam num Capitalismo de Estado, on­de não há liberdade formal e a socie­dade civil é esmagada pela vontade in­dis­cutível e indiscutida de ditadores ou caudilhos. O que nos resta, se todas estas experiências históricas falharam e só as exaltam uma militância ideoló­gica meramente literária?

Erradicar da face da terra a econo­mia capitalista de mercado? Sem dúvida e, no seu lugar, criar uma economia so­ci­a­lista de mercado. O mercado deve supor a liberdade do indivíduo e a sua subordinação às necessidades do so­cial. Ao contrário do que, anos atrás,  exigia, o neoliberalismo precisa de “mais Estado” para que os lucros conti­nu­em a reverter, forçosamente, para o bolso de meia dúzia de capitalistas. A erradicação da pobreza como exigên­cia ética pouco vale, num sistema onde só a performatividade conta. De facto, a teoria do “fim das ideologias” rouba valores à economia e assim a rentabili­dade supõe invariavelmente a reafirma­ção da autoridade do capital sobre a produção social da riqueza. Nas dita­duras ditas socialistas, há também ne­cessidade de “mais Estado” para que a nomenklatura se apodere da riqueza produzida pelos trabalhadores.

 

Não te­nho a mínima dúvida, a este respeito: há que reinventar a econo­mia, à luz da ética! Qual ética? Continuo a acreditar no Evangelho que, para mim, é francamente socialista e declara­da­mente o inverso do capitalismo. Para muitos economistas tecnocráticos, a ética é estranha às relações de produ­ção. O modelo economicista, que jura a pés juntos que uma empresa goza de óptima saúde, sempre que se maxi­mizam os lucros que beneficiam directa­mente os accionistas - desconhece que “qualquer noção de justiça aceitável tem de ser igualitária, no sentido de que deve exprimir uma forma de solida­riedade material, entre todos os mem­bros da sociedade em causa, cujos in­te­­resses devem ser tomados em conta, de maneira igual”. Por isso, o lucro não é o objectivo exclusivo das empresas, porque esse lucro deve surgir, num con­texto de legalidade e de respeito pela pessoa humana.

Quando tive de estudar a fenomeno­lo­gia, para além da sua postura anti­cartesiana, o que nela mais me entusi­as­mou foi o conceito de “mundo da vida”. A pessoa humana é um ser-no-mundo? Assim é! Mas não um mundo qualquer, porque cada um de nós se movimenta no “mundo da vida”, onde são inúmeras as relações sociais. Viver é com-viver. Schutz, um dos nomes grandes da fenomenologia, é bem ex­plí­cito: “nem sequer pensamos de um modo qualquer, pensamos de acordo com as vivências que temos. Tudo o que o ser humano pensa, já antes o co­nheceu”.

Também as ciências (que são um pro­duto humano) não operam no vazio. Não há ciências em estado puro, porque é o ser humano que as faz. Da Econo­mia se deverá dizer outro tanto. Por isso, não bastam leis económicas, mate­maticamente rigorosas, é preciso, antes do mais, que das leis resultem bem-estar e solidariedade... para todos! Caso contrário, a Economia é uma men­tira! Muitos são os teóricos da Eco­nomia que afirmam que as nações, com maior grau de liberdade económi­ca, são as que atingem melhores resul­tados na produção e no emprego. E a­­diantam a propriedade privada, a li­ber­dade económica e o mecanismo dos preços, como as condições sine qua non, para uma economia ideal. Que as liberdades reais são um travão à mi­séria – não tenho dúvidas a este res­peito. É conhecido que a ausência de liberdades é a primeira causa do sub­de­senvolvimento em que jazem alguns países ditos socialistas. Mas são livres os milhões e milhões de miseráveis que o capitalismo cria, por esse mundo a­lém?

Por que se fala tão pouco de “po­lítica económica” ou de “uma ética para a economia”? É que a Economia só es­tá certa, quando está ao serviço do homem todo e de todos os homens. Daí que, mesmo aos não economistas como eu, é permitido afirmar sem receio que a economia capitalista, que nos gover­na, é uma trapaça, uma vigarice, um tre­mendo embuste. É evidente que, nas eleições legislativas, é o povo que vota, nos partidos que defendem a economia capitalista. Mas, digamo-lo também sem receio, um povo reificado, aliena­do, manipulado.

São inúmeras as vezes em que a frase de Marx me ocorre: “A ideologia dominante é a ideologia da classe domi­nante”. Por isso, a cultura política e mo­ral da nossa sociedade, centrada numa alta competição desmedida, na violência e no sexo. Enquanto o povo só souber viver, de forma tensa e in­tensa, o futebol e as vidas dos artistas mais mediáticos, as eleições darão sem­pre a vitória aos que servem um merca­do sem ética, isto é, a exploração mais despudorada!

Leiamos (com olhos de ver) o nosso Orçamento de Estado. Há nele uma lin­gua­gem que só os técnicos entendem. Mas não é verdade que ele é, sobre o mais, um documento político que revela as orientações político-económicas do Governo e, por isso, leitura obrigatória de todos os portugueses? Sem dúvida! No entanto, quantos portugueses o lê­em, ou se informam das suas conclu­sões? Como poderão motivar-se os por­­tugueses a uma política de desen­vol­vimento, se os seus mais instantes problemas são os resultados da Liga Sagres?...

A taxa de desemprego, em Portugal aumenta, mês após mês; há 170 000 desempregados, no nosso País, que não têm ajuda, ou subsídio, do Estado; não há vocação, entre os portugueses, para a criação de mais empregos, já que os empresários não querem inves­tir, com as actuais leis de trabalho; é quase nula a exportação de bens e de serviços; por seu lado, a dívida pública cresce, assustadoramente – estes são, para mim, os principais problemas de um português que pense, com o míni­mo de lucidez, o seu País. Sobre o ca­sa­mento dos homossexuais, aplaudo a decisão da Assembleia da República. Mas que ela não sirva para esquecer outros, para mim muito mais importan­tes! 

A grande qualidade da vida econó­mica é a justiça que Tomás de Aquino, na Summa Theologiae, definiu como a “constante e perpétua vontade de dar a cada um o que lhe cabe por direito”. Que o corpo científico da Economia te­nha em conta esta virtude (chamemos-lhe assim), de modo que a pobreza pos­sa vencer-se. É que a pobreza não é uma fatalidade. Hoje, é o resultado (o primeiro, entre outros) da economia ca­pi­talista de mercado.


 

O Haiti existe!

Por FREI BETTO

Teólogo (1)

 

Interessados em exibir na Europa uma coleção de animais exóticos, no início do século XIX, dois franceses, os irmãos Edouard e Jules Verreaux, viajaram à África do Sul. A fotografia ain­da não havia sido inventada, e a única maneira de saciar a curiosidade do pú­bli­co era, além do desenho e da pintu­ra, a taxidermia, empalhar animais mor­tos, ou levá-los vivos aos zoológicos.

No museu da família Verreaux, os visitantes apreciavam girafas, elefantes, macacos e rinocerontes. Para ela, não poderia faltar um negro. Os irmãos a­pli­ca­ram a taxidermia ao cadáver de um e o expuseram, de pé, numa vitrine de Paris; tinha uma lança numa das mãos e um escudo na outra.

Ao falir o museu, os Verreaux ven­de­ram a coleção. Francesc Darder, veterinário catalão, primeiro diretor do zoológico de Barcelona, arrematou parte do acervo, incluído o africano. Em 1916, abriu seu próprio museu em Banyoles, na Espanha.

Em 1991, o médico haitiano Alphon­se Arcelin visitou o Museu Darder. O negro reconheceu o negro. Pela primei­ra vez, aquele morto mereceu compaixão. Indignado, Arcelin pôs a boca no mundo, às vésperas da abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona. Concla­mou os países africanos a sabotarem o evento. O proprio Comitê Olímpico in­terveio para que o cadáver fosse re­ti­rado do museu.

Terminadas as Olimpíadas, a popu­la­ção de Banyoles voltou ao tema. Mui­tos insistiam que a cidade não deve­ria abrir mão de uma tradicional peça de seu património cultural. Arcelin mo­bi­lizou governos de países africanos, a Organização para a Unidade Africana, e até Kofi Annam, então secretário-ge­ral da ONU. Vendo-se em palpos de aranha, o governo Aznar decidiu devol­ver o morto à sua terra de origem. O ne­gro foi descatalogado como peça de museu e, enfim, reconhecido em sua con­dição humana. Mereceu enterro con­di­gno em Botswana.

 

Em meus tempos de revista “Reali­da­de”, nos anos 60, escandalizou o Bra­sil a reportagem de capa que trazia, como título, “O Piauí existe.” Foi uma for­ma de chamar a atenção dos brasi­leiros para o mais pobre estado do Bra­sil, ignorado pelo poder e pela opinião públicos.

O terremoto que arruinou o Haiti nos induz à pergunta: o Haiti existe? Ho­je, sim. Mas, e antes de ser arruina­do pelo terremoto? Quem se importava com a miséria daquele país? Quem se perguntava por que o Brasil enviou pa­ra lá tropas, a pedido da ONU? E ago­ra, será que a catástrofe - a mais terrível que presencio ao longo da vida – é mera culpa dos desarranjos da natu­reza? Ou de Deus, que se mantém si­len­cioso frente ao drama de milhares de mortos, feridos e desamparados?

Colonizado por espanhóis e france­ses, o Haiti conquistou sua indepen­dên­cia em 1804, o que lhe custou um duro castigo: os esclavagistas europeus e estadunidenses mantiveram-no sob bloqueio comercial, durante 60 anos.

Na segunda metade do século XIX e início do XX, o Haiti teve 20 governan­tes, dos quais 16 foram depostos ou as­sas­sinados. De 1915 a 1934, os EUA ocuparam o Haiti. Em 1957, o médico Fran­çois Duvalier, conhecido como Papa Doc, elegeu-se presidente, instalou uma cruel ditadura apoiada pelos ton­ton macoutes (bichos-papões) e pelos EUA. A partir de 1964, tornou-se presi­dente vitalício... Ao morrer em 1971, foi sucedido por seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, que governou até 1986, quando se refugiou na França.

 

O Haiti foi invadido pela França em 1869; pela Espanha em 1871; pela In­gla­terra em 1877; pelos EUA em 1914 e em 1915, permanecendo até 1934; pelos EUA, de novo, em 1969.

As primeiras eleições democráticas ocorreram em 1990; elegeu-se o padre Jean-Bertrand Aristide, cujo governo foi decepcionante. Deposto em 1991 pelos militares, refugiou-se nos EUA. Retor­nou ao poder em 1994 e, em 2004, a­cu­sado de corrupção e conivência com Washington, exilou-se na África do Sul. Embora presidido hoje por René Préval, o Haiti é mantido sob intervenção da ONU e agora ocupado, de facto, por tropas norteamericanas.

Para o Ocidente “civilizado e cris­tão”, o Haiti sempre foi um negro inerte na vitrine, empalhado em sua própria miséria. Por isso, os mídia dos brancos exibem, pela primeira vez, os corpos destroçados pelo terremoto. Ninguém viu, por TV ou fotos, algo semelhante na Nova Orleans destruída pelo fura­cão ou no Iraque atingido pelas bom­bas. Nem mesmo após a passagem do tsunami na Indonésia.

Agora, o Haiti pesa em nossa cons­ci­ên­cia, fere nossa sensibilidade, arran­ca-nos lágrimas de compaixão, desafia a nossa impotência. Porque sabemos que se arruinou, não apenas por causa do terremoto, mas sobretudo pelo descaso de nossa dessolidariedade.

Outros países sofrem abalos sís­micos e nem por isso destroços e víti­mas são tantos. Ao Haiti enviamos “mis­sões de paz”, tropas de intervenção, ajudas humanitárias; jamais projectos de desenvolvimento sustentável.

Findas as acções emergenciais, quem haverá de reconhecer o Haiti co­mo nação soberana, independente, com direito à sua autodeterminação? Quem abraçará o exemplo da dra. Zil­da Arns, de ensinar o povo a ser su­jeito multiplicador e emancipador de sua própria história?

 

(Copyright 2010 – FREI BETTO - É proi­bida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletró­nico ou impresso, sem autorização. Con­tacto – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br).


 

Novo olhar sobre o Universo

Por FREI BETTO

Teólogo (2)

 

Carlos Mesters, o mais popular bi­blista do Brasil, sublinha que há no Antigo Testamento dois decálogos, o da Aliança e o da Criação. O da Aliança surgiu primeiro, embora o outro já exis­tisse. Ocorre que o povo de Deus, por não levar a sério o da Aliança, não ti­nha olhos para perceber o Decálogo da Criação.

Ao longo dos 400 anos da monar­quia (de 1000 a 600 a.C.), Javé, o Deus libertador do Êxodo, foi reduzido a um ídolo manipulado pelos poderes civil e religioso para legitimar a corrupção e a ganância dos reis. E ninguém dava ouvidos às denúncias dos profetas. Até que Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu a Palestina em 587 a.C. e destruiu Jerusalém.

O choque da dominação e do exílio abriu os olhos do povo de Deus para o Decálogo da Criação: “O ritmo da na­tureza, do sol, da lua, das estações, das chuvas, das estrelas, das plantas, re­vela o poder criador de Deus” – afir­ma Mesters. “É a expressão do bem-querer do Deus Criador, da pura gratuidade! É uma certeza que não falha. É a prova de que Deus não rejeitou seu po­vo. Nossa fraqueza pode levar-nos a romper com Deus (como de facto a­con­teceu), mas Deus não rompe con­nos­co, pois cada manhã, através da sequência dos dias e das noites, ele nos fala ao coração”.

Nossa visão do mundo interfere em nossa visão de Deus, assim como o modo de concebermos Deus influi na visão que temos da vida e do mundo. Ao longo de 1.000 anos, predominou, no Ocidente, a cosmovisão de Ptolo­meu, que considerava a Terra o centro do Universo. Isso favoreceu a hegemonia espiritual, cultural e económica da Igreja, encarada pela fé como imagem da Jerusalém Celeste.

Com o advento da Idade Moderna, graças à nova cosmovisão de Copér­nico, logo completada por Galileu e New­ton, constatou-se que a Terra é ape­nas um pequeno planeta que, qual mulata de escola de samba, dança em torno da própria cintura (24 horas, dia e noite) e do mestre-sala, o sol (365 dias, um ano). O paradigma da fé deu lu­gar à razão, a religião à ciência, Deus ao ser humano. Passou-se da visão geocêntrica à heliocêntrica, da teocêntrica à antropocêntrica.

Agora, a modernidade cede lugar à pós-modernidade. Mais uma vez, nos­sa visão do Universo sofre radicais mudanças. Newton cede lugar a Eins­tein, e o advento da astrofísica e da física quântica nos obrigam a encarar o Universo de modo diferente e, portan­to, também a ideia de Deus.

Se na Idade Média Deus habitava “lá em cima” e, na Idade Moderna, “aqui em baixo”, dentro do coração humano, agora conhecemos melhor o que o a­pós­tolo Paulo quis dizer ao afirmar: “Ele não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existi­mos, como alguns dentre os poetas de vocês disseram: ‘Somos da raça do próprio Deus’” (At 17, 27-28).

A física quântica, que penetra a inti­midade do átomo e descreve a dança das partículas subatómicas, ensina-nos que toda a matéria, em todo o Universo, não passa de energia condensada. No interior do átomo, a nossa lógica carte­siana não funciona, pois ali predomina o princípio da indeterminação, ou seja, não se pode prever com exactidão o movimento das partículas subatómicas. Essa imprevisibilidade só predomina em duas instâncias do Universo: no in­te­rior do átomo e na liberdade humana.

O Universo é um grande relógio mon­tado pelo divino Relojoeiro e cujo funcionamento pode ser bem conhecido estudando cada uma de suas peças. A física quântica ensina que não há o su­jeito observador (o ser humano) frente ao objeto observado (o Universo). Tudo está intimamente interligado. O bater de asas de uma borboleta no Japão de­sen­cadeia uma tempestade na Amé­rica do Sul... Nosso modo de examinar as partículas que se movem no interior do átomo interfere no percurso delas... Tudo o que existe coexiste, subsiste, pré-existe, e há uma inseparável inte­ra­cção entre o ser humano e a natureza. O que fazemos à Terra provoca uma re­ac­ção da parte dela. Não estamos acima dela, somos parte e resultado de­la; ela é Pacha Mama ou, como dizi­am os antigos gregos, Gaia, um ser vivo. Deveríamos manter com ela uma relação inteligente de sustentabilida­de.

Esse novo paradigma científico nos permite contemplar o Universo com no­vos olhos. Nem tudo é Deus, mas Deus se revela em tudo. Nossa visão religio­sa é agora pananteísta. Não confundir com panteísta. O panteísmo diz que todas as coisas são Deus. O pananteís­mo, que Deus está em todas as coisas. “Nele vivemos, nos movemos e existi­mos”, como disse Paulo. E Jesus nos ensina que Deus é amor, essa energia que atrai todas as coisas, desde as mo­léculas que estruturam uma pedra às pessoas que comungam um projecto de vida.

Como dizia Teilhard de Chardin, no amor tudo converge, de átomos, molé­culas e células que formam os tecidos e órgãos do nosso corpo às galáxias que se aglomeram múltiplas nesta nossa Casa Comum que chamamos, não de Pluriverso, mas de Universo.

Frei Betto é escritor, autor de “A Obra do Artista – uma visão holística do Universo” (Ática), entre outros li­vros. Copyright 2010 – FREI BETTO - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, electrónico ou impresso, sem autoriza­ção. Contacto – MHPAL – Agência Lite­rária (mhpal@terra.com.br)


 

IGREJA /SOCIEDADE

As perguntas foram mais que atrevidas,

mas, a todas elas, Pe. Mário responde sem papa-na-língua

Conhece padres que emprenharam,

já de votos assumidos,

e que não abdicaram da batina?

 

O conhecido jornalista e escritor TIAGO SALAZAR entrevistou pe. Mário para a Revista satírica O CÃO. As perguntas vieram por e-mail. E por e-mail, seguiram as respostas. É essa entrevista, na íntegra, que Jornal Fraternizar aqui reproduz. Como poderão constatar, as perguntas quase não saem da área da sexualidade, em particular, da famigerada Lei do Celibato dos padres. São perguntas provocadoras que tinham de ser feitas. Nenhuma fica sem resposta à altura. Vale a pena ler com inteligência cordial. Em lugar de enterrarmos a cabeça na areia. A Hora exige lucidez e Insurrei­ção na Igreja. Basta de medo e castração

 

P. Este “habeas corpus” ao casamento homossexual re­a­bre campo de discussão pa­ra outros temas espinhosos na sociedade e na Igreja Católica, caso dos padres procria­do­res, ou do fim do celibato en­tre padres que praticam o ministério?

R. Deveria (re)abrir, mas, hoje, infeliz­mente, nada, nas altas esferas da nossa Igreja católica, nos diz que irá ser assim. E de certeza que não será assim. Para nossa vergonha católica. E para nosso mais completo descrédito. A Cúria Roma­na, com os seus cardeais sem entranhas de humanidade, todos eunucos à força (mai-la sua hierarquia episcopal e paro­quial à frente de todas as dioceses e pa­ró­quias territoriais espalhadas pelo Mun­do, toda, infantilmente, obediente e reve­rente às ordens emanadas de Roma; toda feita só de homens, e homens eunucos à força e prisioneiros de privilégios de que não querem abdicar; sem um pingo de es­pinha dorsal e cheia de medo do Núncio apostólico do Vaticano, a residir na capital de cada país da Cristandade, com a mis­são de controlar /registar ao pormenor tudo o que os bispos e os párocos possam dizer e fazer de dissonante da linha traçada pelo Papa), em lugar de saudar e acompa­nhar esta abertura da Sociedade civil, fe­cha-se demencialmente ainda mais no seu reduto moralista sem Moral. Como um náufrago no alto mar que, desesperado, se agarra a um qualquer resto da embar­ca­ção destroçada. Quando ela, como Igre­ja de Jesus que diz ser, deveria viver sem­pre na crista da onda e à cabeça do pelo­tão da História, a abrir caminhos ainda por andar pela Humanidade. Que para isto é que a Igreja existe: para ser a parcela mais ousada e mais libertária da Humani­da­de. Só que tanto a Cúria Romana, como a hierarquia que infantilmente se lhe submete, são Poder Eclesiástico puro e duro, não são Igreja, a de Jesus, o Cru­cificado pelo Poder Sacerdotal e pe­lo Império. Como tal, actuam ambas, em uníssono na História, precisamente nos antípodas de Jesus

 

P. A esterilidade dos e­cle­­siásticos é a excepção ou a regra?

R. É a regra. Salta à vista de toda a gente. Falo, obviamente, de esterili­da­de no sentido mais lato, não apenas no sentido sexual-genital. De resto, a pior esterilidade dos eclesiásticos nem é a sexual-genital. É, sim, aquele seu es­quizofrénico jeito clerical de ser-vi­ver todos os dias. O templo e o altar que eles profissionalmente frequentam e onde são reis e senhores absolutos, nun­ca foram espaços e ambientes de fecundidade humana. São, até, o que há de mais estéril. Já era assim com os sacerdotes dos velhos cultos do Pa­ga­nis­mo religioso. Até podiam ser casa­dos e ter filhas, filhos, mas eram os mais estéreis dos seres humanos. Ocu­pa­vam-se exclusivamente das imagens das deusas e dos deuses, faziam todos aqueles ritos e rezas sem sentido e, com isso, não só alienavam as popula­ções, como ainda lhes alimentavam os ancestrais medos com que elas anda­vam possessas e que as tornavam vio­len­tas umas para com as outras. Como hoje ainda sucede. E para pior. Não só com os cultos religiosos nos templos e nos altares, mas também e sobretudo com os cultos seculares /laicos, em hon­ra do Senhor Deus Dinheiro, sem dúvi­da, o mais omnipotente, o mais omnipre­sente e o mais omnisciente dos deuses-ídolos deste nosso Século XXI.

 

P. Conhece padres que emprenharam, já de votos as­sumidos, e que não abdi­caram da batina?

R. Como compreenderá, não sou detective particular, nem polícia de cos­tumes. Como presbítero da Igreja do Porto, toda a minha vida está centrada na missão de Evangelizar os pobres e os povos. Sou, ao mesmo tempo, jorna­lista de profissão (hoje, já na reforma, se bem que ainda mais activo do que nunca), mas nunca enveredei pelo jor­nalismo de investigação de costumes, muito menos dos meus irmãos padres /presbíteros. Sempre deixei isso aos clé­rigos juízes dos Tribunais eclesiás­ticos e aos moralistas laicos que, por vezes, em matéria de costumes, nome­a­da­mente, no campo do exercício da sexualidade humana e clerical, conse­guem ser ainda piores do que os juízes eclesiásticos. Eu sei que os meus cama­radas jornalistas que enveredam por aí, pretendem saber se os padres são coerentes com o que prega a instituição que eles integram. Só que, em meu en­tender, os jornalistas deveriam ser os primeiros a denunciar como imoral o mo­ra­lismo pregado pela instituição ca­tól­ica, em vez de correrem a acusar (não estou a referir-me aos casos de pedofilia, que sempre devem ser de­nun­ciados, seja quem for o abusador dos menores) os possíveis “prevarica­dores” desse moralismo imoral. Porque o que é imoral nunca é para ser acata­do e praticado, mas para ser denuncia­do e, até, infringido. Condenemos, sem rebuços, o Moralismo imoral. Não con­denemos os “prevaricadores” que, com as suas práticas “prevaricadoras” (tam­bém não estou a pensar em casos de violações que devem ser denunciados), estão a deitar por terra o Moralismo imo­ral institucionalizado!

 

P. É histórico que os pa­dres católicos sempre pro­criaram, sobretudo no Brasil, onde deram nomes ilustres à política, às le­tras, à diplomacia e por aí fora. Além de Papas pais, ou do nosso Aquilino Ribei­ro, um acaso feliz de um ro­mance de vigário. Esta tradição povoadora do cle­ro e dos seus homens dou­tos não devia ser enobre­cida ao invés de satirizada?

R. Em coerência com o que acabei de dizer, deveria responder sim, a esta sua pergunta. Entendo, inclusive, que a comunicação social e a literatura, as­sim como o cinema e as conversas de café deveriam enobrecer tais homens, em lugar de os satirizarem, como qua­se sempre fizeram /fazem. Satirizar es­ses homens é dar mais força ao Siste­ma eclesiástico moralista intrinseca­men­te perverso. É ser também perver­so. Por mim, prefiro outra postura: nem enobrecer, nem satirizar, muito menos, humilhar. Prefiro a postura evangélica e jesuânica daqueles poucos presbíte­ros e bispos que, dentro da Igreja, de­nun­ciam, abertamente, uma e outra vez, como eu próprio faço, o Moralismo imo­ral da instituição eclesiástica, em todas as suas áreas, que não apenas na á­rea da Lei do celibato obrigatório dos padres, mesmo que, por via disso, ve­nham a ser canonicamente penalizados e, porventura, arbitrariamente afasta­dos de funções. Porque, no tocante ao Moralismo imoral da Igreja católica, o mais grave nem chega a ser a Lei do celibato dos padres. Basta ver as aber­ra­ções que esse Moralismo imoral en­si­na e impõe, ainda hoje, aos casais ca­tó­licos, aos adolescentes, aos homos­se­xuais /lésbicas. É de bradar aos céus, melhor, à Terra. Tais doutrinas, neste cam­po da sexualidade praticada, são tão aberrantes, que eu nem sei como ainda há casais, adolescentes, homos­se­xuais /lésbicas que continuam a di­zer-se católicos, a frequentar as missas de domingo, a baptizar as filhas, os fi­lhos, a “obrigá-los” a frequentar a cate­quese paroquial e a casarem-se cano­ni­camente ou pela Igreja, como se diz. Só o podem fazer por força da inércia, da tradição, mas até isso é objectiva­mente imoral. Porque tudo o que se faz, sem convicção pessoal, apenas por rotina /inércia /tradição, ou apenas pa­ra agradar aos pais, é imoral, é peca­do, um daqueles pecados que, embora não pareça, nos desumanizam e infan­tilizam.

 

P. Assumir esta deriva oficial de filhos de padres, vi­gários, presbíteros, páro­cos, priores ou afins, seria uma forma de, por exemplo, arregimentar mais seminaris­tas e rejuvenescer a Igre­ja?

R. Não creio. Ninguém é padre /pres­bítero da Igreja por sucessão ge­nealógica, como numa monarquia, em que o filho do rei, rei será. E, se rei não for, pelo menos, príncipe /princesa será. Se entrássemos por aí, a Igreja seria uma empresa mais, no universo das empresas. Uma espécie de transnacio­nal da Religião. Por sinal, é isso que a Igreja católica, hoje, parece ser, uma transnacional do Religioso, da Idolatria religiosa. Porque os presbíteros, quase todos, desistiram de o ser e, em seu lu­gar, passaram a assumir-se como “sa­cer­dotes”. Foi o Concílio de Trento (século XVI), de triste e má memória, que operou esta transubstanciação. Perversa, diga-se, com toda a força de que formos capazes. Foi também neste Concílio que a Lei do Celibato obriga­tório deixou de ter mais escapatórias. Até então, muitos padres que as popu­lações tinham por “amancebados”, na realidade, eram casados. Só que nin­guém sabia, para lá dos próprios. Casa­vam-se clandestinamente. E foi para acabar com esta derradeira possibilida­de, que o Concílio de Trento definiu co­mo doutrina de Fé (uma aberração de todo o tamanho!), que o sacramento do matrimónio só seria válido, quando fosse realizado na presença do pároco da noiva ou do noivo. Até então, o sa­cra­mento acontecia, sempre que um ho­mem, padre que fosse, e uma mulher se declarassem marido e mulher, nem que fosse apenas perante as estrelas numa noite de luar. Em meu entender, só haverá mais padres /presbíteros na Igreja, quando este modelo institucio­nal de Igreja que hoje conhecemos de­sa­parecer. O Poder Eclesiástico que es­tá a fazer-se passar por Igreja, gera sú­b­ditos, é totalmente estéril no que respeita a gerar seres humanos-com-causas, pelas quais valha a pena dar a própria vida. Benditos, pois, os jovens que, enquanto permanecer este modelo clerical de Igreja, recusam dar-lhe cor­po com os seus corpos, seja como aju­dan­tes de altar /acólitos, seja como pa­dres /sacerdotes. Presbítero da Igreja, só mesmo por vocação. Nunca por pro­cri­a­ção! Nem sequer como profissão.

 

P. Há já uma associação de padres casados, a As­sociação Fraternitas Movi­men­to. Fazia sentido abrir uma sucursal de padres pa­ter famílias?

R. Conheço a Fraternitas Movimen­to, mas não tenho quaisquer ilusões a seu respeito. É uma associação com mui­to de beatice eclesiástica e clerical. Integra padres casados e respectivas esposas. Mas os seus associados conti­nuam a ser padres que não perderam os tiques clericais, beatos. São uns tris­tes. Vivem com saudades do altar, que tiveram de deixar, por terem casado. A maior parte deles só se sentiu me­nos-mal consigo mesmo, depois que conseguiu a “dispensa” de Roma e pô­de casar-se canonicamente. O proces­so de “dispensa” foi /é uma atroz hu­milhação de quem a ele recorre. E o casamento canónico que se realiza de­pois é outra humilhação igual ou pior. Melhor, muito melhor, será realizar o casamento civil, ou a simples união de facto, com os nubentes como protago­nis­tas, bem longe de todo aquele Mo­ra­lismo rançoso que se respira no in­terior dos templos paroquiais e em redor dos altares. Padres casados, sim, mas sem terem de andar, o resto da vida, a rastejar diante dos bispos e a mendigar os seus favores. E muito de tudo isto é o que se faz na Associação Fraternitas Movimento. Melhor fossem padres casados ateus ou agnósticos, do que assim tão lacaios dos bispos re­sidenciais, senhores dons fulanos de tal. Uma vergonha que se aceita como eclesial, quando o que é eclesial é a Li­ber­dade, a Igualdade e a Fraternida­de. Instituir uma sucursal de padres pater famílias? Nem pensar. Seria so­mar mais Humilhação áquela que já existe. Só mesmo para sadomasoquis­tas que, pelos vistos, é do que mais há nos ambientes eclesiásticos e cleri­cais!

 

P. O futuro da religião ca­tólica passa por esta abertura de espírito?

R. Por mim, não falo de “futuro da religião católica”. Falo de futuro da Igreja católica. Não! Não são a mesma coisa. Ao contrário do que se pensa e escreve, Igreja e religião não são sinó­nimos. São antónimos. É da natureza da Igreja ser anti-religiosa, ou, pelo menos, a-religiosa. A Igreja não é uma religião. Por isso é que tem presbíteros /bispos, não tem sacerdotes. Tem casas familiares, não tem templos. Tem mesas com­partilhadas, não tem altares. Tudo o que por aí se vê e faz é herança e pros­secução do Paganismo religioso do Império romano que acabou por ser in­tegrado na Igreja e, com isso, a des­ca­racterizou e a paganizou. Até hoje! O futuro da Igreja passa por um Novo Nascer. Ou a Igreja Nasce do mesmo Es­pírito /Sopro Maiêutico de Jesus, as­sas­sinado pelos da Religião e do Impé­rio, ou não tem futuro. E, se, tal como ela hoje está, conseguir manter-se na História, será apenas como um Museu, porventura, muito respeitável, mas Mu­seu. Sem vida. Como que a dizer aos vin­douros que o caminho do Humano não passa por ali. É preciso Nascer de Novo, do Sopro gerador de Liberdade e de Maioridade Humana. É por aqui o caminho, se a Igreja quiser ter futuro. Mas o mais importante, nem é a Igreja ter futuro. É a Humanidade ter futuro. E o Planeta Terra. Será que vamos ter? Fosse a Igreja o que deveria ser, e haveria muito mais garantias da Humani­dade e o Planeta Terra terem futuro. As­sim, podemos desaguar todas, todos, um dia destes, no Abismo, na Implosão! Entendam estas minhas palavras como um alerta de sentinela, que é, de resto, um dos principais aspectos da missão dos presbíteros /bispos da Igreja e da própria Igreja. A de Jesus, obviamen­te..

 

P. Acha que o Islão tem maior facilidade em cativar a juventude para a fé?

R. Mas há Fé, no Islão? Ou tirania? Ou fanatismo? Fé, como acto de Luci­dez e de Liberdade, como fonte de Mai­o­ri­dade Humana, eu só conheço uma, a mesma Fé de Jesus. É a única que é Maiêutica. É a única que não tem na sua génese o Medo, o Ídolo, a Idolatria. Toda a Fé religiosa tem na sua génese o Ídolo, a Idolatria. Por isso é que todas as religiões são perversas. E a do Islão não é excepção, bem pelo contrário. Basta ver a vida do suposto fundador, praticamente, nos antípodas da de Je­sus, o filho de Maria, que não fundou ne­nhu­ma religião e combateu duelica­mente, ainda que sempre desarmado, a Religião oficial do seu país, o que foi tido como a máxima blasfémia, sanci­o­nada com a morte crucificada na Cruz do Império. Os jovens muçulmanos po­dem ser aliciados /recrutados /amestra­dos para o Islamismo. Podem “oferecer-se” como “homens-bomba”. Mas a troco de quê? Por favor, não sejamos ingé­nuos. Lá, onde não houver Liberdade /Maioridade Humana, não há seres hu­ma­nos. Há mercenários, há recrutados, há prosélitos, há escravos, há máqui­nas-humanas-prontas-a-fazer-se-explodir. “Eu – diz Jesus, a quem cruci­ficaram – nasci e vim ao Mundo, para dar testemunho da Verdade; e para que todas, todos tenham vida, e vida em abundância”. Conhecemos mais alguém assim?!

 

P. Já agora, como é que os padres resolvem os na­tu­rais ardores do desejo, a paixão, a tesão? Lêem Platão no lugar da Playboy ou da Gina?

R. Teria de perguntar a cada um deles, porque cada ser humano, tam­bém o ser humano que se tornou padre, é único e irrepetível. Não há dois casos iguais. E, depois, é importante que quem faz perguntas a alguém saiba on­de deve parar. Para não devassar a in­ti­midade da pessoa que aceita que lhe façam perguntas. O que queremos para nós, devemos querer para as ou­tras, os outros como nós. E nem sempre os jornalistas têm sido capazes de res­peitar esta fronteira. E devassam a inti­midade dos demais, como se fossem uma espécie de Pide de costumes, o que, obviamente, não é deontológico. Outra coisa importante a ter em conta, quando lidamos com os seres humanos e a sua intimidade, é percebermos a di­mensão de Mistério que cada um de nós, ser humano, é. E ninguém, nem mes­mo o próprio, deve profanar o Mis­tério que cada ser humano é, que to­das, todos somos. Que fique claro duma vez por todas: A sexualidade humana só é bem abordada num clima de afe­ctos partilhados. Nunca num clima de Tribunal, muito menos, de Tribunal da Inquisição jornalística. Cuidemos, pri­mei­ro e sempre, em formarmos seres hu­manos em estado de Liberdade e de Mai­oridade, e tudo o mais virá por a­crés­cimo. Sem necessidade de polícias de costumes, como os fariseus do tem­po e do país de Jesus, que não larga­vam nunca o pé de Jesus, para ver se o apanhavam em falso. Os padres /pres­bíteros que o são por vocação, co­mo é o meu caso pessoal, e não por pro­fissão ou como modo de vida, não precisam de frequentar Platão, muito menos a Playboy ou a Gina. Não por­que essas sejam áreas interditas a um padre /presbítero da Igreja. Não são. Nada é interdito a um ser humano cons­tituído na Liberdade e na Maiorida­de. Mas basta-nos frequentar-escutar-ser-viver, todos os dias, o belíssimo Po­e­ma erótico bíblico, Cântico dos Cân­ticos. Porque, lá, onde abundam os afe­ctos partilhados, na sua máxima ex­pres­são, que é a Gratuidade e não a lei, a sexualidade humana é sempre vivida com a mesma naturalidade com que se respira. Ao modo matrimonial, nuns casos; ao modo de celibato pelo Reino /Reinado de Deus, noutros casos. Celibato como castração, é coisa desco­nhecida nesses ambientes de Liber­da­de /Maioridade Humana e de afectos par­tilhados, ainda que possa ser essa obscena concepção que continua aí na cabeça, nem sempre moralmente pura, de muita gente que, da sexualidade hu­mana, (quase) só conhece a porno­grafia e a prostituição. Precisava essa muita gente de assumir /praticar o celi­bato pelo Reino /Reinado de Deus, num enfrentamento duélico de todos os dias contra o anti-Reino /Reinado de Deus, que é hoje o Império Finan­ceiro Global, para saber por experiência como se vive a sexualidade, na alegre e feliz condição de celibato opcional, que não tem nada a ver com o celibato imposto por uma perversa Lei eclesiás­tica!

 

P. Na pedagogia do se­minário continua a induzir-se a masturbação para ex­piar a libertação do tirano?

R. Do que hoje sucede, nos semi­nários, não posso falar. Mas não creio plausível tal coisa. Os tempos são outros e até os últimos quatro anos de Teolo­gia, antes da ordenação, são passados na Universidade Católica, numa gran­de mistura de cursos, de mulheres e de homens, da mesma idade. Quanto ao passado, posso testemunhar que eu próprio frequentei o seminário durante 12 anos, entre 1950-1962, em regime de internato, e nunca percebi que nos fosse induzida, por parte do chamado “director espiritual”, semelhante orien­ta­ção. O que sempre percebi é que pra­ticamente tudo o que dissesse respeito a sexo era pecado, inclusive, a mastur­ba­ção, um termo que, entretanto, nunca chegava a ser sequer pronunciado! A pedagogia era outra: manter-nos inin­ter­ru­pta­mente ocupados, sem intervalos para a ociosidade, então, referida como “a mãe de todos os vícios”. Todos os mi­nutos estavam programados, até o tempo de brincar e de dormir. Era como se todos fôssemos seres assexuados, sem sexo! Importa, pois, conhecermos bem a realidade de então, para não nos deixarmos enganar pelas mentes mais ou menos perversas /neuróticas de certos escritores que faziam (ainda fazem?!) do próprio acto de escrever romances ou guiões de filmes, uma mas­tur­bação intelectual. A ideologia que, então, se respirava no seminário era ma­nifestamente moralista, fazia ver pe­cado em tudo o que tivesse a ver com sexo, mas, entretanto, não deixava de cultivar sólidos valores, só que dentro dessa visão moralista. Pessoalmente, nunca me senti reprimido naqueles doze anos de internato, com férias de per­meio. Foram anos, durante os quais, de­senvolvi múltiplas capacidades, inclu­sive, desportivas, por sinal, nem sempre bem vistas, estas últimas, por parte dos padres superiores. Em algumas delas, cheguei mesmo a ser craque, por e­xem­plo, no voleibol, no futebol, no té­nis-de-mesa e até no hóquei em patins! Depois de ordenado, apenas tive de me afastar rapidamente daquele sopro moralista em que havia crescido. Foi o que fiz e passei a deixar-me conduzir progressivamente pelo Sopro /Espírito de Jesus, que é o da Graça e da Verda­de, e que fez/faz de mim um homem constituído na Liberdade /Maioridade, por isso, uma dádiva viva para os de­mais, Pão Partido que se dá a Comer, Vinho Derramado que se dá a Beber. E é assim que, ainda hoje, prossigo, co­mo presbítero da Igreja do Porto, fe­liz­mente sem qualquer ofício pastoral oficial e também sem qualquer benefí­cio eclesiástico. Digo felizmente. E se alguma coisa eu tenho a lamentar, é que a Instituição-Igreja que integro não me tenha acompanhado neste meu Êxo­do /Saída do universo opressor do Mo­ra­lis­mo e da Lei, para o universo jesu­â­nico /maiêutico da Graça e da Liber­dade /Maioridade. Problema dela. Fe­li­cidade minha!

 

P. O enredo d’ O Crime do Padre Amaro ainda se mantém contemporâneo?

R. Pode haver ainda um caso ou outro, mas não é hoje o comum entre os padres da Igreja católica. Pelo me­nos, entre nós. Não digo que esta mu­dança resulte da maturidade do padre. Acho, até, que é o contrário. É ainda o Moralismo, entranhado como um mí­tico demónio na consciência dos pa­dres, a fazer das dele. Cumpre-se – ou, dito pela negativa, não se faz isto ou aquilo – porque a Lei manda ou proí­be. E o desrespeito da Lei, para estes homens que não saíram do Mo­ra­l­is­mo, é sempre pecado, mais ou me­nos grave. E o pecado é um risco de con­denação. O pior do Moralismo ecle­si­ás­tico é manter as pessoas, padres e bispos incluídos, em estado de me­no­ridade, por toda a vida. Fossem adul­tos, e seriam eles próprios os primeiros a derrubar o Sistema que os oprime e amedronta. Porque, afinal, o Sistema Eclesiástico é criação humana, é cria­ção do Poder ou da fome /sede de Po­der Eclesiástico. Não vem de Deus. Só do Ídolo. Cresçam os padres /pres­bí­te­ros no Humano, e o Moralismo que os infantiliza, cai como um baralho de cartas. Erguer-se-ão, em seu lugar, padres /presbíteros em estado de Li­ber­dade e de Maioridade Humana. Cri­a­dores de Liberdade e de autono­mias. A Cúria Romana não gostará de semelhante revolução, mas não terá outro remédio senão aguentar. Ou terá de fechar as portas, por falta de qua­dros qualificados. Assim, pobres ho­mens clericais, não passam de eunu­cos à força, que nunca chegam a liber­tar-se definitivamente do medo do “pai”, da “Lei”, do “Pecado”. Até que a Morte, quando chegar, faça o que eles próprios, há muito, haveriam de ter feito!

 

P. É um mito rural que os padres de vilas e al­deias se amigam com as suas devotas?

R. Acho que é um mito. Pode ha­ver excepções a esta regra. Mas serão só isso: excepções. Como já disse, a “lei”, o “medo”, o “pecado”, o “castigo” ainda continuam a ter muito peso nos clérigos, formatados para obedecer à lei moralista e ao bispo-senhor. Pelo menos, os párocos mais velhos. Os das novas gerações, forma(ta)dos na Universidade Católica, em ambientes outros, poderão comportar-se de outro modo. Mesmo assim, o recente caso do Pe. Rui, obscenamente, mediatizado até à náusea, veio mostrar que, quando ele não foi mais capaz de resistir aos en­can­tos da sua paroquiana, bem mais no­va do que ele, pôs, de imediato, um ponto final no ofício de pároco e partiu para outra. O que só confirma o que comecei por responder: Hoje, é mais um mito rural, do que um facto.

 

P. A Igreja só teria a ganhar na sua moderniza­ção se acabasse com estes dogmas arcaicos?

R. Sim, só teria a ganhar. Mas não confunda as coisas. Não são dogmas. São meras leis eclesiásticas que, assim como foram criadas pelos próprios ho­mens da Igreja, à revelia do Evangelho de Jesus e das práticas paradigmáticas das primeiras comunidades do Novo Tes­tamento, também podem e devem ser banidas, a qualquer momento, por eles. Cabe às gerações deste nosso Sé­culo XXI abolir de vez o que nunca de­veria ter sido institucionalizado na Igre­ja. Manter por mais tempo essas leis, é pecado. Acatá-las e respeitá-las, sem convicção pessoal, só porque são leis da Igreja, é pecado. E nem é preciso ser muito corajoso para se avançar nes­ta direcção. O Povo de Deus, na sua es­magadora maioria, não quer outra coi­sa. E como reza um velho ditado teoló­gico-popular: Vox populi, vox Dei (= voz do povo, voz de Deus). Avance-se, en­tão. Já. Saibam que há 16 séculos, já era tarde para avançarmos!

 

P. Acha que o Prémio Pessoa, o bispo do Porto D. Manuel Clemente, um ho­mem com uma voz de largo espectro, devia desviar uns decibéis para estes temas es­pinhosos?

R. Devia, mas não é o que está a acontecer, nem acontecerá. Como eu próprio escrevo no meu mais recente livro, NOVO LIVRO DO APOCALIPSE OU DA REVELAÇÃO, edição AREIAS VIVAS (um livro que revela o que o romance Caim, de Saramago, esconde!), os ca­minhos que o Bispo Manuel Clemente tem trilhado, desde que aceitou ser Bis­po do Porto, podem ser muito eclesiásti­cos-católicos, mas não são nada jesuâ­ni­cos. E, se não são nada jesuânicos, são inevitavelmente caminhos desvia­dos do Caminho, da Verdade e da Vida que é Jesus, o filho de Maria. E, por is­so, desviados dos seres humanos de carne e osso, também dos padres e dos bispos, inclusive, dele próprio, e das suas (nossas) legítimas aspirações. Fos­sem caminhos jesuânicos, e o Pré­mio Pessoa nunca lhe teria sido atribuí­do. E, se os seus, até agora, não têm si­­do cami­nhos jesuânicos, muito menos o serão, a partir do Prémio. A menos que ele reflicta melhor e recuse rece­bê-lo. O que muito me alegraria! Se o aceitar, também aceitará falar sempre, daqui para diante, na escala do politica­mente correcto. O Poder Político e Fi­nan­ceiro que lhe deu o Prémio Pessoa nunca dá ponto sem nó. Os cem anos da implantação da República estão aí. O Prémio Pessoa veio na hora H. Pen­sam que temos Bispo do Porto ao jeito de Jesus? Desenganem-se. Só ao jeito do Poder Eclesiástico que se mantém “homossexualmente casado” com o Po­der Político e, obviamente, com o Poder Financeiro. Não ver isto, é ser-se cego. Admitir o contrário, é ser-se ingénuo. Não me peçam que eu seja cego. Muito menos, ingénuo.

 

P. Que lhe diz a perso­na­lidade do actual Papa?

R. É o mais medonho rosto do Po­der Eclesiástico. Tudo em Bento XVI sai errado. Como errado foi o seu percur­so, desde que trocou a Teologia, em que era um dos maiores especialistas na Europa, pela Idolatria do Vaticano. Passou-se de armas e bagagens para a Cúria Romana, já com o fito de vir ser eleito papa-chefe-de-estado-do-Vaticano. Conseguiu. Acho que é hoje o mais infeliz dos seres humanos. Prisi­o­neiro do Ídolo, que ele confunde com Deus. Quem o vê em acção vê o Ídolo-em-acção. O Ocidente, na sua hipocri­sia, faz de conta que o estima e acolhe. Mas eu acho que ninguém o ama. Como ele, tão pouco ama alguém. Nem se­quer a si mesmo o papa Bento XVI a­ma. Se se amasse a si mesmo, fugiria da Cúria Romana, do Estado do Vatica­no, verdadeiro ninho de víboras. Infeliz­mente, estes homens, meus irmãos, tor­nam-se absolutamente cegos, quan­do mais pensam que passaram a ver como nunca antes. Tornam-se absolutamen­te cegos e conduzem as pessoas que confiam neles, para o Abismo. É o que Bento XVI está a fazer: a levar a Igreja católica para o Abismo. Nem tudo, po­rém, está perdido. Porque, do Abismo, erguer-se-á a Igreja-fermento-na-mas­sa e a Primavera com que o papa João XXIII, de feliz memória, sonhou, segue dentro de momentos. Por mim, alegro-me, desde agora. Na esperança.

 

P. A vinda a Fátima é uma mera etapa de calen­dário ou pode ter importân­cia na discussão do câ­none?

R. Uma coisa eu lhe(s) garanto: Quando um papa viaja até Fátima, o local mais idolátrico de Portugal e da Europa, pelo menos, no âmbito da cha­mada Idolatria religiosa, é porque o Estado do Vaticano está mal de finan­ças. Ou ainda somos tão ingénuos que pensamos que o papa vem a Fátima e vai de mãos abanar para o Vaticano? Uma mera etapa de calendário, ou al­gu­ma coisa mais? Nunca, digo-lhe eu, uma visita papal é uma mera etapa de calendário. A Cúria Romana, da qual o papa Bento XVI é o actual chefe de turno, nunca dá ponto sem nó. Neste caso concreto, a Cúria Romana precisa de controlar mais e mais os dinheiros de Fátima. Assim como precisa de ren­ta­bilizar mais os lucros do santuário. As viagens papais são altamente rentá­veis para os cofres da Cúria Romana. Como teólogo, o papa Bento XVI sabe, quanto eu, que Fátima, com as suas pretensas aparições no remoto ano de 1917, sete anos depois da implantação da República, é tudo mentira e crime, orquestrado pelo clero de Ourém e não só. Com uma substantiva diferença. Eu digo-o, sem que a voz e a mão me tre­mam. E ele, pelo contrário, simula, qu­an­do não diz, até, o contrário. Nega a verdade conhecida por tal, o que, na catequese por onde ele foi catequizado em criança-adolescente, perfaz um pe­cado contra o Espírito Santo! As popu­lações, sedentas de folclore, de mara­vi­lhoso, de espectáculo e de ópio para as suas dores, hoje mais do que mui­tas, correrão ao encontro dele. Infeliz­mente, as populações sempre ovacio­nam os seus opressores /tiranos, quan­do estes se vestem de “pastores” e de “representantes de Deus na terra”, e desprezam /matam os profetas. Desco­nhe­cem que só mesmo o Deus-Ídolo é que tem representantes na terra, pre­cisamente, nos homens do Poder, e quanto mais absoluto melhor. E o papa – quem o não sabe? – é actualmente o último monarca absoluto da Europa. E do Mundo. Espantam-se que eu diga estas coisas, como presbítero da Igreja do Porto? Não se espantem. Pensem só que o chamado “Ministério ou Servi­ço de Pedro”, na Igreja de Jesus, não é Poder, muito menos Poder monárqui­co absoluto. Este é Tirania! E aos tira­nos, há que os apear do trono quanto antes. Tomem estas minhas palavras como uma ajuda nesse sentido e, por­tanto, como uma manifestação de amor fraterno da minha parte. Porque a minha alegria, neste particular, é que este Tirano de turno seja derrubado e, em seu lugar, se erga o Ser Humano de carne e osso, Ratzinger, de seu nome, meu /nosso irmão.


 

Pós-Copenhaga

Por L. BOFF

Teólogo

 

Em 1930, Sigmund Freud escreveu seu famoso livro O mal-estar na cultura e já na primeira linha denunciava: “no lu­gar dos valores da vida preferiu-se o poder, o sucesso e a riqueza, busca­dos por si mesmos”. Hoje tais factores ganharam tal magnitude, que o mal-es­tar se transformou em miséria na cul­tura. A COP-15 em Copenhaga trou­xe a mais cabal demonstração: para salvar o sistema do lucro e dos interesses eco­nó­micos nacionais não se teme pôr em risco o futuro da vida e do equilí­brio do planeta, já sob o aquecimento que, se não for rapidamente enfrenta­do, poderá dizimar milhões de pessoas e liquidar grande parte da biodiversi­dade.

A miséria na cultura, melhor, misé­ria da cultura se revela por dois sinto­mas verificáveis mundo afora: pela ge­ne­ra­lizada decepção na sociedade e por uma profunda depressão nas pes­so­as. Elas têm razão de ser. São conse­quência da crise de fé pela qual está passando o sistema mundial. De que fé se trata? A fé no progresso ilimitado, na onipotência da tecno-ciência, no sistema económico-financeiro com seu mercado como eixos estruturadores da sociedade. A fé nesses deuses possuía seus credos, seus sumos-sacerdotes, seus profetas, um exército de acólitos e uma massa inimaginável de fiéis.

Hoje, os fiéis entraram em profunda decepção porque tais deuses se reve­la­ram falsos. Agora estão agonizando ou simplesmente morreram. Os G-20 em vão procuram ressuscitar seus cadáve­res. Os professantes desta religião de fetiche, agora constatam: o progresso ilimitado devastou perigosamente a na­tureza e é a principal causa do aqueci­mento global; a tecnociência que, por um lado, tantos benefícios, trouxe, criou uma máquina de morte que só no sé­cu­lo XX matou 200 mi­lhões de pessoas e hoje é ca­paz de erradicar toda a es­pé­cie huma­na; o sistema-económico-financeiro e o mercado foram à falência e se não fosse o dinheiro dos contribuintes, via Estado, teriam provocado uma catástro­fe social. A decepção está estampada nos rostos perplexos dos lideres polí­ti­cos, por não saberem mais em quem crer e que novos deuses entronizar. Vi­gora uma espécie de nihilismo doce.

Já Max Weber e Friedrich Niets­zche haviam previsto tais efeitos ao anunciarem a secularização e a morte de Deus. Não que Deus tenha morrido, pois um Deus que morre não é “Deus”. Nietszche é claro: Deus não morreu, nós o matamos. Quer dizer, Deus para a sociedade secularizada não conta mais para a vida nem para coesão so­cial. Em seu lugar, entrou um panteão de deuses, referidos acima. Como são ídolos, um dia, vão mostrar o que produ­zem: decepção e morte.

A solução não reside simplesmente na volta a Deus ou à religião. Mas em res­gatar o que eles significam: a cone­xão com o todo; a percepção de que o centro deve ser ocupado pela vida e não pelo lucro e a afirmação de valores compartidos que podem conferir coesão à sociedade.

A decepção vem acolitada pela de­pres­são. Esta é um fruto tardio da revo­lução dos jovens dos anos 60 do século XX. Ai se tratava de impugnar uma soci­edade de repressão, especialmente se­xual e cheia de máscaras sociais. Impu­nha-se uma liberalização generalizada. Experimentou-se de tudo. O lema era: “viver sem tempos mortos; gozar a vida sem entraves”. Isso levou à supressão de qualquer intervalo entre o desejo e sua realização. Tudo tinha que ser na hora e rápido.

Disso resultou a quebra de todos os tabus, a perda da justa-medida e a completa permissividade. Surgiu uma nova opressão: o ter que ser moderno, rebelde, sexy e o ter que desnudar-se por dentro e por fora. O maior castigo é o envelhecimento. Projectou-se a saú­de total, padrões de beleza magra até a anorexia. Baniu-se a morte, feita espantalho.

Tal projecto, pós-moderno, também fracassou, pois não se pode fazer qual­quer coisa com a vida. Ela possui uma sacralidade intrínseca e limites. Uma vez rompidos, instaura-se a depressão. Decepção e frustração são receitas para a violência sem objecto, para o con­sumo elevado de ansiolíticos e até para o suicídio, como vem ocorrendo em muitos países.

Para onde vamos? Ninguém sabe. Somente sabemos que temos que mu­dar, se quisermos continuar. Preci­sa-se fazer o certo: o casamento com a­mor, o sexo com afecto, o cuidado com a natureza, a busca do “bem viver”, base para a felicidade.



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