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DESTAQUE 1
A mentira de s.tiago-de-compostela
Mas ai de quem tentar abrir os olhos da mente
às multidões de oprimidos e de humilhados, de luxo que sejam!
Antes de existir S. Tiago de Compostela, todos os caminhos iam dar a Roma, a de César Augusto e a do Papa-monarca cada vez mais absoluto, e a Jerusalém. Mas pelo início do século nono, Roma já não era mais o que era. E Jerusalém havia sido tomada /conquistada /ocupada pelos Muçulmanos! Era, pois, imperioso inventar um outro local de peregrinação que tenha na sua origem uma crassa Mentira muito piedosa e muito beata. Quanto mais piedosa e beata, melhor, porque depressa será interpretada pelas multidões mais oprimidas e humilhadas como uma hierofania ou manifestação do sagrado /divino, só ao alcance da visão de uma eleita, um eleito, de preferência, um pastor de rebanhos, ou um eremita; outrora, do género masculino; actualmente, do género feminino, ou dos dois géneros, ao mesmo tempo. Como se diz ter ocorrido por cá, em Maio de 1917, em Iria, já não a Iria da velha Mentira de são-tiago, mas a Iria da Mentira da senhora-de-fátima.
Não estranhem que isto aqui se escreva, logo de entrada. Porque quanto mais sagrado /divino, mais Inumano e provocador-causador de Inumano. Nas múltiplas tradições religiosas, sagrado /divino e Inumano são praticamente sinónimos. As multidões mais oprimidas e humilhadas sempre concebem o sagrado /divino à sua imagem e semelhança. E ninguém as convide a saírem quanto antes e definitivamente da sua condição de Opressão e de Humilhação humanas, para, de uma vez por todas, se assumirem na História como seres humanos em estado de Liberdade e de Maioridade.
Não só não acatam semelhante convite, como ainda ficam furiosas com o mensageiro de tal convite. Ao ponto de se atirarem em bloco ao mensageiro e darem, logo ali, cabo dele à pedrada, ou à dentada, ou atirá-lo às feras, para que estas o devorem, enquanto elas ficam das escadarias do circo improvisado, a ver o sádico espectáculo.
Outro modo de reagir, porventura, menos sujo para as assassinas mãos de quem o faz, consiste em queimar o mensageiro numa fogueira pública, com as multidões em redor a rebentarem de satisfação, numa espécie de animalesco orgasmo colectivo. Tal e qual como ainda hoje acontece, quando, inopinadamente, surge um “golaço” a 30-40 metros da baliza, num jogo de futebol, o dos milhões, metido com a violência de um estupro, na baliza da equipa adversária, por parte de um jogador-mercenário ao serviço do clube dito do coração (!!!), ou por parte de um jogador-mercenário ao serviço da selecção de um qualquer país que estoicamente (!!!) se bate por conseguir e lá acaba por conseguir entrar no Mundial do dito dos Milhões.
O que havia antes de haver s. tiago-de-compostela?
Porém, o que havia, antes de existir a imponente e medonha catedral dita de são-tiago-de-compostela? Ou acham que ela esteve sempre lá, desde o início da Humanidade, senão mesmo desde o início do planeta Terra? Pois bem, o que hoje é são Tiago de Compostela, antes, foi, durante os primeiros 5 séculos desta nossa era comum, do I ao V, um povoado romano, onde se levantava a mansão romana de Aseconia.
Desapareceu e, em seu lugar, ficou uma necrópole, à letra, uma cidade de cadáveres humanos sepultados, espaço de morte e, por isso, sagrado /divino, já que os mortos, quando o são, quase sempre, pelo menos entre as subculturas animistas, “viram” deuses familiares e de tribo, no assustado modo de sentir e de ver das multidões mais oprimidas e humilhadas. Daí, o culto que elas invariavelmente lhes dedicam. Como escravas deles, que se sentem, sem a mais pequena possibilidade de alguma vez se rebelarem contra tal Fatalidade /Indignidade.
Os actuais cemitérios do nosso animismo ilustrado Século XXI aí estão, como outros tantos locais de culto doméstico e tribal, feito de vaidade e, até, de ostentação. E não falta, até, quem viva quase exclusivamente para cuidar dos mortos, seja dos seus familiares mais próximos, seja dos seus animais de estimação!!! Gostos. Melhor, maus gostos! Para lá de manifesta subcultura!
A necrópole durou, praticamente, até chegar o momento da grande Mentira de são-tiago que veio a dar o actual são-tiago-de-compostela, na Galiza.
Entre 820-830, mais coisa menos coisa, surge a Mentira, com os ingredientes da praxe em casos semelhantes: uma hieofania, como doentiamente sempre “exigem” as multidões mais oprimidas e humilhadas, para de imediato passarem a adoptar a notícia como digna de crença (Fé, ao contrário de crença, é Lucidez que faz lúcidos /críticos, sujeitos /protagonistas os seres humanos, enquanto a crença os faz tolhidos, semelhantes a vermes rastejantes!), ao ponto de, poucas horas ou dias depois, elas passarem a correr para o referido local. Nem que, para lá chegarem, tenham de deixar pedaços de carne e de sangue, os seus, pelos difíceis e inacessíveis, ou mesmo inexistentes, caminhos de acesso. Para que a hierofania possa ser tomada a sério, tem de ocorrer de preferência em locais de difíceis e arriscadíssimos acessos. O que houver de pior!
Reza a Mentira de são-tiago-de-compostela que, por esses anos, início do século nono, um pastor ou um eremita viu uma estrela a rasgar os céus (como se, alguma vez, as estrelas andassem por aí em loucas ou mansas correrias por cima das nossas cabeças!). Seguiu-a com o olhar, sem ela nunca o cegar, para descobrir qual o local que ela ia indicar, já que as estrelas não comunicam por palavras. É pena, porque assim, sempre podíamos estabelecer conversa e esclarecer tudo tintim por tintim.
Viu o pastor ou o eremita, mais eremita que pastor de rebanhos (e já iremos saber o fundamento desta ordem de nomear, eremita, ou pastor de rebanhos) que a estrela apontava para um túmulo, naquele chão que havia sido necrópole. Deu-se por informado e nem sequer se deu à curiosidade de ir ver por ele o que haveria de especial nesse túmulo, para vir uma estrela guiá-lo até ele.
Foi logo a correr dar a notícia ao Bispo da Diocese de Iria Flavia, Teodomiro, de seu nome de baptismo em água, já que é clérigo católico romano, grande senhor das terras, grande parte das quais ainda despovoadas e sem braços que as trabalhem para ele, que é o dono-gestor delas, bem como dos cultos religiosos pagano-católicos espalhados pelo território e obrigatoriamente frequentados por multidões de oprimidos e de humilhados, servos da gleba, desgraçados sem eira nem beira.
“Campo da estrela”, como reza a Mentira, dá, obviamente, Campostela, hoje, Compostela. O Bispo Teodomiro, grande senhor das terras, correu sem mais delongas ao local, sob a sua jurisdição eclesiástica, mandou escavar e – diz o relato da Mentira Institucional – deram logo com os restos de três cadáveres, entre tantos que por ali haveria, já que aquele chão fora uma necrópole.
Ao Bispo Teodomiro só interessava que os cadáveres fossem restos de alguém da sua Igreja e do seu Cristianismo católico romano. Nada de cadáveres de outros humanos, romanos pagãos, por exemplo, que andaram por ali, durante cerca de cinco séculos. Ou mesmo de outros povos que morreram sem nunca terem sido molhados, ao nascer nem depois pelo resto da vida, com a água do baptismo católico romano. Aqueles restos imaginários só podiam ser: um, do apóstolo Tiago, decapitado por Herodes, por volta do ano 40, século I, em Jerusalém; e os outros dois, tinham de ser forçosamente de dois discípulos desse apóstolo. A estrela que veio por aí abaixo alertar um eremita ou pastor de rebanhos não o faria por menos. Nunca se teria dado a esse incómodo de sair da sua órbita, se os três cadáveres não fossem, respectivamente, como exigia o bispo Teodomiro, o do apóstolo Tiago e de dois dos seus discípulos.
Como vieram ali parar
Porém, difícil, muito difícil, seria depois explicar como é que o cadáver do apóstolo Tiago, decapitado por Herodes pelo ano 40, em Jerusalém, viera parar àquele chão que, nesse preciso ano 40 e nos muitos anos seguintes, era dos romanos, cujos exércitos ocupavam também Jerusalém. E que, agora, à altura do “achado”, era chão propriedade da Diocese do Bispo Teodomiro, grande senhor das terras.
Mas só no universo da Verdade é que as coisas são difíceis de explicar e de provar. Não assim, no universo da Mentira /Idolatria. No universo da Mentira /Idolatria, o que é imperioso é que o relato tenha contornos de maravilhoso e de coisa impossível. As multidões mais oprimidas e humilhadas rejubilam com o maravilhoso e o impossível. Dizem logo: Este local só pode ser sagrado /divino. E, para preservarem semelhante Mentira da fecunda influência da Verdade que as faria livres a elas, se elas a acolhessem, as multidões são até capazes de arriscar e chegar a perder a própria vida. Elas acham, na sua Opressão e Humilhação, que, quando elas perdem a própria vida na defesa da Mentira /Idolatria, “viram” logo heróis populares, santos populares, com lenda e tudo!
O mentiroso relato explica então que, depois do apóstolo Tiago ter sido decapitado, o seu cadáver foi recolhido por discípulos e metido numa barcaça posta a navegar sobre o mar Mediterrâneo que, como se sabe, fica muitos quilómetros distante de Jerusalém. A barcaça navegou, durante sete dias (nestas coisa da Mentira /Idolatria tem de ser sete, ou um múltiplo de sete, para que a Mentira passe a Verdade), ao fim dos quais deu à costa norte da actual Galiza. Onde foi, finalmente, sepultado. Sem ninguém ter sido sabedor, nem do cadáver do apóstolo decapitado, nem do local (E como haveria de se saber, se é tudo Invenção, Mentira?!).
Apenas oito-nove séculos depois, é que a referida estrela veio sinalizar ao eremita ou pastor de rebanhos o local do túmulo. E - espanto dos espantos! - os restos ainda lá estavam, à espera de serem encontrados, dentro de uma arca de mármore (admira, não ser de ouro!), ao fim de todos estes séculos, para serem, finalmente, postos a veneração /adoração das multidões de oprimidos e de humilhados.
Disse bem. À veneração /adoração das multidões de Oprimidos e Humilhados. Como é que estas multidões, hoje, quase a totalidade dos povos da Terra, haveriam de suportar as suas opressões e humilhações, sem este tipo de culto, de religião, de ópio?! Por favor, tenhamos coração – apelam insistentemente os seus fabricadores /verdugos, mai-los seus intelectuais de serviço – e demos-lhes overdoses sobre overdoses de cultos, de religião, de futebol dos milhões, de novelas, numa palavra, de ópio. Que para isso é que existem Sacerdotes de todos os gostos e feitios, religiosos-clérigos, uns, seculares-laicos, outros. Mas todos ocupados, dia e noite, no fabrico e no fornecimento dessas overdoses de ópio, umas de um tipo, outras de outro. Ópio, todas.
E ninguém pense em meter-se de permeio neste circuito, com a missão maiêutica de alertar as multidões de oprimidos e de humilhados. Nem sequer as multidões de oprimidos e de humilhados querem a Verdade como alimento. Elas intuem que a Verdade, se for acolhida /mastigada /digerida pela sua mente cordial, as resgatará da sua condição de Opressão e de Humilhação e fará delas sujeitos, protagonistas. E, por isso, evitam-na, a todo o custo. Porque as multidões de oprimidos e de humilhados não é a Verdade que querem. A Verdade dava-lhes muito trabalho e muitos trabalhos. À Verdade, preferem mil vezes a Mentira /Idolatria. Por isso, sempre correm para todo o tipo de Sacerdotes, clérigos ou laicos. Querem, a toda a força, cultos e mais cultos, religiosos ou laicos. Alimento /Pão feito de Verdade, nem pensar!
Como tudo chegou ao Século XXI
Tivesse ficado por aqui a Mentira, e não teria tido pés para andar, como andou até ao nosso Século XXI. Porém, ao Bispo Teodomiro, senhor daquelas terras, interessava tirar proveito desta Mentira. Por isso, depressa tratou de mandar edificar um mosteiro de monges naquele ex-necrotério (vêem porque terá sido um eremita-monge a dar pela estrela, mais do que um pastor de rebanhos?!), a fim de atrair populações e fixá-las por aquele chão, até então ainda sem lhe dar lucros.
Ao bispo católico romano, juntou-se de pronto o seu vassalo-mor, o rei Afonso das Astúrias, que, na altura, precisava, como de pão para a boca, de conseguir a coesão interna do reino, assim como o temido respeito dos de fora dele. E o que decide o rei em aflição fazer? O melhor e o mais eficaz que encontrou, foi decretar e fazer anunciar, dentro e fora do seu reino, uma peregrinação de toda a Cristandade a um novo lugar sagrado /divino, hierofánico, para se ser mais preciso nos termos, acabado de inventar /descobrir pelo bispo Teodomiro, senhor das terras e seu senhor, também.
O anúncio apanhou todos de surpresa, mas logo granjeou inúmeros adeptos, famintos que estavam, em toda a parte, de um novo local de peregrinação, para, assim, poderem continuar a auto-flagelar-se até ao Inumano. Roma, a de César Augusto e do papa, deixara, por então, de atrair, como local de peregrinação. Jerusalém estava, agora, nas mãos do Muçulmanos, que não permitiam ninguém da Cristandade meter lá pé. Só mesmo a invenção de um novo local de peregrinação que mobilizasse as multidões de oprimidos e de humilhados da Cristandade
O rei, vassalo do Bispo Teodomiro, senhor das terras e dele, manda, entretanto, construir um pequeno templo na antiga necrópole ou cidade dos cadáveres sepultados, um local praticamente desértico. E as multidões de oprimidos e de humilhados de todo o lado começam a rumar a pé em direcção ao novo local de peregrinação. Todos os caminhos, ainda por abrir, e carreiros passam, desde essa altura, a ir dar a são-tiago-de-compostela, cujo apóstolo decapitado por Herodes no ano 40, obviamente, nunca lá esteve, nem em vida, muito menos, depois de assassinado em Jerusalém! Mas que querem?
As multidões de oprimidos e de humilhados da Cristandade Ocidental e de todas as outras Cristandades, laicas que se digam, é do que gastam e do que consomem, geração após geração. Já que ir às causas da sua Opressão e da sua Humilhação custa-lhes o caraças, para além de muitas perseguições, movidas pelos senhores das terras e quejandos, hoje, particularmente, os do Grande Poder Político nuclearmente Armado e os do Grande Poder Financeiro Global.
A igrejinha do início (tal como sucedeu também com a Mentira-da-senhora-de-fátima), depressa veio a dar lugar a uma grande igreja, depois, convertida em basílica, até chegar à sinistra e esmagadora catedral que hoje lá se levanta. Para, assim, as multidões de oprimidos e de humilhados poderem continuar a ir lá de peregrinação, sobretudo, nos chamados anos compostelanos (aqueles em que o dia 25 de Julho, o de são-tiago, no calendário católico romano, cai ao domingo!), oriundos dos mais remotos recantos da Europa e do mundo, onde sobrevivem.
Hoje, as multidões de minorias endinheiradas, peregrinam em boas condições e sem qualquer esforço-sacrifício pessoal. Já as multidões de oprimidos e de humilhados, roubadas de tudo, peregrinam de rastos, ou a pé, ou de bicicleta de pedal, com noites ao relento, como vermes. O que lhes importa, a todas, é chegar lá, à beira daquele monstro sagrado /divino, que devora a Dignidade de quem lá entra e, para cúmulo, depois, ainda confessa, com aquela satisfação que o ópio sempre dá a quem o toma em doses reguladas, que se sente lá bem.
Tanta Mentira junta /tanto Ópio junto, só pode encher de satisfação as multidões de oprimidos e de humilhados, endinheiradas que elas sejam, porque, neste último caso, o são apenas para seu proveito e opressão dos demais, não para proveito de todos os seres humanos, como manda a Verdade, mãe da Liberdade e da Maioridade. Mas à Verdade, quem a acolhe /come /mastiga /digere /pratica?
A notoriedade, depois de pesado revês
Em finais do Século XV, a Mentira de são-tiago-de-compostela sofre um pesado revês. A peste negra que atingiu a Europa (nem o santo lhe valeu! E como haveria de valer, se este tipo de hierofanias só se alimenta de Dores e de Sofrimentos sem conta, pelo que uma peste como a negra que dizimou milhares e milhares de pessoas, é o cúmulo do culto desencadeado pela Mentira!), fez diminuir drasticamente o número de peregrinos. Não havia gente!
A juntar à peste negra, houve ainda o risco do túmulo ser roubado ou destruído pelo pirata Francis Drake (como vêem, o são-tiago só dá trabalho, nem de si próprio cuida, como há-de cuidar e defender as multidões de oprimidos e de humilhados que lá vão por socorro?!). De modo que o arcebispo s. Clemente, por então o novo dono do lugar, decidiu esconder a arca com os restos (!!!).
Escondeu-a tão bem, que nunca mais ninguém soube dela. Tão pouco, veio outra estrela indicar onde ela havia sido escondida. Só cerca de 300 anos depois – 1879 – trabalhadores dumas obras, dentro da catedral, deram com ela, por mero acaso. Os gestores da catedral anunciam então o achado ao mundo. Mas nem assim as multidões de oprimidos e de humilhados regressaram em força aos caminhos das peregrinações que levavam à catedral de s. Tiago de Compostela.
A notoriedade da Grande Mentira que é hoje são-tiago-de-compostela só atingiu o seu zénite, quando, já em finais do Século XX (1982), o sucessor do antigo César de Roma, o papa-chefe de estado João Paulo II, e chefe dos distribuidores /vendedores de uma das muitas variedades de overdoses de ópio, a religiosa católica romana, decidiu fazer-se, ele próprio, também peregrino (de luxo, já se vê, ou ele não fosse o chefe de estado do Vaticano e da Cristandade católica romana).
Foi, não a pé, mas pelos ares, como outrora a estrela. E aterrou em s. Tiago de Compostela, hoje a capital da Galiza, e, deste modo consagrou, definitivamente, como Verdade, a Mentira das Mentiras que é tudo Aquilo (assim mesmo, um pronome Maiúsculo, em vez da Coisa, já que não há Ninguém envolvido no caso, a não serem os próprios fabricadores de toda esta Mentira /Idolatria e todas as suas inúmeras Vítimas!). E não é que, até, o seu imediato sucessor, Bento XVI, não lhe quer ficar atrás em nada, no que respeita à descarada Idolatria religiosa, que é todo o culto da Mentira de aparições e quejandos, e já anunciou ao mundo que, em Novembro próximo, deste ano 2010, também vestirá a roupa de peregrino, de luxo, já se vê, rumo à catedral da Mentira /Idolatria são-tiago-de-compostela!? Assim irá ser.
A romaria das multidões de oprimidos e de humilhados continuará, por isso, a brilhar cada vez mais, como Treva ilustrada que é, até porque, actualmente, as televisões todas da Europa e de outras partes do Mundo, estão aí, precisamente, para difundirem tudo ao pormenor mais caricato. Uma romaria, com a bênção, o patrocínio e a condução /gestão da Cúria Romana da Igreja católica. Uma operação religioso-pagã idolátrica que nos envergonha /humilha a todos nós, os seres humanos e os povos do Planeta. E ao próprio Planeta, que deveria ser a nossa casa comum e, assim, é, cada vez mais, a nossa necrópole comum! |
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VP e S. Tiago
"S. Tiago, um Patriarca do Noroeste Peninsular". A frase faz o título maior e quase único da primeira página de VP-Voz Portucalense, edição de 21 de Julho de 2010. O título é suportado por um texto completo e uma foto, em grande, de uma imagem de "S. Tiago", posta, certamente, à veneração /adoração das populações, na igreja de Ferreira (em vez disso, deveria, quando muito, figurar num museu, dito de "arte sacra!).
O Semanário VP é o órgão oficioso (ou oficial?) da Igreja do Porto. Tem, por isso, responsabilidades acrescidas, no que respeita aos conteúdos, nomeadamente, os conteúdos que "mexam" com a formulação /explicitação da Fé, a mesma de Jesus. Da qual, de resto, nunca se chega a falar, nas sucessivas edições do Semanário. Fala-se exclusivamente de "Fé cristã" /religiosa, sem nunca advertir, quem a usa, que "Fé cristã" /religiosa pode não ter nada a ver com Jesus, o camponês-carpinteiro de Nazaré, o filho de Maria e irmão de Tiago e José, de Judas e Simão (cf. Marcos, 6, 3).
Acontece que o Texto (não assinado, por isso, ainda com mais cobertura Editorial do Semanário), que dá suporte ao título, procura, logo no segundo parágrafo, informar as leitoras, os leitores sobre quem é S. Tiago. E é aqui que as coisas não batem certo. No mais do Texto, também não, pelo menos, no âmbito da Teologia de Jesus. Ainda que já bata certo, no âmbito da Teologia idolátrica do mítico Cristo e da Fé pagano-religiosa do Cristianismo que a Igreja católica romana, ou Cristandade, cultiva e difunde, através das chamadas Missões. Sem nunca se chegar a dar conta de que entre o mítico Cristo e Jesus, o camponês-carpinteiro, o filho de Maria, há um abismo intransponível. Mas, neste particular, nem a VP, nem quem a dirige têm culpa, porque o Institucional Eclesiástico Católico Romano é por essas míticas águas que oficialmente navega, e obriga os seus membros institucionais a navegar. Sem nunca, mas mesmo nunca, querer nada com Jesus, o filho de Maria, a não ser do seu nome. E, mesmo o nome Jesus, quase sempre acoplado ao mítico Cristo, na mítica designação, Jesus-Cristo.
O Autor do destacado Texto parece desconhecer que o II volume do Evangelho de Lucas (sistematicamente, chamado "Actos dos Apóstolos" e até apresentado na Bíblia como livro autónomo, depois dos quatro Evangelhos, o que não é de todo inocente!...) faz referência, nos primeiros dos 28 capítulos, a dois "Tiago". Há o Tiago, ex-grupo dos Doze, autodissolvido na altura da prisão e Morte Crucificada de Jesus; e há o Tiago, irmão de Jesus (não, não é "Tiago, filho de Alfeu", como pretendem fazer crer certos biblistas demasiado eclesiásticos!),que nunca foi discípulo de Jesus, nem sequer dos Doze. Pelo contrário, foi sempre o opositor-mor de Jesus. Chegou, até, ao cúmulo de, juntamente com outros familiares de sangue de Jesus, mãe incluída, tentar "ter mão nele", porque o tinham por "louco" (cf. Marcos 3, 21: "E quando os seus familiares ouviram isto, saíram a ter mão nele, pois diziam: «Está fora de si» [= está louco]").
Ora, pouco tempo depois da Morte Crucificada de Jesus, é este mesmo Tiago anti-Jesus que, inopinadamente, aparece, em força, com os familiares, mãe incluída, na "sala de cima", em confronto com Pedro (o chefe dos ex-Doze que havia negado Jesus, por três vezes, isto é, totalmente). Acaba por conseguir fazer-se entronizar como chefe-mor da Igreja de Jerusalém, sedeada no respectivo Templo, esse mesmo Templo que Jesus havia simbolicamente destruído e, por causa do que, nessa mesma semana, foi assassinado na Cruz do Império! Por decisão dos sumos-sacerdotes, os chefes do Templo!!!
Tiago, ex-Doze, foi mandado decapitar pelo rei Herodes, nos inícios dos anos 40. E o II volume do Evangelho de Lucas não regista qualquer protesto, por parte de Tiago, irmão de Jesus. Nem, tão pouco, por parte de Pedro. Ainda que a este, o mesmo Herodes, depois de ter mandado matar Tiago, mande também prender Pedro. O que significa que o Judeu Tiago, anti-Jesus, chefe da Igreja de Jerusalém, não terá feito qualquer protesto, nem pela morte de um, nem pela prisão do outro, pelo contrário, terá, até, discretamente aprovado semelhantes decisões do Poder Judeu. Embora, o II volume do Evangelho de Lucas não leve tão longe a sua denúncia. Mas também não diz, explicitamente, que o Judeu Tiago, chefe da Igreja de Jerusalém, condenou tal crime. E, só por isso, lá pôde prosseguir, sem problemas, à frente da Igreja de Jerusalém, até inícios dos anos 60, quando foi assassinado, provavelmente, num linchamento popular.
Pois bem, o Autor do Texto de primeira página de VP, praticamente converte os dois "Tiago" num só. E quase tudo o que escreve sobre Tiago, é do Tiago, chefe da Igreja de Jerusalém. Mas o Autor do Texto, ao escrever, está sempre a pensar que é Tiago, ex-Doze, que o rei Herodes mandou decapitar nos inícios dos anos 40! Chega, até, a dizê-lo expressamente: "foi mandado decapitar pelo tetrarca Herodes, com o que [Herodes] terá agradado aos chefes judaicos, facto que o levou também a prender Pedro (Act. 12)". Porque o Autor sabe que é este Tiago, ex-Doze, que está na origem da Mentira /Idolatria de "são-tiago-de-compostela". E não o outro. Desse, o rei Herodes gostava muito. Ambos eram chefes, ambos eram Judeus, ambos eram anti-Jesus e anti-Movimento das, dos de Jesus que, em Jerusalém, formavam uma Comunidade Clandestina que reunia, não no Templo, mas na casa de Maria, a mãe de João Marcos, a cuja porta, Pedro, depois de, finalmente, se libertar da prisão-da-Lei-de-Moisés-e-do-Judaísmo, irá bater. Enquanto no Templo, Tiago, o irmão opositor de Jesus e fanático da Lei de Moisés, prosseguia no seu Judaísmo-com-mítico-Messias, ou "Cristo" vitorioso. Só que nem sequer é a este Tiago que se refere o título do Texto, "Patriarca do Noroeste Peninsular". Semelhante título é escrito, a pensar no Tiago, ex-Doze. por sinal, um título com tudo de mítico, diga-se!
O mais grave, porém, é que, na edição seguinte, não aparece nenhuma rectificação, por iniciativa Editorial, nem sequer numa página interior. Há apenas, na "Tribuna do Leitor", a "emenda" de um, comentada pelo Director, mas que, tudo somado, resulta ainda pior do que o soneto!... |
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Paulo Coelho e S. Tiago
O que tem a ver o conhecido autor de livros carregados de esoterismo e de espiritualismo comercial, um misto de delírios e de negócios, de fantasias e de coisa nenhuma, Paulo Coelho, de seu nome, brasileiro de nascimento e de residência, com S. Tiago de Compostela, o da Mentira /Idolatria, pura invenção do bispo Teodomiro e do rei Afonso das Astúrias? Nada e muito. Nada, porque zero é a sua contribuição pessoal para o desmascaramento da Mentira /Idolatria. E muito. Porque, então, não é que até ele, autor de livros, de renome dentro do universo do espiritualismo-ópio, também se fez aqui há tempos, "peregrino" pelos "caminhos-de-são-tiago", recolheu umas notas de viagem e, com elas, escreveu mais um dos seus fantasiosos livros, a promover o que deveria denunciar? O renascimento, hoje em crescendo, da "peregrinação a são-tiago-de-compostela" também fica a dever-se a esse seu livro. Depois da decisiva contribuição institucional do beato papa João Paulo II, Paulo Coelho será um dos que mais contribuiu para a implantação da Mentira /Idolatria, pelo menos, junto de um certo tipo de gente-bem, muito chique, que gosta de se entreter com Futilidades e se alimenta de Futilidades, porque fúteis são também os seus viveres, sangue-sugas dos pobres, bem piores que os parasitas. Não o fez por ingenuidade, mas por sagacidade, a mesma do lobo e da raposa, neste caso, lobo e raposa humanos, sempre à espreita da melhor oportunidade para "apanhar" a sua presa e, assim, garantir a manutenção dos seus privilégios. Para cúmulo, a toda esta gente-bem, vai juntar-se o papa Bento XVI. Porque as finanças do Vaticano assim lho exigem. E ele, se quer manter toda aquela ostentação, tem de se fazer "peregrino" de "são-tiago-de-compostela". Que Obsceno!!! |
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DESTAQUE 2
O que falta dizer sobre Saramago
Plagiou o camponês-escritor, João Domingos Serra, de Lavre,
e, depois, deixou-o viver-morrer na miséria e no esquecimento!
- Emocionado testemunho de uma prima-neta da vítima que Jornal Fraternizar
aqui divulga. Para que conste. E haja, pelo menos, pudor, quando falamos dos Nobel
"Saramago, ou João Domingos Serra?" A pergunta é da neta de um primo deste último. Fá-la, quando, após a morte do Escritor, em 18 de Junho 2010, se vê obrigada a ter de ouvir, dias seguidos, elogios sobre elogios ao Nobel da Literatura 1998, e nenhuma referência a João Domingos Serra, nem ao seu Diário manuscrito, que Saramago, depois de ter sido afastado do DN, onde foi o Director-adjunto editorialista, durante o chamado período revolucionário, recebeu, de graça, das mãos do próprio, em Lavre, teve-o com ele, meses e meses, dactilografou-o, palavra por palavra, para poder ficar com ele e, depois, lá acabou, finalmente, por tecer o seu Levantado do Chão. Sem, em momento algum, informar as leitoras, os leitores, nem, ao menos, no texto que assina na contracapa! De modo que, quem leu as sucessivas edições e traduções, em várias línguas, de Levantado do Chão, desconheceu, sempre, que estava a ler o miolo, e, até, o estilo literário, do Diário escrito com o suor e o sangue de João Domingos Serra, um camponês assalariado /explorado do Alentejo, Crucificado pelo Latifúndio e pelos latifundiários! Só, este ano de 2010, em Maio, dois meses antes da morte, e, provavelmente, num rebate final da sua própria consciência, é que a "sua" Fundação edita em livro esse monumental Diário, com um título de todo anódino, incolor, Uma Família do Alentejo! No Prefácio que assina nessa edição, Saramago revela, enfim, ao mundo, o plágio, sem o confessar como tal. E também sem ressarcir os filhos de João Domingos Serra, já falecido, no remoto ano de 1982, em 19 de Agosto, de uma substantiva parte dos direitos de Autor, a que o Pai deles tinha direito, como co-Autor. Quando, em boa verdade, o miolo e até o estilo de Levantado do Chão é do Escritor Maior, Camponês assalariado do Alentejo, João Domingos Serra.
Jornal Fraternizar divulga, aqui, em primeira mão, as emocionadas palavras /lágrimas?! que o seu Director, recebeu, por e-mail, da familiar de João Domingos Serra. E toda a sequência de e-mails que o primeiro deles desencadeou. A familiar em causa faz questão de dar o nome, a própria vida, se necessário, para Levantar do Chão do Esquecimento João Domingos Serra. E os seus Filhos! Eis.
1.º E-mail
Hoje (19 Junho 2010), muitos lembram José Saramago. Eu prefiro lembrar João Serra. E, assim, também, José Saramago, naquilo que é, para mim, revelador, também, da sua personalidade.
João Serra, que foi primo direito do meu avô, é um homem da Vila de Lavre, onde sempre viveu em condições de bastante pobreza.
João Serra, ainda mais do que qualquer outra pessoa de Lavre, recebeu José Saramago em sua casa, oferecendo-lhe o que tinha, oferecendo-lhe histórias de vida, contos (que o escritor gravava)... e Amizade. Para além destas coisas, João Serra emprestou a Saramago o seu Diário, que o escritor levou consigo para Lisboa e o enviou, mais tarde [pelo correio], quando já tinha acabado de escrever “Levantado do chão” (motivo pelo qual [anteriormente] se deslocou a Lavre - recolher dados… inspiração..). Neste Diário, João Serra relata, à sua maneira, a sua vida, as suas histórias. As histórias verdadeiras e duras de vida de fome, de doença, de doenças e mortes na família, da sua prisão [por duas vezes, no Aljube e em Caxias], por distribuir o “Avante” dos “comunistas”, com os quais se identificava pelas coisas que diziam a favor dos pobres... e onde escreveu também o seu dia a dia, histórias/dizeres contadas e re-contadas, histórias das suas intervenções culturais na terra, na Casa do Povo, com o Rancho folclórico, com a Banda de Lavre, com Teatro, etc. (apesar das dificuldades da vida, João Serra animava, fazia Crescer os Outros, na terra, a troco de Nada, claro!)
Pois este Diário que li, eu e mais alguns familiares, deveria, esse, sim, muito mais que “Levantado do chão”, ser publicado um dia. João Serra continuou, claro, este seu Diário, depois de o ter recebido de volta, pelo correio, de Saramago. E continuou contando a sua vida através dele. João Serra continuou a relatar, aí, a sua pobreza extrema, a doença que levou sua mulher, por falta de dinheiro para pagar tratamentos, entre outras coisas, más e boas. E refere-se a Saramago com a tristeza de o ter julgado um amigo “um camarada”. Sem o acusar, fala da tristeza que sentiu por o dito “camarada” nunca mais ter dito nada, nunca mais ter aparecido em sua casa, sequer para saber como passavam todos. Enquanto Saramago vendia “Levantado do chão”, baseado essencialmente na sua vida e nas suas histórias, ele, João Serra e a sua família, continuavam na miséria e acima de tudo, diz este meu primo, sem uma carta, uma visita, uma demonstração de Amizade, lembrança, recordação de alguém, que o havia recebido em sua casa e confiou nele sem limites.
Numa primeira edição de “Levantado do chão”, Saramago dedica: ”À Isabel, sempre. A João Domingos Serra e João Basuga, e também a Mariana Amália Basuga, Elvira Basuga, Herculano António Redondo, António Joaquim Cabecinha, Maria João Mogarro, João Machado, Manuel Joaquim Pereira Abelha, Joaquim Augusto Badalinho, Silvestre António Catarro, José Francisco Curraleira, Maria Saraiva, António Vinagre, Bernardino Barbas Pires, Ernesto, Pinto Ângelo - sem eles não teria escrito este livro.
À memória de Germano Vidigal e José Adelino dos Santos, assassinados.”
Que bonito, são as dedicações num livro de um escritor conhecido!
Será que todas estas pessoas “sem as quais não teria escrito este livro” ficam vivas, assim? Ou serão, antes, assassinadas, de novo? Quem acabou sendo o centro das atenções, com este livro sobre “Monte Lavre”? José Saramago, ou as pessoas que re-inventou em personagens (de forma bastante grosseira e simplória, diga-se)?
José Saramago foi o centro das atenções (como qualquer narcísico da laia dele) e inchou em estatuto, poder e dinheiro, à custa das pessoas que hipocritamente refere como vítimas. E fala das vítimas deste mundo (como muitos por aí), apenas para fazer inchar o seu ego: alimenta-se das vítimas (sem elas não era “ninguém”, nem teria ganho milhões). Nas recentes edições já nem existem as dedicatórias...
José Saramago fala. José Saramago escreve. Mas existem Pessoas que Vivem, e sobrevivem, e que Fazem (sem nunca quererem enriquecer em dinheiro) e que Fazem também pelo Crescer dos outros, animando-os, incentivando-os. Que Vivem e Fazem conforme aquilo que dizem, escrevem, defendem. E não recebem Nada em troca, para sobreviver minimamente, como qualquer pessoa deveria ter direito. Ao contrário de Saramago que aceitou, sempre, receber dinheiro, muito para além do que muitos seres humanos juntos precisam para sobreviver.
Mas, ao menos, Aqueles que Agem, segundo os princípios que Saramago “defende”, Recebem, por vezes, Amizade, companheirismo de outros companheiros seus (não de hipócritas como Saramago).
Já era hora de João Serra e outras e outros como ele serem, realmente, lembrados, eternizados em documentos, livros... e, assim, ganharem novos companheiros, ganharmos todas e todos [em Humano], animarmo-nos todas e todos com as suas experiências.
Quem conhece João Serra? E outros(as) como ele? E Quem se Anima, Incentiva com ele e a sua forma de vida de luta e de fazer os outros Crescerem? Ninguém... (e através da obra de Saramago, ninguém...). E quem conhece José Saramago e se “anima” e “incentiva” com ele e a sua forma de vida da retórica e da farisaica “defesa dos oprimidos” e do enriquecer? Milhões!
Claro! é o mundo estéril em que vivemos, cheio de “pessoas” estéreis, manipuladoras (disfarçadas), que se alimentam de pessoas para incharem em estatuto, poder, dinheiro - fábricas de criação de outras “coisas”, à imagem deles. Fábricas feitas por outras fábricas, ainda maiores, de dinheiro, muito dinheiro, todo ele para uns poucos “seres-mortos-vivos”...
Vivam João Serra e os Homens e Mulheres como ele! Por mais que morram fisicamente não morrem nunca! ... se nós quisermos... E Haja [mais] Pessoas e menos “artistas”!...
Resposta do Director JF
Olá, Inês Ramos
Gostei muito desta Crónica Maior. Por favor, quem a escreve? A Inês? Ou a Inês recebeu-a e reencaminhou? Diga-me, por favor. Se souber, é claro. Ah! E como ter acesso ao Diário de João Serra? Não se consegue uma fotocópia?! Ainda ninguém o digitalizou?!
A minha gratidão antecipada.
2.º E-mail
Olá, Bom dia, Padre Mário!
Fui eu que escrevi este texto. João Serra era primo do meu avô Florindo Lopes. Eu nunca conheci pessoalmente este primo-avô, infelizmente. Mas li, há uns anos, já, este Diário que foi dado, em fotocópia, à minha avó Belmira. E tenho ouvido o que a minha mãe tem dito acerca de João Serra e das suas (antigas) actividades na terra.
Todos, lá em casa, o lemos.
Aqui, há uns tempos, os meus pais quiseram digitalizá-lo e fazer uma edição. Para isso a minha mãe falou com uma prima, filha de João Serra, Dinora, que ainda vive lá em Lavre.
Esta prima achou bem, mas embora tenha brincado com a minha mãe, enquanto criança, já não a conhece bem e ainda menos o resto da família... A prima disse que ela e os outros filhos de João Serra nem podiam ouvir falar no Saramago e, em geral, desconfiam de toda a gente. E, ainda por cima, quase todas as pessoas, na Vila, compraram (orgulhosamente) “Levantado do chão” (mesmo que não o leiam) e ficam todas contentes cada vez que se fala em Lavre, na TV, por causa dele. À família, ainda pobre (pelo menos os que vivem em Lavre), de João Serra, praticamente ninguém liga. Há uns tempos, foi feita em Lavre uma mediateca com o nome de Saramago. O mesmo aconteceu numa terra ali próxima, Cortiçadas do Lavre, onde fizeram um “Centro Cultural José Saramago”
que, penso, poucos frequentam... tal como a mediateca de Lavre, sempre vazia... (penso eu). Enfim, a minha mãe explicou que podia fazer (sem custos para os primos) a edição do Diário e que qualquer possível lucro seria para os filhos, família próxima de João Serra. Esta prima disse que iria falar com os irmãos, em particular com um deles. Mais tarde, tivemos uma resposta negativa. O irmão desta prima Dinora, segundo ela disse, mostrou-se muito desconfiado, mandou dizer que não estava interessado e que queria de volta a fotocópia que nós tinhamos.
Nisto, a minha mãe entregou a encadernação à prima Dinora e escreveu uma carta a esse primo dizendo que esperaria, gostaria, que algum dia o Diário fosse publicado por uma editora (talvez maior...) em que eles confiassem e que tivessem muita sorte. A minha mãe entendeu ficar, sem o primo saber, com uma cópia, só para nós lermos, uma vez que tinha sido oferecida por um familiar de João Serra à minha avó.
Eu gostaria bastante de, ainda, convencer estes primos afastados a divulgar o Diário do seu pai. Mas eu ainda sou uma familiar mais afastada, que eles nunca viram, e desconfiam de todos. Só, talvez, incentivando eles próprios a editarem, divulgarem. Têm medo que alguém ganhe dinheiro às suas custas, o que é normal. Se calhar, se forem mais bem informados... não sei como poderia fazer...
Por mim, a única coisa que tenho feito, até agora, é falar nesta história o mais que posso a todos aqueles que vou conhecendo.
Porque acho muito desumano da parte de quem se mostra, se exibe, ou exibiu, como tão humano. É claro que, para os minimamente atentos, é fácil de ver a hipocrisia de Saramago e ver que se alimenta ou alimentou das “vitimas” que descreve com tantas e belas palavras. Mesmo sem conhecer esta história. Mas o mais importante, acho eu, é saber que existe João Serra e outras e outros como ele. E importante seria dar a conhecer, neste caso, a história de João Serra.
Quanto a uma fotocópia para si, Padre Mário, como vê, neste momento, só à socapa da família (mais próxima) de João Serra... faço-lhe uma e mando, se assim quiser.
Ou esperando que eu os consiga convencer a divulgar... (a minha mãe já tentou... se eu tivesse mais jeito.. não sei..). Ou convencer a fazerem uma cópia para si... Ou, então, falando o Padre Mário com a família. Se quiser que eu procure um contacto deles, eu procuro. Só sei desta prima Dinora que vive em Lavre. Os outros estão pelo Montijo, penso. Mas a minha mãe tem mais contactos.
Ah, e eu é que agradeço, Padre Mário, a sua atenção sempre.
Obrigada e um Abraço.
Resposta do Director JF
Querida Inês
Fiquei sensibilizado com as suas palavras. Quando lhe falei da possibilidade de conhecer o Diário, era já a pensar numa possível referência a ele, com mais ou menos desenvolvimento, no Jornal Fraternizar, edição 179, de Outubro-Dezembro 2010 (a edição 179 segue esta próxima segunda-feira, para a Gráfica). Para que conste. Porque, também a mim, sempre me soou a falso o ser-viver de Saramago. Sobretudo, a partir do momento em que ele passou a escrever romances para ganhar o Nobel da Literatura, objectivo que se propôs e conseguiu, depois que Pilar, de Espanha, se uniu a ele e, agora, é a herdeira de tudo. Terá sido a grande jogada da vida daquela jornalista! Com ela, ligada a ele, já não era só Portugal a pressionar a Academia sueca, era a Península Ibérica… Eram o Português e o Espanhol, como um só, com mais leitores em todo o mundo!!!
Se, de todo em todo, for impossível convencer os familiares de JOÃO SERRA a disponibilizarem para mim, uma cópia, peço-lhe a sua. Se me for dada uma para mim /Jornal Fraternizar, poderei fazer um trabalho mais alargado, na próxima edição, com transcrições. Se apenas tiver acesso particular à sua cópia, farei o trabalho, sem grandes citações, mas com afirmações como se fossem da minha lavra, embora possa dizer no texto que estou fundamentado para dizer o que digo.
Já agora, pedia-lhe, também, que me autorize a divulgar a sua mensagem que tanto me sensibilizou e me fez contactá-la de imediato. É um elementar dever de justiça divulgar o seu testemunho, de familiar distante, mas atenta, de JOÃO SERRA, sem quem não teria havido LEVANTADO DO CHÃO e, provavelmente, Prémio Nobel de Literatura 98 para J Saramago.
O meu bem-haja. Beijo-lhe as mãos, de gratidão.
3.º E-mail
Padre Mário,
obrigada por toda a sua sensibilidade com os Outros, sempre.
Vou ver o que consigo arranjar. Isso depende também do tempo.
Diz-me que gostaria de fazer referência ao Diário, já para a próxima edição do Jornal Fraternizar? Ou seja, precisaria duma cópia antes de segunda- feira?
Não percebi bem. Falou na edição 179 do Jornal, mas é essa ou a 178 que segue segunda-feira?
Temos uma cópia em casa dos meus pais, no Algarve. Vou contactá-los, a saber se está digitalizada, ou se mandariam por correio. Se tiver mais tempo, vou tentar uma autorização da família de João Serra.
Fico eu MUITO contente que queira fazer referência ao Diário de JOÃO SERRA ! Mas seria de esperar algo assim de si, claro. Não só autorizo (claro que sim! João Serra, é quem mais contribuiu com as histórias que Saramago gravou, merece!), como fico muito contente e agradecida que divulgue a minha mensagem. E fico sensibilizada, como sempre, com o seu Agir!
Um grande Abraço.Inês.
Resposta do Director JF
Que bom!
Tenha calma. Esta edição 178, que entra segunda-feira nas máquinas, já está fechada. É na outra, daqui a três meses, que desejo apresentar esse trabalho. É claro que, se houver uma cópia já digitalizada, prefiro essa à cópia em papel. Tem, pois, tempo para tudo. Faça o melhor. E como eu lhe agradeço a autorização de divulgar o seu testemunho, de todo inesperado, para mim. Mas tão prenhe de autenticidade. Bendita seja!
No meu afecto.
4.º E-mail
Padre Mário,
descobri, agora, na internet, que foi publicado um livro que será, parece, o Diário de João Serra. Chama-se Uma Familía do Alentejo; foi editado pela Fundação Saramago, em Maio de 2010. Prefácio de José Saramago, posfácio de Manuel Gusmão. Está no site da fundação José Saramago onde ele diz: “Gostava que este livro tivesse a mesma atenção que o “Levantado do Chão”.
Amanhã, vou procurar este livro, será que publicaram o Diário todo? Incluindo aquilo que foi escrito depois de “Levantado do Chão” e em que João Serra se queixa do esquecimento do “camarada” Saramago, da sua pobreza e sobrevivência, até ao fim, da esmola dos filhos?... É bom que tenha sido publicado (se foi mesmo,... vou ver).
Mas, ainda assim, que manobra esta!
Se Saramago diz que “”Gostava que este livro tivesse a mesma atenção que o “Levantado do Chão”, porque não o divulgou, logo??? João Serra morreu de pobreza e a mulher!!!
No Diário, João Serra diz que o “camarada” nunca mais perguntou por ele! E, agora, veio com frases desta hipocrisia. Alguma vez falou, sequer, no Diário? Nos meios de comunicação em que apareceu, tantas vezes, teve tantas oportunidades, esteve nas suas mãos divulgá-lo... como escritor mediático que é! Se o tivesse feito, João Serra e sua mulher teriam tido mais condições para sobreviverem às suas doenças, teriam tido comida em casa!!! E agora, para quem procurar no meio das coisas (mais uma vez!) de José Saramago /e na Sua Fundação, lá encontrará este livro e esta linda frase! (doutro modo será difícil encontrar-se o livro).
Mais uma vez, ele, Saramago, o centro das atenções. Mas, para quem vê de fora, ele fez tudo! Que “humano”! Que retorcido! doentio!... digo eu. Enfim... amanhã vou procurar o livro e vejo se é igual ao Diário que eu tenho...
Um grande Abraço. Inês.
Resposta do Director JF
Um beijo, Inês
Pelo Google, escrevi o título do livro e realmente lá está, edição da Fundação Saramago.
Verifique se está tudo e, depois, diga-me, por favor.
Tem de confrontar com a fotocópia. Porque podem ter feito censura. Tirar partes significativas, a pretexto de… coisa nenhuma.
Caso esteja tudo, terei de adquirir o livro. E confrontar com Levantado do Chão. Caso não esteja tudo, agradeço o acesso à cópia que possui do manuscrito.
O caso continua a interessar-me muito. Para a próxima edição do Fraternizar. Nesta, que entrou hoje na Gráfica, não se faz nenhuma alusão a Saramago. Não quis alterar a edição, embora o pudesse fazer, pelo menos, na primeira e na última páginas. Mas achei que o evento não merecia um tal destaque no pequenino Jornal. Poderá vir a ter destaque, na próxima edição, mas o outro Saramago, não o que, desde o Nobel da Literatura 2098, tem andado nas bocas do mundo.
A minha gratidão. |
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Levantar do Chão do Esquecimento
João Domingos Serra
"Estamos em 1979 os meus 74 anos de sofrer e a minha doença pouco já me deixam fazer até para escrever algumas letras tenho muita dificuldade pois a mão já muito tremo-la [trémula] me o não deixa fazer, mas com muito custo vou dando-lhes a conhecer mais alguns factos por mim passados. Aqui [h]à anos atrás bate-me à porta um camarada escritor vindo de Lisboa, vim depois a saber tratar-se do camarada José Saramago, um grande escritor e um grande comunista, claro que franquiei logo a minha porta [es]tivemos a conversar bastante sobre a vida presente e o passado que foi a vida do povo no Alentejo, dizendo-me ele que andava a fazer uma recolha para escrever um livro, e alguém o tinha informado que eu tinha umas linhas escritas sobre a minha vida, disse-lhe que sim que tinha alguma coisa escrita que o fazia para melhor passar o tempo e não estar sempre a pensar na minha doença que tencionava se pudesse deixar a cada filho esta minha narrativa para que sempre soubessem o que foi a vida de seu pai; ele pediu-me se o deixava passar os olhos por aquelas letras, disse-lhe que sim e então ele passou a frequentar a minha casa todas as tardes, até que um dia me disse: Ó camarada tu tens aqui muita matéria que me intersava estudar melhor para vir a ser publicada no meu livro, caso não te importares eu levava estas folhas e logo que possível te as devolveria? Eu disse que sim pois pensava que assim eu poderia deixar a cada filho as minhas memórias. Mais tarde recebi as minhas memórias com muitos agradecimentos e ele disse-me que em breve iria ter notícias suas, e na verdade passado algum tempo recebi em minha casa um convite enviando pelo camarada José Saramago para ir a Lisboa, mais concretamente à casa do Alentejo assistir ao lançamento do seu livro, eu bem como alguns rapazes cá da terra que lhe tinha dado hospitalidade e informações úteis para o seu livro.
Como a minha doença não me permitiu a viagem fiz-me representar por minha filha mais velha a Maria, que no regresso me trouxe um livro autografado pelo camarada José Saramago, chama-se este romance LEVANTADO DO CHÃO nele estão inseridos muitos passos das minhas memórias e fiquei bastante contente, pena foi que o camarada José Saramago depressa se esquecesse que em Lavre no Alentejo existia um camarada que lhe franqueou a sua casa lhe deu alguma ajuda para que ganhasse milhões com a venda do seu livro e continuava a viver de esmolas dos filhos, doente a porta da morte, nunca mais teve direito a uma palavra de conforto, ou interesse para saber do seu estado de saúde."
Estas palavras, leio-as, dactilografadas em folhas A4, agrupadas em forma de Caderno, sob o título Memórias de João Domingos Serra (o Manuscrito de João Domingos Serra, falecido a 19 de Agosto de 1982, e deixado à guarda e cuidado do seu filho António, para que ele, por sua vez, fizesse chegar uma cópia a cada um dos seus outros filhos e filhas). Encontro-as, tal e qual, nas páginas 75-76. O próprio António anota, no final do trabalho dactilografado: "Embora com grande atraso estou hoje 20 de Setembro de 1996 a iniciar a transcrição das memórias de meu pai, que ele me deixou como fiel depositário e que, muito me pediu para quando possível as fizesse chegar a todos os meus irmãos. Não o fiz [h]à mais tempo não por esquecimento, mas foram várias as pessoas que já tentaram transcrever estas folhas mas ou por falta de vontade ou por aborrecimento paravam sempre com muito pouco ou quase nada feito, resolvi iniciar eu esta tarefa, com a ajuda de minha filha Vera, vou procurar dar esta alegria a meus irmãos e de certo que onde meu pai estiver ficará também muito feliz. Procurei ser o mais fiel possível ao original evitando apenas algumas repetições de factos que o meu pai relatava, foi com certa emoção que tomei conhecimento de muitos passos de meus pais, alguns já por mim, e por certo de meus irmãos, conhecidos outros nem tanto."
Obviamente, quem adquirir no Mercado livreiro o livro Uma Família do Alentejo. Mistérios da Natureza e da Política, editado em Maio de 2010, pela Fundação José Saramago, com Prefácio do próprio José Saramago e Pósfácio de Manuel Gusmão, não encontra lá estas sofridas, desencantadas e acusadoras palavras de João Domingos Serra. Para saber delas, terá de ter acesso ao Manuscrito, do próprio João Domingos Serra (uma Emoção que, pessoalmente, ainda não posso testemunhar, embora espere vir ainda a viver e a testemunhar, a seu tempo). Ou, em alternativa, ter acesso, pelo menos, às 79 folhas A4, dactilografadas pelo filho António e agrupadas em Caderno, uma experiência que, felizmente, já posso testemunhar e aqui estou a partilhar.
José Saramago chegou a ter acesso ao Manuscrito, no ponto em que ele estava, ao tempo em que ele andou pelo Chão de Lavre, já a pensar em escrever um romance. Uma Narrativa, escrita à mão (em Uma Família do Alentejo, vem reproduzido um fac-simile, com as duas primeiras folhas), que João Domingos Serra pôde prosseguir, depois que o recebeu de volta, pela mão do Carteiro (não, como seria da mais elementar Gratidão Humana, pela mão do próprio Saramago!).
"Com o caderno debaixo do braço - recorda o próprio Saramago, no Prefácio de Uma Família do Alentejo - corri para o meu refúgio e pus-me a ler, com a ideia de ir copiando [ou plagiando?!] à mão as passagens mais interessantes, mas rapidamente compreendi que nem uma só daquelas palavras poderia perder-se. Não terminei a leitura. Meti uma folha de papel na máquina e comecei a trasladar, com todos os seus pontos e vírgulas [na Narrativa manuscrita de João Domingos Serra, já não há, nem pontos de interrogação, nem pontos de admiração, nem sinais gráficos nos diálogos, só pontos e vírgulas!] incluindo algum erro de ortografia, o escrito de João Serra. Tinha enfim livro."
E, não fôssemos nós, no Infantil(ismo) e no Ingénuo da nossa Vergonha Humana - onde a Santíssima Trindade dos Poderes nos mantém e de onde jamais nos deixa sair - pensar que o livro que ele, antes de saber da existência desta Narrativa Maior, andava a pensar escrever, afinal, já estava escrito, e escrito com o sangue, o suor, as lágrimas e a raiva de um dos inúmeros trabalhadores alentejanos criminosamente roubados /esmagados /oprimidos /comidos pelo Latifúndio, ao tempo do sinistro Salazar, o seu Regime, a sua Pide, o seu clero católico e a sua hierarquia eclesiástica católica, com cujo Estado do Vaticano, havia, até, aprovado e assinado uma Concordata em 1940 (ainda hoje em vigor!!!), para que, desse modo, todos os seus hediondos crimes, Guerra Colonial incluída, fossem automaticamente baptizados /transubstanciados com a sebenta e espúria água benta dos baptistérios das igrejas paroquiais plantadas, uma em cada aldeia do país, aspergida pelos respectivos clérigos-funcionários-mercenários, em outros tantos feitos heróicos e santos, até, com direito a futura canonização do seu Perverso Carrasco /Messias, escolhido, em 1926, e enviado por Deus, o da hierarquia eclesiástica, esse mesmo Deus que - está hoje sobejamente provado, depois de dois mil anos de Cristandade - do que mais gosta é de Sacrifícios Humanos, de gente a rastejar pelo "sagrado" chão de fátima e de outros santuários do género, e nem sequer o seu próprio filho poupa, ao ponto de lhe exigir que morra na cruz pelos pecados dos Condenados da Terra, os únicos que são pecadores, não pelos donos do Latifúndio, que esses são todos abençoados por Ele (se ricos, também abençoados pelo mesmo Deus que abençoa a Hierarquia Eclesiástica e todas as outras Hierarquias laicas, que assim reza o melhor do Cristianismo Ocidental!), Saramago apressa-se a informar, mas só agora, neste Prefácio, escrito depois de todos estes anos, "Ainda tive de esperar três anos para que a história amadurecesse na minha cabeça, mas o Levantado do Chão começou a ser escrito nesse dia, quando contraí uma dívida que nunca poderei pagar." E, acrescento eu, jornalista director do JF, Saramago nunca poderá pagar, certamente, por sempre se dizer ateu confesso, e ateu com bastante orgulho e não menos proveito financeiro, já que, como tantos outros intelectuais que comem à mesma Mesa, é um ateu confesso do Deus-Ídolo das Religiões (o que, em si mesmo, é saudável e todos os seres humanos haveríamos de ser, também), mas, ao mesmo tempo, é um incondicional adorador, atento e reverente de outro Deus-Ídolo, o mais poderoso de todos, o Grande Senhor Dinheiro que hoje, mais ainda do que no passado, é o único Senhor omnipotente, omnisciente e omnipresente do Planeta. (Isto que acabo de afirmar, viu-se bem, naquela liturgia laica da entrega do Nobel, onde Saramago aparece de fraque e tudo, em sucessivas vénias, frente aos sacerdotes laicos, portadores do cheque de milhões!). Não fosse Saramago ateu do Deus-Ídolo das Religiões, e, em vez de escrever, "Quando contraí uma dívida que nunca poderei pagar", teria escrito, Quando contraí uma dívida que Deus, certamente, já pagou a João Domingos Serra!... (Não é, assim, com um "Deus lhe pague!", que sempre se riem os do Latifúndio, a começar pelos Sacerdotes e Pastores do Latifúndio Religioso-Eclesiástico, todos crentes no Deus-Ídolo das Religiões e seus principais adoradores?!)
É Obsceno de mais, tudo isto, mas o nosso Mundo é feito assim, de Minorias espertalhonas e sabidas que, depressa, adquirem posições de destaque, no vértice da Pirâmide, às quais, depois, Tudo lhes é permitido, até Tirar Olhos às imensas maiorias, condenadas por elas, a ter de rastejar, por toda a vida, na base da Pirâmide, uma Pirâmide concebida por obra e graça do Poder Económico-Financeiro, hoje, mais Financeiro que Económico, e Financeiro à escala Global. Todo o Planeta lhe pertence e ele entrega partes dele a quem o reconhecer e adorar. Incondicionalmente.
Aquela desassombrada confissão de Saramago, "Tinha enfim livro", não se refere, como os factos vieram a comprovar, ao Livro Maior que é a Narrativa de João Domingos Serra, que Saramago avidamente copiou /dactilografou, palavra por palavra, mas, obviamente, ao seu próprio, que baptizou de Levantado do Chão, e que veio a merecer o Prémio Cidade de Lisboa, concedido pelo Município de Lisboa, ao tempo (1980), governado por Nuno Krus Abecassis, o homem forte do CDS, o partido político do Latifúndio e dos latifundiários do ex-Regime de Salazar!!! O Facto fala por si! Ou somos assim tão cegos que não vemos?! E tão surdos que não ouvimos?!
Mas tem de se dizer-escrever, aqui, sem que a voz e a mão me tremam, o que nunca ninguém disse, ou porque desconhece e, se calhar, quer continuar a desconhecer, ou já conhece, mas, porque come à mesma Mesa da minoria do vértice da Pirâmide, não quer dar a conhecer, apenas quer esconder, e esconde, sem se importar de, com essa sua Cínica Postura, Negar a Verdade conhecida por tal e tornar-se, por isso, Causa activamente geradora de Opressão e de Humilhação Humanas.
Tem de se dizer-escrever que o mínimo que um intelectual, como José Saramago já então se assumia, para mais, intelectual do Partido Comunista, teria de fazer, se fosse intelectualmente honesto, era, depois de ter tido acesso à Narrativa Maior de João Domingos Serra, manuscrita dia a dia pelo próprio, depois de anos e anos de Esmagamento e de Humilhação que foi todo o seu viver, do Nascer ao Morrer, no Alentejo do Latifúndio, nos quais se incluem duas prisões políticas, uma no Aljube e outra em Caxias, ir logo a correr por uma Editora que acolhesse e publicasse tão Assombroso Testemunho Vivo dos Trabalhadores Explorados pelo Latifúndio alentejano.
Essa, de resto, terá sido a Expectativa do próprio João Domingos Serra, quando, na boa fé da sua Fragilidade Humana Desarmada, até, de Preconceitos e de um qualquer Mau Pensar sobre os camaradas comunistas que, sempre, se apresentam como os maiores defensores dos operários e dos camponeses, logo Coloca a sua Narrativa (= a sua Vida!), não uma cópia, mas o próprio Original manuscrito, nas mãos de Saramago. Escrevi, "Desarmada, até de Preconceitos e de um qualquer mau pensar sobre os camaradas comunistas, que sempre se apresentam como os maiores defensores dos operários e camponeses". E escrevi bem. Aliás, não é o que também escrevem, às folhas cheias, as sucessivas edições do Avante, que o próprio João Domingos Serra, já naquele seu sofrido Então, distribui entre os outros Trabalhadores Explorados pelo Latifúndio, como ele? E não é, também, o que repetem, à boca cheia, os sucessivos secretários gerais do PCP, nas suas múltiplas intervenções, em tudo quanto é sítio? Pelos vistos, tudo em vão, já que o Grande Poder Financeiro, hoje, Global é, como nunca antes havia sido, o único Senhor /Dono do Planeta, assessorado, até, pelos próprios Deputados Comunistas e Socialistas, cujos inflamados discursos só servem para Ele, o Senhor Dinheiro, se reforçar, cada dia, um pedaço mais, já que toda a Palavra, revolucionária que se diga, quando não se faz Carne, Prática Económica e Política Maiêutica, é sempre portadora de um Sopro Estéril e, o mais das vezes, também Envenenado!
Pois bem. Decidir, em vez disso, como Saramago decide, plagiar a Narrativa, o seu estilo literário, o seu conteúdo, frases inteiras, vocábulos e - o mais Obsceno de tudo! - até a Família de João Domingos Serra, o seu pai, a sua mãe, inclusive, os nomes próprios, Domingos, o pai de João Domingos Serra, a mãe, Conceição, e João, o protagonista principal de Levantado do Chão, e publicar tudo em romance, sem nunca falar, anos e anos, uma única vez, no nome de João Domingos Serra (apenas na Dedicatória do romance, o primeiro entre muitos mais), é um Crime sem Nome, ou, à Saramago Escritor, um Crime Todos os Nomes! Para cúmulo, a Família de João Domingos Serra é cognominada em Levantado do Chão, "Família Mau-Tempo". E o pai de João Domingos Serra, para lá de "Mau-Tempo", é posto, no final do seu constante peregrinar, de terra em terra, a enforcar-se, quando, a verdade histórica é que o pai, António Domingos Serra, vítima Maior do Latifúndio e do seu Envenenado Ar que ele e sua família tiveram de respirar, do Nascer ao Morrer, acaba, abandonado no Hospital, com o Pesar e a Ternura Amargurada, do filho João Domingos Serra, João Mau-Tempo (!), em Levantado do Chão.
Bem se pode dizer que Saramago, depois de ter consumado este Plágio Maior que lhe trouxe fama, muito Dinheiro e ajudou a fazer esquecer, para sempre, a sua meteórica passagem pelo DN, como Director-Adjunto Revolucionário, ao serviço do PCP (em consequência, 22 jornalistas foram despedidos, a 27 de Agosto de 1975, por delito de opinião, e a justificação para semelhante Decisão, lá está, estampada, no dia seguinte, preto no branco, em Editorial não assinado, "Informação revolucionária não se faz com jornalistas contra-revolucionários"), pôde, com facilidade, passar a viver exclusivamente da escita, exactamente, como o latifundiário vive exclusivamente do Latifúndio, o Banqueiro,dos Bancos todos de que é o dono e o principal Administrador, e todos os Belmiros de Azevedos do Planeta (sempre poucos, em número, mas tão omnipotentes e omnipresentes, que até os Governos das nações, os que se dizem de Esquerda e os que não se dizem, mas são de Direita, e as próprias Hierarquias das Religiões e das Igrejas-Religiões, lhes obedecem!), vivem, em segurança e cheios de prestígio, assim como os chorudos Lucros das suas Multinacionais e Bolsas de Valores!...
A Levantado do Chão, sucederam-se, em ritmo acelerado, outros romances, outras histórias, múltiplos títulos, traduzidos em cada vez mais línguas e nações. Criou-se o Império Saramago (hoje Fundação Saramago!), com crescente peso e influência no Mercado Global, no caso, já se vê, o Mercado Livreiro Global. De modo que, a dada altura, já nem os eminentes Sumos-Sacerdotes Laicos da Academia Sueca (mas que Máfia mais bem oleada, Senhoras, Senhores!? Ou será que só vemos e filtramos todos os "mosquitos" e não vemos nenhum dos múltiplos "camelos" e, até, os engolimos?!) conseguem resistir a tanto Poder Financeiro e, em 1998, o ano da graça (?) do poderoso Saramago, atribui-lhe o almejado Prémio Nobel da Literatura. A consagração Global que faltava, para calar de vez o Insuportável Grito-Pergunta que sempre perseguirá Saramago, "Onde está o teu irmão? /Que fizeste do teu irmão?"
Felizmente, João Domingos Serra (João Mau-Tempo, para Saramago) já não apanha com mais este Punhal nas suas costas. A Morte que sempre o acompanha, como nos acompanha a nós, do Nascer ao Morrer, já o havia, anos antes, resgatado em definitivo das mãos assassinas do Latifúndio e dos latifundiários, os das Terras do Alentejo e os de todos os outros Alentejos do Planeta, e também das mãos assassinas do Latifúndio e dos latifundiários da Escrita Ficcionada que, quanto mais tecida é pela perversa arte de transubstanciar, até, a Realidade mais real, em sonantes e espalhafatosas palavras e frases, mais vende, porque, mais ajuda, como nenhuma outra "Arte", a esconder o Assassínio da Realidade e, particularmente, os milhões e milhões de Crucificados Humanos que todo o tipo de Latifúndio e todo o tipo de latifundiários, os das Terras e os da Escrita Ficcionada, Hoje, fazem, de forma programada e científica. Impunemente. E não só impunemente. Até com o Aplauso, o Louvor, as Palmas, os Parabéns de todos os frustrados candidatos a latifundiários. E, muitas vezes, também, das próprias Vítimas Humanas, cientificamente manipuladas pela Santíssima Trindade dos Poderes. Não é, de resto, para manipular e manter manipulados, por toda a vida e uma geração após outra, os milhares de milhões de Vítimas Humanas, que todos os grandes media do Planeta, outro Latifúndio, nas mãos de outros latifundiários, nomeadamente, o Grande Poder Financeiro Global, o maior de todos, trabalham, dia e noite? E não é também para isso que trabalham as Religiões e as Igrejas-Religiões, mais outro Latifúndio, o do Poder Religioso-Eclesiástico? Todos juntos, como um só, cada qual com a sua linguagem, não estão aí a trabalhar, ininterruptamente, para fazerem da Mentira Institucional, Verdade Institucional, do Crime Institucional, Acto Heróico /Santo Institucional, do Genocídio Institucional, Cruzada /Guerra Santa Institucional?! Mas será que não vemos? E, mesmo assim, ainda nos temos pelos mais ilustrados e os mais civilizados do Planeta?!
Sei que Escandalizo. Quem, porém, poderá acusar-me de Mentir? Quem poderá acusar-me de Fazer Literatura, para, com ela, Esconder o Hediondo Institucional, o Obsceno Institucional? Quem, de bom senso, pode defender que o maior Imperativo Ético dos seres humanos, quando chegam à Liberdade /Maioridade, à Sabedoria feita Fragilidade Humana Desarmada Maiêutica, é trabalhar, incansavelmente, para Esconder a Verdade /Realidade, seja sob o manto da Literatura e de todos os outros géneros de Arte, seja sob o manto da Religião, seja sob o manto do Saber-Poder, seja sob o manto do Poder Político Armado, numa palavra, sob o Manto da Ideologia /Idolatria Institucional? Não é exactamente para o contrário? O maior Imperativo Ético dos seres humanos, quando chegam à Liberdade /Maioridade não é, com a toda a sua Fragilidade Humana Desarmada, por isso, Maiêutica, trabalhar incansavelmente para Tirar o Véu, o Manto Ideológico /Idolátrico que mantém a Verdade /Realidade cativa na Injustiça Estrutural, que dá pelo pomposo nome de Ordem Mundial? Não é, de resto, por estas salutares e reabilitadoras Águas cheias de Ruah /Força Maiêutica que navega Jesus, o Camponês-Artesão de Nazaré, o filho de Maria, a quem a Santíssima Trindade dos Poderes, rapidamente e em força, Mata na Cruz do Império, para, assim, fazer dele, o Maldito dos malditos, para sempre?!
Se duvidam das palavras que aqui escrevo, a propósito de Saramago, agora que ele, por pura Graça (não pelo Poder do Império que ele próprio criou, a partir do Plágio que fez a João Domingos Serra), é, para sempre, definitivamente vivente, no Vivente Jesus Crucificado na Cruz do Império e, como ele, também invisível aos olhos - por mim, só tenho motivos para pensar que Saramago, a quem eu, uma vez, disse, mão na mão e olhos nos olhos, Gosto muito do seu Ateísmo, me agradece, por eu, na minha Fragilidade Humana Presbiteral Maiêutica, escrever aqui estas palavras! - metam-se a fazer um pequeno exercício. Adquiram o Livro, Uma Família do Alentejo, de João Domingos Serra, leiam-no, com a Emoção de quem Encontra, não pura Literatura, com tanto de Esplendor, como de Hipocrisia, mas a Verdade /Realidade, tal e qual ela é. A seguir, leiam, como pela primeira vez, Levantado do Chão, de José Saramago. Verão como Levantado do Chão é o substancial da Narrativa manuscrita que João Domingos Serra entregou em mãos a José Saramago, "camarada comunista", e que este reteve, semanas, meses (ou mais de um ano?!) e dactilografou, palavra por palavra, com todos os pontos e todas as vírgulas. E tudo isto, muitos anos antes de Saramago se ter tornado o Império Saramago que hoje é, e que, já então, se mostrava fortemente determinado a ser e chegou a ser. Para seu mal, como Ser Humano, acrescento eu, e para mal da Humanidade. Porque, gostem ou não de ler /ouvir, em verdade, em verdade lhes digo, Todo o Império, sem excepção, é intrinsecamente Perverso /Mentiroso /Descriador /Assassino dos seres humanos, dos Povos e do Planeta!
Apanharão um Choque muito forte, no final do exercício. E, talvez, compreendam porque eu digo que o último romance de Saramago (Caim, Editoral Caminho), é, sem o próprio se dar conta, um romance autobiográfico. O Império Saramago, já com a sua Fundação instituída e todos os Poderes da Santíssima Trindade a dizerem bem dele, pôde, finalmente, pegar no pequenino Conto bíblico do Génesis, vulgarmente, conhecido por Caim e Abel, e matar, logo de entrada, Abel (só Caim faz o título do seu romance!). E, depois, ainda escrever todas aquelas páginas de "pura Literatura" (a expressão é da sua Mulher, nos dias que precederam o do lançamento do Livro), portanto, de Nenhuma Verdade /Realidade. Com essas páginas, Saramago mais não faz do que entronizar, como Deus Único do Planeta e do Universo, o Grande Poder Financeiro Global do Século XXI, de nome bíblico, Caim, o Lavrador. No Então do Conto bíblico - obra prima, não de Literatura, mas de Humanidade, tal-qual ela é! - Caim, no Hoje de João Domingos Serra e seus pais, é o Latifúndio Alentejo, esse mesmo que leva o Latifundiário Saramago, em Levantado do Chão, a enforcar Domingos, pai de João Domingos Serra.
Há lá Idolatria maior?! |
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EDITORIAL
Europa? A caminho da Extinção!
Europa? Um Continente em vias de Extinção! Depois das chamadas Descobertas e Conquistas, com a Cruz numa mão e a Espada na outra mão; depois da Escravatura-Exploração das populações, inclusive, as crianças filhas das populações escravizadas-exploradas, com que as minorias dos Privilégios levaram por diante a Revolução Industrial da nossa Vergonha e da nossa Humilhação Europeias; depois de duas Guerras Mundiais com muitos milhões de Mortos; depois das Guerras Coloniais e dos posteriores Neo-colonialismos em que temos sido particularmente peritos; depois do Holocausto nazi que dizimou seis milhões de Judeus, à mistura com Homossexuais e outros "Impuros"; depois da Terceira Guerra Mundial Financeira ainda em curso e, sem fim à vista (Crise Internacional? Mas qual Crise?!); depois da mais Obscena de todas as guerras do início do Terceiro Milénio, a Guerra do Iraque, seguida da Guerra do Afeganistão, ainda em curso; depois do Mercado Total e Global que já está aí e veio para ficar, porque não conhece quaisquer Opositores, apenas fervorosos e agradecidos Defensores-Consumidores, qual deles a Mercadoria mais sexy e mais cara; depois dos Crimes de Abuso de Menores, até por parte de inúmeras Instituições, todas, oficialmente, criadas para proteger as meninas, os meninos, às, aos quais, primeiro, roubaram a família e, a seguir, condenaram a terem de viver, anos e anos, em Asilos e Orfanatos, Coisa mais Humilhante e Inumana, dirigidos, quase todos, por clérigos e clérigas ou freiras, proibidos, eles e elas, por Leis Estúpidas /Castradoras, de desenvolverem Afectos e de se entregarem, generosa e gratuitamente, a Causas Emancipadoras das Populações e dos Povos, só a Caridadezinhas, as mais Obscenas, todas, todos meros funcionários-mercenários infantilizados de um Institucional Religioso-Eclesiástico intrinsecamente Perverso e Descriador do Humano; depois duma Casa Pia e de muitas outras Casas Pias que há por essa Europa fora, com nomes distintos, beatos todos, inclusive, quando dirigidos por laicos, cujas inúmeras vítimas ainda hoje não conseguem ter voz nem vez e, por isso, mantêm-se gritantemente caladas; depois do Desemprego de mais de 40 milhões de europeus, sempre em crescendo,até se chegar ao Desemprego (quase) total, a par com cadeias e mais cadeias a abarrotar de presas, presos, e com Tribunais descaradamente atolados em processos-sem-fim, dominados por Juízes sem um pingo de Escrúpulo, numa estúpida Competição corporativa, a ver qual deles é o Campeão da Corrupção e da Incompetência; depois do Futebol dos Milhões (o das SADs de cada país europeu e o das Selecções nacionais, verdadeiras Máfias de branqueamento de Dinheiro, Chulos Institucionais de colarinho branco) ter passado a preencher os dias dos milhões e milhões de Desempregados, dos Reformados-nos-cafés-e-nos-bancos-dos-jardins, dos Beneficiários do Rendimento de Reinserção na Prostituição e na Droga, e das Populações-sem-quaisquer-Objectivos-nem-Valores, convertidas em mera mercadoria ou, o que é o mesmo, em vermes rastejantes sobre chãos "sagrados" de santuários e basílicas de luxo, todos levantados em honhra da mítica deusa de todos os nomes feios, obscenamente Cruel e Sádica, servida por Sacerdotes clérigos, com faro para Negócios-Sujos-e-sem-Escrúpulos, todos eles machos, sexual e afectivamente castrados, tiranetes e vaidosos, naquelas suas poses e naquelas suas hilariantes vestes que têm o condão de os fazer passar por fêmeas sem formas, qual deles o mais devoto do Deus Di-nheiro; depois da própria França que, até há bem pouco tempo, sempre foi olhada pelos Povos do Planeta como a mátria das Luzes, que não da Luz (há substantiva diferença entre Luzes e Luz, mas, se calhar, o nosso analfabetismo-com-licenciatura-mestrado-e-doutoramento nem isso consegue descortinar!) ter começado a Expulsar os Ciganos, elas e eles, adultos e crianças, do seu chão francês-europeu, como se costuma fazer a uma mercadoria tóxica para a saúde das populações não-ciganas e do próprio Planeta; depois do papa de Roma, João Paulo II, o maior fabricador de beatos e de santos, até de Escrivá de Balaguer, o admirador de Franco e o fundador da Obra dos Banqueiros de Deus (em latim, Opus Dei), e - Crime-sem-perdão! - também dos dois irmãos de 7 e 9 anitos, da freguesia de Fátima, em Portugal, aos quais a Pneumónica matou, poucos meses depois de toda aquela tosca montagem clerical, sem pés nem cabeça, das seis "aparições" da "Virgem", sempre ao dia 13, de Maio a Outubro de 1917 (mas que Deusa mais cruel, que nunca mais quis saber da gente, foi mesmo só para ajudar o clero católico a fazer abortar a República de 1910 e, em seu lugar, implantar o Estado Novo de Salazar e, mais tarde, a partir de 1935, com as famigeradas Memórias da Irmã Lúcia - a aberração das aberrações! - fazer abortar a própria URSS (ainda sabem o que quer dizer esta sigla?), uma vez que, por esses terríveis anos de Fome, Peste e Guerra, o clero eclesiástico católico romano, chamado a escolher entre o Projecto Político de Jesus e o Capitalismo-sem-Freio, hoje, o Mercado Total e Global, sempre escolhe este e não Jesus); depois do sucessor de João Paulo II, o papa Bento XVI, tido por grande Intelectual e grande Teólogo (!!!), definitivamente instalado no topo dos topos da Pirâmide, nos antípodas dos Povos que "fazem" os Porões da Humanidade Crucificada, o único monarca absoluto do Planeta, com Poder sobre todos os Povos e sobre o próprio Deus, o do Institucional, que alimenta e branqueia a Cúria Romana, porventura, a maior Máfia do Planeta, passar a vida a fazer que reza e a exigir aos seus súbditos que rezem, rezem muito, pelas Vítimas que o Grande Poder Financeiro Global ininterruptamente fabrica, na mais completa Impunidade - já não há a mais pequena dúvida de que a Europa do Século XXI é, sem qualquer possibilidade de recuo, um continente a caminhar, dramaticamente para a sua Extinção. E, com ela, muito provavelmente, Extinguem-se também os restantes continentes que sempre foram as suas grandes Vítimas e, Hoje, depois da implantação da União Europeia, de vítimas de séculos, passaram a admiradores e imitadores do seu próprio Algoz-Verdugo.
Na génese da Europa está a Mentira Institucionalizada que sempre se tem feito passar por Verdade. As próprias Universidades, todas, as Confessionais e as Laicas, é o que ensinam e incutem a cada nova geração que vem a este continente e a este Planeta. A Mentira Institucionalizada nunca se diz assim, que ela é suficientemente Sagaz e, por isso, sempre veste a Mentira Institucional de Ideologia e de Idolatria. Estas, por sua vez, vestem-se de Arte, em todas as suas manifestações, e de Filosofia, de Literatura, até de Teologia. Na abóbada desta Mentira, sempre está Deus. O Deus das Religiões, todas perversas. E os Sacerdotes das Religões, todos Idólatras, ocupados na distribuição diária da dose de Ópio que as Vítimas têm de tomar, para poderem aguentar a sua infamante condição de Vítimas.
Já nos nossos dias, o Deus das Religiões foi dado como defintivamente morto - um dos intelectuais-não-orgânicos da Europa dixit! - e, em seu lugar, foi posto outro (também aqui, Deus morto, Deus posto!), que dá por um nome, totalmente secular e laico, aparentemente, sem qualquer conotação religiosa. Senhor Dinheiro, é o seu nome. Hoje, já nem assim se diz. É apenas O Senhor Mercado. Omnipotente. Omnisciente. Omnipresente. Servido pelos Sacerdotes do Deus morto e, sobretudo, por outros que, para despistar, se dizem ateus ou agnósticos, que é a maneira secular /laica de dizer Religioso!
Edificada sobre a Mentira /Ideologia /Idolatria, a Europa tem a sua Extinção anunciada. Nem que um morto saia do túmulo e venha dizer à Europa que a sua Extinção já tem data marcada, ela dá uma gargalhada e corre a encher ainda mais os Estádios de Futebol, o dos Milhões, o do Mercado. E a Extinção há-de apanhá-la a assistir, aos berros, a uma Finalíssima Europeia de Futebol. Pensará, na hora, que a Extinção é mais um golaço e, assim, Cega e Surda, aplaude a sua própria Extinção!
Resta uma Esperança. Não vem do Céu. Nem do Mercado. Vem dos milhares de milhões de Vítimas da Europa. Vem do Grito-Sopro das Vítimas. Um Sopro sem Poder. Sem Ter. Sem Saber. Simplesmente Maiêutico. A própria Sabedoria-em-Acção. Se nos deixarmos fecundar por este Sopro, mudamos de Ser-Viver-Actuar. Mudamos, até, de Deus. Do Deus-Ídolo, fora e longe de nós, para Deus Criador, mais íntimo a nós que nós próprios. Sem Templos nem Sacerdotes. E, então, Mercado morto, Seres Humanos e Povos Maiêuticos postos.Ao leme do Mundo. A Cuidar da Terra. E uns dos outros, todos diferentes, todos iguais. Nunca mais dos deuses! Vosso irmão, na Trincheira,
Mário, Presbitero da Igreja do Porto |
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ESPAÇO ABERTO
Os usos do Futebol
Por Manuel Sérgio
Reitor do Instituto Piaget
Desde sempre a Filosofia duvidou. A dúvida é o seu gesto instaurador. Por isso, com algumas excepções, nela tudo é anti-Ordem e anti-Poder. O Futebol, ao invés, procura sofregamente o apoio do Ter e do Poder e expande-se, desenvolve-se, com Ordem e Medida. Por outro lado, também o Ter e o Poder precisam do Futebol para legitimar-se. De facto, as selecções nacionais de futebol, as equipas mais representativas dos vários países representam interesses desportivos mas, sobre o mais, interesses mediáticos, interesses comerciais, interesses publicitários, interesses políticos. Os desempenhos das selecções e dos clubes encontram-se intimamente ligados aos desempenhos dos serventuários do grande capital. Chegou, portanto, a altura de questionar se o carácter eminentemente formativo do futebol (como desporto que é) não desaparece diante da lógica de outros interesses incapazes de assumir uma intervenção pedagógica global. É que o Ter e o Poder são declaradamente despóticos, ou seja, têm uma Verdade indiscutível e o futebol, que os serve, transforma-se na expressão corporal dessa Verdade. O Futebol concorre mesmo à interiorização, em cada dos seus agentes, dos veredictos imperiais do déspota. Não é por acaso que as práticas dopantes, nele, permanecem; não é por acaso que o alto rendimento é sempre acompanhado de produtos farmacêuticos, os mais sofisticados; não é por acaso que são, cada vez em maior número as doenças súbitas que atormentam os jogadores de futebol; não é por acaso que o Desporto (e portanto o Futebol) é uma Actividade Física ou, segundo alguns, um meio de Educação Física (e quanto mais físico o Desporto for, mais acéfalo e acrítico será e mais servilmente representará a vontade do Ter e do Poder).
Por sua vez, o treinador, sempre que se refere aos jogadores que trabalham sob as suas ordens, repete, de forma exaustiva e massacrante: Os meus jogadores. Como se, de facto, os jogadores fossem mesmo dele! Mas não é assim que pensa o déspota quando exclama: meu povo? O treinador, para ser um profissional exemplar, para a ideologia dominante, só tem de imitar o déspota. E assim como o Poder diz trabalhar para o povo, para mascarar a sua função constitutiva, a repressão – também os treinos, os estágios, as competições se resumem ao exercício de uma soberania astuciosa, que controla os atletas como quem comanda singelos títeres. Não são os agentes do futebol que fundam o Futebol, mas o Ter e o Poder, com a sua libido dominandi [prazer de dominar], geradora de violência. De facto, a Lei e a Ordem, no Futebol, nada têm a ver com a Justiça, mas com a delimitação do espaço onde se movimentam o senhor e o servo, dentro de uma competição insanável, que forma o devir histórico do futebol, de há cem anos a esta parte. O pensamento único neoliberal (a ideologia dominante) é o que faz, no Futebol e no mais: um mundo de riqueza, cercado de pobreza, por todos os lados, onde funcionam a liberdade, o livre comércio e o livre mercado, tão intimamente associados que delas surge, dominador, o capitalismo neoliberal. Que admira que, também no Futebol, coexistam os ricos e os pobres, os senhores e os servos? O Real Madrid, o Barcelona, o Bayern de Munique, o Manchester United, o Chelsea, o Manchester City, o Inter, o Milan e poucos mais são os senhores; os demais são os servos. Aliás, este Futebol é o que gera: senhores e servos. E produz assim uma certa imagem da essência da sociedade, onde os antagonismos, típicos do capitalismo, aparecem como causa de manutenção do status quo. O aumento galopante do desemprego, nos países desenvolvidos, está a empurrá-los à pobreza do Terceiro Mundo. Entretanto, o povo delira e aplaude este futebol...
É um truismo afirmar que o Capital capitaliza o Futebol. De facto, o Capital procura, acima de tudo, o Lucro. O Cristiano Ronaldo não seria tão publicitado, se as suas qualidades físicas (as outras pouco importam) não despontassem, na Imprensa, na Rádio e na Televisão, de mãos dadas com determinados produtos... que é preciso vender! Em nenhum modelo invasor, ou inspirado de fora de um “ethos” livre e libertador, se descortina o escrupuloso respeito da dignidade das pessoas e da sua capacidade de, no Desporto, serem sujeitos (ser sujeito é não sujeitar-se) e não objectos. Ora, hoje, o Futebol, preso nas mãos férreas de um capitalismo imoral, não é uma prática libertadora e construtiva, mas uma cilindragem opressora e destrutiva. De prática autocontrolada pelos “homens do futebol”, no seio do futebol, passou-se a uma prática heterocomandada longe e contra os “homens do futebol” que deixam de ser os agentes da sua profissão, para surgirem, na praça pública, como réus de crimes que não cometeram. De que podem acusar-se o Dunga, o Carlos Queirós, o Maradona e outros mais, treinadores vacilantes e de muito pouca eficácia, no Mundial-2010? Na ausência de liderança? Na canhestra leitura de jogo? Na incomunicabalidade treinador-jogadores? São ítens a sublinhar, designadamente pelos presidentes das respectivas federações, que escolhem e contratam os treinadores. Mas... pouco mais! Se é pacóvio apontar qualquer determinismo sociológico, nesta “floresta de enganos” que é o Desporto (e portanto o Futebol), também não nos é lícito julgar a competência de um profissional, como se na totalidade, que é uma equipa, fosse ele o único elemento a ter em conta. O quarteto mais avançado da selecção argentina, no Mundial da África do Sul (Tevez, Messi, Higuain, Di Maria), tem admiráveis jogadores de valor intacto. Diante da selecção da Alemanha, nos quartos-de-final, pareciam simples principiantes, submissos pela força e a robustez dos teimosos lutadores que são o Lahm, o Schweinsteiger, o Khedira e os demais das linhas recuadas e a velocidade e os primores técnicos dos jogadores da linha avançada que, quando disparavam a correr, bebendo o vento, quais Pégasos imparáveis, não havia argentino que os segurasse. Será o Maradona o único e o principal culpado, pela derrota? E será o Joachim Low a causa, excluindo outras, do jogo triunfal da Alemanha, no dia 3 de Julho de 2010?
Entre informar e imbecilizar a distância é mínima e não se analisa o trabalho global de uma equipa desportiva senão dentro do todo que ela é e do todo onde ela se insere. Os prodigiosos progressos da genética e da biologia molecular permitem-nos conceber os laços indestrutíveis entre a física, a química e a biologia, dado que é pela organização, e não unicamente pela matéria, que a vida se distancia do mundo físico-químico. Por isso, diante do inêxito do futebol português, no último Mundial, há que levantar a pergunta seguinte: a Federação Portuguesa de Futebol preparou-se, problematizando-se e reorganizando-se, para o Mundial da África do Sul? E sabe o dr. Carlos Queirós que todo o progresso, ao nível do conhecimento, é inseparável da consciência do erro? Onde errou ele e a sua equipa? O que mais me surpreende é, em plena consciência do fracasso, predominar a tendência conservadora, no futebol português. Talvez por que o Futebol se destina, principalmente, a satisfazer as exigências do mercado. A questão é pertinente: pode encontrar-se num desporto absolutamente mercantilizado algum compromisso com a moral? É que não conheço um capitalismo eticamente viável. Ora, é à luz de um futebol (repito-me) totalmente mercantilizado que é possível percepcionar, hoje, os usos que dele se fazem... |
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O Mercado é o novo fetiche
Por Frei Betto
Teólogo
O mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Antigamente, nossos avós consultavam a Bíblia, a palavra de Deus, diante dos factos da vida. Nossos pais, o serviço de meteorologia: “Será que vai chover?”. Hoje, consulta-se o mercado: “O dólar desvalorizou? Subiu a Bolsa? Como oscilou o mercado de capitais?”.
Diante de uma catástrofe, de um acontecimento inesperado, dizem os comentaristas económicos: “Vamos ver como o mercado reage”. Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, trancado em seu castelo e gritando pelo celular: “Não gostei da fala do ministro, estou irado.” Na mesma hora os telejornais destacam: “O mercado não reagiu bem, frente ao discurso ministerial”.
Para as agências de publicidade, o mercado no Brasil compreende cerca de 40 milhões de consumidores. Neste país de 190 milhões de habitantes, uma minoria tem acesso aos bens supérfluos. Os demais, só aos de necessidade indispensável.
O grande desafio das pessoas em idade produtiva, hoje, é: como se inserir no mercado. Devem ser competitivas, ter qualificação, disputar espaços. Sabem que o sistema recomenda não levarem a sério conotações éticas e encarar como quimérico um planeamento de inclusão das maiorias. O mercado é, agora, internacional, globalizado; move-se segundo suas próprias regras, e não de acordo com as necessidades humanas.
A crise da modernidade é, portanto, também a do racionalismo. No início da modernidade, principalmente na época dos iluministas, a religião era considerada superstição. Camponeses da Idade Média regavam seus campos com água benta, agradeciam aos padres (que, diga-se de passagem, cobravam pela água benta) e depois louvavam a Deus pela boa colheita. Até ao dia em que apareceu um senhor oferecendo a eles um pozinho preto, o adubo, que também custava dinheiro, mas não dependia da ira ou do agrado divino - bastava aplicá-lo à terra e aquilo facilitava a colheita.
O adubo funcionou melhor que a água benta! Muitos camponeses perderam a fé, porque a concepção de Deus predominante na Idade Média era a de um Ser utilitário. (Por isso se costuma dizer, em teologia, que Deus não é nem supérfluo nem necessário; é gratuito, como todo amor).
Outrora falava-se em produção; quem tinha um capital, precisava investi-lo, produzir. Hoje, fala-se em especulação. Dinheiro produz dinheiro. A cada dia, através de computadores, biliões de dólares rodam o planeta em busca de melhores lucros. Passam da Bolsa de Singapura para a de Tóquio, desta para a de Buenos Aires, desta para a de São Paulo, desta para a de Nova York, e assim por diante. Agora, em Singapura, provavelmente estarão discutindo o que fazer com 6 biliões de dólares disponíveis no mercado.
Outrora, falava-se em marginalização. Alguém marginalizado no emprego ainda tinha esperança de voltar ao centro. Hoje, marginalização cedeu lugar a outro termo: exclusão. O ser humano excluído não tem esperança de volta, porque o neoliberalismo é intrinsecamente excludente. A exclusão não é um problema para ele, tal como a marginalização era para o liberalismo: é parte da lógica de crescimento do sistema e da acumulação de riquezas.
Antes, falava-se em Estado, o importante era fortalecer o Estado. Um ministro da ditadura militar chegou a declarar: “Vamos fazer crescer o bolo, depois haveremos de dividi-lo.” Só que o bolo cresceu, e o gato comeu, não se viu o resultado. Aqueles mesmos políticos que advogavam o crescimento do Estado defendem, hoje, a sua destruição, com o sofisticado lema da ‘privatização’.
Não sou radicalmente contrário à privatização, nem estatista. Há países ricos - como a França e o Reino Unido - nos quais os serviços públicos estatais funcionam muito bem. Não é por serem públicas que as empresas e os serviços devem operar negativamente. A história é outra: muitos políticos, que deveriam ser homens públicos, estão prioritariamente ligados a empresas privadas, de maneira que não têm interesse em que as coisas públicas, estatais, funcionem bem. O maior exemplo disso é o serviço de saúde no Brasil. São 8 biliões de dólares circulando por ano nos planos privados de saúde, que atendem apenas 30 milhões de pessoas numa população de 190 milhões. Por que o SUS haveria de funcionar bem? Outrora, alguém ficava doente e dava graças a Deus por conseguir um lugar no hospital. Hoje, as pessoas morrem de medo de ir para o hospital. Hospital virou antessala de cemitério.
A privatização não é só económica, é também filosófica, metafísica. Tem reflexos na nossa subjetividade. Também nos tornamos seres cada vez mais privatizados, menos solidários, menos interessados nas causas colectivas e menos mobilizáveis para as grandes questões. A privatização invade até mesmo o espaço da religião: proliferam as crenças ‘privatizantes’, que têm conexão directa com Deus. Isso é óptimo para quem considera que o próximo incomoda. É a privatização da fé, destituindo-a da sua dimensão social e política.
Enfim, hoje fala-se em globalização; óptimo que o planeta tenha se transformado numa aldeia. O que preocupa é constatar que esse modelo é, de facto, a imposição ao planeta do paradigma anglo-saxônico. Melhor chamá-lo de globocolonização.
Copyright 2010 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrónico ou impresso, sem autorização do autor
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Novo Livro do Apocalipse
Ou da Revelação
Como já sabem, o Novo Livro do Apocalipse ou da Revelação, Edição Areias Vivas - Livro Póstumo - é o mais odiado e o mais silenciado de todos os meus livros, até agora editados. Talvez não saibam é que, inclusive, as principais livrarias do país, hoje, propriedade de multinacionais livreiras, se recusaram a vender o Livro. Tão insuportável é, para elas, a REVELAÇÃO que as 670 páginas do Livro proporcionam às pessoas. Reacção idêntica, teve o Livro do Apocalipse com que fecha a Bíblia. O Império - a Besta, no dizer do Apocalipse - não podia com semelhante Revelação, feita às populações subjugadas por ele, quando ele se apresentava como divino perante elas!
Neste momento, tenho ainda, como Autor, em minha mão, cerca de 200 exemplares, à espera de quem os adquira. Como o Livro já passou pela Feira do Livro, a Editora fixou o preço em 15 euros, em vez dos 19 euros iniciais. Façam-me as Vossas encomendas. E recomendem-no a outras pessoas. O dinheiro da venda é para o Barracão de Cultura, de AS FORMIGAS DE MACIEIRA. O Livro é tão oportuno, que eu, seu autor material, tenho um exemplar na Mesa da Cozinha, para "comer" diiariamente deste Pão, ao mesmo tempo que como do outro!... |
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Outras Cartas
Valha-me, Jeová!...
E-mail. Ancião Betto (Testemunhas de Jeová:
Quem está a escrever este e-mail é o próprio Ancião Beto, porque como nós conseguimos provar, você anda a mentir ás populações em todo o Portugal. Alugámos um livro, aliás, 2 livros seus, em que você mente muito bem! Maria de Nazaré e Chicote no Templo; alugámos no Palácio Gálveias em Lisboa.
O Padre Mário no livro Maria de Nazaré diz que Ela teve um filho virgem, e no Chicote no Templo você começa numas poucas págs. mais adiante assim... Bem serva e pobre, disposta a passar sempre pela Cruz, não será temida por nínguém, a não ser por quantos, com ela assim, não poderão levar facilmente por diante os seus sonhos de domínio sobre os outros. Ela não quer ser senhora do Mundo, muito menos arrebatar o Poder e derrubar os Governos constituidos. Ela somente quer servir os Homens, anunciando e dando testemunho da Verdade. Ela anuncia Jesus Cristo, principio e fim da História... Na verdade,a Igreja cre que Ele é Aquele a quem o Pai ressuscitou dos mortos, exaltou e colocou á sua direita,constítuindo-O Juiz dos vivos e dos mortos.
Ora bem, senhor Padre Mário, porque é que mentiu este tempo todo? Sempre disse que não haveria Segunda Vinda de Jesus, mas pelo livro em si não parece...
Outra, vocé diz que Cristo foi um nome que Jesus sempre combateu, mas também no livro não parece!! Este livro é de 1973 e você, já com 36-37 anos de idade, deveria saber mais até para o meio do livro você diz que no final da história haveríamos ter um encontro com Cristo, ou seja você entrelinhas quis e sabe que Jesus vai voltar sobre as nuvens do céu, não é senhor Padre Mário? Admita e não minta mais!!!!!
Resposta do Pe. Mário
Apetece-me começar por lhe dizer, com algum humor e alguma ironia fraternos: Valha-lhe Jeová. Embora não saiba como ele lhe há-de valer, se Jeová é mesmo nome de Terror!
Vejo, por este seu mail, que têm andado a esquadrinhar livros meus do passado. Concretamente dos anos 1971, 1972 e 1973, estava eu com 35, 36, 37 anos de idade. Hoje, já tenho 73 anos de idade. E até já publiquei em Outubro de 2009, o meu “livro póstumo”, à luz do qual, agora, têm de ser lidos e actualizados todos os outros meus livros anteriores. Uma acção que as Testemunhas de Jeová, para Vosso próprio mal e mal de quem se deixar “guiar” por Vocês, não são nada capazes de fazer, tão pouco sabem (pelo menos, é o que deixam transparecer, a começar por este seu mail) o que seja essa acção, própria do Espírito do Deus de Jesus. Já que Vocês, nem sequer na própria Bíblia, chegam a ver que há livros que “contradizem” outros, o que, longe de ser motivo de escândalo, é manifestamente salutar e diz-nos, de forma inequívoca, que a Revelação de Deus Criador sempre Acontece (está ainda a Acontecer!) de forma progressiva, não duma vez por todas, muito menos em forma de ditado. Não fosse progressiva, pelo contrário, fosse em forma de ditado de Deus-aos-seres-humanos, e teria bastado escrever apenas um livro com essa Revelação e, depois, reeditá-lo sucessivamente. Mas não. Também na Bíblia, os livros posteriores (na actual versão judeo-cristã, a Bíblia demorou 1000 anos a ser escrita!) “corrigem” os livros anteriores. E, livros há, em que, no mesmo livro, há duas ou mais versões misturadas; e a mais recente delas supera /“corrige” as versões mais antigas.
As diferenças que Vocês apontam entre certas afirmações ditas-escritas por mim, em 1971, 1972, 1973 e as que digo-escrevo no meu “livro póstumo”, por exemplo e nos meus vídeos no youtube, e vou dizer, ainda mais, nos dois livros que se seguirão ao “livro póstumo”, um a ser editado já por todo o mês de Outubro de 2010 e o outro, por Março-Abril de 2011, são todas diferenças salutares. Revelam que eu, felizmente, tenho sido capaz de evoluir, de crescer de dentro para fora, não sou um mero repetidor, nem sequer de mim próprio, como acontece com as Testemunhas de Jeová e outras instituições fanáticas e dogmáticas (Igreja Católica Romana, incluída!), com as quais a Vossa Congregação tanto se parece. Felizmente, tenho sido capaz de crescer (é próprio dos organismos vivos, já não é próprio das múmias), não só em anos, mas também em Sabedoria e, assim o espero, em Graça, isto é, em ENTREGA-DE-MIM-AOS-DEMAIS. Mas se até de Jesus se diz que ele cresceu assim… Se até de Jesus se diz que ele se deixou evangelizar pela mulher sírio-fenícia… Se até de Jesus se diz que ele cresceu na sua Fé em Deus Criador, Abba-Mãe de todos os povos por igual… Se até de Jesus se diz que a sua Fé só atingiu a plenitude, no momento derradeiro, já na Cruz, quando ele clama, “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, sem que, entretanto, ninguém lhe tenha respondido, nem ninguém lhe tenha corrido a valer, muito menos a tirá-lo da cruz do Império, ao ponto dele, Jesus – assim no-lo testemunha cruamente o Evangelho de Marcos – acabar com um “grande grito”, e expirar, na mais completa Obscuridade… Então, o que não se terá de dizer de mim, seu aprendiz de discípulo?!
Oh, ancião Beto, para o que havia de lhe dar e às demais Testemunhas de Jeová! Escusava de se expor assim tanto ao ridículo. Mas, está visto, Vocês não têm mesmo emenda. E até querem obrigar Deus a ser o que Vocês afiançam que ele é. Veja que Vocês (e já estamos em finais da primeira década do Século XXI), ainda continuam, hoje, a ler a Bíblia (melhor, apenas aquelas partes dela que mais lhes convêm e aos Vossos interesses), de um modo totalmente literal, como se ela fosse um único livro ditado, e ditado duma vez por todas e para todo o sempre (lembre-se que a própria designação “Bíblia”, à letra, significa um conjunto de livros, escritos em sucessivas gerações, por pessoas muito distintas e em contextos sócio-políticos e económicos muito diversos). Desconhecem (pelo menos, é o que parece) que todo o Primeiro Testamento tem de ser “corrigido” /actualizado /interpretado pelo Segundo Testamento? Ou, com mais precisão ainda, tem de ser “corrigido” /actualizado /interpretado por Jesus, não apenas o Jesus da Missão histórica entre meados do ano 28 e Abril do ano 30, na Galileia e, depois na Judeia, onde acabou Crucificado na Cruz do Império, mas também por Jesus, o do nosso Século XXI e, mais lá para diante, o Jesus do Século XXII e, assim, sucessivamente? Desconhecem?! E, se não desconhecem, dizem-no abertamente? Alertam as demais pessoas, nos vossos frequentes encontros, realizados com elas de Bíblia na mão?
Pensava então que me incomodava, com essas e outras citações datadas. E que, desse modo, me desacreditava. Bem pelo contrário, ancião Beto. Com isso, só me credibiliza ainda mais. Porque eu próprio sei bem o que disse-escrevi nos anos anteriores e sei bem que o meu “livro póstumo” e os outros dois que se vão seguir, parecem contradizer-me, aqui e ali. Não me contradizem, ancião Beto! Revelam, para maior credibilidade de todo o meu ser-viver-actuar na História, que eu, ser humano concreto, aberto ao mesmo Espírito de Jesus, tenho sido capaz de crescer, de dentro para fora. Não sou uma múmia, muito menos, um repetidor, nem da Bíblia escrita, muito menos, do meu primeiro livro e dos outros que se lhe seguiram. Nem sequer sou repetidor do meu próprio “livro póstumo”, uma vez que, sem que eu saiba bem como, ainda me está ser dado viver na História, para lá da sua publicação. E não só viver. Também continuar a crescer em Sabedoria e em Graça. Igualmente, a crescer na mesma Fé de Jesus.
Por favor, ancião Beto. Deixe-se de andar a filtrar “mosquitos” nos livros dos outros, no caso, dos meus, em vez de se ocupar a tirar a trave dos seus olhos de Testemunha de Jeová e dos olhos dos seus “chefes” /guias maiores. Porque, assim, é cego e guia de cegos; assim, são cegos e guias de cegos. E, para cúmulo, ainda diz(em): Eu(Nós) vejo(vemos)! Lembre-se que apenas Jesus, também o do Século XXI, é a Verdade, o Caminho e a Vida. Mas, não se esqueça que, até Jesus, para o podermos escutar /seguir /praticar de forma sempre actualizada, só mesmo com a maiêutica ajuda do seu Espírito Santo. De contrário, até Jesus, o do Século I, nos pode “matar”, como toda a letra /prática, a da Bíblia /Evangelho incluída, mata, se por ela não estiver continuamente a PASSAR o mesmo Espirito de Jesus, Século XXI. E, amanhã, o mesmo Espírito de Jesus Século XXII e assim sucessivamente.
Fico por aqui, mas cada vez mais preocupado consigo e com todas as Testemunhas de Jeová, nome de Terror, como mais uma vez comprova este mail que se deu ao trabalho de me escrever e enviar. Seu, |
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PÁGINAS CENTRAIS / DOCUMENTO
Quatro reflexões assinadas pelo Teólogo L. Boff,
seguidas de um perplexo Comentário do Pe. Mário, Director do Jornal Fraternizar
Por que persiste a Igreja-Poder?
"Por que persiste a Igreja-Poder?" A pergunta, oportuna, é de L. Boff. Dá título ao último de quatro Textos que o conhecido teólogo brasileiro e amigo do Fraternizar escreveu sobre a Igreja e fez questão de partilhar também com o nosso Jornal, o que vivamente agradecemos. O primeiro dos 4 Textos diz "Onde está a verdadeira Igreja"; o segundo, fala de "Um outro jeito de ser Igreja"; E o terceiro, apresenta-nos "Igreja: uma leitura teológica".
É, sobretudo, esta "leitura teológica" que deixa intrigado e, até, preocupado o Director do Jornal Fraternizar. Em consequência, as leitoras, os leitores do nosso Jornal encontrarão no final dos quatro Textos, um Comentário, da responsabilidade do Pe. Mário. Nele, perceberemos uma leitura teológica outra, mais conforme à Tradição que vem directamente de Jesus e da Teologia de Jesus, nos antípodas da Teologia oficial dos sacerdotes do Templo de Jerusalém e que - escândalo dos escândalos! - está na génese do (Judeo) Cristianismo, fundamento da Igreja do mítico Jesus-Cristo, a da Cúria Romana!
1 Onde está a verdadeira Igreja
A crise da pedofilia na Igreja romano-católica não é nada em comparação à verdadeira crise, essa sim, estrutural, crise que concerne à sua institucionalidade histórico-social.
Não me refiro à Igreja como comunidade de fiéis. Esta continua viva, apesar da crise, organizando-se de forma comunitária e não piramidal, como a Igreja da Tradição. A questão é: que tipo de instituição representa esta comunidade de fé? Como se organiza? Actualmente, ela comparece como defasada da cultura contemporânea e em forte contradição com o sonho de Jesus, percebida pelas comunidades que se acostumaram a ler os envangelhos em grupos e estão a fazer as suas analises.
Dito de forma breve, mas não caricata: a instituição-Igreja sustenta-se sobre duas formas de poder: um secular, organizativo, jurídico e hierárquico, herdado do Império Romano e outro espiritual, assentado sobre a teologia política de Santo Agostinho acerca da Cidade de Deus, que ele identifica com a instituição-Igreja.
Em sua montagem concreta, não é tanto o Evangelho ou a fé cristã que contam, mas estes poderes, considerados como um único “poder sagrado” (potestas sacra) também na forma de sua plenitude (plenitudo potestatis), no estilo imperial romano da monarquia absolutista.
César detinha todo o poder: político, militar, jurídico e religioso. O Papa, semelhantemente, detém igual poder: “ordinário, supremo, pleno, imediato e universal” (canon 331), atributos só cabíveis a Deus. O Papa institucionalmente é um César baptizado.
Esse poder que estrutura a instituição-Igreja foi-se constituindo a partir do ano 325 com Imperador Constantino e oficialmente instaurado em 392, quando Teodósio, o Grande (+395) impôs o cristianismo como a única religião de Estado. A instituição-Igreja assumiu esse poder com todos os títulos, honrarias e hábitos palacianos que perduram até os dias de hoje, no estilo de vida dos bispos, cardeais e papas.
Esse poder ganhou, com o tempo, formas cada vez mais totalitárias e até tirânicas, especialmente a partir do Papa Gregório VII que, em 1075, se auto-proclamou senhor absoluto da Igreja e do mundo.
Radicalizando, Inocêncio III (+1216) apresentou-se não apenas como sucessor de Pedro, mas como representante de Cristo. Seu sucessor, Inocêncio IV(+1254), deu o último passo e anunciou-se como representante de Deus e, por isso, senhor universal da Terra que podia distribuir porções dela a quem quisesse, como depois foi feito aos reis de Espanha e Portugual, no século XVI. Só faltava proclamar o Papa infalível, o que ocorreu, sob Pio IX, em 1870. O circulo se fechou.
Ora, este tipo de instituição encontra-se hoje num profundo processo de erosão. Depois de mais de 40 anos de continudado estudo e meditação sobre a Igreja (meu campo de especialização) suspeito que chegou o momento crucial para ela: ou corajosamente muda e, assim, encontra seu lugar no mundo moderno e metaboliza o processo acelerado de globalização e aí terá muito a dizer, ou se condena a ser uma seita ocidental, cada vez mais irrelevante e esvaziada de fiéis.
O procjeto actual de Bento XVI de “reconquista” da visibilidade da Igreja contra o mundo secular é fadado ao fracasso, se não proceder a uma mundança institucional. As pessoas de hoje não aceitam mais uma Igreja autoritária e triste, como se fosse ao próprio enterro. Mas estão abertas à saga de Jesus, ao seu sonho e aos valores evangélicos.
Esse crescendo na vontade de poder, imaginado ilusoriamente vindo directamente de Cristo, impede qualquer reforma da instituição-Igreja, pois tudo nela seria divino e intocável. Realiza-se plenamente a lógica do poder, descrita por Hobbes em seu Levitã: “o poder quer sempre mais poder, porque não se pode garantir o poder senão buscando mais e mais poder”. Uma instituição-Igreja que busca assim um poder absoluto fecha as portas ao amor e se distancia dos sem-poder, dos pobres. A instituição perde o rosto humano e faz-se insensível aos problemas existenciais, como da família e da sexualidade.
O Concílio Vaticano II (1965) procurou curar este desvio pelos conceitos de Povo de Deus, de comunhão e de governo colegial. Mas o intento foi abortado por João Paulo II e Bento XVI que voltaram a insistir no centralismo romano, agravando a crise.
O que um dia foi construído pode ser num outro, deconstruido. A fé cristã possui força intrínseca de, nesta fase planetária, encontrar uma forma institucional mais adequada ao sonho de seu Fundador e mais consentânea ao nosso tempo.
2 Um outro jeito de ser Igreja
Quem leu meu último texto – Onde está a verdadeira crise da Igreja – poderá ter ficado desesperançado. Aí analisei a estrutura de poder da Igreja, centralizada, piramidal, absolutista e monárquica. Este tipo de poder não favorece o ideal evangélico de igualdade, de fraternidade e a participação dos fiéis. Antes fecha as portas à participação e ao amor. É que esse tipo de poder, por sua natureza, precisa ser forte e frio.
O modelo de Igreja-poder apresenta-se como a Igreja tout court, pior ainda, como querida por Cristo, quando, como mostrei, surgiu historicamente e é apenas sua instância de animação e direcção, perfazendo menos de 0,1% de todos os fiéis. Portanto, não é toda a Igreja, apenas uma parte mínima dela.
Mas a Igreja-comunidade, como fenómeno religioso e movimento de Jesus, é muito mais que a instituição. Ela encontra outras formas de organização, bem mais próximas ao sonho do Fundador e de seus primeiros seguidores.
Inteligentemente, os bispos brasileiros, em sua reunião anual, de 4-13 de janeiro do corrente ano, em Brasilia confessaram: “só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma fé será capaz de dialogar relevantemente com a sociedade contemporânea”.
Com isso eles quebraram a pretensão de um único modo de ser, aquele da Tradição do poder. Sem negar este, há muitos outros jeitos: o jeito da Igreja da libertação, dos carismáticos, dos religiosos e religiosas, da acção católica, até da Opus Dei, da Comunhão e Libertação e da Canção Nova, só para dizer as mais conhecidas.
Mas há um jeito que é todo especial e altamente promissor, nascido nos anos 50 do século passado no Brasil, e que ganhou relevância mundial, pois foi assimilado em muitos países: as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Os bispos dedicaram-lhe uma animadora “Mensagem ao Povo de Deus sobre as CEBs”.
Curiosamente, elas surgiram no momento em que eclodiu no Brasil uma nova consciência histórica. Na sociedade: o sujeito popular, ansiando por mais participação política; e na Igreja: o sujeito eclesial, ansiando tambem por mais participação e corresponsabilidade eclesial.
As CEBs constituem um outro modo de ser Igreja, cujo sujeito principal, mas não exclusivo, são os pobres. Seu estilo é comunitário, participativo e inserido na cultura local. Os serviços são rotativos e a escolha, democrática. Articulam continuamente fé e vida, activos no campo religioso, criando novos serviços e ritos, e activos no campo social ou político, nos sindicatos, nos movimentos sociais como no MST [Movimento dos Sem-Terra], ou nos partidos populares.
Não sabemos exactamente quantas são, mas calcula-se que cheguem a cem mil comunidades de base, envolvendo alguns milhões de cristãos. Os bispos constatam seu alto valor inovador e anti-sistémico.
O mercado expulsou as relações de cooperação e solidariedade enquanto nas CEBs se vive as relações fundadas na gratuidade, na lógica do oferecer-receber-retribuir.
Elas assumiram a causa ecológica, por isso, se entendem também como CEBs = comunidades ecológicas de base. Desenvolveram uma forte espiritualidade do cuidado para com a vida e para com a Mãe Terra. Dai resultou mais respeito, veneração e cooperação com tudo o que existe e vive.
As CEBs mostram como a memória sagrada de Jesus pode receber outra configuração social, centrada na comunhão, no amor fraterno e na alegria de testemunhar a vitória da vida contra as opressões. É o significado existencial da ressurreição de Jesus como insurreição contra o tipo de mundo vigente.
Humildemente os bispos testemunham que elas ajudam a Igreja a estar mais comprometida com a vida e com o sofrimento dos pobres. Mais ainda: interpelam a Igreja inteira, chamando-a à conversão, ao compromisso para a transformação do mundo em mundo de irmãos e irmãs.
Esse modo de ser Igreja pode servir de modelo para a inserção na cultura contemporânea, urbana e globalizada. Se fosse assumido como inspiração para o projecto do Papa Bento XVI de “reconquistar” a Europa, seguramente teria algum sucesso.
Ver-se-iam comunidades de cristãos, intelectuais, operários, mulheres, jovens, vivendo sua fé em articulação com os desafios de suas situações. Não pretenderiam ter o monopólio da verdade e do caminho certo. Mas se associariam a todos os que buscam seriamente uma nova linguagem religiosa e um novo horizonte de esperança para a Humanidade.
3 Igreja: Uma leitura teológica
Nos dois textos anteriores reflectimos sobre uma questão particular, a do poder na Igreja, centralizado no clero e no Papa, de cariz absolutista. Alguns ficaram chocados, mas a verdade é essa mesma.
Agora cabe uma reflexão geral, de cunho teológico, quer dizer: considerar as realidades divinas subjacentes à Igreja, entendida como comunidade que se forma a partir da fé em Jesus como Filho de Deus e Salvador universal.
Notoriamente, a intenção primeira de Jesus não foi a Igreja, mas o Reino de Deus, aquela utopia radical de completa libertação. Tanto assim, que os evangelistas Lucas, Marcos e João sequer conhecem a palavra Igreja. É somente Mateus que fala três vezes de Igreja.
Mas não se realizando o Reino, devido a execução judicial de Jesus, foi a Igreja que entrou em seu lugar. O Novo Testamento transmite-nos três formas diferentes de organizar a Igreja: a sinagogal, de São Mateus; a carismática, de São Paulo; e a hierárquica, dos discípulos de Paulo: Timóteo e Tito. Foi esta que prevaleceu.
Antes de mais nada, a Igreja define-se como comunidade de fiéis. Enquanto comunidade, ela sente-se ancorada no Deus cristão que também é comunidade de Pai, Filho e Espírito Santo. Isto significa que a comunidade é anterior às instâncias de poder, cujo lugar é no meio dela, como serviço de animação e de coesão. O amor e a comunhão, essência da Trindade, são também a essência teológica da Igreja.
Esta comunidade sustenta-se sobre duas colunas: Jesus Cristo e o Espírito Santo. Jesus aparece sob duas figuras: a do homem de Nazaré, pobre, profeta ambulante, que pregou o Reino de Deus (em oposição ao Reino de César) e que acabou na cruz; e sob a figura do ressuscitado, que ganhou dimensão cósmica, estando presente na matéria, na evolução e na comunidade, como antecipação do homem novo e do fim bom do universo.
A segunda coluna é o Espírito Santo. Ele estava presente no acto da criação do cosmos, sempre acompanha a humanidade e cada pessoa e chega antes do missionário. É ele que suscita a espiritualidade: a vivência do amor, do perdão, da solidariedade, da compaixão e da abertura a Deus. Na Igreja ele mantém vivo o legado de Jesus e é responsável por sua contínua actualização com carismas, pensamentos criativos, ritos e linguagens inovadoras.
Santo Ireneu(+200) disse bem: Cristo e o Espírito são as duas mãos do Pai com as quais nos alcança e nos salva.
Cristo, por ser a encarnação do Filho, representa o lado mais permanente da Igreja, seu carácter institucional. O Espírito, o lado mais criativo, seu carátcer dinâmico. A Igreja viva é simultaneamente algo estruturado, mas também algo mutante, como as inovações que fogem ao controlo da instituição.
Diz-se também que a Igreja concreta, como comunidade e como movimento de Jesus, possui duas dimensões: a petrina e a paulina. A petrina (de São Pedro = Papa), é o princípio da Tradição e da continuidade. A dimensão paulina (de São Paulo), representa o momento de ruptura, a criatividade. Paulo deixou o solo judaico e partiu para a inculturação no mundo helénico. Pedro, é a organização; Paulo, a criação.
Pedro e Paulo encontram-se unidos na figura do Papa, herdeiro e guardião das duas vertentes, simbolizadas pelos túmulos dos dois apóstolos em Roma. Ambas se pertencem mutuamente.
Mas, nos últimos séculos, predominou a dimensão petrina, quase afogando a paulina. Tal desequilíbrio deu origem a uma organização eclesiástica centralista, com o poder em poucas mãos, conservadora e resistente ao novo, seja ele vindo do interior da Igreja mesma, seja da sociedade. O actual Papa é quase exclusivamente petrino, avesso a toda modernidade.
Hoje impõe-se recuperar o equilíbrio eclesiológico perdido. A Igreja deve manter a herança intacta de Jesus (Pedro) e, ao mesmo tempo, renovar as formas de sua realização no mundo (Paulo). Só assim supera seu conservadorismo e mostra sua criatividade na comunicação com os contemporâneos. Ela não pode ser fonte de águas mortas, mas de águas vivas.
4 Por que persiste a Igreja-Poder?
Vou abordar um tema incómodo mas incontornável: como pode a instituição-Igreja, como a descrevi num texto anterior, com características autoritárias, absolutistas e excludentes, perpetuar-se na história?
A ideologia dominante responde: “só porque é divina”. Na verdade, este exercício de poder não tem nada de divino. Era o que Jesus exactamente não queria. Ele queria a hierodulia (sagrado serviço) e não a hierarquia (sagrado poder). Mas esta se impôs, através dos tempos.
Instituições autoritárias possuem uma mesma lógica de autoreprodução. Não é diferente com a Igreja-instituição.
Em primeiro lugar, ela julga-se a única verdadeira e tira o título de “igreja” a todas as demais. Em seguida, cria-se um rigoroso enquadramento: um pensamento único, uma única dogmática, um único catecismo, um único direito canónico, uma única forma de liturgia. Não se tolera a crítica, nem a criatividade, vistas como negação ou denunciadas como criadoras de uma Igreja paralela ou de um outro magistério.
Em segundo lugar, usa-se a violência simbólica do controlo, da repressão e da punição, não raro à custa dos direitos humanos. Facilmente, o questionador é marginalizado, nega-se-lhe o direito de pregar, de escrever e de actuar na comunidade.
O então Card. Joseph Ratzinger, Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu mandato, puniu mais de cem teólogos. Nesta mesma lógica, pecados e crimes dos sacerdotes pedófilos ou outros delitos, como os financeiros, são mantidos ocultos, para não prejudicar o bom nome da Igreja, sem o menor sentido de justiça para com as vítimas inocentes.
Em terceiro lugar, mitificam-se e quase idolatram-se as autoridades eclesiásticas principalmente o Papa que é o “doce Cristo na Terra”.
Penso eu lá com meus botões: que doce Cristo representava o Papa Sérgio (904), assassino de seus dois predecessores, ou o Papa João XII (955), eleito com a idade de 20 anos, adúltero e morto pelo marido traído; ou, pior, o Papa Bento IX (1033), eleito com 15 anos de idade, um dos mais criminosos e indignos da história do papado, chegando a vender a dignidade papal por 1000 liras de prata?
Em quarto lugar, canonizam-se figuras cujas virtudes se enquadram no Sistema, como a obediência cega, a contínua exaltação das autoridades e o “sentir com a Igreja (hierarquia)”, bem no estilo fascista, segundo o qual “o chefe (o ducce, o Führer) sempre tem razão”.
Em quinto lugar, há pessoas e cristãos com natureza autoritária que, acima de tudo, apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações.
Estes secundam esse tipo de Igreja, bem como regimes políticos autoritários e ditatoriais. Aliás, há uma estreita afinidade entre os regimes ditatoriais e a Igreja-poder, como se viu com os ditadores Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet e outros. Padres conservadores são facilmente feitos bispos e bispos fidelissimos a Roma são promovidos, fomentando a subserviência.
Esse bloco histórico-social-religioso cristalizou-se e garantiu a continuidade a este tipo de Igreja.
Em sexto lugar, a Igreja-poder sabe do valor dos ritos e símbolos, pois reforçam identidades conservadoras, pouco zelando por seus conteúdos, contanto que sejam mantidos inalteráveis e estritamente observados.
Em razão desta rigidez dogmática e canónica, a Igreja-instituição não é vivida como lar espiritual. Muitos emigram. Dizem sim ao Cristianismo e não à Igreja-poder, com a qual não se identificam. Dão-se conta das distorções feitas à herança de Jesus que pregou a liberdade e exaltou o amor incondicional.
Não obstante estas patologias, possuimos figuras, como o Papa João XXIII, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luiz Flávio Cappio e outros, que não reproduzem o estilo autoritário, nem se apresentam como autoridades eclesiásticas, mas como pastores no meio do Povo de Deus.
Apesar destas contradições, há um mérito que importa reconhecer: esse tipo autoritário de Igreja nunca deixou de nos legar os evangelhos, mesmo negando-os na prática e, assim, permitindo-nos o acesso à mensagem revolucionária do Nazareno. Ela prega a libertação, mas geralmente são outros que libertam. |
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Comentário do Pe. Mário, Director do JF
Nunca no-lo disseram. Provavelmente, nunca no-lo dirão; muito menos, o admitirão. Mas tem que ser dito. O chamado Cristianismo mais não é do que Judeo-Cristianismo. Tem tudo a ver com o mítico Cristo /Messias da casa real de David /Salomão e o seu projecto de Poder Político de domínio sobre todos os povos da Terra. Com Deus por Rei universal! Para isso, é que o Judaísmo sempre se reclamou de "Povo eleito"! Só que o Cristianismo não tem nada a ver com Jesus, o Judeu camponês-carpinteiro, o filho de Maria, que, entre meados do ano 28 e Abril do ano 30, protagonizou, na sua Fragilidade Humana Desarmada, a maior Revolução Antropológico-Teológica da História da Humanidade. Nem com o seu Projecto Político Maiêutico do Reino /Reinado de Deus contra todos os Impérios, Judaísmo incluído. Por causa disso, é que o Jesus é assassinado na Cruz do Império Romano, a exigência dos sumos-sacerdotes, do Sinédrio e dos teólogos-ideólogos oficiais do Judaísmo da Lei de Moisés. A Morte na Cruz do Império não foi casual. Foi opcional. Era preciso que aquele Judeu camponês-carpinteiro, o filho de Maria, nascido em Nazaré, nunca mais despertasse a atenção de alguém, em povo algum do Mundo. Muito menos a sua Revolução Antropológico-Teológica, em forma de Movimento Político Maiêutico. Tão pouco se chegasse a saber que ele algum dia existiu. Não bastava matá-lo. À traição, ou à pedrada. Podia fazer dele um mártir, uma Testemunha qualificada de Deus Criador, seu e nosso Abbá-Mãe que nunca ninguém viu, nem verá, mas que se nos dá a conhecer definitivamente em Jesus, o Camponês-carpinteiro, o filho de Maria, concretamente, no seu Ser-Viver-Actuar laico, entre meados do ano 28 e Abril do ano 30. Era, pois, imperioso matá-lo na Cruz do Império de Roma. Porque, assim, não só não se fazia dele um Mártir qualificado, melhor, o Mártir (= Testemunha) por antonomásia de Deus Criador Abbá-Mãe de todos os Povos por igual, como, até, se fazia dele o Maldito dos malditos. Cujo nome nunca mais seria pronunciado, nem por Judeus, nem por não-Judeus. O Deuteronómio é claro: "Maldito o Homem que morre na Cruz". Palavra de Deus!!!
Os opositores de Jesus, depressa convertidos em seus inimigos de morte, grupo dos Doze incluído, sabem bem o que fazem, quando agem assim. E tudo foi consumado. Até hoje. O Cristianismo nasceu, algum tempo depois da Morte Crucificada de Jesus. Como uma nova tendência dentro do Judaísmo. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, alguns Judeus e filo-Judeus, foram chamados "cristãos". É esta nova tendência, inicialmente, tolerada e até difundida dentro do Judaísmo ortodoxo, que veio a impor-se contra Jesus e o seu Movimento Maiêutico. Sobretudo, entre os Judeus da Diáspora. Graças ao incansável ministério de Saulo /Paulo, o fariseu fanático que, primeiro, não podia ouvir falar da existência de compatrícios seus que diziam que o "Messias" ou "Cristo" por que todos os Judeus esperavam por aqueles dias, já havia chegado. Tornou-se, até, no seu principal perseguidor. Porém, após a morte, por apedrejamento, de Estêvão, sob a sua responsabilidade, depressa veio a aceitar esse Messias ou Cristo que tão furiosamente havia começado por perseguir. Bastou-lhe saber que ele já era tido e anunciado como o Messias Vencedor da Morte, o último inimigo, em seu entender, a ter de ser vencido. Aderiu, então, a esta crença /mito e tornou-se no seu grande paladino, particularmente, entre os Judeus da Diáspora. Por sinal, sem grande sucesso, depois de três sucessivas viagens, realizadas quase sempre em condições penosas, ainda que atenuadas, aqui e ali, uma vez que ele, Judeu de Tarso, era também cidadão romano, um título que invocava, sempre que a sua vida corria perigo. Ao ponto de, numa dessas ocasiões, ter apelado para César de Roma e ter conseguido o seu intento. Um comportamento, como se vê a olho nu, totalmente nos antípodas do comportamento do Judeu Jesus, o camponês-carpinteiro, o filho de Maria que nunca soube nada de Privilégios e combateu-os a todos. Até ao sangue.
Por isso, a minha perplexidade, perante estes 4 Textos do meu amigo teólogo L. Boff. A Teologia /Cristologia que lhes subjaz e o modelo de Igreja romana que dela decorre e nela se fundamenta são, uma e outro, do mítico Cristo, ou Jesus-Cristo. Não são nada de Jesus. São do mítico Cristo /Messias Vencedor que Jesus sempre recusou ser e nunca foi, mas que o grupo dos Doze, liderado por Pedro, algum tempo de depois da Morte Crucificada de Jesus, conseguiu impor, em parceria com os familiares de Jesus, liderados por Tiago, irmão de Jesus. Quando antes, até à Morte Crucificada de Jesus, tanto o grupo dos Doze, como os familiares, mãe incluída, sempre foram contra Jesus e o seu Ser-Viver-Actuar entre meados do ano 28 e Abril do ano 30. Porém, pouco depois da Morte Crucificada de Jesus, lá estão, uns e outros, na sala de cima, em Jerusalém, a disputar o Poder, como tão gritantemente denuncia, nos seus 28 capítulos, o II volume do Evangelho de Lucas, erradamente chamado Actos dos Apóstolos! Mas quem, até hoje, quis saber desta denúncia? E não só este II volume. Todos os quatro Evangelhos canónicos, escritos na clandestinidade, aí estão a desmascarar, à saciedade, este perverso desvio de Jesus e do seu Projecto Político Maiêutico! Abramos os olhos! E, finalmente, sejamos das, dos Jesus! |
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